Eu, mulher lésbica… Essas palavras nunca foram proferidas por uma parlamentar no Congresso Nacional brasileiro. A única mulher a afirmar-se bissexual no alto escalão foi a Ministra Eleonora Menecucci, que ao assumir o cargo de Ministra da Secretaria de Política para Mulheres da Presidência da República, em 2012, concedeu entrevista afirmando ser capaz de namorar mulheres e homens e ter orgulho em ter uma filha lésbica.
A entrevista se tornou um grande escândalo e foram inúmeras as pressões para sua exoneração. O parlamentar e atual presidenciável que não merece ter seu nome referido fez um duro pronunciamento afirmando “Pelo amor de Deus! Uma Ministra! Essa senhora está representando as mulheres brasileiras. Ela representa as mulheres brasileiras dizendo que é homossexual, que tem orgulho de uma filha gay. Para mim, não representa. Para você, mulher que está me ouvindo, tenho certeza de que também não representa.”
Ela permaneceu no governo até o fim e em sua gestão na SPM criou a coordenação de diversidade sob liderança da saudosa Lurdinha Rodrigues, ativista lésbica.
Numa sociedade estruturalmente patriarcal como a nossa, defende-se como o lugar ideal da mulher sua casa e não os espaços públicos de Poder. Portanto, toda mulher ao ocupar os corredores do Congresso, do Executivo ou do Sistema de Justiça já é em si capaz de abalar tais estruturas. Quando falamos de mulheres assumidamente lésbicas diante de uma estrutura social centrada no homem e em seus desejos, tratamos de mulheres que afirmam não estarem sexualmente e emocionalmente interessadas na companhia masculina e, portanto, representam uma ainda maior afronta ao modelo de poder idealizado.
Dizer em alto e bom som “sou sapatão” pode custar a muitas mulheres não só o enfrentamento diário perante seus pares, mas também o próprio cargo público. Não à toa, temos há muitos anos lésbicas no Congresso, elas são parlamentares importantes, aliadas da causa LGBT, mas não ousam pronunciar a palavra “maldita”, lés-bi-ca.
Estamos diante de novos tempo, se temos retrocessos e fundamentalismos de um lado, também temos um maior debate público sobre as causas feminista e a pauta LGBTI de outro. Algumas campanhas online tem sido organizadas para divulgar as candidaturas com cara gay, bi, lésbica, travesti e trans: #votelgbt, #meuvotoelgbt e Aliança Nacional LGBTI.
Todas as lésbicas merecem ser eleitas? Para mim, não. É preciso ainda mais, interessam-me candidatas lésbicas, feministas, anti-racistas, aliadas das trans, que realizem um debate em torno da valorização das políticas sociais e entendam da necessidade de continuarmos debatendo classe. E para você? Quais os requisitos para ganhar seu voto?
Vale sempre a pena complexificar o debate, no entanto, considero importante não permitirmos mais que nos coloquem num lugar de invisibilidade, que tratem como menos importante nossa voz, nossa cara, nossas dores, desejos e pautas. Precisamos ocupar o Poder, ser parte na mudança, tensionarmos com o velho e construirmos o novo. Nosso lugar não é em casa, nossa sexualidade não merece a alcova, mas sim o púlpito.
É hora de não sermos mais representadas e sim representantes, daquelas representantes que lidam com inúmeras e diversas pautas e que têm orgulho de afirmar: agradecemos por quem caminhou trajetos mais difíceis para estarmos aqui, sentimos por quem pelas contingências sociais, profissionais e familiares teve de se esconder, mas hoje, por mais que ainda seja difícil, já conseguimos expressar publicamente nossas múltiplas identidades e uma delas é somos mulheres lésbicas e temos orgulhos de sê-lo.
Para isso, pesquise no seu estado, procure outras características e posições importantes para você e vote sapatão!
Por: Dida Figueiredo – Professora contratada da FND/UFRJ
Por: Carol Quintana – Professora de Sociologia da rede pública do Rio de Janeiro