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Entrevista

Tariq Ali: “Você olha para Sergio Moro e não vê a cara da Justiça”

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Publicado originalmente em  Pública – Agência de Jornalismo Investigativo   l  Por Natalia Viana no dia 11 de julho de 2019          

 

Defender Julian Assange é defender o direito que as pessoas têm de saber como estão sendo governadas. É essa a opinião de Tariq Ali, intelectual e escritor paquistanês que lança em agosto o livro “Em Defesa de Julian Assange” (In defence of Julian Assange), que reúne textos de Noam Chomsky, Daniel Ellsberg, Chelsea Manning, Ai Weiwei e Slavoj Žižek, entre outros autores, analisando a situação do australiano fundador do Wikileaks. A autora desta entrevista também colaborou para o livro, que está em pré-venda, em inglês, no site da editora ER Books. Toda a renda será revertida para a organização Courage Foundation, que auxilia Assange e apoia pessoas que vazam informações.

Julian está atualmente preso na Inglaterra e aguarda o desfecho de uma batalha na justiça britânica sobre um pedido de extradição feito pelos Estados Unidos com base em seu trabalho de divulgação de documentos referentes às guerras do Iraque, do Afeganistão e das embaixadas americanas pelo mundo.

Nessa entrevista à Pública, Tariq Ali associa a perseguição a Assange à reação de governos contra os movimentos revoltosos que se seguiram à crise de 2008, e afirma que sentiu que era preciso fazer algo para mostrar que ainda hoje há pessoas que não acreditaram nos repetidos ataques à reputação do criador do Wikileaks. “Eles querem punir as pessoas que fornecem informações para as pessoas comuns, porque as elites que controlam nosso mundo hoje tratam as pessoas como crianças. Então o motivo principal é criar um exemplo e deixar as pessoas com muito medo, dizendo, se você vazar algo é isso que vai acontecer”. Tarik também comentou a polícia brasileira e o atual momento do país. Para ele, a vitória de Jair Bolsonaro “foi o crime mais devastador da direita e ultradireita Latinoamericana”.

Sobre a política brasileira, que eu sei que você acompanha. Qual sua visão sobre o governo Bolsonaro?

A vitória de Bolsonaro foi o crime mais devastador da direita e ultradireita Latinoamericana. Não se pode dizer que Bolsonaro faz parte da direita tradicional que existe no Brasil. Ele é um personagem cujas ideias vêm da ultradireita, que defende a ditadura militar, e o mais chocante é que a Justiça brasileira participou disso. Pelo amor de Deus, Lula não é nenhum santo ou anjo, mas a maneira em que armaram para ele e o trancaram para não haver nem um candidato confiável no Brasil é parte da tendência de fechar os espaços para o dissenso, e as vozes dissonantes na mídia. Está ligado a tornar extremamente difícil para líderes de esquerda questionarem o sistema. Especialmente líderes como ele, que aprendem com seus erros, pelo menos é o que ele diz. E a coisa interessante é que a maioria dos brasileiros que não são ricos ainda confiam em Lula mais do que em outros políticos, e confiam em Lula mais do que no PT, como um partido. Então prender o Lula foi a única maneira de se livrar dele e isso agora foi exposto.

Eu me lembro, por exemplo, a maneira como Sergio Moro foi tratado pela mídia, as manchetes na Globo, o apoio da Folha e outros jornais. E agora sabemos o que estava acontecendo. Você olha para a cara de Sergio Moro e não vê a cara da Justiça mas de um político envergonhado, corrupto e enganador, que é o que ele sempre foi. Acho que o PT pagou um preço muito alto assim como o país ao não fazer nenhuma tentativa séria de alterar, de fato, as estruturas políticas e constitucionais do Brasil.

Então você acha os últimos governos não mudaram o país?

Acho que a única coisa significativa foi o Bolsa Família, um subsídio para os pobres, e isso foi muito importante, mas não foi estrutural. Ninguém consegue formar uma maioria, então o que você faz? Você compra políticos. E foi um grande erro que Lula e os outros líderes do PT fizeram ao decidir seguir como antes, administrar o mesmo sistema, mas quem iria administrar seriam eles. E toda essa política fracassou. Mas para mim a chave agora é essa: pode o PT ser ressuscitado? Eu não sei.

Agora falando do livro, por que você decidiu fazer? Quando você começou, no final do ano passado, Assange ainda não tinha sido preso….

Eu senti que Julian estava sendo isolado globalmente, a combinação dos ataques contra ele de diferentes senadores e políticos nos EUA, o fato que a mídia liberal havia efetivamente deixado de cobrir as suas condições dentro da embaixada… O ex-secretário da embaixada do Equador me disse que as condições estavam muito ruins para ele na embaixada. Então sentimos que tínhamos que fazer algo. Alguma coisa precisava ser feita, dramaticamente e publicamente, para Julian. Também em nome da solidariedade, para mostrar que ainda havia alguns de nós que não tínhamos sido convencidos pelos ataques à sua reputação, pelas calúnias. E nesse sentido o Ministério Público sueco teve um papel extremamente ruim, e o livro demonstra isso, acusando ele de estupro quando havia evidência muito limitada, se é que havia alguma, depois se recusando a vir entrevistá-lo em Londres, insistindo que ele fosse extraditado para a Suécia. Tudo isso foi usado para difamá-lo e prejudicar sua reputação.

Me deixou muito bravo que ele tenha sido levado para a prisão de Belmarsh, que é uma prisão de segurança máxima, onde são levadas pessoas acusadas de terrorismo. E agora, o governo aceitou que a Justiça britânica poderá julgá-lo e decidir se ele deve ou não ser extraditado para os Estados Unidos. A situação é extremamente séria e acho que as pessoas têm que perceber isso. Mesmo aquelas que não gostam de Julian por razões pessoais têm que ver isso de maneira política e o fracasso em fazer isso é chocante.

Como as pessoas deveriam ver esse pedido de extradição?

Basicamente que o governo dos Estados Unidos quer fazer de Assange um exemplo, quer trancá-lo em isolamento como fizeram inicialmente com a Chelsea Manning, e o principal propósito disso, como eu explico na introdução do livro, é criar um efeito dissuasório. É para dizer para as pessoas novas ou velhas que trabalham em agências governamentais: “isso é o que acontece se você vazar ou publicar informação sem permissão legal”. Acho que eles não conseguiram fazer isso com o Snowden, que é diferente de Julian, que jamais trabalhou para governo americano – ele era um jornalista online. Por sorte, Snowden está na Rússia, e eles não vão permitir que alguém o retire de lá. Eles querem punir quem fornece informações para as pessoas comuns, porque as elites que controlam nosso mundo tratam as pessoas como crianças. E como os adultos dizem uns para os outros: “Shhh… Não diga isso na frente das crianças”. Eles não querem que os cidadãos saibam toda a verdade. E a grande imprensa, que publicou algumas coisas do Wikileaks, se afastou muito rapidamente e não publicou todas as revelações, como nós sabemos. Então o motivo principal é criar um exemplo e deixar as pessoas com muito medo, dizendo, se você vazar algo é isso que vai acontecer.

Você acha que a ideia é também desincentivar jornalistas que publicam material vazado?

Sim, muito. Mas a maioria dos jornalistas que trabalham para a grande imprensa fazem algum tipo de autocensura. E até mesmo pessoas muito boas. Eles sabem até onde podem ir, mas não vão além. Jornalistas investigativos sérios, online, ainda têm um grande papel a cumprir, mas querem desencorajá-los.

Das 18 acusações contra Julian na Justiça americana, 17 são relacionadas a publicar o material das embaixadas, da guerra do Afeganistão e do Iraque. Além disso, Assange não estava nos Estados Unidos e nem é cidadão americano. Essa busca por ele pelo governo americano significa um novo patamar?

Usualmente, governos locais punem jornalistas que fazem isso em seus países. O que é novo é que o governo americano está alvejando jornalistas agora, e não importa a nacionalidade ou de onde eles são. Mas eles já fizeram isso, sob as leis de terrorismo, em toda a Europa. Por exemplo, eles arrancaram pessoas das ruas de muitos países europeus e levaram para países árabes para serem torturados, e depois para Guantánamo. Esse princípio, uma vez aceito que governos podem fazer isso, pode ser usado para tudo. Agora estamos em uma situação em que cada vez mais as elites globais tendem a considerar a liberdade de expressão e a liberdade da imprensa como dispensáveis. Então, o autoritarismo tem crescido nos últimos 20, 25 anos. E afeta até mesmo a imprensa liberal.

A origem disso foi a Guerra ao Terror e os ataques de 11 de setembro?

Acho que foi uma desculpa usada para isso. No Reino Unido eu estava escrevendo artigos no Guardian regularmente, apontando que era previsto que os Estados Unidos seriam atacados. Então nos primeiros dias depois de 11 de setembro era possível debater e aguentar, mas devagar esse espaço começou a ser reduzido, e a nossa visão começou a ser menos importante. E o mesmo aconteceu na imprensa brasileira, eu escrevia para a Folha, era entrevistado pela Globo sobre esses temas. Mas como se tivesse sido combinado internacionalmente, por comum acordo, o espaço para vozes dissidentes se tornou cada vez menor.

Qual a sua visão sobre a cobertura sobre Assange pela imprensa?

O descrevem como hacker e como uma pessoa acusada de estupro, e a palavra jornalista é raramente usada. E o fato de que o Wikileaks foi criado para publicar material que as pessoas enviavam para eles e que era, efetivamente, uma organização de jornalismo investigativo — e que continua a ser — sumiu da narrativa oficial. Então o direito das pessoas saberem quem está governando seu mundo e o que estão fazendo está sendo deixado de lado.

Por que essa narrativa mudou tanto?

Por causa da crise capitalista de 2008, quando muitos grupos se formaram e questionaram quase tudo. E não se quer que isso seja incentivado. Então uma coisa que eles [as elites] preservam de maneira muito forte é o monopólio da informação. Para eles isso é muito importante, por causa da digitalização do mundo. Quem controla o monopólio? Essa é uma questão muito importante. Então todas as vozes alternativas, em especial aquelas que têm acesso a materiais importantes, têm que ser neutralizados, e há diferentes maneiras de lidar com eles. E lidaram com o Julian de uma maneira específica, que estamos vendo agora: a prisão. E com “eles” não quero apenas dizer o establishment americano, mas o Europeu também. Fora a Alemanha, o apoio tem sido muito fraco dos outros países europeus. O Reino Unido é virtualmente um estado cliente dos Estados Unidos, os italianos e franceses não estão interessados na questão de Assange, o único país onde há ainda algum debate sobre Assange é a Alemanha, e até ali está se enfraquecendo. Em Berlin erigiram uma estátua para Snowden, Assange e Manning, então fizeram algumas coisas. Mas o serviço de inteligência alemão está completamente envolvido com as outros serviços de inteligência europeus e com os americanos. Eles agem coletivamente.

Como se estruturou essa campanha de assassinato de reputação contra Assange?

Acho que não há dúvida de que os representantes dessas agências de inteligência se reúnem regularmente para discutir qual é a ameaça, onde está, e eu acho que, especialmente, durante a campanha eleitoral dos Estados Unidos [2016] em que disseram que Assange havia vazado informações para Trump, a grande maioria disso foi baseada em mentiras, segundo o que descobrimos. Então “hackeamento” e “hackers” se tornaram grandes questões recentemente. Eu não concordo com Putin na maior parte das coisas, mas transformar a campanha pós-eleição nos Estados Unidos na qual Trump venceu, e dizer que se não fosse pelos Russos ele não teria vencido é um esforço dos Democratas para dizer que foram derrotados por forças externas e não internas. Eles não aceitaram que Trump ganhou, e o desespero político e psicológico foi culpe Assange, culpe os russos, culpe todo mundo menos você mesmo! Porque se eles tivessem culpado eles mesmos, teriam que olhar suas políticas, que são neoliberais, pró-guerra.

Então tudo isso acabou misturado na questão do Julian Assange, e a campanha contra ele é execrável. É assim que eles operam. E agora os Estados Unidos são muito abertos sobre isso — exigir que ele seja extraditado para os EUA para ser questionado pelo FBI — e se fizeram isso com Assange eles farão com outros jornalistas também! Como pode Assange violar a segurança nacional americana quando ele não está naquele país e nem é um cidadão americano. É bizarro!

Qual é o legado do WikiLeaks, em sua opinião?

Acho que o legado do Wikileaks é 100% positivo. Qual é a principal coisa que eles fizeram? Publicaram documentos relativos às relações do império americano em relação ao resto do mundo! E o que é muito interessante é que em privado, muitas embaixadas americanas no exterior enviavam mensagens para o Departamento de Estado admitindo coisas que nós da esquerda estávamos falando em público. Nesse sentido, tornar públicas essas mensagens privadas é incrivelmente importante para democratizar a política. Como uma população vai decidir em quem votar se não tem nem 50% da informação? Desse ponto de vista todo o Wikileaks foi positivo. E grupos online como Intercept etc nasceram da experiência do Wikileaks.

Qual é sua expectativa do impacto do livro?

Quem sabe? Eu espero que circule, seja traduzido em todo o mundo. É um livro muito forte. Espero que alerte as pessoas para que defendam Assange e façam campanha em seu nome.

Cultura

Conheça ClarinhaMar, jovem poeta PcD que fala de enfrentamento e persistência

ClarinhaMar (Clarinha Marinho) apareceu pra mim num vídeo recebido pelo whatsapp.

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Conheça ClarinhaMar, jovem poeta PcD que fala de enfrentamento e persistência

ClarinhaMar falava de enfrentamento, de vida, de persistência, de ponto e vírgula. Postei o vídeo no meu face e a repercussão foi enorme. Resolvi pesquisar até encontrá-la. E a encontrei no Instagram @ClarinhaMar. Essa é a entrevista dela, mulher, poetiza, universitária e palestrante que fala de muita coisa. Podemos encontrá-la também no Facebook Clara Marinho.

Por Janete Chargista, especial para os Jornalistas Livres.

E aqui uma canja da poesia que ClarinhaMar recita:

“O Oceano do Mundo Concreto
Nada sei dizer sobre grandes egos

De grandes feitos meu corpo tem vão
Não me atrevo a contar do que sou cego
Nessa sombra feita clara ilusão
Nunca entendi, mas sempre me calaram

Minha sã poesia não diz de amor
Deste, todas as bocas já falaram
Crucifixo de corações, torpor
E do oceano que sobrevivi

Tão real que me dói imaginar
Mundo, fel de ódio num doce servir
Tua boca fala do vazio, teu ser

E meu oceano se deixa afogar
Na palavra que luta com o morrer.”

Veja abaixo a entrevista exclusiva com ClarinhaMar

Veja mais entrevista da Janete Chargista: Delegado Antifascista Fernando Alves

Veja mais: Carta Denúncia, por Helena Zelic



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Entrevista

Fim do isolamento no ABC é política, diz ex-prefeito de Santo André

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Nos últimos dias temos presenciado uma briga no ninho tucano da grande São Paulo, o motivo é o relaxamento da quarenta. Os prefeitos tucanos vem reclamando da falta de diálogo entre o governo estadual e as prefeituras do ABC. Parte dessa briga se dá pelo mau estar causado pelo pronunciamento do Prefeito da Capital, Bruno Covas, que pretende para os próximos dias implantar um relaxamento progressivo da quarentena e conta com apoio do Governador do Estado, João Dória também tucano.

Ao compararmos estatisticamente os números das cidades do ABC e a capital, números referentes ao COVID19, existe certa semelhança referente ao isolamento social. Enquanto na Capital Paulista o isolamento social mobilizou 53% da população, a região do ABC alcançou 50%. *

As semelhanças param quando passamos das estatísticas e pensamos em indivíduos, histórias de família e amigos. a região do abc é considerada atualmente um epicentros de proliferação do COVID19 na região sudeste, com números que pedem atenção, são 1073 infectados e 763 óbitos, algo próximo de 8% dos casos. Vale lembrar que somados a esse número, mais de 16 mil ainda aguardam os resultados dos testes.

A prefeitura de Santo André prometeu 100 mil testes desde o início de maio e até agora, o que podemos notar é apenas propaganda, muito menos que 10% da população foi de fato testada. A briga no ninho entre os prefeitos tucanos e o governador, tem deixado o PSDB em crise. Cabelo ou penas em pé. As eleições municipais previstas para ainda esse ano, parece configurar uma situação que divide caciques tucanos e seus agregados no ABC.

Conversamos com Carlos Grana, ex-prefeito de Santo André de 2013 a 2016, quando a região do ABC despontava como o famoso cinturão vermelho. Berço do novo sindicalismo, Santo André compõe parte do ABC paulista, conhecido desde o final dos anos 70 e início dos 80 como berço de um sindicalismo pujante e embrião do conhecido modo petista de governar, nos últimos 3 anos tem experimentado gestões tucanos. Falamos um pouco sobre como as prefeituras petistas deixaram os aparelhos públicos municipais de saúde, falamos ainda sobre Lockdown e conjuntura.

Jornalistas Livres: Como você vê esse conflito entre os prefeitos tucanos do ABC e Bruno Covas (prefeito da Capital) e qual o papel do governador nesse caso? Vale lembrar que Dória, disse que os prefeitos do ABC que pretendem flexibilizar a quarentena e reabrir comércio, não tem juízo.

CGrana: Nos aproximamos dos quase 90 dias de quarentena de quarentena no Estado de SP, não é mais quarentena, não é mesmo? O que está acontecendo hoje, é uma briga política, no campo da disputa partidária no centro do PSDB, veja que eles não conseguem falar a mesma língua, tanto governadores quando prefeitos do ABC paulista. O erro central ao meu ver, é quando tentam qualificar o plano de retomada SP, colocando alguns setores de serviços e manter a região metropolitana ainda em isolamento. Fato concreto é que nossa região está muito integrada a capital e outros pontos da região metropolitana que delimitam a capital paulista. Então colocar a região central em condição de maior flexibilidade e excluir dessa ótica a região metropolitana que está integrada a capital. Isso dificulta uma série de políticas de prevenção.

JL: Por exemplo, quais?

CGrana: Como é que se explica por exemplo, que aumentará a circulação de pessoas nos transportes coletivas que milhares de trabalhadores tomam diariamente rumo aos seus empregos? Formando assim um considerável deslocamento de força de trabalho para áreas díspares em políticas de isolamento social? Quero dizer de forma simples: com isso o abc seria duplamente prejudicado. A primeira e mais importante é com a saúde, pois revela falta de planejamento e logística na contenção do vírus e seu tratamento, já a segunda é a que revela a má coordenação e condução de programas de contenção dessa pandemia na região. O erro original é não levar em conta que a curva de contágio ainda está no ascendente, subindo todos os dias. Um erro brutal que custará vidas, cada vez mais próximas de nós. Os primeiros vitimados serão os trabalhadores e trabalhadoras. O comportamento dos tucanos no ABC em disparidade com a agenda do governador João Dória e do Prefeito da Capital. Aliás, as três posições mostram uma total falta de respeito com a vida e dignidade da pessoa humana. O compromisso deles é apenas eleitoral e não humanitário

JL: Você acredita que é momento de relaxar a quarentena? Quais métodos precisam ser aplicados para preservar a saúde da população?

CGrana: O grande problema que identifico é a ausência da testagem em massa, de 20% ou mais da população. Isso nos causa uma incerteza muito grande, pela própria experiência de alguns países e regiões do mundo. Lugares onde as regras do isolamento social foram afrouxadas, mas tiveram que voltar atrás. Pois se trata de um vírus cuja vacina ainda não existe e o risco de novas ondas de contágio é algo que devemos sim nos preocupar, mais do que números para engrossar estatísticas, cada vida é história de alguém que amamos e faz parte de nossas vidas, não podemos nos entregar ao discurso frio e irresponsável em nome do mercado, sem vidas não existe produção, consumo e portanto economia. Essa conta é lógico precisa ter adiciona aos seus trágicos resultados, a contribuição do governo federal.

JL: Bolsonaro tem culpa quanto a esse prolongamento do isolamento social e derrocada da economia?

CGrana: Olha, pensemos apenas em meados de março, isso para usarmos datas e marcação temporal de quando alguns prefeitos, governos e chefes de estado no mundo todo começaram a pensar o isolamento social com base em estudos da OMS (Organização Mundial de Saúde). Isso criou muita preocupação por parte da população, preocupação pela falta de preparo do atual governo e a indústria de boatos que abastecia a narrativa anti-isolamento. Igor, já parou para pensar que se tivéssemos empregado um lockdown no início, já estávamos saindo e retomando a economia. Percebe o quanto esse discurso é falho ao colocar a economia na frente das vidas, ignorando matrizes importantes como o fortalecimento do que chamo de musculatura pública, sim estou falando como eles tem usado repetidas vezes esse discurso falso de defesa da economia para no final legitimar uma narrativa de morte aos pobres. Chega assustar como isso não fica visível, é cristalino e translúcido no discurso, eles querem causar uma tragedia ainda maior.

JL: Você foi prefeito de Santo André (2013-2016), poderia falar um pouco como tem visto a gestão de crise aplicada no município durante a pandemia? Pode falar sobre os testes que não chegaram e a importância deles?

CGrana: Fui prefeito de Santo André de 2013 a 2016, e um dos investimentos prioritários da minha gestão foi na saúde, pela constituição federal parte do investimento público municipal (orçamento do município) deve ser investido, para ser preciso 15%, em Santo André, enquanto fui prefeito, investimos 30% nessa área tão necessária. Por exemplo, estendemos o número de unidades e otimizados o serviço de SAMU, isso em parceria com o governo federal de então, precisamos lembrar. SAMU que é uma política pública aplicada pelo PT. Estendemos o atendimento das UPAS, criamos uma logística que capacitou e abasteceu as UBS distribuídas no município. O problema central tem sido a gestão atual, que insiste em fazer política, a exemplo do PSDB no governo estadual, ambos alheios e ignorando a importância de cada vida, economia é sobre pessoas e não mercado, quem não entendeu isso é tudo menos gestor público.

Por Igor Santos – Jornalista, historiador, cearense e morador do ABC Paulista.

*(Informações extraídas do Instituto ABC Dados)

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Entrevista

Wadih Damous: “A tarefa imediata é colocar Bolsonaro para fora do Palácio do Planalto”

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Wadih Damous, ex-presidente da OAB/RJ e Alvaro Quintão da OAB/RJ. Card Jornalistas Livres
Por Bruno Falci e Nilce Costa para o Jornalistas Livres
Wadih Damous e Álvaro Quintão, conferenciam sobre a complexa e grave situação política, social e sanitária do Brasil , quando o Brasil assinala o segundo país mais infetado da covid19 no mundo. Dentro deste contexto, a ação da Polícia Federal, que  deflagrou na última terça-feira a Operação Placebo.

Também é comentado a situação das minorias, o desprezo neste momento para estas camadas.  Uma forte avaliação e formas de um novo governo través do PT, no intuito de retirar a extrema direita do poder,

Wadih Damous, ex-deputado federal, advogado trabalhista, que foi presidente da OAB – Ordem os Advogados do Brasil, no Rio de Janeiro, por dois mandatos. Damous é militante do Partido dos Trabalhadores desde a sua fundação, quando ainda fazia o curso de direito na  UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

Na presidência da OAB no Rio, uma das bandeiras de Damous foi o lançamento da Campanha pela Memória e pela Verdade, em prol da abertura dos arquivos da ditadura militar. Nesta trajetória, traçou um paralelo do combate à tortura durante o governo militar com o questionamento do instituto da delação premiada, consagrado pela Lava Jato, que virou uma dos fundamentos de sua atuação parlamentar. Teve procuração para atuar como advogado de defesa do ex-presidente Lula quando este se encontrava detido na carceragem de Curitiba.

ex-deputado federal,  advogado trabalhista, que foi presidente da OAB – Ordem os Advogados do Brasil, no Rio de Janeiro, por dois mandatos. Damous é militante do Partido dos Trabalhadores desde a sua fundação, quando ainda fazia o curso de direito na  UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

Na presidência da OAB no Rio, uma das bandeiras de Damous foi o lançamento da Campanha pela Memória e pela Verdade, em prol da abertura dos arquivos da ditadura militar. Nesta trajetória, traçou um paralelo do combate à tortura durante o governo militar com o questionamento do instituto da delação premiada, consagrado pela Lava Jato, que virou uma dos fundamentos de sua atuação parlamentar. Teve procuração para atuar como advogado de defesa do ex-presidente Lula quando este se encontrava detido na carceragem de Curitiba.

Quanto a operação Placebo, Wadih Damous não confere qualquer credibilidade quanto ao governador Wilson Witzel, mas defende que a operação poderia ter sido elaborada de melhor forma.

“Eu não sabia o que se passava, quando ouvia de casa, helicópteros a sobrevoar o local, ao verificar e deparei com a polícia federal fazia operação no palácio Guanabara, e nas propriedades particulares do governador Wilson Witzel do Rio de Janeiro e sua mulher.  Esta operação poderia ter sido feita com descrição, apesar da profunda ojeriza que sinto pelo governante e seu governo, mas eu prezo muito a ordem jurídica. É coisa grave, ela estaria repetindo Adriano Anselmo com Sérgio Cabral, usando o escritório de advocacia para celebrar contratos com fornecedores do Estado.”

Quanto ao governo Bolsonaro e as decisões a serem tomadas, e a enfrentamento a pandemia, Wadih menciona que nada é feito e a política da pandemia irá prosseguir.

“Bolsonaro é um aliado da pandemia, é negacionista, confirma que é uma gripezinha. É contra o isolamento social e participa em atos públicos com aglomeração de pessoa. Bolsonaro diz que ainda irá acontecer com muito mais gente”

E acrescenta:

Como os governadores estão na linha de frente no enfrentamento a pandemia e muitas vezes tem que contornar os obstáculos legais e administrativos na compra de equipamentos, para salvar vidas, estes vão ser perseguidos, investigados e sofrer tentativa de desmoralizados por parte de Bolsonaro e a PF.

Quem votou em Bolsonaro sabia em quem votava. Crivela é o homem do Bolsonaro na cidade do Rio de Janeiro, já pensa em flexibilizar a quarentena e ele tem que ser contido nisso. O Brasil está num índice macabro. O Brasil hoje é um país amaldiçoado, não vamos poder entrar em outros países, seremos apontados como agentes da pandemia”.

No que diz respeito a mudança urgente do governo atual:

“Não há como nós aceitarmos Bolsonaro à frente do governo até 2022, o Brasil acaba junto. O Brasil não aguenta assistir passivamente esta estratégia de Bolsonaro, que é simplesmente exterminar pobre e sanear a Previdência Social com extermínio de pobre.

Saídas como o impeachment, é custosa, Rodrigo Maia não tem prazo para aprovar isso, ele tem o poder de arquivar. O impeachment é um teatro político, embora tenha regras jurídicas, o que prevalece é a política. Teríamos que caçar a chapa Bolsonaro/Mourão”.

Garante que a esquerda, tem que reconstruir sua identidade.

A polarização na política brasileira, está se dando pela direita e extrema direita, a esquerda está fora, eu defendo que a esquerda tem que reconstruir sua identidade, construir uma agenda anticapitalista. Neste momento somos o epicentro da pandemia e do desemprego. Frente Ampla é algo mais “amplo”, acho que devemos de reunir esforços e que ela aconteça. Eu defendo uma Frente Ampla em defesa do Estado de direito, mas eleitoralmente, eu defendo uma frente de esquerda para enfrentar o fascismo nas próximas eleições. A tarefa imediata é colocar Bolsonaro para fora do Palácio do Planalto”.

O que pensa o PT com a saída do Freixo:

“A posição oficial do PT no Rio de Janeiro é manter a frente esquerda que eu acho que não acontecerá, que se dava ao nome do Marcelo Freixo, era  o candidato mais viável. O argumento correto não dava pra manter a candidatura por causa da fragmentação da esquerda , não conseguiu unir o PT com outros partidos, assim abandonando a candidatura. Nós não vamos apoiar candidato do PSOL e ponto. Em termos de representatividade na sociedade, me parece que a candidata Benedita preenche bem. Nós vamos continuar a defendendo a frente esquerda, os partidos tem que se sentar e ter maturidade e emergir um nome”.

Álvaro Quintão, começou a militância política por volta dos 16 anos e sendo eleito para a diretoria do sindicato dos metalúrgicos do Rio de Janeiro com apenas 20 anos.

Foi filiado ao PT, onde atuou ativamente na década de 80 contribuindo com a construção do PT e participou ativamente das campanhas que levaram Lula à presidência do Brasil.

Posteriormente, fez faculdade de Direito, e passou a militar na advocacia, sendo eleito presidente do Sindicato dos Advogados do Rio de Janeiro e Conselheiro da Ordem dos Advogados no Rio de Janeiro.

Atualmente, além da Presidência do Sindicato dos Advogados, exerce o Cargo de Secretário-Geral e Presidente da Comissão dos Direitos Humanos na OAB/RJ.

Como advogado atua na área Trabalhista, assessora diversos sindicatos, entre estes, o Sindicato dos Trabalhadores da Aviação, visto neste momento de pandemia ser um dos mais afetado.

Na qualidade de advogado vem participando de várias Negociações Coletivas com base nas normas que estão sendo criadas neste período de pandemia.

Álvaro Quintão, refere que desde a Lava Jato, o Brasil perdeu toda sua legitimidade, tratando-se de um processo mais político do que jurídico, que acabou por dar a oportunidade do atual governo.

“A situação que nos encontramos hoje, já não é nova, voltando a 2014/2015, quando a famigerada operação Lava Jato esqueceu de investigar e de julgar de acordo com a constituição e com as leis. Preferiu fazer daquele processo, um processo político, nós já avisávamos que correríamos riscos muito grande, estava abrindo naquele momento a caixa de pandora”.

E ainda conclui que:

“Eduardo Cunha que presidia a Câmara Federal, fazendo toda barbaridade para levar o Brasil onde chegou, encontrava esse ego naquela operação, naqueles julgamentos mais político do que jurídico que aconteciam em Curitiba, e isso vem acontecendo. Isto acabou contribuindo para eleição deste presidente, que me recuso a dizer o nome”.

Como Presidente da Direção dos Direitos Humanos na OAB/RJ, afirma que as minorias são as mais prejudicadas; pobres, negros, mulheres e índios. Instituições preferem não se manifestar. O tempo é de ditadura e o Brasil se tornou o país do espetáculo, garante.

“Todas chamadas minorias, o que estavam mais fragilizados sentiu na pele esse aumento da violência e da discriminação. O que a gente não vê, são certas instituições que preferem não se manifestar. São trinta e cinco pedidos de impeachment do atual presidente e nenhum destes pedidos, foram sequer analisados. O Brasil tem vivido nos últimos anos um país de espetáculo”.

E ressalta: Vivemos mais tempos de ditadura do que de democracia.

“O governo está mais preocupado é em colocar os pobres e negros nas ruas como os moradores de periferias, enquanto a elite econômica, continuam fazendo sua quarentena voluntária em casa. A política econômica na europa, os governos abrem mão do orçamento, o Brasil não tem intenção de investir”.

Quando se refere a Marcelo Freixo:

“Existe sim resistência de alguns partidos, um dos candidatos da esquerda que já tinha inclusive, o seu apoio pelo PT resolveu retirar sua candidatura, que foi o Marcelo Freixo, porque tem encontrado em outros partidos resistência nesta frente de esquerda que todos nós sonhamos. Tem que se tirar o chapéu ao PSOL, PT e PCdoB, que tem demonstrado a disposição para se buscar uma unidade de fato dos partidos de esquerda. A esquerda tem sim que buscar um candidato viável para as eleições presidenciais. Trabalhar pela união da esquerda, para construir uma base”.

VEJA ABAIXO A ENTREVISTA COMPLETA

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