Era uma arena delicadamente iluminada e devidamente organizada para a ordem do dia, distinta das ruas em desordem que nos habita em droga ou todo o incômodo que o tema traz aos habitantes brancos em sua rede de combates e convicções. Diverso do mundo destituído de humanidade dos excluídos, dos pobres, negros e barbudos que habitam as calçadas do crack e são denominados moradores de rua, na arena o que se pretende é consolidar um mundo de braços abertos e harmônico em suas dúvidas e dilemas. O que fazer com a transversalidade do tema? Todos presentes tem sede de respostas, e os interlocutores também as buscam.
Paradigmas e paradoxos são servidos ao público pelo elenco notável, pois a complexidade da pauta exige braços, pernas, mente e coração para romper o maniqueísmo, abordando o indivíduo em sua complexidade. Não há, nessa anatomia, espaço para desencanto ou falsas demagogias, pois o corpo doente dos homens em desumanidade, deletado do corpo social, é dependente, é usuário de algo que não se encontra nos assépticos bancos ou vendas, igrejas ou bibliotecas.

Na revisão dos modelos de prevenção do uso indevido de drogas não cabe as milongas dos políticos ou a euforia dos que querem repressão e confinamento, exige sim procedimentos que resultem no bem-estar de toda a cidade. Atacar o fornecimento de droga é não resolver a questão, pois as circunstâncias que levam ao uso do crack é o que conta nessa guerra. Recompor a dignidade, o significado da vida e a auto estima do usuário é a única saída. O vício não pode ser tirado de seu contexto, ele tem relação com o que somos e nossa história. Quem sabe qual é a solução é o usuário e sua relação com o mundo e não os governos. Reorganizar a vida e a recuperação plena do cidadão usuário de droga é o que se pretende.

Os agentes envolvidos nesse debate não são os que batem panela para derrubar governos ou pedir o Choque na rua, nem são os cidadãos que esquentam latas para fumar sua pedra. É sim a sociedade civil que quer um país sem o diabo nas ruas e na entrada e saída dos presídios a fazer suas fortunas, limpo de seus arranjos, maracutaias e mandingas.
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