Por Bruna Vieira, para Jornalistas Livres
Insustentável. Esta é a palavra que José Mendonça Filho, ministro da Educação do governo Temer, usou, erroneamente, para definir a universidade pública no Brasil. Com um corte no orçamento de 249 milhões, afetando o funcionamento de 70% das instituições do país, a educação superior vive hoje com uma corda no pescoço e um futuro que se mostra ainda mais nebuloso graças a Emenda Constitucional 95/2016. A PEC da Morte, como ficou conhecida a PEC 55, congela os investimentos durante 20 anos, utilizando apenas inflação do ano anterior para reajustes.
Frente ao cenário adverso, estudantes das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste reuniram-se nos dias 28 e 29 de outubro, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para o Seminário Regional da Universidade Brasileira. Organizado pelo Movimento Correnteza, o evento contou com mais de 100 lideranças estudantis e debateu temáticas pertinentes a atual conjuntura do país, buscando organizar frentes de luta dentro das universidades.
A permanência estudantil na universidade foi um dos assuntos tratados pelas mesas. Desde a criação do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), o número de vagas nas instituições de ensino aumentou, trazendo também, graças a Lei de Cotas, populações socioeconomicamente mais frágeis para universidade. Apesar do avanço proporcionado à juventude negra e pobre pelo Programa, a permanência dela ainda é um desafio, uma vez que a estrutura da universidade quase não sofreu alterações, persistindo em seu interior o caráter elitista. Esta situação vivida no país recoloca a juventude na luta de classes, diz Roberto Leher, reitor da UFRJ e participante da mesa de abertura do seminário.
Outro tema discutido foi a privatização das universidades no Brasil, onde a cobrança de mensalidades já é proposta de emenda à Constituição. Com autoria de Andrés Sanchez (PT-SP), o projeto prevê pagamento proporcional ao nível socioeconômico do estudante, medida que, para ele, seria um meio de desenvolver políticas sociais. Entretanto, a proposta só configura um dos ataques à universidade e é, para estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal de Minas Gerais, Gisele Costa, uma demonstração do momento conturbado em que vivemos. “Cabe a nós, estudantes e jovens, lutar contra o desmonte da educação”, diz Gisele.
Não só a universidade pública entrou no debate. As instituições privadas também foram alvo de discussão, contando com representantes entre os presentes no seminário. Um deles é Flávio Matheus, aluno de Jornalismo da Estácio no Rio de Janeiro. Flávio conta que somente conseguiu vaga na instituição devido ao Programa de Financiamento Estudantil (Fies) e que, devido ao atual momento do país, sente-se inseguro. Reforça ainda que, são nas instituições privadas que se encontram aqueles excluídos pelos injustos processos seletivos das instituições públicas, portanto é necessário também “dar rumos de luta dentro das universidades particulares”.
“Combater os ataques e as reformas impostas pelo governo depois do golpe”, esta é, segundo Raphael Almeida, estudante de História da UFRJ e um dos coordenadores do movimento, a razão pelo surgimento do Correnteza, que nasce em janeiro de 2017, na Bienal de Arte e Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE). Na agenda do movimento, que se constitui hoje como um dos maiores de oposição de esquerda dentro da UNE, está a realização ainda este ano de outra edição do seminário, desta vez entre as regiões Norte e Nordeste.
Insustentável. Esta é a situação do atual governo, que ataca diretamente às populações socialmente mais frágeis com suas medidas. O acesso à educação é um direito constitucional e a mensagem para os que tentam usurpá-lo foi deixada no evento. Mexeu com a educação, é guerra.
Fotos por: Josué Gomes
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