Por *Humberto Meratti exclusivo e especial para os Jornalistas Livres
Com a candidatura presidencial de Jair Bolsonaro (PSL) e, devido seus diversos pronunciamentos difamatórios para todos os lados, os designers Foresti, Gladson e Mil, com suas artes gráficas embalaram as pessoas, os ativistas e tomaram conta das redes, das ruas do Brasil e pelo Mundo no último dia 29 de setembro, contribuindo demasiadamente com o movimento do Ele Não.
Foresti tem 49 anos e é residente de São Paulo (SP). Graduado em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, faz parte do Coletivo “Design Ativista para quem não aguenta mais”.
“Sempre me interessai por política. Já fiz vários trabalhos para Ongs, Causas e Movimentos. Faço memes e design ativista há cerca de cinco anos. Acho que os memes e as imagens criadas devem ser disseminadas e não devem ser assinadas.É interessante ter seu trabalho compartilhado, pois é a prova de que ele fez sentido para as pessoas naquele momento. As imagens que criei são junções de ideias, metáforas visuais. Fazem o cérebro funcionar, criando conexões simples e diretas. É a forma com que eu tento me expressar e que eu acho que faz as pessoas terem um ‘clic’ quando as visualizam”.
Foresti teve suas imagens replicadas por meio de inúmeros cartazes por manifestantes nas ruas da África do Sul, Inglaterra, Holanda e em outros países.
Gladson (43 anos), é natural de Paranaguá, litoral do Paraná. Viveu e se fez como designer (autodidata) em Curitiba. Profissionalmente começou como arte-finalista e recentemente faz direção de arte e design gráfico como freelancer. Também possui um projeto de distribuição e divulgação de música independente, chamado QRtunes. O design ativista faz parte do grupo Coletivo “ELE NÃO: DESIGN ATIVISTA ANTI BOLSONARO”. Segundo o mesmo, sempre militou a favor de partidos de esquerda.
“Nestas eleições, a coisa ficou pesada, contudo, o que vem rolando desde o golpe na presidenta Dilma, a perseguição ao Lula, a Lava Jato fazendo uma lavagem cerebral na classe média… sabe, essas coisas vão te deixando louco e não dá para não fazer nada. Tem que se posicionar, e por questões de saúde, aderi à militância de esquerda na internet”.
O artista entre tantas peças criadas e espalhadas pela internet, viralizou as peças gráficas do candidato, como a do mesmo dormindo na Câmara dos Deputados com o Post-it na testa escrito Ele Não; a peça do cartaz colado nas costas do Bolsonaro escrito Ele Não e, a peça do Bolsonaro com uma algema chinesa escrito Ele Não.
“A estética é tosca mesmo, tipo as montagens que a mídia dele faz. São três peças que colocam o deputado em situações em que ele teria caído em gozações feitas por deputados, como se em uma sala de aula na quinta série, colando bilhetinhos nos amigos. O pessoal curtiu e começou a espalhar. Fiquei surpreso, daí pensei, caramba, o que é isso? Saca? Estou feliz. Bateu um orgulho enorme. Produzo agora, cartazes antiguerra inspirado nos anos 40 e 60, com estética do atelier populaire. Minha nova peça que diz “Cuidado. O antipetismo pode te colocar ao lado de quem você menos espera”, mal foi postada no grupo e na minha página e já ganhou o mundo, com muita gente compartilhando. No instagram da Mídia Ninja, tem mais de 27 mil curtidas. Nem faço ideia de onde estas artes chegarão”, diz Gladson.
Mil tem 32 anos, é formado em Letras pela UECE – Universidade Estadual do Ceará e é natural de Iracema (CE). Hoje vive em Limoeiro do Norte, interior do Ceara. Atualmente é integrante do site Touts (www.touts.com.br/staycool), um site colaborativo para vendas de estampas. Faz parte dos grupos no Facebook, “LGBTs Contra o “Coiso” e também do grupo “Ele Não: Design Ativista Contra ‘o Coiso’”.
Mil diz que pronuncia a palavra “Coiso”, para evitar citar o nome do candidato. Sua arte, o colorido logo de EleNão, tomou conta das redes sociais e das ruas em formato de adesivos, dado aos manifestantes presentes no Largo da Batata em SP, no último dia 29 de setembro.
“As minhas artes são sobre se aceitar, ter orgulho de ser quem você é mesmo e lutar sempre pelo melhor, que no caso, é o momento que estamos passando. Criei a arte com a intenção de contribuir com a tag “ele não”. A imagem representa uma resposta de nós, LGBTs, para a candidatura dessa pessoa. Por isso eu fiz a palavra “Não” com as cores da bandeira LGBTQI+ para enfatizar a nossa resposta. A frase está sob um céu estrelado, como uma forma de grito e protesto. As estrelas coloridas representam as minorias, espalhadas entre as brancas – classe privilegiada”.
“Nunca pensei que ela poderia ganhar tanta proporção. O máximo que eu imaginei, foi ganhar um pouco mais de likes, pois eu tinha certeza que esse movimento iria ganhar muita força na internet. De repente, vi inúmeros desconhecidos postando em suas redes, alguns até dizendo que a arte se tornou símbolo do movimento, nunca me passou pela cabeça que isso poderia acontecer. Eu fiquei em choque quando vi à proporção que a arte estava tomando. Até a Maria Gadú usou minha arte. As coisas saíram do meu controle, pois muita gente passou a comercializar minha criação sem nem se quer saber que eu sou o dono ou até mesmo me dar os créditos. No fim, fico muito feliz com tudo isso que aconteceu, feliz pela contribuição, feliz por tanta gente ter vindo me dar os parabéns, outras até agradecendo-me, enquanto sou eu que sinto gratidão por tudo. Sinto orgulho em ver que a arte ajudou o movimento a ganhar força”.
Sobre as distorções que foram criadas posteriormente com sua imagem, Mil comenta que:
“Recentemente vi uma postagem de uma moça no instagram. Ela fez por cima da minha arte, a frase “Ele Sim” nas cores verde, amarelo e azul. Dizia na legenda que tinha feito “uma versão do ‘ele sim’”, porque eles mereciam e o Coiso também. O que ela fez não passou de um plágio, onde até o fundo da imagem foi reaproveitou. Fico imaginando-me que essas pessoas não têm nem a capacidade ou criatividade para criar suas próprias artes, ou qualquer outra coisa que seja para enaltecer esse candidato. De todas as distorções que fizeram, a que mais me chateou foi a que o MBL fez. Eles colocaram a minha arte na capa de um vídeo deles. O conteúdo do vídeo não condiz com o significado da arte que criei. Mandei um e-mail pedindo para que retirassem a imagem daquele vídeo, mas até agora não tive uma resposta, e o vídeo continua lá”.
*Humberto Meratti é especialista em políticas públicas culturais, gestor cultural e ativista.
5 respostas
A pergunta é: conciliação ou resistência?
A eleição do petismo como representação maior dos problemas do país não decorre da corrupção, mas daquilo que seus governos representaram.
Como esclarecimento dessa afirmação, basta questionarmos por que o candidato que se autodenomina como a saída “moderada” ou “conciliatória” escolheu afastar-se convenientemente das pautas das minorias, colocando-se como o machão bronco que, no entanto, é a favor da classe média e trabalhadora.
Ao mesmo tempo que o discurso anticorrupção se avoluma, o mesmo acontece, até em maior medida, com o anticomunismo.
Não precisamos de muita reflexão para lembrarmos de um acontecimento semelhante e não muito distante.
As pautas comunista e de outros campos da esquerda de libertação das classes oprimidas é o real objeto do ódio crescente na política brasileira.
O crescimento de Bolsonaro e Amoedo – o primeiro como representante da ditadura reacionária e o segundo da civilidade reacionária – se relacionam diretamente com essa realidade. Ambos são contra as ações afirmativas do Estado, liberais na economia e conservadores ou reacionários nos costumes, são a reação da nossa sociedade conservadora frente às mudanças – ainda que poucas – ocorridas durante os governos petistas, considerados pela população como maiores representantes das minorias.
Diante dessa onda, ou nos abstemos ou reagimos, não há posição intermediária!
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