Queda de teto impede começo das aulas na UNESPAR

Campus de Curitiba II, onde as classes foram postergadas

As aulas da maioria das universidades do Brasil já começaram, mas no Paraná há uma universidade cujas aulas foram interrompidas pela queda do teto de uma sala de aula. Infelizmente essa universidade, em péssimo estado, é pública.

O calendário acadêmico da UNESPAR, Universidade Estadual do Paraná, foi modificado duas vezes: primeiramente o início das aulas foi adiado para o dia 11/3, e no dia 8, sexta- feira, as aulas de quase todos os cursos, com exceção do cinema, tinham sido paralisadas até dia 23.

Porém, com o desabamento do teto na quarta passada, no campus da Faculdade de Artes, em Curitiba, no bairro de Cabral, as aulas foram suspensas para todos os cursos, sem previsão de retorno. O prédio foi interditado pela Defesa Civil do Paraná no dia 14 desse mês. Veja o vídeo da queda do teto da universidade abaixo:

O desabamento do teto é um reflexo da precarização da instituição, segundo relata o informativo do Centro Acadêmico do curso de Cinema e Audiovisual, o que já vem ocorrendo há alguns anos.  Entre os problemas informados, além do desabamento do teto, temos o vazamento de água próximo aos quadros de luz, infiltrações e acúmulo de resíduo, provocando mofo, bolor e consequente mau cheiro. Observe nas imagens a seguir:

Outro transtorno indicado pelos alunos da instituição é a falta de professores para vários cursos da Faculdade de Artes do Paraná, mesmo em disciplinas básicas. Apesar da realização de concurso para professores temporários em 2018, o governo do Estado do Paraná não aprovou a contratação dos docentes até hoje. Essas não são, todavia, as únicas dificuldades dos alunos paranaenses, que também enfrentam a ausência de política para permanência estudantil.

Os fatos relatados acima são, infelizmente, resultado do corte de verbas para instituições de ensino público superior no estado do Paraná, cortes que ocorrem desde 2014, com a reeleição do governador Beto Richa, do PSDB, preso pela terceira vez em Curitiba no dia 19, ironicamente por denúncia de corrupção na construção de escolas.

Na segunda-feira passada, dia 18, os estudantes de cinema fizeram uma aula pública na Praça Nossa Senhora de Salete, as 9:30 da manhã, sobre  ‘A importância do cinema para a formação da sociedade’, com presença de alguns dos professores do curso, como Alexandre Garcia, Fernando Severo.

O líder do governo, deputado Husssein Bakri, recebeu no mesmo dia, 13h da tarde, as lideranças estudantis do curso de cinema. Gabriel Borges, do centro acadêmico de cinema, relatou que o deputado em questão não sabia nem da existência da UNESPAR, e por isso ligou para o superintendente para saber mais, que explicou a situação a ele. O senhor Hussein garantiu aos estudantes que tudo será resolvido o mais rápido possível, e disse que até o final da semana encontraria um local provisório para as aulas, prazo cumprido no dia 22 de março, terça-feira.

Mais tarde Tiago Alvarez, coordenador do curso de cinema, esteve em reunião com o superintendente Aldo Bona, o assessor do governador Lineu Tomas (com quem está em contato desde o dia 15), e a diretora do campus Curitiba II, Pierângela Nota Simões. Na quarta-feira participaram de outra reunião para discutir possíveis locais provisórios: ‘foram cogitados vários espaços, mas nada concreto. Tudo está indefinido.’

A semana acabou e o prazo estipulado pelo deputado Hussein Bakri não foi cumprido. A aluna Marcela dos Santos Silva, discente do quinto período, nos disse em entrevista que: ‘como muitos estudantes do curso de cinema, saí de minha cidade natal (Florianópolis/SC) com praticamente o único propósito de estudar cinema na FAP/UNESPAR, consequentemente, morar em Curitiba também. A faculdade não fornece muitas políticas de permanência estudantil, o que torna situações como esta mais difíceis. Manter-se financeiramente é difícil para todos nós.’

A estudante teme que a evasão, graças a essa situação, aumente em níveis alarmantes para a universidade. As universidades públicas estão sofrendo com a política neoliberal imposta pelo governo do estado do Paraná e federal. Em outro texto, de 2017, já havia relatado a questão de verbas para as universidades (https://jornalistaslivres.org/reformas-e-cortes-na-educacao/).

A situação, todavia, mudou um pouco na terça (23): o governo conseguiu uma sede provisória, mas que será somente até julho, o que é um grande problema, já que a sede definitiva deveria ficar pronta até agosto. A sede provisória será na TV Paulo Freire, que atualmente possui somente 13 funcionários. Caso não tenham uma sede definitiva em agosto, ficarão sem nenhum local para aulas novamente.

Para alunas como Marcela dos Santos Silva, que se preocupam não apenas com o seu bem-estar de estudante, mas com todos os demais, a situação é aflitiva: ‘além disso tudo tem uma questão muito importante, quando a gente tinha nossa sede em Sete Barras, o governo tinha um ônibus fretado para nos levar. Como a nossa sede supostamente fica em Curitiba, os alunos tentam morar em Curitiba. Esse campus que nos colocaram inicialmente também era isolado, a 18 km da sede, e agora esse fica a 17km da sede, mas o governo não vai dar nenhum auxílio para transporte. A maioria dos alunos morava perto da FAP porque tínhamos esse ônibus de graça. Isso que dizer que 80% dos estudantes não estava contando com esse gasto, e como a passagem tá 4,50, seria 9 reais por dia, mais ou menos 180 reais por mês. A maioria não tem como bancar isso. Essa semana a gente se organizou como centro acadêmico para pagar a passagem dos alunos que não conseguem. Também organizamos caronas solidárias entre alunos e professores. O problema é que o centro acadêmico não consegue pagar além dessa primeira semana. Se não sair essa semana um novo documento afirmando que o ônibus fretado vai continuar, vamos ter que parar novamente as aulas, já que os alunos não tem como ir.’

Na época em que escrevi o primeiro texto, a  Universidade Estadual do Paraná estava totalmente parada por falta de verba, que inclusive havia sido diminuída pelo governo Temer de 9,7 milhões para 5,4 milhões. Com o governo Bolsonaro o orçamento tende a diminuir ainda mais, e assim impossibilitar a existência de uma educação superior gratuita. A paralisação do campus Curitiba II é um exemplo do que nos espera com os governos neoliberais.

 

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