Conecte-se conosco

Mobilidade

Ódio aos ciclistas e misoginia nas ruas de São Paulo. Até quando???

Publicadoo

em

 

À medida que o número de ciclovias e a adesão ao uso da bicicleta como meio de transporte crescem por uma série de razões, como qualidade de vida e mobilidade urbana sustentável, a intolerância no trânsito da capital paulista para com os ciclistas não dá trégua. Na última segunda-feira, 24, Giovanna Franceschi Dias, jornalista e moradora de Moema, estava indo de bicicleta para o trabalho –é assim há quase dois meses — , quando foi surpreendida pela intolerância do motorista de uma Hilux branca.

Giovanna estava sob a faixa de pedestres, no cruzamento das avenidas Moema e Helio Pellegrino para entrar sentido avenida Faria Lima, aguardando o farol abrir, à frente do carro. “Assim que abriu o sinal, ele avançou, me fechou e eu, acuada, assustada, cambaleei para o lado direito, coloquei o pé no chão e por pouco não caí.”

Não satisfeito com seu nível de violência, o motorista freou e gritou de dentro do carro:

“Vai lamber as bolas do prefeito, vagabunda! Aqui não é Amsterdam!”

De fato, não estamos em Amsterdam, mas as regras de convivência urbana por aqui são claras e os artigos do Código de Trânsito Brasileiro que tratam da segurança dos motoristas, ciclistas e pedestres também. O Artigo 29: em seu inciso XII, § 2º diz que: “…em ordem decrescente, os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade do pedestre.”

Além desse fato, não respeitado pelo motorista da Hilux branca e tantos outros que adotam este comportamento sociopata no trânsito, o caso da ciclista ainda caberia na Lei Maria da Penha, em seu Art. 2o: “Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.”

Recomposta minimamente a ponto de continuar seu trajeto e chegar ao seu destino, a jornalista não conseguiu anotar a placa do carro, mas deu uma resposta na timeline de seu perfil do Facebook ao motorista, em formato ‘carta aberta’, amplamente apoiada, curtida e compartilhada nesta semana, dando uma verdadeira lição de cidadania numa cidade que anda cultivando o ódio diante de políticas públicas de inclusão, diversidade e mobilidade.

“Carta aberta para o senhor motorista de uma hilux branca que passava pelos entornos da Faria Lima na manhã desta segunda-feira.

Este senhor achou prudente me dar uma lição quase me atropelando de propósito só para me assustar, já que eu estava bloqueando a via dos carros com a minha — ENORME- bicicleta parada ao lado direito da via enquanto o sinal estava fechado. Esta carta vai para ele que, ao me ver quase caindo no asfalto, abriu a janela e gritou “vai lamber as bolas do prefeito, vagabunda! Aqui não é Amsterdam”.

Caro, muito obrigada por me lembrar que aqui não é Amsterdam. Infelizmente eu tive essa percepção um pouco antes de você gritar esta informação porque o grau de educação das pessoas de lá não permitiria que agissem da forma como o senhor agiu. Aliás, se o senhor pesquisar um pouco, bem pouco, saberá que hoje em dia, a população de Amsterdam aderiu o uso da bicicleta como meio de transporte para diminuir o número de acidentes de carro que, só em 1971, somou mais de 3.300 mortes sendo 400 delas de crianças. Como o senhor pode notar, a preocupação com a vida das pessoas lá em Amsterdam já era bem mais consciente do que a nossa, aqui no Brasil, em 2015.

Em relação ao termo “vagabunda” utilizado pelo senhor para se dirigir a mim, afirmo que foi empregado da maneira errada. O senhor pode consultar em qualquer dicionário o significado desta palavra que, para homens significa “quem vive no ócio” e para mulheres “quem tem muitos homens”. Veja bem, como eu utilizo a bicicleta para chegar ao meu trabalho de forma mais rápida e saudável, logo eu não vivo no ócio. E não vejo relação nenhuma entre andar de bicicleta e ter muitos homens (o que, realmente, não diz respeito ao senhor).

Visto estes dois pontos, gostaria de fazer mais uma observação sobre “lamber as bolas do prefeito”. Em primeiro lugar, o fato de eu optar por ter uma qualidade de vida mais saudável não tem absolutamente nada a ver com a minha posição política. Em segundo lugar, se em uma pesquisa eu constatei que da minha casa para o meu trabalho eu levo uma hora de carro, 40 minutos de ônibus, 30 minutos caminhando e 15 de bicicleta, não vejo razão nenhuma para escolher o mais demorado e que prejudica ainda mais o trânsito de outras pessoas que não têm a mesma facilidade de trabalhar perto de casa e utilizam o carro (o que pode ser o caso do senhor).

E por fim, quero dizer que é por culpa de indivíduos como o senhor que, muitas outras pessoas têm medo de optar pela bicicleta como meio de transporte. Essa conscientização não tem a ver com política, mas com qualidade de vida. Pessoas estão escolhendo ir de bicicleta porque já notaram benefícios físicos e emocionais que este exercício promove. A sua atitude diminui a minha esperança de ver o Brasil como um país melhor para as pessoas, um lugar com menos “umbiguismo” e mais colaboração coletiva, um país mais consciente sobre qualidade de vida e do impacto disso para nosso bem estar, um lugar que, poderia ser MUITO MELHOR que Amsterdam, mas que ainda tá lá atrás por culpa de pessoas com a mentalidade igual ao do senhor.

Espero que o senhor tenha chegado bem ao seu destino. Passar bem!

Giovanna Franceschi Dias”

Em entrevista exclusiva para os Jornalistas Livres, Giovanna conta sobre sua rotina diária, o ir e vir para o trabalho de bike; por que aderiu a este meio de transporte na cidade de São Paulo e o que pensa sobre a violência que sofreu.

Jornalistas Livres — Quantos km separam a sua casa do trabalho?

Giovanna Franceschi Dias — São mais ou menos quatro quilômetros..

Jornalistas Livres — Desde quando você aderiu ao uso da bike como meio de transporte para o trabalho?

Giovanna Franceschi Dias — Eu estou indo trabalhar de bike diariamente já faz um mês e meio. É bem melhor, já estou acostumada com ela e tenho mais confiança. Na verdade, eu brinco que minha bike tem vida, se chama Red Mercury e já se enquadra como minha amiga. Quando tive oportunidade de fazer intercâmbio em Dublin, na Irlanda, utilizei a bicicleta como meio de transporte por dois anos, então já estava acostumada com as regras. Mas, infelizmente, aqui no Brasil essa cultura parece demorar mais do que qualquer outro lugar do mundo para ser aceita, e mais ainda, para ser adotada.

Jornalistas Livres — Quais as vantagens comparadas a ônibus e carro?

Giovanna Franceschi Dias — Muitas. De ônibus eu levava uma média de 40 minutos para chegar ao trabalho. De bike eu levo 15 minutos. Se eu pego todos os faróis fechados esse tempo pode ir para 20 minutos, mas não passa disso. Eu gasto menos, é o meu exercício do dia, chego ao trabalho e volto pra casa mais disposta, sem contar a sensação de pedalar que é muito gostosa. Umas duas semanas atrás choveu e eu fui de ônibus. Estava lotado de gente. Até cruzar a Santo Amaro geralmente é parado e levei 40 minutos para chegar ao trabalho. Pra mim, isso não é inteligente. De bike eu libero meu espaço no busão e libero também espaço para outros carros. Chego mais rápido e me sinto melhor.

Jornalistas Livres — Quantas pessoas no seu trabalho, que você saiba, vão trabalhar de bike?

Giovanna Franceschi Dias — Eu trabalho em um escritório pequeno, somos em poucos e sou a única que vai de bike, mas a maioria dos meus colegas de trabalho moram bem mais longe do que eu (em Guarulhos, por exemplo) e super-apoiam a minha iniciativa. Quando eu vou estacionar a bike no prédio vejo mais três bicicletas todos os dias. Tenho notado mais gente utilizando bikes. Gente de todos os tipos e classes. Acho importante falar sobre isso. As pessoas direcionaram o discurso contra a “elite paulista”, o “coxinha” porque o senhor tinha uma Hilux. Sim, ele tinha uma Hilux, mas poderia ser um carro popular. Eu já fui fechada por carros populares. Esse tipo de atitude não é classificado por classe social, nem ideologia, nem religião. Isso é uma questão de respeito e educação, apenas. Não deveria ser polarizado. O senhor que fez essa agressão comigo não é um ignorante, ele sabia o que estava fazendo e dizendo, então além de intolerante, ele foi misógino e sectário. Onde eu trabalho vejo pessoas de todos os tipos e classes utilizando a bicicleta e transporte público. Desde os mais jovens — que são a maioria — até senhores executivos que vão de terno e capacete. Na mesma segunda que aconteceu essa situação eu vi um pai com o filho na bike, ou seja, a bicicleta é um meio de transporte apartidário, é para todos e muitos já estão vendo os benefícios. Na maioria das vezes, sempre tem mais um ciclista comigo na rua e geralmente estamos ali, um atrás do outro. Quando paramos no farol nos olhamos aprovando a atitude um do outro. O respeito entre ciclistas é muito legal.

Jornalistas Livres — Já havia acontecido situação parecida?

Giovanna Franceschi Dias — Levar fechadas de automóveis não é algo raro, aliás é bem recorrente. Então, sim, já tinha sido fechada, principalmente por taxista, mas nunca havia recebido uma agressão verbal deste tipo, nunca tinha sido hostilizada por estar utilizando uma bike e esse foi o principal motivo da minha revolta e motivação a escrever a carta. Eu acho importante dizer também que isso não é generalizado. Muitos carros respeitam as bicicletas, grande parte deles tem cuidado na hora de ultrapassar uma bike e fazem isso mais devagar, muitas vezes dão preferência e são gentis. Aliás, é muito importante salientar isso, eu acho que está rolando uma conscientização e adaptação bem maior sobre o uso da bicicleta e tenho esperanças que isso vai melhorar cada vez mais.

Jornalistas Livres — Normalmente, no seu trajeto, os motoristas são mais cordiais ou mais agressivos?

Giovanna Franceschi Dias — Geralmente as pessoas são cordiais. Como eu disse antes, as fechadas acontecem, mas eu nunca sofri uma agressão como a desse dia. Eu lembro que uns três anos atrás quando ganhei a minha bicicleta de uma prima que não usava, tentei fazer o percurso casa/trabalho e os carros foram bem mais agressivos e, foi por isso que decidi não ir de bike naquela época. Hoje em dia eu sinto uma melhora sensível nisso, acho que estamos no caminho e todos precisam se educar. Os motoristas, os ciclistas e os pedestres. Na rua tem espaço para todos nós e nós temos que tornar esse espaço mais harmonioso. O dever é de todos e para todos.

Jornalistas Livres — Como reagem no trânsito?

Giovanna Franceschi Dias — Buzinas?! Risos… Outro dia eu até brinquei que algumas pessoas devem achar que a buzina é um instrumento mágico que, ao ser utilizado, faz sumirem todas as pessoas em volta. Só que não é assim, né?! É muito mais fácil desviar e fugir do trânsito com a bicicleta e, é claro que não é bacana ver aquele monte de gente parada. Eu entendo o estresse que as pessoas vivem e este é um dos motivos que me fez optar pela bike.

Jornalistas Livres — Você ficou com medo do que aconteceu? O que pensou durante o trajeto após o ocorrido? Qual a mensagem que você deixa para outros ciclistas?

Giovanna Franceschi Dias — De verdade? Não! Eu não fiquei com medo. Na hora eu fiquei bastante assustada pra não dizer um pouco passada com a atitude dele, mas continuei o trajeto só um pouco mais devagar. Eu sei que devem existir outras pessoas como este senhor, mas eu não acho que seja uma maioria. E, se topar com um deles por aí, com certeza, a melhor reação é não se alterar e tentar continuar seu trajeto da maneira mais tranquila, mesmo com o “sangue fervendo”. Nós temos que procurar uma solução para esse tipo de situação, mas pacífica. Foi isso que eu fiquei pensando no caminho para o trabalho. Que tipo de ação deve ser realizada para gerar essa consciência coletiva nas ruas de São Paulo? O que podemos fazer? Como educar essas pessoas? Eu acho sim muito bacana a inclusão das ciclovias em São Paulo, mas junto com isso tem que vir um pacote, como campanhas educativas para informar, sensibilizar e conscientizar as pessoas sobre esse hábito que, felizmente, está crescendo aqui na nossa cidade. Acho que devem ser divulgados exemplos de outras capitais que já passaram por isso, inclusive Amsterdam. Acho que devem ser realizadas ações que integrem motoristas, ciclistas e pedestres, difundir muito mais as regras de trânsito para ciclistas. Não é só pegar a bicicleta e sair pedalando. Para estar nas ruas tem que ter conhecimento e respeitar as regras do trânsito e, principalmente, criar um canal de denúncia realmente efetivo para situações como a que eu passei.

Jornalistas Livres — Isso te tirou a vontade ou a coragem pra desistir de andar de bike em SP?

Giovanna Franceschi Dias — De maneira alguma, pelo contrário, me estimulou ainda mais a não só continuar usando a bike, como adotar a causa em ativismo. Essa repercussão me mostrou que existem pessoas que querem aderir, mas ainda têm medo. Então quero motivar essas pessoas a fazer da rua um lugar mais seguro para elas terem coragem de tentar. Às vezes eu vejo que só o fato de usar a bicicleta já inspira outras pessoas a, pelo menos, considerarem fazer o mesmo. Já passou da hora das pessoas aderirem a essa cultura de mobilidade todo juntos, unidos. Acredito que só vamos ver harmonia nas ruas de São Paulo quando houver essa união entre motoristas, ciclistas e pedestres. Motoristas não são monstros e os donos da rua, assim como ciclistas não são irresponsáveis que saem pedalando por aí arriscando a vida. Logo, os dois juntos têm a obrigação de zelar pela vida do pedestre. Então não é a hora de sair classificando e segregando pessoas, é hora de nos juntar para melhorar a mobilidade urbana. Isso é urgente e essencial aqui em São Paulo, já que é tendência em todos os grandes centros.

 

Continue Lendo
Click para comentar

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Cidadania

Quando o ponto de ônibus se torna um ponto de interrogação

Publicadoo

em

por:

Tem coisas que só a gente entende. Tem habilidades que somente nós desenvolvemos. A gente meio que pressente como será o dia logo em sua primeira ou segunda hora. Não que isso seja exclusivo nosso, é que se faz mais presente na nossa gente. Não sei pra você, mas o CEP da minha rua parece falar mais alto que o meu CPF. E isso dói.

Dói saber que preciso ser amigo da sorte, já que dependo diariamente dela. Como um retrato cada vez mais frequente da juventude periférica, que precisa dividir seu tempo entre os estudos e o trabalho, minha rotina é sempre uma incógnita, não importa o quanto me organize. E, pior de tudo, é perceber que essas incertezas já começam na porta de casa. E para que você possa entender minha angústia, te convido a pagar R$8,60 (passagem ida e volta) e me acompanhar durante o dia de hoje.

São 6h da manhã. Nesse horário, o ponto de ônibus se torna um ponto de interrogação. Será que o ônibus ainda demora? Será que conseguiremos entrar? Ou melhor, será que o ônibus ao menos irá parar? Me perdoe a indelicadeza, é que, minha nossa, já fazem 20 minutos que estou aqui e nada! Dois ônibus extremamente lotados vieram e o motorista passou direto. Poderia ao menos ter feito como o motorista de ontem e ter nos deixado entrar pela porta dos fundos. Ao chegar no terminal, pagaríamos a passagem.(

Então eu olho para o lado, vejo as horas, percebo um burburinho e já conto umas dez pessoas no ponto. Uma delas é a Dona Sônia, que tenta convencer um grupo de passageiros a rachar um Uber até o centro. Eu agradeço, já que recebo vale transporte, não compensa gastar com o aplicativo. Mas eu a entendo, as horas avançam rapidamente e, na incerteza de conseguir entrar no próximo ônibus, ela tem medo de se atrasar para o trabalho.

É que antes de sair de casa, Dona Sônia disse que viu na TV os dados da última pesquisa do IBGE, aumentando 1 milhão e 200 mil o número de desempregados em relação ao primeiro trimestre do ano passado. E aí, já sabe, é preciso andar na linha e não dar motivos para o chefe reclamar. Acontece que o problema está justamente aí. Na linha que ela precisa andar, Canaã-Centro, que é só mais uma dentre as cerca de 130 em operação em Uberlândia, ela mal consegue entrar. Mas isso não importa, seu gerente já está de saco cheio dessa “desculpa”. Por que não acordou mais cedo?

Ela acordou. Nós acordamos. Aliás, já estamos acostumados com esse “mais” cedo. É que, quando se vem da periferia, fazer “mais” é condição mínima de sobrevivência. É preciso se esforçar duas, três vezes mais para ficar ao menos na média. É necessário dedicar algumas horas a mais antes de dormir para fazer aquela atividade da escola ou da faculdade, já que precisou conciliar seus esforços diários com o trabalho. E, sim, passamos mais de hora do nosso precioso tempo à mercê de um transporte público ineficiente.

Ah, me dê só um minuto. Lá vem mais um ônibus e dessa vez parece que ele vai parar. Ufa, entramos. O motorista não parece muito contente. É que hoje, pra não perder o costume, estão operando com um carro a menos. E aí o tumulto fica ainda maior. “Pessoal, dê um passinho pra trás. Sei que está apertado, mas com jeitinho todo mundo entra”, disse, atordoado. É, ele não parecia estar muito bem. Com a recente retirada dos cerca de 900 cobradores, cujo melhor termo seria auxiliares de bordo, o acúmulo de função os têm sobrecarregado. Os motoristas agora são responsáveis por cobrar as passagens, operar a plataforma de acesso dos cadeirantes e controlar o fluxo de passageiros. Tudo isso enquanto dirige, o que não parece ser algo muito prudente.

Me ajeitei de um modo bem específico. Em pé, mochila pra frente, um dos braços entrelaçado em uma barra de ferro e, o outro, com o celular em punho. Já que a viagem será longa, aproveito esse momento para finalizar um trabalho que preciso entregar na próxima aula. É, eu sei. Não é o ideal, mas é o possível. Cheguei exausto ontem em casa e, infelizmente, não deu para fazer tudo.

Cerca de 40 minutos se passaram e chegamos no Terminal Central. Pela janela, percebo que o meu próximo ônibus já chegou. Poderia correr, mas não vai adiantar. A plataforma dele está lotada, devo conseguir entrar apenas no próximo. Espero que não demore.

Minutos depois, ele chega. Aqui é preciso redobrar a atenção. Coloco minha carteira no bolso da frente e certifico que meu celular ainda está comigo. Um passo de cada vez, estilo formiguinha, vamos nos aproximando da porta do ônibus. Algumas pessoas mal esperam as outras descerem e já começam com o empurra-empurra.

O ônibus sai do terminal e, antes de chegar na primeira estação, um garoto, 14 anos, rosto abatido, anuncia… “Bom dia, pessoal. Desculpa estar atrapalhando o silêncio da viagem de vocês (…)”. Ele vende gominhas. Junto da mãe e uma irmã mais nova, mora de favor e passa por dificuldades. Pergunto se está frequentando a escola, mas ele desconversa. Percebo que não está afim de muito papo. Junto algumas moedinhas e dou a ele em troca de algumas balas.

Na próxima estação ele desce e, logo na sequência, sobe o Seu Geraldo. Um homem de meia idade, cheio de mochilas e sacolas que vende de tudo. Descascador de alho, canivetes, garrafinhas d’água. Qualquer coisa que facilite a rotina dos trabalhadores que andam de ônibus. É, ele parece ter entendido bem o espírito empreendedor.

Empreendedorismo, palavra que está em alta, assim como a informalidade. Pessoas como o Seu Geraldo passaram a compor uma  preocupante estatística. Ao final do ano passado, o IBGE registrou cerca de 37 milhões de trabalhadores informais. Eles representam cerca de 40% da população ocupada, ou seja, dois em cada cinco trabalhadores.

A realidade dele é ainda mais próxima da de centenas de outros uberlandenses. Ele trabalhava em um grande atacadista da cidade que encerrou parte de suas atividades no estado. O grupo, que faz parte da história de desenvolvimento da cidade, encontrou em Goiás uma política de incentivo fiscal mais atraente. Com isso, demitiu em massa centenas de trabalhadores e trabalhadoras, dentre eles, o Seu Geraldo.

Minha estação é a próxima. Peço licença ao moço, desço e caminho em direção à UFU. Poxa, mil perdões. Não me apresentei bem. Prazer, sou aluno de jornalismo. É que diante dessa emocionante peregrinação, algumas informações se perdem no caminho. E, sim, estou indo para a aula agora. Se você pode vir comigo? Mas é claro. A UFU tem uma política de alunos ouvintes, o que é bem legal para conhecer mais sobre os cursos. Não se acanhe, a professora é uma graça, você vai adorar. E, se eu fosse você, aproveitava agora, já que com o recente anúncio do Ministro da Educação em cortar 30% do orçamento do ensino superior público, pode ser que as coisas se compliquem em breve.

Aqui é a nossa agência de notícias. Em regra, nossas produções textuais jornalísticas passam por aqui. Puxe uma cadeira, vamos fazer uma pesquisa sobre nossa temática de hoje, o transporte público. Garanto que acharemos algo interessante produzido pelos próprios membros da UFU. (Carregando…) (…)

Ih, olha só! Não te falei? Clica nessa monografia de julho de 2018, do Ruan Dotta, egresso da Engenharia Civil. Caraca, ele fez uma pesquisa sobre a qualidade do transporte coletivo de Uberlândia com base na opinião dos usuários. Huumn, vejamos essa tabela com os resultados obtidos.

Então, como percebemos, os dados da pesquisa refletem muito realidade que vivenciamos hoje. E é assim que a universidade deve ser, geradora de conhecimento que vá ao encontro da população, principalmente daquela camada mais vulnerável socioeconomicamente. Digo isso porque é essa classe social que financia nossos estudos e que muito dificilmente se beneficia da estrutura da UFU enquanto alunos.

Ainda em relação à pesquisa do Dotta, algo que me anima é a possibilidade do seu trabalho servir para embasar ou reforçar as decisões do poder público em investir em políticas públicas eficientes de transporte público. A construção de novos corredores, como o da Segismundo e o próprio do Terminal Novo Mundo, já foi um ótimo passo. Espero que quando o Terminal Jardins, o Universitário e o Dona Zulmira também saírem do papel, nossa realidade possa ser outra. Esse último já está em construção.

Bem, a aula já vai acabando e eu preciso correr para o meu trabalho. E você, não se preocupe, pode passar a tarde aproveitando as atividades que rolam por todo o campus. Tem workshop, palestras, apresentações artísticas, o que preferir. Ah, tem um pôr do sol encantador. Nos encontrarmos no final da tarde, combinado?

E aí, curtiu? Tenho certeza que sim. Agora é preciso nos apressar. O horário de pico já vai começar. Ah, já pega o dinheiro. De preferência, que esteja trocado. Isso ajuda demais para não travar a fila de embarque. Nosso ônibus é aquele, o mesmo da vinda. Esse parece que não está tão cheio, que estranho.

Na estação seguinte, entra um artista de rua. Ele toca um instrumento diferente, mas muito cativante. Ao final da apresentação, puxo um papo. Ele me diz seu nome, mas não compreendo bulhufas. Ele é venezuelano e viaja pela América Latina há anos. Pergunto sobre a crise em seu país, e ele prontamente responde. “A Venezuela é muito maior do que o que se passa na TV. Quando saí de lá, era um país muito rico e próspero. Éramos unidos, mas hoje… Por isso, se eu puder lhe deixar um recado é para que valorize seus irmãos, aqueles artistas (apontou para um malabarista no semáforo) que lançam sua luz para alegrar a vida de vocês. Saiba reconhecer a importância desses detalhes’’, afirmou.

Chegamos no Terminal Central. Vale a pena repetir que todo cuidado é pouco. Olha lá, nosso ônibus já vem vindo. Se formos rápido, talvez dê até pra gente sent… é, não deu. Mas você fez bem em ceder o lugar pra essa senhora. Acredita que tem gente que finge que tá dormindo só para não levantar? É, tem gente pra tudo. E o fato de existir uma lei que nos obrigue a ceder o assento, o que deveria ser feito meramente por educação e alteridade, é um forte indicador de que ainda temos muito a evoluir enquanto sociedade.

Costumo dizer que meus lugares favoritos de reflexão são embaixo do chuveiro, na intimidade do nosso ser e, também, dentro de um busão, na pluralidade de cada indivíduo. Aqui no coletivo parece não haver distinção, porque mesmo diante da peculiaridade de cada história, sempre haverá um ponto de convergência. Estamos todos de passagem por aqui.

E, por falar em passagem, olha só aquela passageira ali. Ah, quanta representatividade! Uma mulher, negra e, muito provavelmente, moradora da periferia. Em sua mão, um livro. Entre trancos e barrancos, ela intercala o olhar entre as páginas e a realidade janela à fora. A identificação é instantânea. Frequentemente divido também o papel de protagonista dessa cena. E, cada vez mais, percebo que não estou sozinho.

Apesar de ser privilegiado por ser um homem branco e não sentir na pele as inúmeras adversidades que ela deve passar, encontrei algo em comum. Compartilhamos algumas lutas e, sobretudo, o desejo pela ferramenta que nos capacita para lutar: a educação.

E, muito embora o ponto final desta linha em que estamos ser a extrema margem do sistema, nossa gente caminha diariamente em direção contrária. Exemplos como o dessa moça, e de todos os demais passageiros que vimos ao longo do dia, são a prova de que, sim, pra gente pode até ser duas, três, quatro vezes mais difícil, mas não quer dizer que seja impossível.

Estamos dando nossos próprios passos, construindo nossas próprias linhas. Nossa próxima parada? Bem, aos centros de discussões, aos centros de poder, aos centros de representatividade! Esse é o ponto.

 

Gustavo Medrado é estudante de jornalismo na Universidade Federal de Uberlândia. Recentemente, ele foi premiado com a possibilidade de fazer a cobertura da Brazil Conference, na Universidade de Harvard, em Cambridge, Estados Unidos.

A matéria original pode ser lida na Agência Conexões, agência experimental de comunicação da UFU: https://www.agenciaconexoes.org/quando-o-ponto-de-onibus-se-torna-um-ponto-de-interrogacao/?unapproved=326&moderation-hash=219e5416a840daf47f5797057be4866a#comment-326

Continue Lendo

Direitos Sociais

Pai, caminhoneiro, herói!

Publicadoo

em

Por Stéfanni Meneguesso Mota, especial para os Jornalistas Livres

 

Era 1995, uma operária metalúrgica e um caminhoneiro começavam uma família, em uma casa de dois cômodos e um banheiro na periferia da Grande São Paulo. Ali começava a história da Stéfanni, esta mesma que agora, como uma jornalista formada, escreve para vcês para contar como foi ser criada pela potência de uma sindicalista e o carinho de um caminhoneiro dentro de uma boleia.

Esta é com meu pai e irmã no trancamento na Anchieta, no domingo, 27/5

É domingo à noite, dia 27 de maio, 9 dias após o início da paralisação dos caminhoneiros contra o aumento abusivo do combustível, sobretudo do diesel. Pego uma carona para me encontrar com meu pai, no km 23 da Rodovia Anchieta.  Uma fila de caminhões no acostamento, os grevistas fizeram fogueiras para segurar o frio. “Comprei umas pizzas aqui, quem quiser é só chegar” grita um deles, provavelmente um dos caminhoneiros de São Bernardo do Campo, cidade de muitas montadoras e transportadoras.

Travar a Rodovia na cidade em que se mora e trabalha é difícil. Cortar o transporte de combustível mexe diretamente na economia e vida cotidiana do povo, mas também dificulta a mobilidade do próprio movimento, que se segura na coletividade. Quem pode traz pão com manteiga, água, comida. “Seu padrinho conseguiu um ônibus pra levar o pessoal pra ir usar um banheiro, tomar um banho”, meu pai me conta ao me ver chegar.

Olhei para os lados e num breu não vi patrões ou empresários. Vi homens, trabalhadores em uma das profissões mais insalubres de que tenho conhecimento cruzando os braços em uma greve tão legítima quanto qualquer outra. Veio em minha cabeça um filme do que levou aqueles homens àquele momento, um roteiro que se confunde com a história de meu próprio pai.

Claudio começou a dirigir muito cedo. Ainda menor de idade, aprendeu o ofício com seu próprio pai e outros caminhoneiros amigos. Na raça. Aos 17 anos foi emancipado, depois que meu avô sofreu um acidente. Passou a ser responsável pelo sustento dos pais e três irmãos mais novos. Quando nasci, a casa tinha um único fogão portátil de duas bocas, que meu pai levava com ele para cozinhar na estrada, nas longas viagens levando carros para a Argentina.

O frete pequeno não permitia comer na estrada. Minha mãe, muito guerreira, comia na fábrica e eu comia na creche. Na volta pra casa, sobrava saudade, mas o que trazia no bolso não pagava as contas. Nos anos de governo progressista, meu pai passou a transportar carros em território nacional, o frete melhorou, mas não houve rompimento com a rotina insalubre. Além do óleo diesel, o pedágio e os gastos com manutenção também aumentaram, as estradas continuaram péssimas e perigosas.

Para fechar com saldo positivo no fim do mês, continuava necessário rodar por dias a fio sem dormir. Por falar nisso, você consegue pensar em outra profissão que obrigue o trabalhador a se drogar para ficar acordado e produzir à exaustão?

Ninguém me contou, eu vi e vivi tudo isso em 23 anos acompanhando meu pai em suas viagens nos fins de semana, enquanto minha mãe fazia hora extra na fábrica. Depois da escola, eu ia para a casa da minha avó que cuidava de mim até minha mãe chegar, então ele me ligava: “Alô, o pai pegou carga! Quer ir comigo ou ficar na Vó?”. Daí era uma listinha de tarefas que eu conhecia bem: ligar para a minha mãe e avisar, pedir a minha avó que me levasse em casa para fazer uma malinha com roupas para o fim de semana, esperar pelo meu pai que chegava lá pelas 21h.

Era pegar a carga na sexta, para rodar centenas de quilômetros parando só para descarregar. Passávamos a noite acordados, ao som de música sertaneja, Elvis Presley e Balão Mágico. “Filha, separa 10 reais”, e eu sabia que estávamos chegando a outro pedágio. Sempre que tinha sede, era eu quem lhe dava água. Eu tinha 7 anos e era tratada por ele com muito carinho e respeito. Tínhamos longas conversas na noite escura da rodovia, o assunto não acabava nunca. Garça, Pompéia, Marília, Presidente Prudente, Osvaldo Cruz, Dracena…

Sempre que o caminhão parava para descarregar, eu separava as notas e levava as chaves dos carros, pulava do caminhão e pedia insistentemente para ser seu chapa. Então ele me deixava dobrar e guardar as cintas que amarravam os carros à carreta. Quando não fazia hora extra, minha mãe nos acompanhava e a viagem era melhor.

À dir. está o meu pai, numa greve em S.Bernardo; vê-se que ele tem uma marca de bala de borracha nas costas

Lembro que um dia antes de ir pra escola minha mãe me chamou. “Tá tudo bem, mas seu pai sofreu um acidente.” Durante a aula, eu não conseguia parar de pensar no que poderia ter acontecido. À noite ele chegou em casa. Só tinha machucado a mão, mas os custos para consertar o caminhão tombado sairiam do bolso dele. Foram meses de aperto. Também me lembro de estar na casa da minha avó, quando meu pai chegou em casa sem camisa, com um machucado grande nas costas. “Isso é tiro de borracha mãe, não é nada”, mas era alguma coisa sim. Meu pai tem marcada na pele a prova de que a polícia nem sempre foi pacífica com caminhoneiros grevistas.

Em 2018, meu pai completa 34 anos de estrada, rodando sobre 5 eixos que custam caro por um frete que só consigo chamar de injusto, mesmo sendo um dos melhores do seguimento. Trabalhando por noites a fio, meu pai não concluiu o ensino médio, não esteve presente em todas as fases de minha vida e perdeu boa parte do crescimento de minha irmã mais nova. Mas rodou da Bahia até São Paulo sem parar, para estar presente no dia 4 de dezembro de 2017, o dia da apresentação do meu trabalho de conclusão de curso. Aquela foi a primeira vez que meu pai pisou numa faculdade e foi para ver sua filha conquistar o primeiro diploma universitário da família. Costumo dizer que, colocando em números eu fiz 30% do esforço, todo o resto foi trabalho duro dos meus pais.

Por tudo isso, mesmo tendo uma posição político-ideológica que me impede de levantar algumas das bandeiras daqueles caminhoneiros, tenho por eles um profundo respeito. Nutro uma admiração enorme por estes homens e mulheres que, sem um sindicato organizado para defender seus direitos, organizaram uma série de paralisações e trancamentos, usando a força da comunicação de motorista para motorista. A luta dos caminhoneiros está longe de acabar, pois é grande, é importante e é solitária. Não é só pela redução do preço do diesel, mas é também por mais segurança, postos de parada, direitos trabalhistas e condições para cumprir a lei. A luta é minha e de cada filha de caminhoneiro, para que possamos saber que nossos pais voltarão para casa e nos verão crescer, estarão lá nos nossos primeiros passos, aniversários e diplomas também.

 

Leia mais informações sobre a greve dos caminhoneiros no link

 

 

Continue Lendo

Mobilidade

Secretário de Doria reafirma intenção de extinguir cobradores de ônibus

Publicadoo

em

São Paulo – O secretário de Transportes da capital paulista, Sérgio Avelleda, reafirmou na noite de ontem (22) que a gestão do prefeito João Doria (PSDB) considera certa a extinção da função de cobrador dos ônibus da cidade. Ele nega, porém, que vá haver demissão em massa. “Hoje já existe uma saída natural desses trabalhadores. Se não forem repostos, a função vai acabar com o tempo. Mas nós não vamos demitir 20 mil pessoas. Eles serão aproveitados, por exemplo, na própria rotatividade de motoristas, mecânicos, fiscais”, afirmou.

As declarações foram dadas em debate promovido por um grupo de organizações que estão discutindo a nova licitação do transporte coletivo da capital paulista, na sede do Sindicato dos Arquitetos de São Paulo, no centro da cidade. Dentre os principais questionamentos apresentados esteve a necessidade de dispor de um modelo de consulta pública baseado em imagens, dada a complexidade da minuta do edital.

Além disso, os participantes questionaram sobre o funcionamento do sistema de avaliação dos usuários para fins de remuneração, sobre a continuidade da rede noturna, a adoção de velocidade menor para proteção da vida de ciclistas e pedestres e sobre a adoção de um número maior de integrações gratuitas no Bilhete Único, visto que a nova rede prevê sistema de entroncamento, com mais baldeação.

“Essa questão das integrações nós podemos avaliar, mas é preciso ter em mente que isso aumenta o custo dos sistema. Nosso estudo indica um aumento de apenas 4% no total de integrações realizadas, o que não demandaria essa mudança”, alegou o secretário. Já quanto à rede noturna, Avelleda se disse surpreso com a eficiência e demanda no horário. “Quando assumi tinha dúvidas. Hoje vejo que funciona bem e está crescendo a procura”, afirmou.

Avelleda também disse que a prefeitura vai lançar, até o final de março, um sistema de denúncia de má prestação do serviço de ônibus da cidade utilizando o aplicativo Whatsapp. “As pessoas vão poder enviar vídeo, texto, foto ou áudio, relatar o problema, se um ônibus passou direto no ponto, se o motorista está dirigindo de forma perigosa. Isso vai agilizar muito a avaliação de qualidade”, afirmou.

O pedido de redução da velocidade partiu do coordenador do projeto de segurança viária da Associação de Ciclistas Urbanos – Ciclocidade, Flávio Soares, que apresentou dados indicando o risco de morte em acidentes com os veículos em velocidades de 50 ou 40 quilômetros por hora. O risco de uma pessoa morrer em um atropelamento a 50 quilômetros por hora é de 20%, mas quase zera a 40 quilômetros por hora.

“Estamos conduzindo uma pesquisa e um dos dados encontrados é que muitas pessoas deixam de pedalar em áreas com faixa exclusiva de ônibus por medo”, ressaltou Soares. “Reduzir a velocidade tem impacto significativo na redução de mortes. Aliado a um treinamento permanente para motoristas conviverem com as bicicletas teremos mudanças muito positivas no trânsito”, completou.

Avelleda garantiu que essa é uma das principais preocupações da secretaria. “Os motoristas só podem desenvolver 50 quilômetros por hora em locais em que essa velocidade seja permitida. Aumentamos muito a punição por desrespeito às leis de trânsito. Queremos que os motoristas de ônibus sejam um modelo de condução e respeito. E podemos estudar essa proposta de velocidade”, afirmou.

O edital

Entre as propostas do edital de licitação do sistema de transporte coletivo da capital paulista, a gestão Doria pretende extinguir mais 149 linhas e cortar outras 134, além das 80 que foram alteradas este ano. Além disso, o número total de coletivos será reduzido, com ampliação do processo de “troncalização” e mais integrações para realizar a viagem.

O edital indica uma possível redução no tempo de espera dos coletivos de 5% com a “troncalização”, o que deve resultar em poucos minutos de diferença na prática. Não há previsão de construção de novos corredores. Este ano, a ação foi totalmente paralisada – e o orçamento de 2018 não prevê investimento significativo.

A consulta pública ao edital foi aberta no dia 21, às vésperas das festas de fim de ano, o que também foi criticado pelas organizações. O processo vai durar 45 dias, mas as sugestões terão de ser encaminhadas apenas à Comissão Especial de Licitação, presencialmente ou por e-mail. Não estão previstas audiências públicas. A proposta é que a vigência dos contratos seja de 20 anos, com custo de R$ 7,8 bilhões por ano, redução de apenas 2,5% no custo do sistema frente aos atuais R$ 8 bilhões.

O edital prevê a inserção de veículos maiores no sistema, com aumento do número de lugares disponíveis. Assim, o total de coletivos deve cair de 13.603 para 12.667. Mas a oferta de assentos deverá subir em 100 mil, de 1 milhão para 1,1 milhão.

No caso da remuneração, a proposta prevê um modelo de pagamento composto de remuneração básica por custo do serviço realizado, mais uma avaliação de satisfação do usuário. Também serão contabilizados critérios de segurança operacional, antecipação de utilização de energia limpa, redução de acidentes, demanda transportada e um bônus por produtividade econômica.

Por, Rodrigo Gomes da RBA http://bit.ly/2EYpgTQ

Continue Lendo

Trending