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Direitos Sociais

“Sou a menina preta na fila do estádio”

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Por: Rafaela Freitas
Jornalista e Maria do Podcast das Marias

Os gritos de “macaco” e “olha a sua cor!” ecoaram Mineirão afora, colocando novamente de forma fugaz o racismo no futebol na pauta da imprensa brasileira. O caso ganhou um reforço da Ucrânia: na mesma tarde, os brasileiros Taison e Dentinho foram vítimas de racismo num jogo entre Shakhtar Donetsk e Dínamo de Kiev.  Era só mais um domingo normal de futebol ao redor do Planeta.  

Após essas ocorrências – registradas no mês da Consciência Negra –, a CBF e a maior parte dos clubes brasileiros seguem inertes no combate ao racismo – e a outros preconceitos e discriminações. Enquanto isso, assistem o Esporte Clube Bahia se tornar a maior referência em ações afirmativas no futebol brasileiro. Em outubro de 2019, Roger Machado, técnico do time baiano, e Marco Aurélio de Oliveira, comandante do Fluminense, os únicos treinadores negros da série A, participaram de uma ação promovida pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol. Na entrevista coletiva pós-jogo, Roger foi contundente ao explicar didaticamente sobre racismo estrutural e questionar a falta de negros em cargos de gestão do futebol e na imprensa. Na ocasião, o técnico ainda destacou a situação das mulheres negras como maioria nos casos de feminicídio e de suas ausências no jornalismo esportivo. 

Foto: Thiago Ribeiro / AGIF

Vistas como intrusas maculando o sagrado espaço masculino e machista, as mulheres encontram-se uma série de obstáculos para legitimar seu papel como coprotagonistas do futebol. O desafio é ainda maior para as torcedoras negras, como explicam a mestre em Comunicação Mayra Bernardes e a designer e estudante de Pedagogia Maíra dos Anjos. Convidadas nos episódios especiais sobre racismo do Podcast das Marias (produzido por torcedoras cruzeirenses e com pautas voltadas para a legitimação do papel da mulher no futebol), Maíra e Mayra revisitaram alguns pontos da fala do técnico Roger Machado, relacionando-as com suas experiências como mulheres negras num ambiente tão machista e racista. 

Mayra Bernardes destaca que o “racismo para as mulheres negras está muito relacionado à aparência” e à inadequação ao padrão de beleza imposto pela norma branca.  Maíra dos Anjos endossa trazendo esse ponto para o contexto do futebol. “É só ver nos desfiles de uniformes. Quantas modelos são negras? Você não vai encontrar aquele padrão com facilidade nas arquibancadas. É preciso fazer um esforço imenso para tentar se adequar à esta norma branca da beleza. Por mais que alisemos os cabelo ou façamos qualquer outro procedimento estético, sempre seremos mulheres negras”, exemplifica.

Mayra Bernardes destacou a fala do treinador Roger Machado sobre ser o único negro na faculdade de Educação Física e a falta de negros no jornalismo esportivo. Para o mestrado, Mayra – cuja dissertação discutiu a transição capilar na publicidade de cosméticos – foi a fundo nas pesquisas sobre a presença do negro na mídia. “Escrevi um artigo dizendo que quando uma pessoa preta aparece, ela sempre é a única. Num grupo de 10 repórteres de TV, um vai ser negro. Geralmente, para legitimar a emissora como “não racista”. Mas se ela não é racista, porque só dá espaço para um negro? Isso é péssimo, pois transforma pessoas em uma única referência dentro de um grupo que corresponde a 54% de toda a população brasileira. É impossível que uma pessoa possa representar uma população tão grande e complexa”, reforça.

Para Maíra dos Anjos, ser a única negra nos lugares é de uma responsabilidade muito grande.

Sobre ser “a única”, Maíra desabafa. “Na fila do Mineirão, sou sempre a menina preta. Sou um ponto de referência por conta da cor da minha pele. Minha mãe fez de tudo para eu estivesse nos melhores ambientes. Então, muitas vezes e em muitos lugares, fui e sou a única negra, e isso me faz carregar um fardo muito grande, porque todo e qualquer assunto sobre sobre cor de pele passa a ser minha responsabilidade”. 

Cruzeirenses frequentadoras de estádios, Mayra e Maíra destacaram no Podcast das Marias a falta do sentimento de pertencimento entre a torcida. “O futebol é um ambiente completamente hostil e permite que o ser humano exponha o pior de si. E quando você é uma mulher negra ou um homem negro, no contexto do futebol, a primeira coisa que vai ser motivo de chacota será a cor da sua pele. Se você for xingar um jogador branco, raramente vai ofendê-lo se referindo à cor da pele. Eu nunca vi isso. Mas ouvi, inúmeras vezes, chamarem jogadores e árbitros negros de ‘macaco’. Isso me faz pensar muito se quero continuar a ser uma torcedora assídua. A sensação que eu tenho é que a qualquer momento irei virar motivo de chacota e passar por alguma humilhação. E como ali estou numa minoria, prefiro me abster, o que é triste, pois o futebol deveria ser um ambiente de união, e não de afastamento”, lamenta Maíra. 

 Apesar dos reveses, resistir é a única opção para ela. “Eu não vou deixar de existir, mesmo que muitas pessoas queiram. Não vou voltar pro tronco, não vou deixar de frequentar os ambientes onde ficam incomodados com minha presença. Isso não é um problema meu, é um problema de quem é racista”, enfatiza. 

Paixão nacional para poucos

Historicamente, o esporte mais popular do Brasil nunca foi para todos. Criado em berço de ouro, no fim do século 19, o futebol foi, em suas primeiras décadas, uma atividade desportiva restrita à elite branca, dentro e fora dos campos. Ao mesmo tempo em que ganhava notoriedade nos clubes de regatas – dividindo as atenções aristocráticas com os esportes náuticos –, o futebol chegava clandestinamente às várzeas e se popularizava entre os pobres e negros. Com a profissionalização do esporte, em 1933, a barreira segregacionista no futebol parecia ter sido derrubada para sempre.  Mas era apenas impressão.

O decreto-lei n. 3.199, de 14 de abril de 1941, proibiu a prática de modalidades esportivas “que não combinavam com a formação física do belo sexo”, entre elas o futebol. Regulamentado pelo Regime Militar, o decreto só fora revogado em 1979, graças à luta das jogadoras e relevância econômica mundial do futebol. 

De origem branca e aristocrática, e, por alguns anos, proibido para mulheres, o futebol só se tornou uma paixão das massas na segunda metade do século 20. No entanto, inclinou nos últimos anos para um novo processo de elitização com o fim das “gerais”, transformação dos estádios em arenas, criação de programas de sócio-torcedores e, consequentemente, aumento dos valores dos ingressos. 

“A partir do momento em que os clubes passaram  a comercializar camisas oficiais a mais de R$200, ingressos a R$100 e criar programas de sócio a preços elevados, eles deixaram claro não quer que a população preta faça parte. Quanto mais cifras são colocadas nesse orçamento para se legitimar como ‘torcedor de verdade’, mais o cenário se torna excludente para o negro, que é minoria nas classes A e B no Brasil”, pondera Maíra dos Anjos. 

Mayra Bernardes acredita que essa padronização não é por acaso. “Os clubes querem um torcedor da norma branca e burguesa”, dispara. 

Educação e formação humanizada 

Mayra Bernardes: “os clubes não estão nem aí para a formação humana de seus jogadores”. 

As frases dos Racionais MCs (“Amo minha raça, luto pela cor. O que quer que eu faça, é por nós, por amor”) e de Angela Davis (“Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”) deram o tom no contundente desabafo que o jogador Taison fez em seu Instagram após os insultos racistas que ouviu no estádio. Apesar de episódios como este serem rotineiros no futebol mundial, ainda são poucos são os atletas negros que se manifestam sobre o assunto. No Podcast das Marias, foram questionados os motivos pelos quais ídolos do passado e do presente, como Pelé e Neymar, nunca se assumiram como “porta-vozes” da causa. Maíra acredita se tratar de um reflexo da falta de consciência social e racial da maioria dos atletas. 

“Seria muito importante que os atletas tivessem essa consciência para resistir ao racismo. Mas  quanto mais ele atinge certo status financeiro e social, vai se afastando dessa luta. No entanto, é preciso se lembrar que por mais dinheiro que possamos ganhar, seremos para sempre negros”, pondera. 

Mayra destaca que os jovens jogadores abandonam a escola muito cedo para se dedicarem integralmente ao futebol, e por isso, os clubes teriam de ter como missão auxiliá-los no desenvolvimento de suas consciência social e racial. “Seria uma ótima ação antirracista por parte dos clubes oferecer essa formação aos atletas mais novos. Mas só querem que eles façam gols. Não estão nem aí para a formação humana de uma pessoa que tem o poder de transformar essas relações tão desiguais dentro do futebol”, observa.

As entrevistadas, no entanto, acreditam não ser justo cobrar posicionamentos apenas dos atletas negros, afinal, o racismo é um problema, sobretudo, dos brancos. Voltando à frase da ativista do movimento negro e principal voz do feminismo negro, Angela Davis, ser antirracista é um papel que deve ser assumido por todos. 

Maíra relembra o episódio envolvendo Daniel Alves, quando era jogador do Barcelona, que comeu uma banana que fora arremessada em sua direção. No momento do ataque, nenhum companheiro branco manifestou indignação ou solidariedade ao brasileiro. “Sempre vai precisar de um negro para ser referência no assunto. Já foi o Daniel Alves, foi o Aranha, agora é o Roger Machado ou Taison. Os brancos também precisam se posicionar”, avalia. 

Impunidade e “desculpas esfarrapadas”

Não é justo culpar apenas o futebol pelo racismo, uma vez que os estádios são apenas uma pequena amostra da sociedade. Mas o que torna o local tão permissivo para essas agressões? Além do histórico aristocrático do esporte, Mayra inclui a impunidade. “Apesar de racismo e injúria racial serem crimes no Brasil, não vemos as punições serem aplicadas conforme a lei. Ou quando são, costumam ser medidas muito brandas”. 

Ela também cita a deslegitimação dos atos racistas. “Quando a gente comenta que sofreu racismo em algum lugar, as pessoas sempre nos cobram: ‘por que você não processa? Por que você não chamou a polícia’, como se fosse resolver o problema. Pelo contrário, isso gera mais problemas, uma vez que as instituições são racistas. E as pessoas que detêm o poder de fazer alguma coisa não conseguem enxergar o racismo e refutam dizendo que o agressor estava brincando, que a fala foi tirada do contexto, a banana escorregou da mão do torcedor…”. 

Os suspeitos de agressão contra o segurança do Mineirão usaram e abusaram desse tipo de “desculpa esfarrapada” para se defenderem das acusações. Não são racistas. Estavam bêbados. Têm irmãos negros. E um deles ainda destacou que corta cabelo com uma pessoa negra. Sobre esse caso, o inquérito policial segue aberto e em investigação. 

Após as agressões em Belo Horizonte e na Ucrânia, o Observatório da Discriminação Racial no Futebol atualizou os números de casos de racismos registrados no ano: 42 no futebol brasileiro, 13 envolvendo brasileiros no exterior e 5 em torneios continentais na América do Sul. 

Árbitros podem encerrar partida após atos racistas

Em julho deste ano, entrou em vigor o novo Código Disciplinar da Fifa, entidade máxima do futebol mundial, que permite ao árbitro suspender a partida em casos de racismo dentro e fora de campo. No entanto, a decisão de encerrar ou não o jogo só deve ser tomada após outras medidas, como anúncios no alto-falante solicitando o fim das agressões, não surtirem efeito imediato. No jogo entre Shakhtar Donetsk e Dínamo de Kiev, os atletas solicitaram que a arbitragem desse fim à partida, mas seguindo o protocolo Fifa, aguardaram alguns minutos antes de decidirem pela continuidade do jogo, vencido pelo Shakhtar, time dos brasileiros que foram alvo de racismo.  As arbitragens em todo mundo são orientadas a relatar os casos de racismo na súmula da partida, que podem ser julgados pelos tribunais desportivos.


Rafaela é jornalista e integrante do Podcast das Marias, um podcast de quatro torcedoras cruzeirenses que compartilham o amor pelo Cruzeiro e pelo futebol.

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1 Comment

1 Comments

  1. Neuma

    28/11/19 at 7:16

    Me declaro negra. Sou negra. Logo, olham pra mim e falam “mas vc é tão clarinha, vc não é negra, é cabocla”. Respondo “sou negra com muito orgulho”.
    O racismo existe e persiste ao nosso redor, é uma luta diária, exaustiva e cansativa.

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Direitos Sociais

ZELADORIA ILEGAL DE BRUNO COVAS “varre” pertences de moradores em situação de rua

Denúncias mostram que a ação foi ilegal, e fere o decreto Nº 59.246 de 2020, que dispõe
sobre os procedimentos e o tratamento à população em situação de rua.

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Mais uma vez, ação truculenta de agentes da prefeitura acontece na Praça Princesa Isabel, centro de São Paulo, e desobedece o DECRETO nº 59.246/2020 que dispões sobre o tratamento à população em situação de rua. Um problema que requer ações de assistência social, de saúde e de humanidade, é substituído por violência e descaso com os mais necessitados. Além do sequestro dos poucos bens dessas pessoas, incluindo documentos, e material doado para que a sua subsistência na condição de rua seja menos caótica.

A Ação ilegal se deu na manhã de, dia 13/10, entre 8 e 9 horas.  Uma grande equipe de limpeza urbana e vários Guardas Civil Metropolitanos estiveram na Praça Princesa Isabel e retiraram das pessoas seus bens, tais como barracas, documentos, roupas, cobertores e ameaçaram as pessoas, conforme os primeiros depoimentos.

Moradora idosa desabafa: “Que prefeito é esse?” … ” Fazendo a gente de cachorro…” 
“A gente não tá aqui por que a gente quer” desabafa moradora
“Essa prefeitura está destruindo nós” declaração da moradora em situação de rua
“Levaram até roupa, até a ração do meu cachorro” moradores desabafam
Recebemos doações e a GCM vem todo dia e tira as barracas da gente, desabafa Bruna moradora
Morador em situação de rua faz denúncia de truculência em ação de zeladoria ilegal, centro de SP.
“Nem pegar as coisas que tem dentro da barraca, roupa de vestir, coberta, eles deixaram” diz morador
“Mais um dia de caos na praça…. chegaram arrebentando” desabafa morador
PLAYLIST COM TODOS OS DEPOIMENTOS
Imagine se a gente tivesse roubando? A gente é gente de bem, procurando a reciclagem fala morador



Os depoimento foram colhidos pela A Craco Resiste, coletivo de ativista que atua na região com projetos de redução de danos, e proteção da população, entre outros.

Uma rotina de truculência ilegal

Segundo o decreto e portaria isto não poderia ser realizado. Conforme obriga o DECRETO Nº 59.246 de 2020 que dispõe sobre os procedimentos e o tratamento à população em situação de rua durante a realização de ações de zeladoria urbana.

A conduta, ainda, é vedada pela mesma normativa:

Art. 10. As equipes de zeladoria urbana deverão respeitar os bens das

>pessoas em situação de rua.

§ 1º É vedada a subtração, inutilização, destruição ou a apreensão dos

seguintes pertences da população em situação de rua:

I – bens pessoais, tais como documentos de qualquer natureza, cartões

bancários, sacolas, medicamentos e receitas médicas, livros, malas,

mochilas, roupas, sapatos, cadeiras de rodas, muletas, panelas, fogareiros,

utensílios de cozinhar e comer, alimentos, colchonetes, travesseiros,

tapetes, carpetes, cobertores, mantas, lençóis, toalhas e barracas

desmontáveis;

II – instrumentos de trabalho, tais como ferramentas, malabares,

instrumentos musicais, carroças e material de reciclagem, desde que dentro da carroça.

Ao ser questionado sobre a irregularidade da ação, funcionário presente ao local, que não se identifica, pede que o repórter procure a assessoria de imprensa da subprefeitura.

Fizemos contato por email, com a da assessoria de imprensa das Sub-Prefeituras do Município de São Paulo, até as 15h30 (horário de publicação deste vídeo no youtube), e fechamento desta matéria, não haviamos recebido resposta sobre o por que da ação ilegal. ABAIXO a nota da Prefeitura enviada às 17h30 do dia de hoje (13.10.2020).

Funcionário não se identifica, e pede que se procure a assessoria de imprensa da subprefeitura

Nota da Secretaria de Segurança Pública da Prefeitura

Boa tarde

Seguem informações

A Prefeitura de São Paulo, por meio da Subprefeitura Sé, esclarece que a ação citada aconteceu em 09/10 e que realiza diariamente operações de zeladoria urbana em áreas aonde vivem pessoas em situação de vulnerabilidade, como a Praça Princesa Isabel. As ações ocorrem em conjunto com as equipes de zeladoria e limpeza, e a Guarda Civil Metropolitana (GCM).

A administração regional cumpre o Decreto Nº 59.246/20, que dispõe sobre os procedimentos e o tratamento dado à população em situação de rua durante as ações de zeladoria urbana na cidade de São Paulo.

É vedada a retirada de pertences pessoais, como documentos, bolsas, mochilas, roupas, muletas e cadeiras de rodas. Podem ser recolhidos objetos que caracterizem estabelecimento permanente em local público, principalmente quando impedirem a livre circulação de pedestres e veículos, tais como camas, sofás, colchões e barracas montadas ou outros bens duráveis que não se caracterizem como de uso pessoal.

A Secretaria Municipal de Segurança Urbana informa que Guarda Civil Metropolitana apoia os agentes da Subprefeitura nas ações de zeladoria urbana e limpeza, bem como os agentes de Saúde e Assistência Social, sempre que solicitada. A GCM está orientada a não retirar nenhum pertence dos moradores de rua.


Enviamos os vídeos com as denúncias dos moradores, como resposta.

Com Informações da A Craco Resiste

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Campinas

A Vila Paula se reconstrói após a tragédia

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Solidariedade, resistência e as doações têm sido fundamentais para reerguer a comunidade

Um incêndio que iniciou na madrugada de segunda-feira (28)  desalojou 24 famílias na Comunidade Vila Paula na região da CDHU do bairro San Martin, em Campinas .  

Segundo informações da Prefeitura de Campinas, entre as pessoas atingidas  estão 36 adultos, 27 crianças,  dois adolescentes e dois idosos. Essas pessoas foram acolhidas na Escola Estadual Maria de Lourdes Bordini e em duas instituições religiosas nas proximidades.

A maioria dos moradores deixou suas casas só com a roupa do corpo. Todos os seus pertences  foram destruídos pelo fogo.

Na terça-feira, a reconstrução dos barracos foi iniciada no mesmo local em que as habitações de madeiras foram destruídas pelas chamas.   Paulo César Santos, uma das lideranças da comunidade,  relembra o drama  desastre que consumiu os barracos e as dificuldades  das famílias.


“ Foi uma tragédia muito grande na nossa vila. Foi duro para construir,  foi duro para assentar as famílias . Foi difícil  construir os barracos de madeira, estamos aqui faz um bom tempo.  No início era só lona e o incêndio devorador acabou com tudo.”

Paulo Cesar é uma das lideranças da Comunidade Vila Paula e trabalha na reconstrução da vila

A comunidade existe há cerca de cinco anos e abriga aproximadamente 176 famílias que moram no local e outras 70 suplentes, que não moram ali. No total, segundo Paulo, são ao menos 700 pessoas, entre crianças, idosos e adultos.

Elas perderam tudo

As 24 famílias perderam tudo e ficaram apenas com a roupa do corpo.

Lourrane , mãe de Abdias e grávida de sete meses conta que ficou muita assustada. A vizinha tentou  alertá-la  sobre o incêndio mas o fogo estava intenso.

“ Foi desesperador. Eu tenho um sono pesado e não ouvi as batidas em minha porta. Quando eu  me atentei  e abri a porta, um calor intenso e fumaça invadiram  minha casa. Eu peguei meu filho e  minha bolsa com documentos e saí correndo. Assim que eu saí algo que me pareceu  como um botijão de gás estourou e  a chama do fogo  começou a incendiar o meu barraco. Perdi tudo. Tinha acabado de chegar cesta básica e verduras. Estava tudo abastecido.”

Mãe e filho tem a esperança de reconstruir o barraco

“ É desanimador olhar para tudo aquilo que a gente construiu com tanto sacrifício e ver tudo em cinzas , mas eu também agradeço por estar viva com meu filho e bem.”

Do mesmo modo,  Isadora também relembra com pesar . Casada, mãe de dois filhos  morava  com eles e seu marido no barraco que também foi destruído.

A família de Isadora perdeu tudo e ficou apenas com a roupa que estava no corpo

“ Ficamos só com a roupa do corpo. Tentamos até tirar algo da nossa casa mas não deu certo. Não deu tempo. Salvamos os nossos filhos.”

O casal trabalha  e tiveram que faltar esses dias no trabalho mas pretendem retornar o mais breve possível.

Paulo Cesar segurando uma cavadeira fala de peito aberto esperançoso

“ Estamos começando a fase de reconstrução. A nossa casa está sendo reconstruída. Nosso povo está aí trabalhando para isso.  A prefeitura está com equipes no trabalho de reconstrução. Os barracos serão de madeira. Recebemos muitas doações Campinas se mobilizou e algumas cidades da região também como  Paulínia e Valinhos. Temos que agradecer muito a solidariedade”

As doações vindas de Campinas e algumas cidades da região

A futura mamãe também se sente esperançosa.

“ Sei que posso ter meu bebê e voltar para a casa e terei uma casa”

Ela havia sido presenteada com um berço e uma cômoda para o bebê, os  móveis foram consumidos pelas chamas durante incêndio.

Abdias, um garoto esperto de cinco anos, vivenciou a experiência da tragédia.

Abdias perdeu todas as suas roupas e brinquedos no incêndio.

“ Todos os meus brinquedos  foram queimados. Perdi todos os meus brinquedos e roupas. Quero voltar para a minha casa”.

 A mãe do garoto agradece as pessoas que se solidarizaram  com as famílias da Vila Paula e fizeram doações.

Isadora  diz se sentir aliviada  pelas doações e também pela reconstrução.

“ As doações dão um ânimo da gente. Também já vai começar a reconstruir. Isso  também  já ajuda muito. Porque tudo que passamos  é muito triste”

Crianças brincam entre as madeiras “kits barracos” – como está sendo chamado – providenciados pela Secretaria de Habitação , em um total de 35 , para a construção de moradias de 20 metros quadrados com banheiro

“As doações são importantes para a Comunidade da Vila Paula sobretudo quando os barracos estiverem prontos novamente. Vamos precisar montar morada. Móveis. geladeiras. Comida.” segundo Paulo Cesar

Onde entregar as doações :

1-Comunidade Frei Galvão da Paróquia São Marcos, O Evangelista – Rua Valentino Biff, s/n – em frente ao CDHU San Martin

2- Escola Maria de Lourdes Bondine no CDHU San Martin, entre as quadras R e U.

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Campinas

Famílias da Comunidade Mandela fazem ato em frente à Prefeitura de Campinas

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Comunidade Mandela Luta por Moradia

Em busca de uma solução, mais uma vez, moradores tentam ser atendidos

Os Moradores da Comunidade Mandela  fizeram nesta quinta-feira (17), um ato de protesto em frente à Prefeitura  de Campinas. O motivo da manifestação  é o   impasse  para o  problema da moradia das famílias que se arrasta desde 2016. E mais uma vez,  as famílias sem-teto  estão ameaçadas pela reintegração de posse, de acordo com despacho  do juiz  Cássio Modenesi Barbosa, responsável pelo processo a  sua decisão  só será tomada após a manifestação do proprietário.
Entretanto, o juiz  não considerou as petições as Ministério Público, da Defensoria Pública que solicitam o adiamento de qualquer reintegração de posse por conta da pandemia da Covid-19, e das especificidades do caso concreto.
O prazo  final   para a  saída das famílias de forma espontânea  foi encerrado no dia 31 de agosto, no dia  10 de setembro, dez dias depois de esgotado o a data  limite.

As 104 famílias da Comunidade ” Nelson Mandela II” ocupam uma área de de 5 mil metros quadrados do terreno – que possui 300 mil no total – e fica  localizado na região do Ouro Verde, em Campinas . A Comunidade  Mandela se estabeleceu  nessa área em abril de 2017,  após sofrer  uma violenta reintegração de posse no bairro Capivari.

Negociação entre o proprietário do terreno e a municipalidade

A área de 300 mil metros quadrados é de propriedade de Celso Aparecido Fidélis. A propriedade não cumpre função social e  possui diversas irregularidades com a municipalidade.

 As famílias da Comunidade Mandela já demonstraram interesse em negociar a área, com o proprietário para adquirir em forma de cooperativa popular ou programa habitacional. Fidélis ora manifesta desejo de negociação, ora rejeita qualquer acordo de negócio.

Mas o proprietário  e a municipalidade  – por intermédio da COAB (Cia de Habitação Popular de Campinas) – estão negociando diretamente, sem a participação das famílias da Comunidade Mandela que ficam na incerteza do destino.

As famílias querem ser ouvidas

Durante o ato, uma comissão de moradores  da Ocupação conseguiu ser liberada  pelo contingente de Guardas Municipais que fazia  pressão sobre os manifestantes , em sua grande maioria formada pelas mulheres  da Comunidade com seus filhos e filhas. Uma das características da ocupação é a liderança da Comunidade ser ocupada por mulheres,  são as mães que  lideram a luta por moradia.

A reunião com o presidente da COAB de Campinas  e  Secretário de  Habitação  – Vinícius Riverete foi marcada para o dia 28 de setembro.

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