Jornalistas Livres

Massarandupió

 

Quando não se consegue esquecer as tolices, talvez seja porque não são tolices.

 

 

 

Nunca escrevi sobre culinária e a arte de cozer bons alimentos e vendê-los no justo preço , mas quando me lembro da vila de Massarandupió, o chef Patrício e seus pratos, servindo em seu rancho peixe vermelho, frito inteiro, e caranguejos, e lambretas e siris, que de tão frescos, ainda mexem na boca, tudo de canto de mar, grito de carcará, vigia de urubu e jangada de praia.

 

 

Tão tenro alimento me desperta imaginação, me alerta para a solidão da gente na imensidão desse costado, onda verde revolta de virgindade, tão vazia que o nu dos corpos se torna pura necessidade entre ventos que agitam. 

 

A nudez e o alimento, o isolamento que se impõe à mente nesses momentos crus, sem celular, sem eletricidade, sem podcasts. Despido de tudo minha mente  imagina índios na praia quando as caravelas aqui chegaram, na Bahia mesmo, me faz até pensar nas bolas de óleo, tão preto e viscoso, que meses atrás Patrício diz que retirou com as próprias mãos, mãos da comunidade de Massarandupió que acudiram, limparam a praia como se limpa igreja e templo depois dos cultos.

 

Memória de praia é isso, todo dia renova, tal maré, tal  alimento e arte de cozer, bem servir. Chef Patrício, praia feita de solidão e ressacas, cachorros, que de tão soltos, nem ligam pra gente.

Acreditam em verdades os que cá vivem e trabalham, campesinos do mar, mestres da arte da piaçava e da tolerância, do pescado e bem viver, chão de lua cheia e roças de cajá, umbu, liberdade.

Massarandupió, Deus e seus absurdos.

 

 

*imagens por helio carlos mello©

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