Davi Guarani é uma das jovens lideranças indígenas que se levantam neste momento de graves ameaças aos povos tradicionais. A terra indígena que seu clã ocupa é a menor do mundo. Apenas 1,5 hectare, encravado no parque do Jaraguá (zona oeste de São Paulo), serve de moradia para 600 homens, mulheres e crianças (muitas).
Quando Jornalistas Livres encontraram-se com Davi, na semana passada, vimos um guerreiro consciente dos riscos do momento. Há uma ofensiva brutal de missionários evangélicos sobre aldeias espalhadas por todo o país. A meta é a conversão dos índios à religião cristã, na sua acepção evangélica. É fazer os remanescentes dos povos que aqui habitavam antes da invasão europeia acreditarem que sua cultura é demoníaca, que os espíritos da natureza são demoníacos, que outros indígenas da mesma aldeia, não-convertidos, são demoníacos, que seus hábitos são demoníacos. “Querem arrancar a nossa alma, colocar um contra o outro, um pai contra o filho, um filho contra uma mãe”, sintetiza Davi.
De outro lado, há os perigos representados pelo governo de Jair Bolsonaro, que pretende seduzir lideranças indígenas com a idéia de elas mesmas explorarem as riquezas minerais e o solo das terras transformadas em reservas. Linhas de financiamento estão sendo criadas para que o índio destrua a natureza para plantar soja e criar gado.
Os Guaranis são o povo indígena mais numeroso no Brasil. São uma etnia espalhada sobre a mancha de Mata Atlântica, o bioma mais rico e diverso do planeta. Para eles, as pedras têm espírito. Os homens têm espírito, as águas têm espírito. Eles reverenciam a vida, toda a vida, entendida nesse registro amplo, que envolve a natureza em sua totalidade. “Para o guarani, a vida é a grande riqueza! Todas as vidas.”
É preciso olhar essa cultura com respeito profundo. Porque ela acumula saberes que remontam há mais de 30.000 anos, muito mais do que os anos do contato e do genocídio, que ainda vitima o povo Guarani.
Para Davi, está nesta cultura ancestral, anterior à invasão europeia, a chave da sobrevivência não só de seu povo, mas de toda a humanidade. “Só quando conseguirmos voltar para 1500 conseguiremos ter futuro”, diz ele, desdenhando de iPhones e de nossas vidas em cidades violentíssimas, à mercê de tragédias causadas pelo desequilíbrio ambiental.
Assista a entrevista, envie-a a seus amigos e parentes e ajude a espalhar essa semente de luz com que o povo guarani nos presenteou nessa conversa com Davi.
Por Laura Capriglione, Hélio Carlos, Lina Marinelli e Sato do Brasil
Edição de vídeo: Iolanda Depizzol
Jornalistas Livres