Por Maria Carolina Trevisan, com fotos de Lina Marinelli, de Brasília
Silêncio no plenário. A presidenta Dilma chegou e cumprimentou a mesa em um ritual solene. Ao fazer sua defesa, foi contundente mas se emocionou ao lembrar que sobreviveu a um câncer linfático e a seguidos dias de tortura. “Por duas vezes vi de perto a face da morte: quando fui torturada por dias seguidos, submetida a sevícias que nos fazem duvidar da humanidade e do próprio sentido da vida; e quando uma doença grave e extremamente dolorosa poderia ter abreviado minha existência. Hoje eu só temo a morte da democracia”, disse, com a voz embargada e os olhos marejados. E agradeceu às mulheres brasileiras: “me cobriram de flores e me protegeram com sua solidariedade.” Afirmou que, caso consiga passar pela sabatina desta semana e manter seu governo, convocará um plebiscito para consultar a população sobre o desejo de novas eleições.
A partir daí seguiram-se 40 perguntas dos senadores. A presidenta respondeu uma a uma com a força, a resiliência e a coragem de quem sobreviveu à tortura – e a outros golpes. Entre as principais indagações, a questão econômica foi central, chamada por alguns senadores de “mágica fiscal”. Faz sentido. A presidenta está sendo julgada por supostos crimes de responsabilidade. No pano de fundo, a constante queixa pela falta de diálogo com diversos setores da sociedade. Dilma reconheceu a escuta rara. E se desculpou. Disse, entre muitas outras afirmações, que Michel Temer, o presidente interino, sempre foi “um coadjuvante”. Segundo ela, “o líder é Eduardo Cunha”. Os que defendem Dilma declararam estar honrados pela trajetória e firmeza da presidenta.
As previsões para o desfecho do interrogatório variaram. A princípio parecia que a única saída seria o impedimento se consolidar. Mas à medida em que a presidenta Dilma seguia respondendo com clareza a cada pergunta, a balança foi mudando. Ao mesmo tempo, outros indícios mostraram que o jogo não está definido: o Palácio do Planalto continuou se movimentando para garantir os votos necessários, convidou indecisos como José Maranhão, Edison Lobão e João Alberto, todos do PMDB, para conversas privadas, barganhou cargos para agradar senadores, fez manobras para garantir que o julgamento de Cunha aconteça depois do processo de impeachment. Os aliados de Temer não estavam relaxados.
Por outro lado, na contagem dos senadores simpáticos à presidenta, o impeachment não passará. O motivo seria o fato de não ter havido crime de responsabilidade, o que justificaria o impedimento. Ao senador Telmário Mota (PDT-RR), um dos indecisos que se mostrou favorável à Dilma, a presidenta disse: “Deus me livre do que o senhor chamou do ‘PMDB do mal’.” Ela sabe do que são capazes.
Ainda não se sabe se o desfecho do processo de impeachment será nesta terça-feira (30), como era o desejo do presidente provisório, Michel Temer, para que pudesse viajar à China – caso se torne presidente de fato – ou se segue até a madrugada de quarta-feira (31). Na próxima etapa, haverá argumentações da defesa e da acusação e em seguida os 81 senadores deverão votar. Para que o impeachment se consolide, pelo menos 54 senadores precisam votar a favor.