“Ilha do Brazil”, uma lenda irlandesa
Por Dirce Waltrick do Amarante *
Reza uma lenda irlandesa chamada “Ilha do Brazil”, que ouvi de um senhor paquistanês quando morei em Galway, trabalhando em uma plantação de framboesas amarelas, que:
Há muitos anos, havia uma Ilha chamada Brazil, onde vivia um povo sábio e hospitaleiro que preservava as florestas e as águas. Ocorre que um forasteiro se tornou presidente da Ilha, assim, de uma hora para outra, e resolveu desmatá-la a fim de usar o território para a criação de porcos, em alta no mercado exterior. Muitos acharam uma boa ideia e já se imaginavam ricos vivendo da exportação de linguiça e outros embutidos, ou trabalhando em grandes multinacionais. Mas o povo nativo, o nativo mesmo, não estava nada satisfeito e, por isso, resolveu pedir uma audiência com o presidente, que só aceitou falar com o povo porque queria tirar fotos e colocar no seu Twitter (no século XVI, quando se passa essa história, Twitter não se chamava assim… obviamente). O presidente foi até a aldeia onde vivia o povo nativo, pois queria mostrar que não estava apenas aberto ao diálogo, mas que havia feito o esforço de se deslocar para encontrá-lo em seu “habitat”. Entre uma conversa e outra, os nativos lhe deram presentes e lhe ofereceram o chá da conciliação. O presidente não tinha como negar e tomou. Três goles depois, ele caiu duro, adormecido, e foi colocado sobre um amontoado de palha e coberto por conchas marinhas. Lá dormiu por mais de três anos, quando então foi acordado com um beijo de amor. Ocorre que um nativo que passava por ali viu aquela figura deitada, tão linda, com longos cabelos loiros (em mais de três anos o cabelo do presidente havia crescido), cútis clara, que mais parecia a Branca de Neve (não tivesse ele cabelo loiro…). O nativo não se conteve e beijou aquela figura. Eis então que o presidente acordou assustado e quando viu que um homem o havia beijado quase enlouqueceu… Era amor!!! E os dois viveram felizes para sempre ali mesmo na aldeia. Quanto aos porcos, eles também viveram felizes para sempre.
Fim
*Professora da Universidade Federal de Santa Catarina.
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