Jornalistas Livres

A verdade de um fotógrafo sobre as ocupações urbanas de Manaus

Meu nome é Christian Braga, amazonense, fotógrafo documentarista, jornalista livre e ativista. Começo esse texto afirmando que a vida de um fotógrafo tem inúmeros objetivos e um deles é retratar a realidade. Tento não cair nas conversas do “disse me disse”, nas narrativas preconceituosas e discriminadoras. Procuro sempre entender de dentro o que vou fotografar.

Em Manaus, onde nasci, cresci ouvindo que as “invasões” que rodeiam a cidade são lugares de bandidos, ladrões, traficantes, marginais. É incrível como são incontáveis os adjetivos excludentes, que só reforçam a segregação social e servem para desconsiderar os moradores pobres como população manauara. Essa “operação” ideológica fica ainda mais inacreditável quando se sabe que Manaus loteou apenas 4 bairros oficiais, sendo eles: Educandos, Praça 14, São Raimundo e Aleixo (bairros grandes na cidade). E o restante? São todas “invasões”? Ou podemos nomear de um jeito melhor? Como “ocupações”, por exemplo, inclusive o centro da cidade.

Fui conhecer uma delas chamada Coliseu, no extremo da Zona Leste de Manaus. O nome coube perfeitamente bem para uma ocupação que sobreviveu a duas batalhas de reintegrações e continua de pé. Já são 4 anos de luta com mais de 1.500 famílias que moram no local e colecionam muita histórias para contar.

Conheci pessoas de verdade, crianças, idosos, trabalhadores e trabalhadoras. Vi casas de alvenaria, vi hortas, vi comércio, vi campo de futebol, vi igreja. Eu vi vida de verdade. E tem problema? E onde não tem? Atualmente nossos maiores problemas estão nos ocupantes dos maiores cargos de comando da política nacional —homens ricos e brancos, em sua maioria. Mas eles são considerados pessoas influentes na elite brasileira. Destilam ódio na sociedade, reafirmam o racismo e a misoginia, fazem uma política machista e reforçam a desigualdade social.

Manaus tem um déficit habitacional de 22,9%. Nada menos do que 128 mil pessoas vivem em área de risco, segundo dados da Fundação João Pinheiro. Enquanto isso, cerca de 50 mil imóveis estão ociosos, servindo à especulação imobiliária, só no centro da cidade, conforme o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-AM). De acordo com o CAU, só os imóveis do centro abrigariam mais de 200 mil pessoas.

E de quem é a culpa desses números vergonhosos? Do povo, claro, pois a corda sempre quebrou do lado mais fraco.

Abaixo o ensaio que realizei na ocupação Coliseu. Foi a minha forma de homenagear a vitalidade, coragem e determinação das crianças, mulheres e homens dessa comunidade, ainda tão discriminada pela narrativa das elites:

 

Crianças assistem o jogo de futebol no campo do Coliseu – Foto: Christian Braga

 

Roupas no Varal da ocupação que serão vendidas em um brechó na comunidade. – Foto: Christian Braga

 

Crianças brincam com balde de água em frente as suas casas –  Foto: Christian Braga

 

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Morador do Coliseu faz musculação em academia improvisada em frente a sua residência – Foto: Christian Braga
Morador constrói sua residência na ocupação Coliseu – Foto: Christian Braga

Moradores jogam futebol no campo de terra no Coliseu – Foto: Christian Braga

Comentários

2 respostas para “A verdade de um fotógrafo sobre as ocupações urbanas de Manaus”

  1. Avatar de Ana Márcia Lutterbach Rodrigues
    Ana Márcia Lutterbach Rodrigues

    Christian Braga, sua fotografia impressiona muito. É, de fato, especial. Obrigada

  2. Avatar de Lilo Clareto
    Lilo Clareto

    Que trabalho legal, mano! Parabéns mesmo!

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