Haddad critica monotrilho de Alckmin em pré-campanha, após congelamento das obras

 

Já praticamente em pré-campanha pela sua reeleição, o prefeito Fernando Haddad participou do seminário internacional “Participação Cidadã, Gestão Democrática e as Cidades no Século XXI”, que marca o encontro entre os ex-presidentes Lula e o uruguaio Pepe Mujica em São Bernardo do Campo, entre os dias 28 e 29 de agosto de 2015. O petista fez um balanço de sua gestão nesta sexta-feira (28) e aproveitou a oportunidade para fazer críticas às obras do governador do estado, Geraldo Alckmin.

“Vamos pegar, por exemplo, o caso do monotrilho na cidade de São Paulo. Quantas audiências públicas ocorreram e quantas pessoas estão envolvidas na decisão de fazer suas obras? Monotrilho está custando e vai usar bilhões de reais. É uma intervenção urbana muito significativa, que produzirá um rasgo definitivo na cidade. Ninguém vai voltar atrás e destruir as pilastras das obras”, disse o prefeito. Para Haddad, uma obra desta magnitude tem maior dificuldade de ser revista ou mesmo evitada.

Foto: Renato Bazan

A crítica aberta do prefeito vem depois da Secretaria dos Transportes Metropolitanos do governo Alckmin congelar 17 das 36 estações de monotrilho previstas para as linhas 17-Ouro, que estava em obras na Zona Sul de São Paulo, e da Linha 15-Prata, na Zona Leste. As obras eram previstas para 2013, tiveram seu planejamento empurrado para a Copa do Mundo e, agora, só devem ser finalizadas em 2017, quatro anos depois da data oficial.

Fernando Haddad aproveitou a oportunidade, e a proximidade das eleições, para criticar abertamente o tucano em um evento público sem citar seu nome. E fez a crítica comparando com as suas tão contestadas ciclovias.

“Por que ninguém se incomodou de não ter participado da concepção do monotrilho? Não houve incomodo nem Ministério Público e nem OAB no caso. Todos os que entraram com ações contra mim não endereçaram ações contra essas obras que estão congeladas. O que está por trás disso? Foi mais de um ano batendo nas faixas de ônibus que implantamos até entrarem as ciclovias”.

Para o prefeito, quem for gestor e quiser sair da inércia na administração de São Paulo, vai precisar ter de quatro até cinco ideias a mais na manga. Haddad relembrou a ética de responsabilidade do pensador alemão Max Weber como exemplo do que o governante precisa ter. “Ele deve se perguntar sempre se está aproveitando os quatro anos do poder para libertar as pessoas da posição abjeta que ocupam”, complementou.

Foto: Renato Bazan

Fernando Haddad também respondeu perguntas sobre a dificuldade nas disputas políticas, nos protestos populares e na convivência democrática. “As pessoas precisam voltar a debater e as divisões emperram o avanço dos progressos”. O prefeito aponta uma crise de representação nas eleições e na política como um geral. Uma democracia mais radicalizada seria a solução. E ele falou um pouco sobre sua própria situação ao buscar a reeleição.

“Talvez o melhor, nessa situação, seria não se eleger e cuidar da minha própria vida. Muitos possuem ambições para ficar na política, mas o que seria bom, do ponto de vista mais egoísta, seria cair fora disso e não esquentar a cabeça”, disse Haddad, arrancando palmas e elogios da plateia ao mostrar que não estava disposto a fazer isso.

Não é a primeira vez que Fernando Haddad dispara críticas ao governador Alckmin. Em julho deste ano, numa coletiva que este autor participou, ele afirmou que o monotrilho “custou R$ 6 bilhões e está há um ano em testes”.

As críticas, no entanto, não ficaram direcionadas ao tucanato. O prefeito teme candidatos outsiders da política como seu adversário de 2012, Celso Russomanno do PRB, e o ex-petista e apresentador policial José Luiz Datena, que concorrerá pelo PP de Maluf. “O que tenho medo é que o SBT resolva lançar o palhaço Bozo como candidato, considerando os outros adversários que temos”, frisou Haddad, tirando sarro de opositores.

O problema é que, apesar de ter segurança na disputa de uma reeleição com intenções de vencer, Fernando Haddad está ciente do quanto a sua gestão foi penalizada por uma crítica sistemática da mídia.

“O Papa Francisco está fazendo um grande trabalho, mas eu acredito que outras pessoas individualmente estão se esforçando para atuarem de maneira ética. Se você está no caminho certo, o futuro chegará para você. Mais importante do que aprovar um projeto para funcionar no ano que vem é brigar por algo que vai mudar de verdade a vida das pessoas”, disse Haddad.

O prefeito está otimista demais? Não se sabe, mas as críticas à falta de gestão do governo do estado de São Paulo já estão afiadas para as próximas eleições.

Com apuração do jornalista Renato Bazan

 

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