O sonho da Colômbia Humana resiste

Por Murilo Matias

O candidato da Colômbia Humana, Gustavo Petro, mencionou o Brasil em seu discurso no centro de Bogotá após a histórica passagem do progressismo colombiano para disputar o segundo turno contra a tradicional extrema direita liderada pelo senador Ivan Duque.  “Alguns falam que construiríamos nesse país algo parecido com o que se sucede na Venezuela ou no Brasil, de que pouco se fala. É dizer, caminhos ditatoriais que retiram a liberdade e a democracia. Se esquecem que queremos aprofundar o estado social de direito para a sociedade em sua diversidade”.

Principal dos presidenciáveis a denunciar a perseguição ao ex-presidente Lula, o candidato foi acompanhado por outros políticos entre eles as progressistas Piedad Córdoba e Glória Florez, representantes do centro, a exemplo de membros do Partido Liberal e mesmo conservadores como a senadora Rosmery Rosales. A trajetória do economista que faz os colombianos sonharem com o começo de uma era, aliás, possui muitas similaridades com os caminhos percorridos pela esquerda brasileira em seus fatos mais recentes.

Além de também ter sido preso político na época em que pertencia ao movimento guerrilheiro M-19, Petro sofreu um golpe quando governou Bogotá, por enfrentar as máfias empresariais que controlavam a cidade, especialmente nos setor de recolhimento o lixo da capital de oito milhões de habitantes. Diferentemente do ocorrido com a presidenta Dilma Rousseff, o então prefeito voltou ao cargo para completar seu mandato depois de três meses de afastamento. Já na campanha a presidente, foi vítima de um atentado a tiros na região de Cúcuta, em situação que lembrou o crime contra a caravana de Lula, no sul do Brasil.

 

A pergunta sobre o que mudou na cidadania para que o ex-prefeito que reduziu a pobreza local, proibiu as touradas, privilegiou os espaços públicos aos pedestres em detrimentos dos carros e acena com uma nova política sobre as drogas chegasse com a chance de se eleger tem como resposta imediata a paz na Colômbia. A partir dos tratados de paz de Havana e a deposição de armas por parte das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, que na condição de partido político passou a chamar-se Força Alternativa Revolucionária do Comum (FARC) ficou mais difícil criminalizar a esquerda nacional, embora o contexto histórico faça com que Petro e a maioria de seus apoiadores não se declarem como esquerdistas, e sim como um movimento a favor da vida, em contrapartida aos que defendem a guerra e a morte.

 

Uma vez que a crítica pelo viés da violência perde o sentido, a direita passou a explorar a ideia negativa de venezuelização da Colômbia, em caso de vitória de Petro, chamado humoradamente de Petrovski pelos simpatizantes ao contrário do malicioso termo petrochavismo, criado pelos detratores. A presença massiva de venezuelanos e a campanha midiática são utilizados como novas formas de colocar medo na população, de forma eficaz de acordo com a expressiva votação de Duque, vencedor do primeiro turno com 7,5 milhões de votos.

 

Por outro lado, há os que temem que o candidato escolhido e manejado pelo senador eleito e ex-presidente Álvaro Uribe derrube a negociações pela paz e promova a mexicanização da Colômbia, em alusão à possível escalada de violência que poderia desencadear-se. A denúncia por parte das Farc da falta de cumprimento de pontos do acordo pelo atual presidente Juan Manuel Santos e a entrada do país na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) colocam ainda mais dúvidas sobre o avanço da pacificação em caso de vitória conservadora.

Muito mais do que os 2,5 milhões de votos que separaram Duque de Petro, a distância entre os concorrentes está no modelo militarizado proposto pela direita versus a Colômbia humana e social defendida pelos progressistas. Em três semanas, uma dessas forças ganhará a presidência, provavelmente a que com maior eficácia mover os votos de Sérgio Fajardo, terceiro colocado da disputa com 4,5 milhões de votos. Apontado pela esquerda como uma tentativa de distrair os votos a Petro, a grande adesão à campanha do professor universitário e ex-governador de Antioquia exige que os petristas consigam convencer um eleitorado concentrado no tema do combate à corrupção e de difícil comunicação dado o problema em entender o que foi classificado por alguns como o voto de opinião da eleição.

Na terceira nação mais desigual do mundo, de salário mínimo mais baixo da América Latina e recordista no assassinato de ativistas sociais, os militares e policiais não votam, mas influenciam a chamada “maquinária”, poder do Estado que sempre pendeu para as elites. Contra elas e pelo campo popular, a realidade da Colômbia pode ser ainda mais fantástica se finalmente a direita for uma página virada, pelo menos pelos próximos quatro anos.

COMENTÁRIOS

Uma resposta

  1. A Colômbia é um país lindo.
    Que os deuses estejam com os colombianos e eles tenham o governo progressista e de paz que merecem.
    Suerte!

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