Por Kátia Passos, fotos e vídeo por Edouard Fraipont, especial para o Jornalistas Livres
Mais de 600 rostos sofridos. Correria. Respiração ofegante.
O capim ainda tem cheiro de chuva. Cada família com seus bambus. A lona ganha ressignificação, ela é o teto que vai aparar os sonhos de toda aquela gente.
O som do vento frio perpassa pelos microfones de nossas câmeras. Faz 15 graus.
O som das vozes de mulheres, homens e crianças mudam a todo instante. Sotaques diferentes, bonitos, cheios de história. Aqui estão baianos, cearenses, pernambucanos, paranaenses, paulistas e muito do Brasil profundo que pouco governantes conhecem.
A escuridão não incomoda. O brilho do sorriso daquela gente ilumina tudo. Logo eles começam a montar seus barracos.
Natália Szermeta, coordenadora do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) inicia uma assembleia. O informe das ocupações realizadas simultaneamente naquela noite é dado. O povo comemora. Eles sabem que estão dando uma resposta aos governantes que tem tanta dificuldade em resolver o problema da moradia para uma parte seletiva da população, os pobres.
Ocupação consolidada com a maioria dos barracos prontos, o único momento temido acontece: a Polícia Militar chega.
Natália conversa com a PM. Ela diz “MTST” e para sua surpresa, o Tenente responsável pela operação completa: “reivindicando moradia pro povo da periferia que tanto sofre e precisa de moradia”. Natália está visivelmente surpresa e emocionada. Ela só consegue balançar a cabeça num sinal de positivo.
A Polícia entra no topo do terreno, observa e decide ir embora. As mães e pais de família, com sua luta pacífica comemoram e voltam para a “plantação” daquele sonho que deve virar realidade.
De lá, os acampados decidem sair, mas só se for para dentro de suas casas.
Em ritmo de ciranda, o povo canta e nos emociona:
Se o povo soubesse o próprio talento que ele tem, não aturava desaforo de ninguém. É pra criar, é pra criar, o poder popular. Aqui está o povo sem medo de lutar.
Acompanhe o vídeo: