7 meses depois: futuro dos atingidos incerto e angústia presente

Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres

A vida em comunidade foi destruída. Hoje não se vai mais à pé pra missa, pra casa do vizinho, quase todos eles parentes. O convívio que os moradores de Paracatu e Bento Rodrigues tinha, parece ter ido embora com a lama no dia 5 de novembro de 2015. Nessa data, a barragem de Fundão, da empresa Samarco (leia-se Vale e BHP Bilinton), se rompeu, atingindo distritos rurais de Mariana, Barra Longa e toda a bacia do Rio Doce, chegando ao mar do Espírito Santo, e da Bahia também.

Fotografia: Caio Santos / Jornalistas Livres
Fotografia: Caio Santos / Jornalistas Livres

Essa separação que a lama trouxe é o que mais causa angústia nos atingidos de Mariana hoje. Casais estão se separando e muita gente teve que procurar ajuda psicológica e psiquiátrica. Quem perdeu entes no crime então…

 

 

 

 

 

 

Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres

O subdistrito de Mariana, Bento Rodrigues, foi todo arrasado. Não sobrou nada: igreja, bar, campo de futebol, casas, plantações…Em Paracatu de Baixo, outro distrito atingido, sobrou alguma coisa e alguns moradores ainda resistem em ficar lá, pois não suportam a vida longe da roça. Mas uma segunda barragem, a Germano, quatro vezes maior que a de Fundão, está ali próxima e também corre o risco de se romper.

 

Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres

 

O povo que sempre viveu na zona rural está sofrendo muito. Não sei quem sofre mais: Marta, que hoje vive próxima à casa toda destruída pela lama em Paracatu de Cima, ou Maria do Carmo, de Paracatu de Baixo, que hoje está numa casa alugada pela empresa dona da lama no centro de Mariana e só de se lembrar da vida na roça quer chorar.

 

Marta de Paracatu de Cima. Fotografia: Aline Frazão
Marta de Paracatu de Cima. Fotografia: Aline Frazão
José Patrocínio e Maria do Carmo, de Paracatu de Baixo. Fotografia: Aline Frazão
José Patrocínio e Maria do Carmo, de Paracatu de Baixo. Fotografia: Aline Frazão

Sete meses após o maior crime ambiental do mundo relacionado à mineração, várias famílias estão sem direitos, garantidos com muita luta: a justiça, os atingidos e a empresa acordaram em dezembro passado que as famílias receberiam um salário mínimo para se manter (afinal viviam em sítios com plantações e criação de animais), e uma antecipação de indenização com valores de 10 e 20 mil reais.

 

Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres

Segundo a coordenadora estadual do MAB

 

(Movimento dos Atingidos por Barragens), Letícia Oliveira, não há uma construção de propostas junto aos atingidos e há angústia e incerteza pois não se sabe o prazo para reconstrução das comunidades, quem poderá morar nelas, e como será a retomada da vida rural, pois as pastagens foram tomadas por lama.

“Aqui em Mariana a gente percebe, como em várias outras situações de barragens, que o primeiro direito humano a ser violado é o da informação. Desde o dia 5 de novembro a informação é disputada, ela é controversa, e ela é de várias formas divulgada. E até hoje, sete meses depois, isso ainda acontece. As famílias vão pras reuniões sem saber o tema, a proposta da reunião. Eles não têm informação técnica suficiente e nem de confiança para os atingidos”.

 

Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres

Em Mariana, o número de famílias que ainda não recebeu nenhum direito, como os já citados, chega a 100. Ao longo da Bacia do Rio Doce, o número é muito maior, como se comprova na denúncia o MAB.

Os meses vão passando e a situação dos atingidos não melhora. A empresa ainda consegue convencer muitos deles de que ela não tem dinheiro. Na zona rural as pessoas dizem ” ela está quebrando né ?”. Teve atingido, na sua humildade, que chegou a dizer que não queria mais indenização, os 20 mil bastava porque “coitada, a empresa não tem dinheiro”. Ainda bem que muitos já sabem que a Vale e a BHP Billinton, as donas da Samarco, são as maiores empresas de mineração do mundo.

 

Fotografia: Aline Frazão
Paracatu de Cima sete meses depois do crime – Fotografia: Aline Frazão

 

Assista o vídeo feito pelo Jornalistas Livres publicado na página do Facebook dia 2/6:

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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