vazajato
‘VOU TE PEDIR PRA SER LARANJA EM OUTRA COISA’
Publicadoo
6 anos atrásem

Do Intercept Brasil
Procurador agiu ocultado por movimentos em pautas que envolviam decisões do Supremo e de Michel Temer
O procurador Deltan Dallagnol usou dois grupos políticos surgidos após a operação Lava Jato como porta-vozes de causas políticas pessoais dele e da operação, revelam mensagens trocadas pelo aplicativo Telegram e que fazem parte do arquivo da Vaza Jato. Nelas, Dallagnol pauta atos públicos, publicações em redes sociais e manifestações dos movimentos de forma oculta, tomando cuidados para não ser vinculado publicamente a eles.
Os chats mostram que Dallagnol começou a se movimentar para influenciar a escolha do novo relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal apenas um dia após a morte do ministro Teori Zavascki, antigo responsável pelos processos da operação no STF.
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Um dos grupos, o Vem Pra Rua, é notoriamente alinhado a partidos e políticos de direita. Dono de uma página de Facebook com mais de 2 milhões de seguidores, foi um dos principais organizadores de marchas pelo impeachment de Dilma Rousseff. A sua principal figura é Rogerio Chequer, que aproveitou a fama para lançar-se candidato a governador de São Paulo pelo Novo e, em seguida, tornar-se cabo eleitoral de Jair Bolsonaro.
Próxima a Dallagnol, a procuradora Thaméa Danelon, ex-integrante do braço paulista da Lava Jato – que chegou a coordenar por menos de dois meses no fim de 2018, quando repentinamente pediu para deixar o grupo–, em várias ocasiões funcionou como ponte com o Vem pra Rua, revelam as mensagens recebidas pelo Intercept de uma fonte anônima.
O outro grupo é o Instituto Mude — Chega de Corrupção, criado inicialmente para coletar assinaturas a favor das dez medidas contra a corrupção, um pacote de mudanças legislativas que se tornou uma obsessão pessoal de Dallagnol. Embora o Mude não informe isso em seu site, o coordenador da Lava Jato no Paraná atuou como um diretor informal do movimento, que chegou a organizar encontros numa igreja frequentada pelo procurador – e em que ele é pregador eventual.
Mas, passada a derrota na votação das dez medidas na Câmara, Dallagnol passou a usar o Mude — e também o Vem Pra Rua — para outras tarefas – entre elas influenciar a escolha do relator da Lava Jato no Supremo após a morte de Zavascki.
Atuando nos bastidores dos grupos e insuflando-os a pressionar o STF, Dallagnol estimulou a rejeição dos nomes de Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e do atual presidente da Corte, Dias Toffoli, para a relatoria das ações da operação. Os diálogos mostram ainda que o procurador articulou ações para constranger ou pressionar ministros nos julgamentos que discutiram a prisão em segunda instância.
Em 2017, Dallagnol encomendou aos movimentos uma campanha para forçar Michel Temer a indicar o primeiro nome da lista tríplice encaminhada pela Associação Nacional dos Procuradores da República, a ANPR, ao cargo de procurador-geral da República. O escolhido substituiria Rodrigo Janot, que comandou o órgão durante o surgimento e a ascensão da Lava Jato.
‘NÃO ME CITEM COMO ORIGEM, PARA EVITAR MELINDRAR STF’
UM DOS PRIMEIROS EPISÓDIOS revelados pelas mensagens ocorreu em janeiro de 2017, quando Teori Zavascki morreu num acidente aéreo. O ministro do STF deixou aberta não apenas uma cadeira no Supremo: também ficou vago o posto de relator dos processos da Lava Jato na corte – o responsável pelos casos que envolviam políticos com foro privilegiado. A lacuna criada pela morte repentina de Zavascki só poderia ser preenchida por um integrante da 2ª turma, e nenhum dos remanescentes — Toffoli, Mendes, Lewandowski e Celso de Mello — tinha a simpatia da força-tarefa. Dallagnol deixou isso explícito ao relatar ao líder do Mude, Fabio Alex Oliveira, uma conversa que tivera com um integrante de outro movimento político.
“De início, agradeci o apio do movimento etc. 1. Falei que não posso posicionar a FT publicamente, mesmo em off, quanto a Ministros que seriam bons, pq podemos queimar em vez de ajudar”, contou Dallagnol. “Falei os 4 que seriam ruins, “que Toff, Lewa, Gilm e Marco Aur”, escreveu para Oliveira no dia seguinte à morte de Zavascki.
Dias depois, em 24 de janeiro, o Mude pediu ao procurador uma “orientação sobre quem seria ideal pra assumir a posição do Teori”. A co-fundadora Patricia Fehrmann explicou que “tem muita gente perguntando o q fazer. O VPR é um desses”, referindo-se ao Vem Pra Rua. O procurador declinou. “Não podemos nos posicionar. Queimamos a pessoa rsrsrs”.
‘se houver um movimento social, sem vinculação conosco, contra o sorteio, aí pode ter algum resultado…’
Mas, em 31 de janeiro, Dallagnol manifestou sua preocupação com os colegas da força-tarefa do Paraná no grupo Filhos do Januário 1. Ele sugeriu que dissessem a jornalistas, em off, que temiam “que Toff, Gilm ou Lew assumam” e que delegassem aos movimentos sociais a tarefa de pressionar o STF a não definir a questão por sorteio, o que seria uma “roleta russa”.
Outros procuradores concordaram que não valeria a pena a força-tarefa se manifestar, mas não se opuseram a orientar grupos de pressão alinhados. “se houver um movimento social, sem vinculação conosco, contra o sorteio, aí pode ter algum resultado…”, avaliou o procurador Paulo Roberto Galvão.
No dia seguinte, em 1º de fevereiro, o ministro Edson Fachin, de surpresa, pediu para migrar para a 2ª turma. Mas a Lava Jato preferia que Luís Roberto Barroso tivesse feito isso. Numa conversa privada com uma ex-integrante da Lava Jato na Procuradoria-Geral da República, Dallagnol indica que chegou a fazer o pedido a ele:
1 de fevereiro de 2017 – Chat privado
Anna Carolina Resende – 12:11:18 – Deltan, fale com Barroso
Resende – 12:11:37 – insista para ele ir pra 2 Turma
Deltan Dallagnol – 12:18:07 – Há infos novas? E Fachin?
Dallagnol – 12:18:11 – Ele seria ótimo
Resende – 13:54:21 – Vai ser definido hj
Resende – 13:54:33 – Fachin não eh ruim mas não eh bom como Barroso
Resende – 13:54:44 – Mas nunca se sabe quem será sorteado
Resende – 13:56:40 – Barroso tinha q entrar nessa briga. Ele não tem rabo preso. Eh uma oportunidade dele mostrar o trabalho dele. Os outros ministros devem ter ciúmes dele, pq sabem que ele brilharia na LJ. Ele tem que ser forte e corajoso. Ele pode pedir p ir p 2 turma e ninguém pode impedi-lo. Vão achar ruim mas paciência, ele teria feito a parte dele
Dallagnol – 14:11:37 – Ele ficou alijado de todo processo. Ninguém consultou ele em nenhum momento. Há poréns na visão dele em ir, mas insisti com um pedido final. É possível, mas improvável.
Dallagnol – 14:30:16 – Mas sua mensagem foi ótima, Caroll
Dallagnol – 14:30:24 – Por favor não comente isso com ninguém
Dallagnol – 14:30:25 – Please
Dallagnol – 14:30:29 – Ele pediu reserva
Resende – 14:30:31 – clarooo, nem se preocupe
Resende – 14:30:45 – só lhe pedi para falar novamente com ele porque isso está sendo decidido hoje
Dallagnol – 14:30:52 – Foi o tom do meu último peido
Resende – 14:31:18 – vamos rezar para Deus fazer o melhor
Resende – 14:32:22 – mas nosso mentalização aqui é toda em Barroso
Naquele dia, Dallagnol voltou a conversar com Patrícia Fehrmann, líder do Mude, para dizer que “seria bom se os movimentos replicassem o post do Luis Flavio Gomes”. Encaminhou, em seguida, um texto do jurista, que hoje também é deputado federal pelo PSB de São Paulo.
A publicação atacava Mendes, Lewandowski e Toffoli e afirmava que “comprovar-se-á que o diabo também pode vestir toga” se a relatoria da Lava Jato caísse com um dos três. Dallagnol instruiu Fehrmann a procurar o Vem Pra Rua para reproduzir a mensagem, mas pediu anonimato na sugestão: “só não me citem como origem, para evitar melindrar STF”.
O Mude seguiu a recomendação e logo compartilhou o texto do jurista. No fim das contas, Fachin foi transferido para a 2ª Turma e acabou sorteado relator da Lava Jato. Dallagnol comemorou o resultado em 2 de fevereiro numa conversa com Fabio Oliveira, do Mude: “Fachin foi coisa de Deus”.
‘UM JEITO ELEGANTE DE PRESSIONAR RS’
COM A RELATORIA DA LAVA JATO ENTREGUE A FACHIN, Michel Temer indicou Alexandre de Moraes, então ministro da Justiça, para a vaga de Zavascki no Supremo. Um ano depois, o ministro tornou-se alvo de uma investida dos movimentos coordenada por Dallagnol após o Tribunal Regional Federal da 4ª Região confirmar, em janeiro, a condenação do ex-presidente Lula no processo do triplex do Guarujá.
Em meio às especulações sobre a provável prisão do petista, circulou a informação de que o Supremo estudava permitir o cumprimento da pena só após a condenação ser ratificada Superior Tribunal de Justiça, a terceira instância. As atenções então voltaram-se para Moraes, o único no STF que ainda não havia emitido voto sobre o assunto. O entendimento mais recente do STF sobre a prisão em segunda instância era de fevereiro de 2016, quando a posição prevaleceu por sete votos a quatro em julgamento que teve a participação de todos os outros ministros — exceto ele.
Três dias após a confirmação da sentença de Lula, Dallagnol expôs sua preocupação à procuradora Thaméa Danelon:
27 de Janeiro de 2018 – Chat privado
Deltan Dallagnol – 20:41:03 – Tamis, qto à execução provisória, temos que deixar mais caro pro Alexandre de Moraes mudar de posição
Thaméa Danelon – 20:41:26 – Claro
Danelon – 20:41:31 – O q vc sugere?
Danelon – 20:41:49 – Eu vi q vc replicou um tt de uma cidadã.
Danelon – 20:41:54 – Vou replicar
Dallagnol – 20:43:56 – Temos que reunir infos de que no passado apoiava a execução após julgamento de SEGUNDO grau e passar pros movimentos baterem nisso muito
Dallagnol – 20:44:09 – Deixar cara a mudança
Danelon – 20:44:16 – Ok. Eu posso passar para os movimento.
Danelon – 20:44:31 – Para o Vem pra Rua e Nas Ruas
Dallagnol – 20:44:33 – Mostrar que a mudança beneficia Aécio e PSDbistas do partido a que vinculado
Danelon – 20:44:43 – Ótimo
Danelon – 20:44:58 – Eu lembro q ele se manifestou favorável a segunda inst
Dallagnol – 20:45:00 – Que vão perder foro neste ano provavelmente
Danelon – 20:45:06 – Mas não lembro como ele declarou isso
Em seguida, Dallagnol encaminhou a um assessor de Comunicação do MPF a troca de mensagens com Thaméa Danelon para pedir que o profissional ajudasse a buscar material que pudesse constranger o ministro. O servidor fez algumas ponderações:
27 de Janeiro de 2018 – Chat privado
Assessor 1 – 21:57:13 – sobre a estratégia sobre a 2a instância: acho que temos de ser muito cuidadosos. qualquer manifestação da FT sobre o assunto agora vai ser usada pelo PT e aliados (de verdade ou de ocasião, como boa parte do MDB) para repetir a ladainha de que a LJ persegue Lula. isso sem contar a provável reação negativa (mesmo que não tornada pública) da PGR. alimentar – discretamente – os movimentos sociais e até a imprensa (como esta informação para o Antagonista) me parece mais “seguro” do que se manifestar pessoalmente em entrevista, artigo ou mesmo post.
Assessor 1 – 22:12:47 – neste vídeo, ele fica bem em cima do muro (a partir de 12 min, mais ou menos): https://www.youtube.com/watch?v=oxoOgBVUzQ4
Deltan Dallagnol – 22:32:39 – CF já começou a detonar rs
Dallagnol – 22:32:43 – concordo com Vc
Dallagnol – 22:32:51 – hummmm
Dallagnol – 22:32:56 – se tivermos um vídeo bem claro, será top
Assessor 1 – 22:33:00 – ai, ai, ai… rs
Dallagnol – 22:33:01 – um vídeo viralizaria
Assessor 1 – 22:33:40 – é exatamente isso que estou procurando agora, um vídeo.
Dallagnol – 22:35:15 – 


Ainda naquele início de madrugada, o assessor retornou com o vídeo pedido pelo procurador:
28 de Janeiro de 2018 – Chat privado
Assessor 1 – 21:57:13 – [vídeo não encontrado]
Assessor 1 – 01:48:20 – ele falou na sabatina do Senado. cortei o vídeo “grosseiramente” para deixar só a fala sobre execução provisória. não acrescentei legenda, nada, e reduzi a resolução para viralizar mais fácil… rsrs
Assessor 1 – 01:49:56 – e, pelo visto, dra Thaméa já acionou o VPR:
Assessor 1 – 01:50:13 –
https://www.facebook.com/vemprarua.net/videos/923467331167949/
Assessor 1 – 01:50:13 –
Versão Telegram / WhatsApp [vídeo não encontrado]
Assessor 1 – 01:52:23 – ah, o vídeo original da TV Senado com a sabatina do Moraes está aqui: https://www.youtube.com/watch?v=ejaXcVrGnAc
Assessor 1 – 02:18:10 – o trecho sobre execução primária começa aos 3:01:50.
Deltan Dallagnol – 12:55:18 – Shou
Dallagnol – 12:56:12 – Top Assessor 1
Dallagnol – 12:58:30 – HAHAHAAH SENSACIONAL!
Dallagnol – 12:58:39 – VC É DEMAIS!!!
No início da tarde daquele dia, Dallagnol chamou a colega do MPF em São Paulo pelo Telegram e a estimulou a abastecer os movimentos com o vídeo:
28 de Janeiro de 2018 – Chat privado
Deltan Dallagnol – 12:57:12 –
https://www.facebook.com/vemprarua.net/videos/923467331167949/
Dallagnol – 12:57:12 –
Versão Telegram / WhatsApp [vídeo não encontrado]
Thaméa Danelon – 12:57:51 – Vc acha q podemos repassar esses posts?
Danelon – 12:58:56 – Acho q nessa altura do campeonato não haveria problema em compartilhar posts do VPR né?
Danelon – 12:59:06 – Acho eles bem coerentes e razoáveis
Dallagnol – 12:59:35 – Vc quem vê…. pra nós aqui acho que não é bom
Danelon – 13:00:12 – Entendi. Então, Thiago se ofereceu para ser o Coordenador de nossa FT aqui
Dallagnol – 13:01:37 – Passa esse vídeo pro VPR e outros movimentos, pra usarem se acharem bom?
Dallagnol – 13:01:49 – [vídeo não encontrado]
Danelon – 13:01:57 – Ok
Danelon – 13:15:55 – [anexo não encontrado]
Danelon – 13:16:07 – Mande para a Iza, atual líder do VPR em SP
Danelon – 13:17:33 – *mandei
Danelon – 15:50:40 – VPR já fez post com o vídeo!!
Danelon – 15:50:45 – [anexo não encontrado]
Danelon – 15:50:59 – Vc acha q eu posso compartilhar?
Dallagnol – 19:36:59 – Eu evito VPR
Dallagnol – 19:37:34 – Da pra compartilhar dizendo: certamente AM vai votar pela prisão… não teria razão pra mudar de opinião que tem desde 2009 agora…
Danelon – 19:39:02 – Entendi. Farei isso. Thanks
Danelon – 19:54:49 – Postei. Veja
Danelon – 19:54:55 – [anexo não encontrado]
Dallagnol – 19:59:08 – Ótimo
Danelon – 19:59:23 – Só estou corrigindo o diz por disse
Dallagnol – 20:00:24 – Pois é não vi na sua rimeline
Danelon – 20:00:39 – Eu apaguei. Estou corrigindo
Danelon – 20:02:38 – [anexo não encontrado]
Danelon – 20:03:14 – [áudio não encontrado]
Danelon – 20:03:30 – [áudio não encontrado]
Dallagnol – 20:09:04 – Boa Tamis, acho que é por aí. É uma mensagem que deposita confiança e ao mesmo tempo empareda
Danelon – 20:09:17 – Sim
Dallagnol – 20:09:21 – Um jeito elegante de pressionar rs
Danelon – 20:10:02 – Valeu pelo RTT
Dallagnol – 20:10:49 – Imagina! Esse vídeo tem que viralizar! Seria bom se fizessem uma edição bacana pra circular…
Danelon – 20:11:01 – Vou falar pra eles.
Danelon – 20:11:07 – Eles fazem sim
Dallagnol – 20:12:52 – Se puder, assume a sugestão como sua. Quando menos FTLJ aparecer nisso, melhor.
Danelon – 20:13:07 – Claro!!
Danelon – 20:13:11 – Fique tranquilo
Danelon – 20:13:18 – Nem menciono seu nome!
Dallagnol – 20:13:27 – Talvez tenhamos que entrar nisso (CF já entrou até), mas o que der pra ficarmos fora, se voar sem a gente, muito melhor
Danelon – 20:13:38 – Tranquilo amigo
Dallagnol – 20:13:40 – Se não vão dizer que é perseguição ao Lula
Danelon – 20:13:45 – Pode deixar q faço o q for preciso
Danelon – 21:22:16 – Os posts estão dando bastante repercussão.
Danelon – 21:23:04 – Mais pra frente vou sugerir aos grupos um tuitaço tipo #naomudaAlexandre
Se por causa da pressão ou não, certo é que poucos dias depois, em 6 de fevereiro, Alexandre de Moraes fez o que Dallagnol, Danelon e o Vem Pra Rua desejavam: votou a favor da execução da pena do deputado federal João Rodrigues, do PSD de Santa Catarina, que havia tido uma condenação pela Justiça Federal confirmada em segunda instância.
‘EU JÁ ESTAVA FALANDO COM OS MOVIMENTOS’


Procuradores – entre eles Deltan Dallagnol e Thaméa Danelon – festejam a marca de 1,5 milhão de assinaturas ao projeto de medidas contra a corrupção do Ministério Público Federal, vistas como autoritárias por críticos.Fotos: Zanone Fraissat/Folhapress
OUTRA ARTICULAÇÃO DE DALLAGNOL não chegou a ser posta em prática pelos movimentos por falta de tempo. Em 27 de junho de 2017, a Associação Nacional dos Procuradores da República, a ANPR, anunciou a lista tríplice com os nomes sugeridos pela instituição para substituir o Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que deixaria o cargo em setembro daquele ano. Os procuradores mais votados pelos pares foram, por ordem, Nicolao Dino, Raquel Dodge e Mario Bonsaglia. Legalmente, a escolha do presidente da República é livre: ele não é obrigado a indicar o vencedor da eleição ou qualquer um dos indicados da lista.
Naquele mesmo dia, o chefe da Lava Jato no Paraná chamou Dino – irmão do governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB – no Telegram e expôs a ele sua preferência e seu plano secreto. “Nicolaaaaaaooooo PARABÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉNSS. Não conta pra ng, mas vou pedir pros movimentos sociais fazerem campanha pra ser nomeado o primeiro da lista”. Dallagnol ainda perguntou se haveria “alguma reserva” à estratégia, mas Dino não se opôs. “Ok”, respondeu.
O procurador buscou novamente o grupo do Telegram com os colaboradores mais próximos do Mude. “Caros, Nicolao ganhou. Ele é a voz anticorrupção. é o primeiro da lista tríplice”, anunciou. “Sem mencionar minha sugestão, Vcs conseguiriam articular uma campanha para ser nomeado o primeiro da lista? Ele é o top. Essa campanha não tem legitimidade se sari da gente. Apenas se sair da sociedade”.
Dallagnol prosseguiu, já na madrugada de 28 de junho:
Deltan Dallagnol – 00:33:20 – Vcs conseguem articular com VPR e outros uma campanha pra escolha do mais votado, com hashtag e tal?
Dallagnol – 01:22:17 – Há um risco de Temer querer nomear amanhã mesmo, para evitar essa pressão… por isso o qto antes, melhor
Patricia Fehrmann – 11:30:25 – Deltan. Estamos tentando articular. As pessoas tem duvidas e ou estao distantes desse assunto. Mas estamos fomentando.
Dallagnol – 12:26:21 – Se quiser me mandar as dúvidas posso tentar responder
Fehrmann – 12:58:35 – Vc tem alguma materia na mão que ele defenda a lava jato ou q tenha um pouco do perfil dele?
Naquele dia, o Mude chegou a conclamar seus seguidores no Facebook a exigirem que Temer respeitasse a lista tríplice. Mas, talvez por Dino ser irmão de um político do PCdoB, o Vem Pra Rua limitou-se a noticiar o resultado da eleição da ANPR. De todo modo, a mobilização foi prejudicada, como temia o coordenador da Lava Jato, porque Temer selou a indicação de Dodge, a segunda da lista, já no dia seguinte.
O procurador lamentou com a colega Anna Carolina Resende, de Brasília: “Temer foi esperto. Não nos tempo para nos articularmos pelo primeiro. Eu já estava falando com os movimentos em favro de uma campanha”, escreveu o procurador. E acrescentou: “(não comente isso)”.
‘TEMOS QUE CUIDAR PRA NÃO PARECER PRESSÃO’
EM 22 DE MARÇO DE 2018, o STF concedeu ao ex-presidente Lula um salvo-conduto para que ele, já condenado em segunda instância no caso do triplex do Guarujá, não fosse preso até o julgamento de seu habeas corpus preventivo, marcado para 4 de abril. Grupos contrários e favoráveis ao petista mobilizaram-se para pressionar o Supremo.
Oito dias depois, Dallagnol anunciou no grupo de Telegram Parceiros MPF — 10 medidas que ele e a equipe da Lava Jato no Paraná haviam aderido a um abaixo-assinado restrito a juízes e procuradores a favor da prisão em segunda instância. Horas mais tarde, o procurador discutiu com Thaméa Danelon a possibilidade de que também houvesse abaixo-assinados apresentados pela sociedade, e não apenas por autoridades.
No dia seguinte, Dallagnol fez uma proposta à procuradora. “Se Vc topar, vou te pedir pra ser laranja em outra coisa que estou articulando kkkk”. Danelon assentiu, animada, e o chefe da Lava Jato continuou. “Um abaixo assinado da população, mas isso tb nao pode sair de nós… o Observatório vai fazer. Mas não comenta com ng, mesmo depois. Tenho que ficar na sombra e aderir lá pelo segundo dia. No primeiro, ia pedir pra Vc divulgar nos grupos. Daí o pessoal automaticamente vai postar etc”.
O Observatório Social é uma organização de atuação nacional sediada em Curitiba que atua, segundo o site, “em favor da transparência e da qualidade na aplicação dos recursos públicos”. Mantendo sigilo sobre a articulação, a colega de Dallagnol em São Paulo divulgou o abaixo-assinado e disse a ele que o Vem Pra Rua fez o mesmo. Em seguida, o coordenador da Lava Jato compartilhou a petição em seu perfil do Facebook sem mencionar que estava por trás da iniciativa.
Satisfeito com a repercussão, Dallagnol escreveu a Danelon: “Temos que cuidar pra não parecer pressão. Se não estivéssemos na LJ, o tom seria outro kkkkk. Ia chutar o pau da barraca rs. Depois chutava a barraca e eles todos tb kkk”. A procuradora subiu vários tons. “Eu colocava todos na barraca e metralhava kkkk”.
‘DELTAN PRECISA VER E INDICAR NOMES’
UM DOS PRINCIPAIS grupos de pressão política usado por Dallagnol, o Instituto Mude — Chega de Corrupção começou a se estruturar no final de março de 2015. Ele surgiu logo após o Ministério Público Federal ter apresentado as 10 medidas contra a corrupção, o pacote de mudanças legislativas que a instituição lançou com a intenção de reduzir a impunidade, prevenir a ocorrência de crimes e facilitar a recuperação de dinheiro desviado – propostas vistas por críticos como medidas autoritárias.
Em seu livro “A luta contra a corrupção”, Dallagnol conta que partiu de um dos líderes do Mude a ideia de que as medidas não fossem entregues diretamente ao Congresso. O plano era articular um projeto de lei de iniciativa popular, subscrito por um por cento do eleitorado nacional, o mínimo exigido em lei, o que significa cerca de 1,5 milhão de assinaturas.
Os principais organizadores do movimento, com quem Dallagnol tinha um grupo exclusivo no Telegram, são todos membros da Igreja Batista do Bacacheri, templo evangélico em Curitiba que o procurador também frequenta.
Dallagnol nunca escondeu sua proximidade com o grupo. Ele costumava ceder a líderes do Mude espaço em suas palestras sobre as dez medidas, especialmente as realizadas em igrejas. Os integrantes, porém, eram apresentados publicamente apenas como membros da sociedade civil que haviam abraçado o projeto. Mas as conversas mantidas entre eles no Telegram deixam claro que o procurador coordenava o grupo e acompanhava todos os seus passos, ainda que desse a eles autonomia para decisões administrativas de menor porte.
‘próxima manchete será “o instituto que o dr Deltan criou como fachada pra fazer pressão nos deputados”’, preocupou-se uma voluntária.
Autor de várias iniciativas de divulgação das dez medidas, tais como um “ônibus outdoor”destinado a divulgar as propostas pela região de Curitiba, o Mude passou a ter CNPJ próprio em setembro de 2016. O objetivo era facilitar, entre outras coisas, a captação de recursos para suas ações. Em julho daquele ano, quando o grupo estava às voltas com as últimas burocracias para se formalizar, um dos líderes fez um pedido a uma colega em um grupo de Telegram composto apenas pela cúpula do movimento. “coloca aqui como seria a composição da diretoria estatutária e do conselho que conversamos ? Deltan precisa ver e indicar nomes”.
Em 18 de novembro de 2016, a coluna Painel, da Folha de S.Paulo, noticiou que Dallagnol havia visitado a redação do jornal, na capital paulista, acompanhado de Tiago Stachon, vice-presidente de Planejamento da Opus Múltipla. A agência de publicidade, sediada em Curitiba, fazia campanha publicitária contratada pelo Mude para divulgar as dez medidas.
Blogs de esquerda exploraram a ligação de Dallagnol com a empresa a partir dessa nota, o que preocupou a cúpula do Mude. Em um chat privado com o procurador, Patricia Fehrmann, do Mude, disse que a diretoria da Opus Múltipla não havia gostado da repercussão do caso e temia que a agência abandonasse a parceria com o instituto.
Dois dias depois, ela disse a Dallagnol que a crise com a Opus Múltipla ainda não havia sido resolvida e explicou seu temor de futuras repercussões: “próxima manchete será “o instituto que o dr Deltan criou como fachada pra fazer pressão nos deputados” – vão chegar no Mude por causa da ligação com a Opus, vão procurar o CNPJ, estatuto, vao ver os nomes e chegam aqui na igreja facil. todos da igreja do Deltan”.
Dallagnol procurou tranquilizá-la. “Concordo com providências, mas calma rsrs… segura a ansiedade. Se forem fazer isso, vão fazer de qq modo, fale eu ou não… é o endereço que ficou o da igreja, não.?”, perguntou. A líder do Mude confirmou. “Já pedimos pra alterar o endereço. Vai mudar essa semana. Mas o original ficou da igreja”.
‘TEM DE SER DE NAME AND SHAME NAS REDES’


Protesto em 4 de dezembro de 2016 após a Câmara aprovar uma versão “desfigurada” do pacote anticorrupção proposto pelo Ministério Público Federal.Fotos: Bruno Santos/Folhapress
O PROJETO DAS DEZ MEDIDAS CONTRA A CORRUPÇÃO foi entregue ao Congresso em março de 2016 acompanhado de mais de 2 milhões de assinaturas. O texto passou por uma comissão especial na Câmara e entrou na fase decisiva em novembro.
No dia 17, quando havia a expectativa de que fosse votado no colegiado, Dallagnol fez um informe ao grupo Parceiros 10 Medidas MPF assim que soube que a votação não ocorreria naquele dia, por falta de quórum: “Caros, votação será adiada para terça feira. Agora temos que adotar uma estratégia forte, de diferentes frentes. Uma delas será colocar 500 pessoas no Congresso. Já alinhei isso com o MUDE e eles têm capacidade para fazer isso”, escreveu, pela manhã.
À tarde, após a procuradora Thaméa Danelon informar que avisara vários grupos alinhados à direita, Dallagnol passou a traçar estratégias de ação:
17 de Novembro de 2016 – Grupo 2017 – Parceiros/MPF – 10 Medidas.
Thaméa Danelon – 13:44:49 – Já acionei o VPR, Nas Ruas, Brasil Melhor, Brasil Livre
Deltan Dallagnol – 13:44:55 – Danilo, precisamos o quanto antes de uma divisão de tarefas: 1) quem fala com que veículo de imprensa. Entrevistas serão mais fáceis de emplacar do que artigos. 2) quem fala com que deputado. Era bom dividirmos os deputados da comissão e os líderes 3) orientação padronizada do conteúdo da abordagem 4) quem tiver contato com movimentos teria que pedir algo na linha da única linguagem que os deputados falam: a do voto e próximas eleições. A estratégia dos movimentos tem de ser de name and shame nas redes sociais. A segunda estratégia é ligar, tuitar, mandar e-mail… 5) Estou em SP e vou tentar espaço nos jornais Folha e Estadao, falando com os donos
Danelon – 13:44:56 – Eles vão lotar a Câmara na terça
O relatório foi votado na comissão no dia 23 com um texto que Dallagnol e os demais procuradores acharam aceitável. Entretanto, uma semana depois, na madrugada de 30 de novembro, o plenário aprovou o pacote, mas rejeitou quase todos os pontos que os membros que Dallagnol considerava fundamentais para a efetividade do projeto.
A força-tarefa da Lava Jato protestou contra a decisão dos deputados, afirmando que o projeto havia sido “desfigurado”, e protestos em defesa da Lava Jato ocorreram em mais de 200 cidades do país no dia 4 de dezembro – convocados por movimentos como o Vem Pra Rua e o Mude.
OS DIÁLOGOS QUE EMBASARAM esta reportagem são parte de um pacote de mensagens que o Intercept começou a revelar em 9 de junho – série conhecida como Vaza Jato. Os arquivos reúnem chats, fotos, áudios e documentos de procuradores da Lava Jato compartilhados em vários grupos e chats privados do aplicativo Telegram. A declaração conjunta dos editores do The Intercept e do Intercept Brasil (clique para ler o texto completo) explica os critérios editoriais usados para publicar esses materiais.
A assessoria de imprensa do Ministério Público Federal do Paraná informou que “é lícito aos procuradores da República interagir com entidades e movimentos da sociedade civil e estimular a causa de combate à corrupção”.
Mas o Código de Ética e de Conduta do Ministério Público da União, assinado em setembro de 2017 pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, diz que é compromisso de conduta ética dos procuradores “atuar com imparcialidade no desempenho das atribuições funcionais, não permitindo que convicções de ordem político-partidária, religiosa ou ideológica afetem sua isenção”.
“O procurador Deltan Dallagnol não lidera nem integra o Mude, mas apoia o instituto que é apartidário; conhece seus integrantes e seu compromisso com a causa pública e fez doações, que permitiram o desenvolvimento de um curso online de cidadania”, informou o MPF. “O procurador jamais recebeu recursos do Mude. O procurador sugeriu a algumas pessoas interessadas no trabalho anticorrupção que conhecessem o Mude.”
Apesar disso, o MPF insistiu que “a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba não reconhece as mensagens que têm sido atribuídas a seus integrantes nas últimas semanas”, e disse que “o site prejudica o direito de resposta ao não fornecer o material que diz usar na reportagem”. O Intercept esclarece que jamais envia o conteúdo completo de suas reportagens previamente a qualquer fonte ou pessoa citada nelas, mas que oferece, inclusive na série Vaza Jato, a caracterização dos trechos nos quais são citadas, e que concede ao menos 24 horas para que elas enviem suas considerações. Além disso, o procurador Deltan Dallagnol recusou um pedido de entrevista.
Leia Nossa Cobertura CompletaAs mensagens secretas da Lava Jato
Procurado, o Instituto Mude informou que “o contato com o coordenador da maior operação de combate à corrupção já realizada no Brasil é natural” e que ele “iniciou-se a partir do conhecimento da proposta das dez medidas contra a corrupção”.
Apesar disso, alegou que as ações do movimento “não são ou foram definidas por sugestões de indivíduos ou entidades” e que “Dallagnol nunca foi integrante ou associado do Instituto Mude, muito menos fez parte da liderança do movimento” – o que é refutado pelo teor das mensagens. Sobre elas, o instituto, ecoando as palavras do procurador, diz que “não há como reconhecer a literalidade”.
O Vem Pra Rua informou que “na campanha a favor das 10 Medidas Contra a Corrupção buscou parcerias de outros movimentos, entidades e pessoas alinhadas com seus ideais, mantendo sempre sua autonomia”. Apesar disso, recusou-se a comentar o conteúdo das mensagens trocadas com procuradores da República.
A procuradora Thaméa Danelon também foi consultada, mas preferiu não fazer comentários.
Correção: 12 de agosto de 2019, 00h50.
Na primeira versão deste texto o nome com que o procurador Deltan Dallagnol é identificado nos chats (Deltan) aparecia ao lado de duas mensagens, conforme os arquivos originais. Para facilitar a leitura e a compreensão, o Intercept identifica os interlocutores antes do horário das mensagens, usando sempre o nome completo e em seguida apenas o sobrenome. Em seguida, apagamos o nome que antecede as mensagens. Nesses dois casos, ele não havia sido apagado. O erro foi corrigido.
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EUA
Lava Jato pode ter violado Lei brasileira e tratados internacionais para beneficiar investigação norte americana
Publicadoo
5 anos atrásem
12/03/20
Via The Intercept, em parceria com a Agência Pública.
Por: Andrew Fishman, Natalia Viana, Maryam Saleh
CONVERSAS VAZADAS de procuradores do Ministério Público Federal revelam o funcionamento de uma colaboração secreta da operação Lava Jato com o Departamento de Justiça dos EUA, o DOJ, na sigla em inglês. Os diálogos, analisados em parceria com a Agência Pública, mostram que a equipe liderada pelo procurador Deltan Dallagnol fez de tudo para facilitar a investigação dos americanos – a tal ponto que pode ter violado tratados legais internacionais e a lei brasileira.
A Lava Jato é notória por sua estratégia midiática: raramente uma ação de busca e apreensão ou condução coercitiva foi realizada sem a presença das câmeras de tevê. Mas a equipe de Dallagnol fez de tudo para manter sua relação com procuradores americanos e agentes do FBIno escuro.
Veja reportagens na íntegra em:
https://theintercept.com/2020/03/12/lava-jato-driblou-governo-ajudar-americanos-doj/
vazajato
Vereadores do PT de Santo André querem explicações sobre cessão do teatro público para palestra de Deltan Dallagnol
Publicadoo
6 anos atrásem
29/10/19por
Emilio Rodriguez
A Bancada do PT de Santo André protocolou hoje requerimento de informação sobre a cessão do teatro municipal de Santo André para a realização do 7º congresso do direito constitucional, onde foi palestrante Deltan Dallagnol.
O evento foi realizado faculdade de tecnologia jardim-Fatej e pela Fadisa- Faculdade de Direito de Santo André.
Os vereadores Willians Bezerra, Alemão Duarte, Luiz Alberto, Eduardo Leite e Vereadora Bete Siraque pedem informações sobre a data da cessão do espaço público e o documento de sua concessão, além disto, se houve o pagamento do preço público da cessão ou se foi gratuito. Ainda se pede informações sobre se houve gasto com segurança particular e revista, além de se houve a utilização de servidores públicos para este evento.
O evento do controvertido procurador Deltan Dallagnol que recebe milhares de reais de palestras e hoje questionadas pelo Conselho Nacional de Justiça.
Este procurador deu péssimo exemplo de ética, visto pretendeu constituir uma empresa com familiares para receber os recursos das palestras, o que se poderia constituir em uma empresa laranja.
E como os manifestantes gritavam: extra, Extra , Extra/ Dallagnol só quer palestra”
Além disto, Deltan deu diversas palestras para bancos a véspera das eleições que necessitam de explicações, visto que segredo das investigações podem ter sido revelados.
Este evento teve claro cunho político partidário, visto que as denúncias do intecept mostraram a atuação partidária dos procuradores da Lava Jato e que em muitos casos não seguiram as determinações legais, como no caso de conseguir ilegalmente informações sobre sigilo bancário no exterior.
Ficam duas perguntas: como se cede um espaço público para um evento que pela informações colhidas foi cobrado para os participantes assistirem a palestra e obviamente quanto foi pago a Deltan Dallagnol?
O procurador Deltan já tinha sofrido escracho em Porto Alegre e agora foi em Santo André.Isto mostra que o povo brasileiro começa a questionar cada vez mais a atuação partidária da vaza jato e a perseguição política ao presidente Lula.
vazajato
‘RUSSO DEFERIU UMA BUSCA QUE NÃO FOI PEDIDA POR NINGUÉM’
Publicadoo
6 anos atrásem
20/10/19
Intercept Brasil
Oex-juiz Sergio Moro não somente conspirou com os procuradores e comandou a força-tarefa da Lava Jato, conforme revelado pelo Intercept, mas também, desde o começo da operação, capitaneou operações da Polícia Federal. Chats de grupos da Lava Jato no Telegram indicam que o atual ministro da Justiça de Jair Bolsonaro inclusive ordenou busca e apreensão na casa de suspeitos sem provocação do Ministério Público (o que é irregular).
“Russo deferiu uma busca que não foi pedida por ninguém…hahahah. Kkkkk”, escreveu Luciano Flores, delegado da PF alocado na Lava Jato, em fevereiro de 2016, no grupo Amigo Secreto — se referindo a Moro pelo apelido usado pelos procuradores e delegados. “Como assim?!”, respondeu Renata Rodrigues, outra delegada da PF trabalhando na Lava Jato. O delegado Flores, em resposta, avisou ao grupo: “Normal… deixa quieto…Vou ajeitar…kkkk”.
Desde o início da Vaza Jato, foram documentados inúmeros casos do então juiz conspirando em segredo e de forma ilegal com os procuradores na construção dos casos que ele depois dizia julgar de maneira imparcial. Durante os anos em que Moro esteve à frente da Lava Jato, ele chegou inclusive a influir na agenda de operações, conforme mostram as reportagens do Intercept e seus parceiros, realizadas a partir das mensagens secretas trocadas por meio do aplicativo Telegram e entregues ao Intercept por uma fonte anônima. Os diálogos a seguir, que ocorreram dias antes da Condução Coercitiva para depoimento de Luiz Inácio Lula da Silva e da tentativa fracassada da ex-presidente Dilma Rousseff de transformá-lo em ministro-chefe da Casa Civil, demonstram que Moro não conspirou somente com os procuradores, mas também com a Polícia Federal:
Rodrigo Prado – 15:48:19 – Senhores: SUPRIMIDO utiliza seu email particular para receber email que seriam direcionados ao LILS. Seria interessante a quebra. Podemos obter informacoes boas
Prado – 15:49:00 – Gmail
Athayde Ribeiro Costa – 15:52:32 – Otimo
Costa – 15:52:39 – Tem o endereco ja?
Prado – 15:59:00 – Sim
Prado – 15:59:47 – Ja passo
Prado – 16:03:15 – SUPRIMIDO
Márcio Anselmo – 16:03:34 – Kct
Anselmo – 16:03:42 – Esse e-mail deve ser destruidor
Luciano Flores – 16:06:16 – Com essas informações sobre o envolvimento de SUPRIMIDO, não seria o caso de pedir apreensão do smartphone dele???
Prado – 16:07:16 – Exato. Acho que esse telefone é muito importante.
Prado – 16:07:35 – So que se apreendermos, perdemos o grampo
Prado – 16:07:47 – O LILS fala muito nesse telefone
Prado – 16:07:50 – O tempo todo
Prado – 16:07:58 – É o fone seguro dele
Prado – 16:08:16 – Fala com PEPs somente nesse
Flores – 16:10:16 – Talvez seja mais um motivo para apreendermos… se até lá ainda não tenha caído alguma prerrogativa de foro que justifique a subida dos autos… aí diminuiríamos as chances disso acontecer
Costa – 16:56:44 – Não caiu nada sobre as palestras ainda?
Flores – 17:47:27 – Prezados, temos 8 conduções coertivas. Quem tiver quesitos para serem perguntados favor me enviar para eu repassar às equipes que farão as oitivas ainda na manhã do dia D.
Flores – 17:48:24 – Procs, favor informar se vão participar de alguma oitiva dos conduzidos
Flores – 17:48:48 – Até o momento…
Roberson Pozzobon – 18:08:51 – Beleza, Luciano
Orlando Martello – 18:09:52 – Luciano, Por enquanto está mantida a data?
Costa – 18:10:44 – Ok. Vamos formular e enviamos
Flores – 18:12:08 – Sim. Mantida a data de sexta-feira, né?
Flores – 18:18:04 – Russo deferiu uma busca que não foi pedida por ninguém…hahahah
Renata Rodrigues – 18:18:20 – Kkkkk
Rodrigues – 18:18:20 – Como assim?!
Flores – 18:18:37 – Normal… deixa quieto…
Flores – 18:19:40 – Vou ajeitar…kkkk
A aprovação de Moro para a busca e apreensão e para a condução do ex-presidente não é irregular — operações desse tipo demandam necessariamente de aprovação judicial. O que os diálogos revelam pela primeira vez é que o ex-juiz ajudou também no planejamento da operação, tendo inclusive direcionado quais materiais deveriam ser apreendidos — uma violação do sistema acusatório:
4 de março de 2016 – Grupo Amigo Secreto
Márcio Anselmo – 10:50:34 –Vai pedir pra apreender as caixas do sindicato???
Roberson Pozzobon – 10:53:23 – Moro pediu parcimônia nessa apreensão. Acho que vale a pena ver exatamente o que vamos apreender
Anselmo – 10:53:45 – O pessoal lá pediu pra retificar o mandado
Anselmo – 10:53:58 – Não sei o que fazer
Anselmo – 10:54:05 – Vivo ainda continua um impasse
Igor Romario de Paula – 10:54:38 – Vai ser difícil checar isso no local
Anselmo – 10:55:58 – Aguardo decisão de vcs
Deltan Dallagnol – 10:56:20 – concordo, tudo
Anselmo – 10:56:21 – Tem coisa muito valiosa
Pozzobon – 10:56:29 – Igor, pode ligar para o Moro para explicar?
Anselmo – 10:56:33 – Moscardi disse que tem coisa que vale mais de 100 mil
Pozzobon – 10:56:41 – Ou Marcio
Anselmo – 10:56:41 – Moro tá em audiência
Pozzobon – 10:57:24 – Acho que vale a pena pedir para a equipe esperar um pouco para termos o aval do juiz
Dallagnol – 10:57:52 – boa
Renata Rodrigues – 10:58:16 – Márcio tá pedindo extensão do mandado pra possibilitar apreensão
Anselmo – 10:59:01 – Pedi
Dallagnol – 10:59:06 – Boa


Março de 2016: enquanto o então juiz Sergio Moro rodava o país defendendo o combate à lavagem de dinheiro, sua imagem já dividia as ruas.Fotos: Paulo Lisboa/Folhapress; Danilo Verpa/Folhapress; Marcus Leoni/Folhapress
‘O RUSSO TINHA DITO PRA NÃO TER PRESSA’
CHATS MAIS ANTIGOS MOSTRAM que as orientações de Moro nas operações já ocorriam em 2015, como nesse caso, uma semana antes da 14ª fase da Lava Jato:
12 de junho de 2015 – Grupo FT MPF Curitiba 2
Orlando Martello – 18:57:12 – Pessoal, o russo quer q deixemos a Q.G. fora da próxima festa. Posso dar ok?
Roberson Pozzobon – 18:58:00 – [anexo não encontrado]
Deltan Dallagnol – 23:10:48 – Se ele tem reclamado de sobrecarga, é melhor concordar… Diogo, como evoluiu a Q.G.? Podemos fazê-la como próxima fase com outras mamão com açúcar como MPE e ALUSA, depois de Angra.
Na época, as reuniões entre o juiz, procuradores e policiais federais para detalhar ações da Lava Jato eram habituais. Entre 2015 e 2016, encontramos nos arquivos da Vaza Jato pelo menos nove referências a encontros envolvendo delegados da PF e Moro. O procurador Santos Lima, por exemplo, escreveu sobre uma dessas reuniões com presença de policiais federais no grupo FT MPF Curitiba 2, em 19 de julho de 2015: “Estou conversando com o Moro. Ele acha que as prisões seriam fracas e não valeria a pena adiar. Estou tentando transferir a reunião com a Érika para o gabinete dele”.

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O fato de Moro comandar a estratégia e os detalhes das operações da PF era tratado com tanta naturalidade pela força-tarefa que os procuradores pediam rotineiramente orientações ao então juiz. Santos Lima falou para Deltan em 2015, no grupo PF-MPF Lava Jato 2: “Talvez seja útil uma denúncia contra ele para trazê-lo para a colaboração. Mas precisamos conversar com o Russo e fazer denúncias pequenas e estratégicas”.
30 de julho de 2015 – Grupo PF-MPF Lava Jato 2
Deltan Dallagnol – 09:34:56 – Assad poderia dar uma boa nova fase daqui a algum tempo, após as mais prementes
Roberson Pozzobon – 09:44:08 – Com o Assad tem várias novas frentes possíveis. As empresas menores da Petro como a Tome faziam nota com ele, mas também a Utc. Creio que uma denúncia com está seria mais fácil imediatamente, notadamente diante da colaboração do RP. Depois, já temos conexão para trazer falcatruas dele em pedágios, obras em aeroportos. Já encontrei inclusive algumas obras financiadas pela União.
Pozzobon – 09:44:48 – Posso te passar o laudo Renata e os procedimentos da RFB
Carlos Fernando dos Santos Lima – 09:46:32 – Talvez seja útil uma denúncia contra ele para trazê-lo para a colaboração. Mas precisamos conversar com o Russo e fazer denúncias pequenas e estratégicas. Não podemos afogar o Judiciário.
O direcionamento da força-tarefa da Lava Jato e da PF por parte de Moro era corriqueiro. Alguns exemplos-chave deixam claro que os procuradores e delegados discutiam abertamente as ordens que deveriam cumprir:
23 de outubro de 2015 – Grupo PF-MPF Lava Jato 2
Athayde Ribeiro Costa – 09:36:46 – Prezados, sabem dizer onde localizo a planilha/agenda apreendida com BARRA que descreve pgtos a diversos politicos. Lembro que o russo tinha pedido protocolo separado. Vamos precisar pra manter a prisao dele la em cima
Costa – 09:37:24 – É URGENTE
Erika Marena – 10:04:20 – Oi Athayde, o russo tinha dito pra não ter pressa pra eprocar isso, dai coloquei na contracapa dos autos e acabei esquecendo de eprocar
Marena – 10:04:38 – Vou fazer isso logo
Costa – 10:16:28 – Erika, aguarde q vou te ligar. Abs
Marena – 10:17:44 – Ok
Conforme publicado anteriormente pelo Intercept, até mesmo procuradores do MP, quando conversando entre si, comentavam que Moro ultrapassava repetidamente os limites de seu papel de juiz. Em um comentário particularmente sincero, a procuradora Monique Cheker disse que “Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados”.
‘Vc tem mais intimidade pra incomoda-lo no domingo’.
Não foram só os procuradores da Lava Jato e agentes da PF que sabiam que esse comportamento era impróprio. Moro também parecia ter consciência que seu comportamento violava as regras. É exatamente por isso que negou repetida e publicamente ter participado da elaboração das estratégias da operação Lava Jato, inclusive em um vídeo, agora notório, de uma palestra de 2016. Moro negou publicamente ter feito exatamente o que fez porque sabe que admitir a relação próxima com procuradores e delegados seria uma violação do capítulo 3 do Código de Ética da Magistratura e do artigo 25 do Código de Processo Penal brasileiro, lançando dúvidas sobre a imparcialidade.
De forma irônica, a relação que se criou entre procuradores e delegados com o ex-juiz foi suficiente para a produção de diversas arbitrariedades contra direitos constitucionais, sem que houvesse o menor indício de embaraço. Mas a possibilidade de incomodar o ex-juiz em seu momento de lazer causava receio, como é típico de uma relação hierárquica, na qual não é recomendável incomodar o superior. Na noite de 19 de julho de 2015, o procurador Athayde Ribeiro Costa fez um pedido ao colega Carlos Fernando dos Santos Lima: “Cf avise o russo do email. Vc tem mais intimidade pra incomoda-lo no domingo”. O decano da operação respondeu: “Já avisei”. E encerrou a conversa com um joinha.
No último dia 14, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro participou de reunião expandida da diretoria da Fiesp, Ciesp, presidentes de sindicatos e lideranças empresariais de diversos setores.
Foto: Aloisio Mauricio/Fotoarena/Folhapress
A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba disse ao Intercept que não reconhece as mensagens que têm sido atribuídas a seus integrantes nas últimas semanas. “O material é oriundo de crime cibernético e tem sido usado, editado ou fora de contexto, para embasar acusações e distorções que não correspondem à realidade. O site prejudica o direito de resposta ao não fornecer todo o material que diz usar na publicação”, respondeu a assessoria de imprensa. Ao pedir comentários de fontes, o Intercept fornece o contexto e descreve o conteúdo das reportagens, mas se reserva no direito de não antecipar trechos dos textos — seja a força-tarefa ou qualquer outra fonte.
“O momento da execução das fases da operação leva em conta vários fatores, entre estes a capacidade de trabalho da Vara Federal, da Polícia e do Ministério Público Federal. A operação envolvendo a construtora Queiroz Galvão foi realizada em agosto de 2016 (33ª fase), sendo que seus executivos foram denunciados logo depois (números das ações penais: 5045575-84.2016.404.7000 e 5046120-57.2016.404.7000)”, escreveu a assessoria de imprensa da força-tarefa.
O ex-juiz Sergio Moro, atualmente ministro da Justiça e Segurança Pública, disse que “ainda que as mensagens fossem autênticas, não haveria ilegalidade ou imoralidade na decretação de busca e apreensão de ofício pelo juiz – como autorizado na lei (art. 242 do CPP) – ou na orientação do juiz para que a busca fosse realizada com parcimônia”. Afirmou, ainda, que “não reconhece a autenticidade das mensagens obtidas por meios criminosos de terceiros” e que “repudia a má prática jornalística do Intercept de publicar matérias sem previamente ouvir os citados.”
A Polícia Federal foi procurada por telefone e WhatsApp, e um pedido de resposta foi enviado por e-mail, conforme pedido por um de seus assessores. Assim que a instituição se manifestar, o texto será atualizado.
Correção: 19 de outubro de 2019, 13h30
Por uma falha de procedimento, o Intercept não pediu comentários ao ex-juiz Sergio Moro e à Polícia Federal antes da publicação deste texto. Fizemos isso na manhã de sábado, e a reportagem foi atualizada. Pedimos desculpas pelo erro.
Correção: 19 de outubro, 2h50
Uma versão anterior desse texto indicava que o primeiro diálogo em destaque havia ocorrido no dia 4 de março de 2016. Na verdade, o diálogo aconteceu em 27 de fevereiro de 2016. A informação já foi corrigida.
Correção: 19 de outubro, 8h45
Uma versão anterior desse texto identificava Rodrigo Prado como delegado da Polícia Federal. Na verdade, ele é agente da PF. A informação foi corrigida.
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