Entrevista com Djamila Ribeiro

O dia 14 de abril foi um dia histórico pra mim e nesse dia, em sala de aula, me lembrei do dia em que me descobri negra dentro da universidade.
Poderia parafrasear Simone de Beauvoir, até certo ponto e dizer “você nasce negro, a sociedade te branqueia e você se redescobre”. Esse foi o processo comigo e com outras pessoas que conheci na minha caminhada e que sempre se recusaram a usar a palavra “negro” para falar de si próprio, como se ainda vivêssemos no pós-abolição, quando essa palavra ainda era sinônimo de escravizado.


Na minha jornada de me descobrir negra adotei novos ídolos e principalmente novas ídolas, quando vi que na pirâmide social a carne da mulher negra nem chega a ser a mais barata, porque ela é considerada podre. Não somos humanas.


Isso quem diz é uma de minhas novas ídolas, Djamila Ribeiro, mestra em filosofia da Unifesp, com quem tive a honra de me sentar para discutir os problemas que ainda afligem diariamente a nossa população.
A mulher negra morre mais, o jovem negro morre mais, a mulher negra ganha menos e no meio disso tudo a sociedade insiste em fechar os olhos para o racismo e o machismo estruturais que assassinam.
Quem chora nossa morte?
Mas isso está mudando. Depois de todo esforço que os colonizadores e escravizadores fizeram para impedir, nós estamos nos reconhecendo como um povo único, plural sim, mas que luta pelos mesmos direitos e pelos direitos de todas.


A nossa luta é pela democracia e por um Estado que não nos trate mais com violência.
E é também para mostrar que a mulher negra está agora na universidade e que ela está preparada para discutir Marx, assim como para se sentar na bancada de um jornal, para construir um prédio e para salvar uma vida. Nós decidimos que o nosso lugar na sociedade são todos os lugares que pudermos ocupar.
Não calarão mais a nossa voz.

 

COMENTÁRIOS

2 respostas

  1. Poderia parafrasear Simone de Beauvoir, até certo ponto e dizer “você nasce negro, a sociedade te branqueia e você se redescobre”, gostaria de ter certeza se essa frase foi dita pela Djamila ou pela entrevistadora, por favor.

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