José Roberto Torero*
Diário, ontem aproveitei que o jogo Flamengo X CSA era aqui em Brasília e fui no estádio com o Moro.
Grande noite! Gritaram o nome dele e jogaram duas camisas do Flamengo pra gente.
Depois, durante a partida, quando ainda estava zero a zero, teve uma bola que bateu no bração do Arão, volante do Flamengo, dentro da área. Bem onde a manga da camisa acaba. Foi pênalti claro, mas o VAR entrou em ação. Enquanto estava naquele negócio de marca-ou-não-marca, eu perguntei pro Moro:
- Será que o juiz vai dar pênalti?
O Moro nem teve dúvida:
- Tenho forte convicção de que ele não vai apitar nada.
-
Mas foi braço, pô.
-
Eu sei. Mas a verdade é que não existe verdade, não é verdade?
-
Oi?
-
O que eu quero dizer é que não existe verdade absoluta. Se o público gritar bastante, os bandeirinhas bão atrapalharem e a Globo disser que não foi nada, o juiz vai deixar pra lá.
-
Será?
-
Esse negócio de justiça depende menos do fato que da circunstância.
-
Estou vendo aqui no celular que o pessoal da Globo disse que não foi pênalti.
-
Então o juiz não vai dar nada mesmo.
-
Mas e a imagem do VAR? Não é uma prova?
-
Prova só é prova se a gente aprova.
-
Oi? Hoje você está meio filósofo. Explica direito.
-
Presidente, o que eu quero dizer é que tem coisa que não prova nada, mas aí a gente aprova e ela vira prova. Entendeu?
-
Você ainda está falando do pênalti?
-
He, he…
-
Olha lá! O jogo continuou! O cara não deu nada mesmo, apesar das evidências! Roubou pra gente! Grande juiz!
-
Obrigado, presidente.
@diariodobolso
*José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.
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