Segurança do metrô ataca a imprensa livre

Fotógrafo André Lucas Almeida, que registrava o protesto para a Agência Futura Press, mostra a lente quebrada

Por Laura Capriglione, especial para os Jornalistas Livres

Além do massacre do estudante Heudes Cássio Oliveira, de 18 anos, aluno do 3º ano do ensino médio da Escola Estadual Fernão Dias, em Pinheiros, a segurança do metrô de São Paulo também protagonizou cenas de violência explícita contra a imprensa livre nesta segunda-feira, 21/12. Desta vez, os homens de preto do metrô exercitaram suas habilidades na arte de espancar, humilhar e aterrorizar contra o fotógrafo André Lucas Almeida, que registrava o protesto estudantil para a Agência Futura Press.

O repórter-fotográfico acabava de cobrir a passeata contra a “reorganização escolar” do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), que saiu do Masp e foi até a praça da Sé, no centro de São Paulo. Quando a manifestação já se dispersava, dentro da estação Sé do metrô, André pegou o seu bilhete único e passou pela catraca.

Neste momento, os participantes do ato realizavam o chamado “catracaço”, que consiste em pular e catraca e usar o metrô sem pagar a tarifa.

Segundo André, “o segurança chefe liberou de boa para os estudantes pularem; ninguém quebrou nada; só entraram para pegar o trem.”

Foi então que entraram em cena alguns seguranças mais exaltados, que começaram a tirar o cassetete e a ameaçar. O recado era claro: ninguém mais pularia.

Bastou um jovem (que havia ficado para trás) tentar pular e começaram as agressões dos seguranças.

“Foi do nada. De repente, um segurança do metrô, sem qualquer identificação, veio por trás de mim com tudo e deu uma porrada com o cassete na minha lente”, lembra André.

Trata-se de uma lente 17-40mm, que vale R$ 3.500. Quem vai pagar por isso?

Quando o fotógrafo foi perguntar ao segurança o porquê da agressão, recebeu como resposta unicamente “ironia e tiração de sarro”.

Jornalistas Livres entraram em contato com a assessoria de imprensa da Companhia do Metrô e endereçaram a ela as seguintes questões:

Prezados Senhores,

Sou repórter da rede Jornalistas Livres e gostaria de ouvir a posição da empresa a respeito dos espancamentos praticados por seguranças da Companhia do Metrô de São Paulo contra manifestantes que acabavam de participar do ato contra a “reorganização escolar” proposta pelo governador Geraldo Alckmin.Queríamos saber entre outras coisas:1. Por que os seguranças não portavam identificação? Se essa identificação é obrigatória nas fardas dos PMs, porque não seria entre os seguranças do metrô?2. Quem cuida do treinamento dos seguranças do Metrô?3. Em que casos eles intervêm? Existe uma normatização dos procedimentos? É possível vermos essas normas?4. Os seguranças do Metrô são funcionários da empresa ou são terceirizados?Estou à disposição para contato…Atenciosamente.

Em resposta às questões colocadas, a assessoria do Metrô nos enviou a seguinte nota oficial, às 15h02:

Nota do Metrô

Na noite desta segunda-feira (21), grupo de manifestantes invadiu o sistema metroviário, burlando as catracas da estação Sé. Agentes de Segurança do Metrô, em conjunto com a PM, atuaram para conter o grupo de invasores. Mesmo sem pagar tarifa, alguns manifestantes conseguiram embarcar enquanto outros foram contidos e retirados da estação. A ocorrência está sendo apurada pela Companhia.

Desde já, e com o único propósito de ajudar o metrô em sua “apuração” e a coibir a prática de violência contra manifestantes e a imprensa, Jornalistas Livres publicam a série de fotos em que aparece o segurança agressor, no momento em que “tirava sarro” do fotógrafo André.


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