Barra Longa foi a única cidade que teve seu centro urbano soterrado pela Lama Tóxica da Samarco/BHP/Vale. A cidade, de quase 7 mil habitantes, era um oásis no interior de Minas. “O nome Barra Longa é por que se formava uma longa barra entre os rios do Carmo e Gualacho” explica Claudineia. “Era lindo, o Rio Gualacho com uma água clarinha, se encontrava com Rio do Carmo que tinha uma água bem escura”, recorda D. Geralda.
Hoje é tudo igual. Um mar de lama.
Em 05 de novembro de 2015, a barragem do fundão da mineradora Samarco, controlada pela Vale/ BHP Billiton, rompeu. Um mar de lama e rejeitos tóxicos, carregados de metais pesados, seguiu do Rio Gualacho, para o Rio do Carmo, até se transformar no Rio Doce; envenenando suas águas até seu afluente no mar, na cidade de Regência, no Espirito Santo. Mais de 600 km de destruição e morte.
O Rio do Carmo passava pelo centro da cidade. Era lindo de ver.
A lama chegou ao município por volta da meia-noite do dia 06 de novembro. “Estava em casa, colocando as capas no travesseiro. Meu filho chegou e falou: mãe passou na TV que a barragem estourou lá em Mariana e pode chegar aqui. Eu peguei meus documentos, minha bolsa, coloquei os dois gatinhos dentro dela e subi na moto”. Dona Geralda morava em Gesteira Velha, um vilarejo rural do município. Lá a lama chegou antes e lá a lama continua. D. Geralda subiu na moto a tempo de salvar sua vida, mas viu a lama passar em cima de seu sítio com tudo que tinha.
O centro da cidade foi reformado, entregue pela Samarco às pressas após um ano da tragédia. A maquiagem feita pela Samarco, no entanto, não é o suficiente para esconder o que ali passou.
Barra Longa virou um verdadeiro canteiro de obras. Titita, dona de um comercio local da região relata a deficiência das obras. Arrumaram tudo por fora, mas por dentro nada. “Minha casa foi tratada como construção. Me entregaram sem portas ou janelas, só o esqueleto”. Sua residência ficava aos fundos de sua pizzaria, no centro da cidade, ela ainda não conseguiu voltar para casa.
Uma das construções da praça, um sobrado recém pintado de verde, de acordo com moradores, tem até lama dentro. A defesa civil mandou derrubar por que a construção apresenta riscos. Sem tempo hábil para resolver o problema para a inauguração: a Samarco pintou a casa e cercou com tapumes. A estrutura da casa, no entanto, denuncia as marcas da lama.
O antigo prédio histórico da cidade, onde funcionava a escola, hoje é o escritório da Samarco. Titita tem dois filhos pequenos e reclama que a nova escola é abafada e sem espaço.
Simone Silva, neta de Dona Geralda, não é considerada atingida pela Samarco, isso por que, de acordo com a mineradora, ela não teve sua renda afetada.
A rua da sua casa foi pavimentada com a lama tóxica. Desde então, a filha pequena passou a ter problemas respiratórios graves. A lama agora está na porta de sua casa. “Ela foi internada com infecção respiratória gravíssima”. Ela mostra as receitas médicas, entre elas um laudo que atesta que os problemas respiratórios de sua filha são devido a inalação da lama tóxica. A cidade é pequena e não tem infraestrutura médica, devido a isso, quase todo o tratamento é feito na rede privada.
Se no centro, bonito e pintado, as coisas não vão bem. No resto da cidade muito menos.
Em Gesteira Velha, na área rural, a coisa é completamente diferente. As casas ainda estão cobertas por lama e os moradores não vêm horizonte de melhora.
Dona Geralda perdeu tudo. Viu a lama passar por cima da sua casa e de seus familiares. Viu suas criações morrerem. Ela nos mostra o que restou de sua casa, de sua vida. Um amontoado de coisas e restos de paredes, móveis e objetos pessoais.
Logo após a tragédia, foi alocada em uma casa. Por ser muito abafada, mudou-se para outra. Esta que mora hoje, no centro de Barra Longa. A Samarco não paga o seu aluguel há 4 meses. Ela havia recebido, na semana em que a tragédia completara um ano, a noticia que seria despejada, caso a mineradora não pagasse o seu aluguel.
Aparentemente a Samarco não tem muitos critérios para indenizar os atingidos. Diversos atingidos relataram que a empresa teve pressa em restituir fazendeiros e pessoas influentes da cidade. Os moradores da roça de Gesteira por sua vez, padecem.
Uma resposta
Bom dia!
Obrigada pelas reportagens que nos fazem ficar cientes do que ainda passa na região afetada pelo desastre. Eu escrevi para a Vale (pelo Facebook) e para a BHP Billiton (pelo seu site) perguntando o que estavam fazendo para ajudar a estas pessoas afetadas e para reparar o dano ambiental.
A Vale me respondeu assim:
Bom dia, Monica. Tanto nós quanto a Samarco lamentamos profundamente o rompimento da barragem de Fundão em Novembro de 2015 e seus impactos sobre a população, as comunidades e o meio ambiente. Apoiamos a Samarco nas ações de recuperação a fim de reconstruir a história de cada uma das pessoas atingidas e recuperar a região afetada. Essa é apenas uma das ações que estão em andamento. São diversas frentes de trabalho em atividade atualmente, com o objetivo de auxiliar as comunidades impactadas e para agirmos na recuperação do Rio Doce. Apoiamos a Samarco com a finalidade de remediar os danos causados e vamos seguir trabalhando com empenho. Para saber mais sobre estes trabalhos, acesse: http://www.vale.com/samarco/pt/Paginas/Home.aspx
Moro muito longe dali e não tenho como comprovar por mim mesma, mas gostaria de saber se são verdades as ações que dizem realizar.
De qualquer forma, gostaria de saber também, se existe alguma coisa que nós como sociedade civil podemos fazer para ajudar para que se faça justiça nesse processo.
Muito obrigada. Atenciosamente, Monica