Trata-se de participação da Cia no “NEGRXS, 18o Ciclo do Programa de Leituras Públicas do Teatro Universitário da USP”, o TUSP, que nesta edição, intenta registrar parte da pluralidade de vozes que se levantam contra o racismo, ao congregar a pesquisa dramatúrgica de grupos paulistas sobre suas raízes afro-brasileiras e trabalhos de autores internacionais, sob o guarda-chuva da luta por igualdade racial.
A peça, ambientada em um prédio onde vivem seis mulheres negras que não se comunicam via conversas interpessoais, mas cujas histórias dialogam entre si e também com a audiência, considera questões marcadas e expressas no corpo das personagens a partir de depoimentos e experiências de 55 mulheres negras entrevistadas na cidade de São Paulo. Entre elas, catadoras de material reciclável, donas de casa, sambistas, religiosas de matrizes africanas, empresárias, líderes comunitárias, prostitutas, profissionais liberais, estudantes, artistas, mulheres privadas de liberdade, etc.
Os encontros do Programa TUSP de Leituras Públicas são abertos ao público em geral. Todas as leituras são gratuitas, realizadas pelos presentes, ou seja, as pessoas interessadas podem participar da atividade pela leitura efetiva do texto. É uma possibilidade ímpar de aprofundamento da obra para quem se emocionou em uma das dezenas de apresentações realizadas pelos Crespos de 2013 para cá.
Em novembro, a peça Engravidei, pari cavalos e aprendi a voar sem asas ocupará o palco do Segal Theater, em Manhattan (NY), durante a segunda edição da série Brazil Reads Brasil (Brazil Lê Brasil). A empreitada é desenvolvida pelo Evoé Collective – coletivo criado por quatro atrizes brasileiras radicadas em Nova York. Na oportunidade serão celebrados os trabalhos dramatúrgicos de Ana Maria Gonçalves e Márcia Zanelatto, além do meu. O projeto promove leituras dramáticas de peças brasileiras em inglês e terá sua segunda edição no dia 6 de novembro, conduzida pelas atrizes Bárbara Eliodorio, Isabella Pinheiro, Laila Garroni e Ma Troggian.
O Coletivo Evoé, além de produzir e atuar nas leituras, também faz a tradução das obras, trabalho desenvolvido junto às escritoras. Sobre essa atividade complexa, Bárbara Eliodorio comentou: “O português é uma língua muito lúdica e musical, e parte disso se perde na tradução. O trabalho da Cidinha, por exemplo, é poesia pura. E é necessário um trabalho minucioso para que isso chegue com o mesmo peso para a plateia internacional, não podemos sacrificar a poesia”.
Atendendo a pedido do Coletivo Evoé comentei minha expectativa em ver/ouvir Pari cavalos traduzido e lido em outra língua. “Será uma alegria muito grande acompanhar a reação da audiência, os movimentos da palavra escrita em português e transpostos para uma língua não-latina, anglo-saxônica, mas executados por mulheres brasileiras. Imagino que seja uma mistura instigante”.
Engravidei, pari cavalos e aprendi a voar sem asas apresenta a rotina de seis mulheres negras ambientada em um mesmo prédio. Mesmo sem interagir ou dialogar entre si, a semelhança entre seus anseios é evidente. O Coletivo quer quebrar a barreira linguística e mostrar que a trama dessas histórias é universal. E o universal, como sabemos, é mais uma construção a partir de mundos de vista específicos.
Essa edição da série, chamada Female Voices Of Brazil (Vozes Femininas do Brasil), promoverá um bate-papo entre público, elenco e escritoras ao final das leituras. A expectativa de Ma Troggian, outra das atrizes condutoras do trabalho é que “o evento ajude a mostrar à comunidade artística e intelectual de NY, a dramaturgia escrita por mulheres num país que mata oito mulheres por dia. Nossas estratégias artísticas estão impregnadas de estratégias de sobrevivência. Nossa poética é nos revelar grandiosas e potentes, resistindo, numa selva de abusos machistas de todos os tipos”.
Evoé, Pari cavalos! O TUSP, em São Paulo, o Segal Theater, em Nova York, e seus públicos diletos e sinceros nos aguardam!