Conecte-se conosco

Imigrantes e Refugiados

Polícia portuguesa agride brasileiras no carnaval de Lisboa

Publicadoo

em

Por Clara Luiza, de Lisboa , especial para o Jornalista Livres

A folia de carnaval em Lisboa terminou em agressão física por parte da PSP (Polícia Portuguesa) na noite do último domingo (23/02). Duas mulheres brasileiras foram agredidas de forma desproporcional por um grupo de agentes da polícia do serviço especial da capital portuguesa, ao lado da Estação do Cais do Sodré, ponto de encontro dos foliões após os cortejos de carnaval. O vídeo da agressão foi divulgado por uma das vítimas da ação brutal dos policiais.

https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/251294645863829/

Tai Barroso, editora do jornal lisboeta Rosa Maria, mora em Portugal há 2 anos e meio tenta proteger a mulher que estava sendo já violentamente abordada pelos agentes.  Os policiais, então, responderam de forma truculenta. Um deles usa o cassetete para imobilizá-las, joga-nas no chão e, no ápice da falta de controle por parte da equipe de polícia, um outro agente dispara um tiro para o alto, no meio dos foliões. A mulher que estava sendo agredida inicialmente prefere não ser identificada, mas em contato com Tai, revelou que sofreu uma fratura na cabeça e precisou ser suturada com seis pontos. Ela ainda afirmou que a violência foi gratuita e não houve nenhuma razão para que a polícia a agredisse.

a PSP se pronunciou ao jornal português Expresso admitindo que os agentes recorreram ao uso da força para deter uma mulher que, segundo eles, era suspeita de integrar um grupo que causou distúrbios no domingo na zona do Cais do Sodré. Em outras palavras, havia um grupo de foliões ocupando a rua do bar, onde ocorria a ressaca dos bloquinhos de Lisboa, quando a polícia tentou avançar com suas viaturas pela mesma rua e, impedidos pela multidão que ocupava a rua, partiram para a brutalidade.

Abusos por parte da PSP tem se tornado frequentes o suficiente para indicar a xenofobia e o racismo sistemático de Portugal.  Este não é o primeira vídeo de agressão por parte da polícia de portugal que é registrado na rua. Há pouco mais de um mês, no dia 19 de Janeiro, foi o caso de Cláudia Simões, mulher negra espancada por agentes da PSP que se tornou público. Cláudia foi espancada pela PSP em frente à sua filha de 8 anos, após ser insultada pelo motorista do ônibus de Vimeca, região do concelho de Lisboa. O que gerou toda a agressão foi o fato da filha ter esquecido o passe em casa. Depois de agredir, algemar e humilhar Cláudia, a PSP justificou a atitude brutal como “estritamente necessária para o efeito à resistência de Cláudia”.

Cláudia Simões mostra o rosto com hematomas após ataque da polícia portuguesa. Foto: Ana Baião / Jornal Expresso

Continue Lendo
2 Comments

2 Comments

  1. Ruy Dias

    24/02/20 at 20:45

    Policia em qualquer lugar do mundo é um antro de psicopatas

  2. Marcello

    11/09/20 at 12:05

    Devem ter aprontado alguma. A polícia não ia fazer isso de graça…

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Ação Humanitária

Operação elogiada por Bolsonaro na ONU despeja venezuelanos em Boa Vista (RR)

Comunidade formada por 850 indígenas e crioulos recebeu prazo do Exército para deixar o local até dia 28 de outubro

Publicadoo

em

Comunidade autogerida Ka'Ubanoko, em Boa Vista (RR) - Martha Raquel / Brasil de Fato

Em meio a uma pandemia que já matou mais de um milhão de pessoas no mundo todo, a Operação Acolhida do Exército Brasileiro anunciou no último dia 17 de setembro o despejo de 850 pessoas da comunidade Ka’Ubanoko de imigrantes venezuelanos indígenas e crioulos.

Por Martha Raquel e Jeisse Carvalho, do Brasil de Fato

“Desde que soubemos que teremos que sair, estamos vivendo muita pressão psicológica e social. Estamos vendo mulheres que não bebiam e começaram a beber, mulheres que têm chorado, crianças com medo”, relata Leannys Torres, indígena Warao e liderança da coordenação indígena da Ka’Ubanoko.

:: “Não queremos ser explorados, nem marginalizados”: indígenas Warao pedem autonomia ::

A Operação foi citada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante seu discurso na Assembleia das Nações Unidas (ONU), quando afirmou que “no campo humanitário e dos direitos humanos, o Brasil vem sendo referência internacional pelo compromisso e pela dedicação no apoio prestado aos refugiados venezuelanos, que chegam ao Brasil a partir da fronteira no estado de Roraima”.

A comunidade Ka’Ubanoko cujo significado em português é “Meu espaço para dormir”, fica localizada na cidade de Boa Vista, capital de Roraima, e ocupa o espaço do antigo Clube do Trabalhador – uma obra que ficou abandonada há anos e abriga, desde o ano passado, crioulos e indígenas Warao, Eñepà, Kariña e Pemon. 

Alejandrina Cortez tem 5 filhos, sendo um recém-nascido, e agora vive diariamente a angústia de não saber o futuro de sua família. 

:: Indígenas Warao sofrem com péssimas condições de vida no abrigo público de Belém ::

“Me sinto mal, estou preocupada, não durmo bem, penso nos meus filhos. Não por mim, mas por eles que são pequenos. Agora eu tenho meu lugar. Meus filhos gostam de jogar [no quintal]. Será que eu não posso ter paz? Eu estou morando aqui. Estamos todos. Meus filhos gostam de brincar e estão acostumados com isso”, completa. 

Tanto a coordenação crioula quanto a coordenação indígena da comunidade escreveram uma carta à Operação Acolhida do Exército explicando a situação e pedindo que o despejo não seja efetuado sem diálogo. 

“Estamos cansados a ser pisoteados. Não nos negamos a deixar um terreno que sabemos que não é nosso, mas nós temos direitos e sabemos que há outras soluções. Queremos falar, dialogar, mas nos tratam como animais. Nos impõem, querem pensar por nós”, explica a Cacique Eñepa. 


Regras da Comunidade autogerida Ka’Ubanoko, em Boa Vista (RR) / Martha Raquel / Brasil de Fato 

O local atual é dividido em cinco áreas, entre espaços reaproveitados da construção do parque, casinhas de madeira, barracas e redes.

Os indígenas e crioulos convivem como uma comunidade, organizada por setores. Os moradores se dividem através de coordenações responsáveis por alimentação, saúde, esporte, infraestrutura, segurança, proteção da mulher, educação, cultura e limpeza.

Quando decidem por nós, estão violando os nossos direitos, de construir nosso futuro, de sermos protagonista 

Para Leannys Torres, da forma como está sendo conduzida a Operação Acolhida há um desrespeito com os direitos dos povos indígenas.

“Não somos migrantes, somos indígenas de toda a América e isso é algo que eles precisam aprender a respeitar. E quando decidem por nós, estão violando os nossos direitos, de construir nosso futuro, de sermos protagonistas. Estamos indignados”, ressalta.

:: Como é o atendimento à migração venezuelana durante a pandemia? ::

A alternativa apresentada pela Operação Acolhida é realocar as mais de 850 pessoas nos abrigos geridos pelo próprio Exército, onde é realizado um trabalho de interiorização das famílias quando são enviados para trabalhar em diversos estados do Brasil. 


Abrigo oficial do Exército São Vicente 2, no bairro São Vicente, em Boa Vista (RR) / Martha Raquel/Brasil de Fato

Um ser humano não merece viver a vida que eles nos oferecem em um abrigo 

Alguns moradores da comunidade explicam que já viveram nos abrigos e não gostariam de passar novamente por essa experiência.

“Não há privacidade. Um ser humano não merece viver a vida que eles nos oferecem em um abrigo. Viver com calor, comer na hora que eles nos entregam a comida. Não teremos o direito de escolher o que vamos comer pela manhã, ao meio dia e à noite”, protesta Deirys Ramos, Cacique Eñepa, pertencente à etnia Warao.

:: Indígenas venezuelanos sofrem com a covid-19 e a fome no Recife (PE) :: 

Com base em experiências passadas nesse tipo de instalação, ela afirma que as condições de moradia apresentadas são insalubres.

“Querem ter-nos como animais, mas nem os animais se tratam assim. É um lugar onde não há árvores, não há brisa, em que estaremos fechados por todo o dia. Faz muito calor, todos estaremos amontoados”, ressalta.

Torres ressalta que o espaço dos abrigos limita a prática dos costumes tradicionais desses povos.

“Nos abrigos não teremos a liberdade de expressar nossas ideias, nossos costumes. A vida dos Warao está ligada à terra e ter terra é ter vida. Ficarmos fechados num abrigo nos limitaria bastante, é como estar em um campo de concentração”, explica. 


Uma das construções da ocupação Ka’Ubanoko, que abriga indígenas venezuelanos em Boa Vista (RR) / Martha Raquel/Brasil de Fato

Educação prejudicada 

Para a Cacique Deirys, a vida em abrigos impacta também no processo de educação da comunidade.

“É um lugar que nem sequer nos asseguram a educação, que pra nós seria não só bilíngue, mas que deveria ser trilíngue porque nós falamos diferentes idiomas. Não somos só um povo indígena, somos quatro povos indígenas”, ressalta. 

Entre os crioulos, 80% falam português e todos falam a língua nativa, o espanhol. Entre as quatro etnias indígenas, algumas pessoas falam apenas o idioma originário e outros aprenderam o espanhol.

:: “Não queremos ser explorados, nem marginalizados”: indígenas Warao pedem autonomia ::

Yidri Torrealba, coordenadora-geral da comunidade e representante dos crioulos explica que a educação diferenciada para as crianças sempre foi uma prioridade dentro da comunidade. 

“Entre a população indígena e a população crioula aprendemos a viver em comunidade, implementando a educação diferenciada para as crianças, já que mais de 50% que não conseguiram vagas nas escolas”, conta.


Crianças da Comunidade autogerida Ka’Ubanoko, em Boa Vista (RR) / Martha Raquel / Brasil de Fato

Na última quarta-feira (30), representantes do Defensoria Pública da União (DPU), do Ministério Público Federal (MPF) e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) estiveram na comunidade Ka’Ubanoko para dialogar sobre a situação. 

Segundo Luís Ventura, coordenador do Cimi, no próximo 14 de outubro uma reunião deve acontecer entre MPF, DPU, Operação Acolhida e representantes de entidades internacionais. A reunião também irá contar com a presença de um procurador da República de Brasília (DF), representante da área da Defesa do Cidadão, e também Renan Sotto Mayor, presidente Conselho Nacional dos Direitos Humanos

Eles apresentarão uma petição para que se suspenda a operação do despejo da Comunidade Ka’Ubanoko e solicitar outro prazo, garantindo diálogo, consulta prévia e que as reivindicações dos ocupantes sejam consideradas.

Segundo o coordenador do Cimi essa é uma medida extrajudicial para convencer a Operação Acolhida e, se não atendida, as entidades acionarão judicialmente a operação acolhida. 

Questionados por e-mail sobre a operação, os diálogos realizados, as alternativas para os imigrantes,as condições nos abrigos e as formas de fiscalização utilizada para que os refugiados não sejam enviados para lugares em que sejam obrigados a trabalhar em situação análoga à escravidão, a Operação Acolhida não respondeu e disse que a Casa Civil da Presidência da República deveria ser acionada.

A equipe do Brasil de Fato tentou contato com a instituição, mas também não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

Continue Lendo

Argentina

Bloco de carnaval em Buenos Aires faz homenagem a Marielle Franco

Publicadoo

em

Foto: Ramón Moser

Do caminhão coberto de tiras de tecido flúor e prateado, vem a voz sem vestígio de sotaque argentino de Gabriela Mercado, cantando “Ai, como eu queria que fosse Mangueira, que existisse outro Zé do Caroço…”. Os surdos marcam o compasso como um coração à espera do estouro da bateria. Ao lado do estandarte, surge a placa da rua Marielle Franco. “Está nascendo um novo líder…”. Um público de mais de mil pessoas, entre argentines, brasileires e outres migrantes, segue o Bloco Cordão de Prata, o primeiro e único da cidade de Buenos Aires, que leva esse nome em homenagem ao rio que une a região.

Quem conduz o quarto desfile anual do bloco é Julia Cavalcante, instrumentista paulista com dez anos de experiência tocando em blocos tradicionais do Rio de Janeiro. Julia foi também uma das organizadoras do ato realizado em Buenos Aires no dia 14 de março de 2018 em homenagem a Marielle Franco. Naquela noite, pelo menos duzentas pessoas se reuniram espontaneamente no Obelisco da cidade estrangeira, ainda desorientadas pela notícia que vinha do Brasil. Com velas, abraços e canto, os migrantes brasileires mostravam concretamente aos militantes argentines do que se tratava a política com afeto defendida por Marielle.

Migrante, afrodescendente e feminista, naquele momento Julia acabara de montar sozinha um projeto cultural em paralelo à sua militância política, o Centro de Estudos da Música Brasileira (CEMBRA) e seu bloco de carnaval. Aos poucos, o projeto tomou todo o seu tempo e se tornou ele mesmo uma militância.

Foto: Ramón Moser

“Quando eu cheguei a Buenos Aires em 2015, percebi que os argentinos adoravam a música brasileira, mas não a conheciam em sua diversidade. Sabiam alguns ritmos do sudeste e da Bahia, mas não muito mais do que isso”, diz. “O carnaval brasileiro que chegava aqui era aquele moldado pelo capital turístico, financiado por marcas de cerveja e padronizado, sem a autenticidade e a diversidade estética que caracterizam o carnaval popular”.

Com o CEMBRA e o bloco, Julia, que agora conta com uma equipe composta por seus principais afetos na cidade, busca apresentar ao público argentino o verdadeiro carnaval comunitário de resistência, feito por e para o povo, e, com ele, os ritmos tocados em todo o país. Além de Zé do Caroço, o repertório de 2020 teve marchinhas dos anos 70, ijexá, maracatu, forró, funk carioca e duas cumbias, para também agradecer a cultura que há quatro anos recebe o carnaval brasileiro em suas ruas.

 

Continue Lendo

Futebol

Copa dos Refugiados e Imigrantes: Futebol e união para além da terra

Publicadoo

em

Ocorreu ontem (20) no Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, também conhecido como Estádio do Pacaembu, em São Paulo, a Grande Final da Copa dos Refugiados e Imigrantes – etapa São Paulo. O evento é organizado anualmente pela ONG África do Coração em parceria com a ACNUR – Agência de Refugiados da ONU, a OIM – Organização Internacional para as Migrações, a Caritas Arquidiocesana de São Paulo – CASP, a Prefeitura de São Paulo e outros apoiadores públicos e privados.

As primeiras fases da Copa iniciaram em agosto nas cidades de Brasília, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Recife, Curitiba e São Paulo. A competição envolveu, ao todo, aproximadamente 1.120 atletas, organizados em 46 seleções que agregaram pessoas de 39 nacionalidades em situação de refúgio (solicitantes de refúgio e refugiados reconhecidos) e imigrantes. A final foi disputada entre os times da República Democrática do Congo (RDC) e Níger.

Dessa vez, quem levou a taça de primeiro lugar foi a República Democrática do Congo (RDC) vencendo o Níger, que havia sido campeão na edição anterior do evento, em 2018. O time vencedor ainda irá participar de etapa nacional no Maracanã, no Rio de Janeiro, em novembro deste ano.

Etapa Final da Copa dos Refugiados e Imigrantes no Estádio do Pacaembu | Foto: Lucas Martins (Jornalistas Livres)

Entrevistamos três refugiados e imigrantes que estiveram envolvidos na organização e participação na Copa dos Refugiados e Imigrantes de diferentes maneiras.

Nosso primeiro entrevistado foi Abdulbaset Jarour, refugiado sírio, vice-presidente da ONG África do Coração e Coordenador-Geral da Copa dos Refugiados e Imigrantes.

– Como surgiu a ideia da Copa dos Refugiados e Imigrantes?

A Copa dos Refugiados e Imigrantes surgiu em 2014 com o propósito de chamar atenção da mídia e ajudar na integração dos imigrantes na sociedade brasileira. A ideia de usarmos o futebol foi proposta por um dos imigrantes e acabou sendo apoiada pela ACNUR e pela Caritas de São Paulo. E assim surgiu a ideia, cujo objetivo principal é, primeiramente, realizar integração entre os povos refugiados e imigrantes, mas também integrar os refugiados e imigrantes com o povo da sociedade brasileira, para quebrar todo o olhar preconceituoso e xenofóbico que aumentou muito nos últimos tempos. Também buscamos chamar atenção do setor público para dar protagonismo às nossas falas para ver se conseguimos mudar as leis. Nós também convidamos autoridades para falarmos sobre a nossa situação. Por isso a Copa dos Refugiados não é para refugiados, nem com refugiados, mas dos refugiados e imigrantes. O nosso outro objetivo é chamar atenção do setor privado para superar uma das maiores dificuldades dos migrantes que chegaram aqui no Brasil: muitos deles são formados e vieram para cá com muita vontade de abraçar uma oportunidade para se sensibilizar mais pela causa. O que menos importa é o resultado. Todo mundo sai ganhando e sai feliz daqui. O nosso objetivo é maior do que isso.

– Você acredita que o esporte cria uma relação entre os povos que facilita a sua integração?

O esporte e o lazer são coisas que realizam a integração em todo o mundo. Há vários tipos de esportes que dão esse ânimo e que ajudam a realizar a integração. Usamos o futebol porque é o “rei dos esportes”, o futebol é uma linguagem universal, pelo qual as pessoas se unem. Nele, todo mundo se abraça. Torcedores, pobres, ricos, todas as raças, todas as cores. Por isso o futebol é uma linguagem universal, e por isso usamos essa linguagem. Ainda mais porque que estamos no Brasil, lugar onde o futebol é sagrado e que funciona como uma “escola de futebol”, sendo o país que mais exporta jogadores do mundo. E também, como sempre falo, acredito que há duas coisas que tocam o coração humano: o amor e o futebol. Por isso usamos essa linguagem e graças a essa luta e resistência conseguimos realizar esses objetivos e estamos aqui com esse projeto que cresceu muito depois da sua criação em 2014.

– Conte um pouco sobre a trajetória da Copa dos Refugiados e Imigrantes desde a sua criação.

A Copa foi criada em 2014, e em 2016 ela foi realizada pela primeira vez fora do Estado de São Paulo, indo para Porto Alegre. O jogo aconteceu no dia 26 de março, dia do aniversário da cidade de Porto Alegre, e foi realizado na Arena Histórica do Grêmio. Em 2018, a Copa foi para três Estados: Rio de Janeiro, Porto Alegre e São Paulo. E, esse ano, a Copa chegou a seis lugares diferentes: Distrito Federal, Recife, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo. Ano que vem, nosso plano é fazer com que a Copa vá para nove Estados brasileiros: Santa Catarina, Minas Gerais e Mato Grosso. A Copa não é um crescimento só nacional, mas internacional, porque quem carrega o título não é de dinheiro, nem taça de ouro, mas um título humano, de pessoas que deixaram sua terra e recomeçaram com uma nova vida aqui no Brasil.

 

Abdulbaset Jarour, coordenador-geral da Copa dos Refugiados e Imigrantes, no Estádio do Pacaembu | Foto: Lucas Martins (Jornalistas Livres)

– Como refugiado, o que um evento como esse significa para você?

Como refugiado, estou aqui muito feliz de fazer parte dessa história porque essa Copa não é apenas um campeonato, é mais do que um jogo de futebol. Para mim é uma felicidade conseguir trazer os refugiados e imigrantes para pisar em grandes estádios aqui no Brasil. Um dos jogadores, em seu país de origem, era jogador de futebol de carreira, e é muito gratificante trazer de volta esse sorriso de uma pessoa que se sente como um órfão da terra. Isso, para mim, é algo que me deixa muito feliz, de fazer parte dessa história e também de ser um dos organizadores, ser liderança ativista e defensor pela causa dos refugiados e imigrantes.

– Você gostaria de deixar alguma mensagem, como refugiado, para o povo brasileiro?

Minha religião é o amor, minha raça é a humanidade, minha pátria é o mundo. Sou cidadão do mundo e somos todos filhos de uma mesma terra. Então, reserve um minuto para ouvir uma pessoa que teve que deixar a sua terra – seja pela desigualdade social, pelas perseguições, pela violência ou pela guerra. E vamos apoiar. Se não vai ajudar, também não vá atrapalhar. Então apoie nossa causa porque é uma causa que merece o nosso apoio. Deus criou este planeta sem fronteiras, criou a diversidade entre nós, como seres humanos. Também precisamos lembrar que o povo brasileiro é formado por pessoas que fugiram da fome, de guerras, da escravidão e também devem ter respeito com os povos indígenas da terra brasileira. Por isso essa causa tem tudo a ver com o povo brasileiro que deve acolhê-la, assim como o nosso projeto.

 

 

Nosso próximo entrevistado foi Matuka David, que está no Brasil há 5 anos e jogou na Copa dos Refugiados e Imigrantes como goleiro do time da República Democrática do Congo (RDC) – seleção vencedora da edição de 2019. 

Matuka David recebendo a medalha de campeão como goleiro da seleção da República Democrática do Congo | Foto: Lucas Martins (Jornalistas Livres)

– Como está sendo participar da Copa?

Estou muito feliz de estar aqui. Se a gente veio foi pra ganhar, né? A gente ganhou esse jogo de 2×0.

– Como foi a sua preparação para os jogos da Copa?

A preparação foi difícil. Quando estávamos nos preparando a Copa, a gente estava sempre aprendendo. A gente até perdeu alguns jogos na preparação, mas falamos pra nós mesmos: “Agora a gente pode perder, mas na hora da Copa a gente não pode não!”

– Você acha que esse evento facilita a sua integração com outros refugiados e com o povo brasileiro?

Sim! Graças a Deus, né. Está ajudando bastante. 

– Há quanto tempo você joga futebol?

Eu jogo futebol há 4/5 anos, desde que cheguei no Brasil.

– Quem é o seu goleiro favorito?

Eu gosto muito do Cássio, goleiro do Corinthians.

– Você gostaria de deixar alguma mensagem para o povo brasileiro?

Gostaria de agradecer muito o povo brasileiro. Estamos muito bem aqui, fomos bem recebidos.

 

Nosso terceiro entrevistado, Yacouba Conde, está no Brasil há dois anos e meio e é capitão da seleção da Gâmbia.

– Como está sendo participar da Copa para você?

A Copa está sendo uma grande oportunidade para nós mostrarmos que nós também podemos jogar com qualidade e podemos trazer nossas habilidades para o campeonato brasileiro. Mas, infelizmente, eles não dão essas oportunidades para nós. Então essa Copa dos Refugiados representa um campeonato para a gente.

– Você tem vontade de seguir uma carreira no futebol aqui no Brasil?

Yacouba Conde, capitão da seleção da Gâmbia | Foto: Lucas Martins (Jornalistas Livres)

Claro que tenho. No ano passado eu fui eleito o melhor jogador da Copa dos Refugiados e aí eu tive a oportunidade de ser chamado para jogar no time de futebol do Corinthians. Mas, infelizmente, por questões de documentação, eu não consegui assinar o contrato e perdi a vaga. Até hoje estou correndo atrás disso para ir atrás do meu sonho.

– Desde quando você joga futebol?

Desde que eu nasci. Eu cresci jogando futebol. Eu sou jogador polivalente: jogo tanto de zagueiro, como na lateral, e outras posições.

– Como que foi a sua preparação como capitão do time?

Não foi fácil não, porque tem alguns jogadores que moram longe e às vezes temos que pagar as passagens deles. E também para vir treinar nós temos que pagar o campo.. Aí não foi fácil, mas graças a Deus deu tudo certo.

– Como refugiado, o que um evento como esse significa para você?

Significa muito para mim. Eu acho que é o único evento que nós temos para nos expressar, para encontrar os nossos amigos, porque nós não temos mais lugar para nos encontrarmos e trocarmos uma ideia. 

– Você acha que um evento como esse ajuda na sua integração com os outros refugiados e imigrantes?

É exatamente isso.

– Você gostaria de deixar alguma mensagem para o povo brasileiro?

Não julguem o livro pela capa. Temos que abrir o livro e ler para conhecer. Não é porque nós somos pretos, ou sei lá o que, não significa que não temos qualidade para mostrar e oferecer. Acho que a gente precisa só é de oportunidade.

 

Nosso quarto e último entrevistado foi Azuka Okoru, de 24 anos, jogador da seleção do Níger que já está no Brasil há 4 anos e 7 meses. Foi campeão da edição de 2018 da Copa dos Refugiados e Imigrantes e vice-campeão em 2019.

– O que você sentiu ao participar da Copa?

Nós já participamos da Copa no ano passado e fomos campeões. Mas esse ano a gente chegou no final mas não ganhou. Mas tudo bem, é assim mesmo. Só Deus sabe o porquê. Nós jogamos muito bem, mas o outro time tem que ganhar porque eles jogam melhor do que a gente. Quem joga melhor é que ganha.

Azuka, jogador da seleção do Níger | Foto: Lucas Martins (Jornalistas Livres)

– Como é jogar no Pacaembu, um estádio histórico?

É muito bom jogar aqui. O estádio é grande e quando a gente joga aqui, a gente descobre se sabe ou não jogar bola. Porque quando a gente joga em um campo pequeno, você sente que sabe jogar muito, porque o campo é pequeno. Mas quando a gente chega aqui, você some. Mas é muito bom, o Pacaembu é muito bom pra jogar bola.

– Você acha que, aqui no Brasil, o esporte pode facilitar sua integração com os outros refugiados e imigrantes?

Sim, sim, sim. É muito bom. Esporte é bom e o Brasil é o país do esporte. É por isso que eu estou aqui, e gosto muito do Brasil. Meu sonho era vir aqui pro Brasil pra jogar bola.

– Como refugiado, o que essa Copa significa para você?

Essa Copa significa uma oportunidade para conhecer outras pessoas de vários países. É muito bom, todo mundo gosta para jogar. Todo mundo gosta porque estamos conhecendo outras pessoas, que você nunca tinha visto antes.

Etapa Final da Copa dos Refugiados e Imigrantes no Estádio do Pacaembu | Foto: Lucas Martins (Jornalistas Livres)

Continue Lendo

Trending