O SABER DO BEM COMER

O alimento tradicional entre as etnias indígenas é a grande marca entre um povo em equilíbrio. Poder e saber comer é elo entre a terra e os homens que nela habitam. Ter contato com novas culturas sempre varia o cardápio secular das comunidades, muitas vezes se enriquecem ou se complementam, mas é regra que se contaminam com alimentos processados e industrializados tendo no acréscimo do sal, açúcar e gorduras seu maior prejuízo.

A roça e a caça fartavam os que delas sempre se alimentaram quando as chuvas lambiam as matas e o trabalho no roçado mostrava sua graça. Mas nem tudo é mais coleta entre os clãs, as mudanças climáticas no avanço das propriedades e o abraço do agronegócio entre antigos sertões introduziram mudanças em padrões alimentares há muito aprimorados. Rapidamente desfazem  antigas tradições entre os produtos baratos e de má qualidade oferecidos aos mais pobres e açoitados por publicidade voraz.

Sucos em pó, guloseimas coloridas, inventos com farinhas saborizadas. Conservantes, acidulantes, açúcares, propionato, amaciantes, corantes, antioxidantes, espessantes; tudo vai criando rima com o ambiente que se desnutre e carece.  DDT, acefato, alacloro, aldrin, ametrina, atrazina, bromofós, glifosato, ciromazina, fentoato, malationa, mirex, tiran, zoxamida; uma melodia dissonante  de agrotóxicos vai violando a terra e silenciando o balé de abelhas, borboletas e beija flores que cortavam os campos. Tudo é silêncio na vastidão verde da soja, milho ou sorgo que rasgam o cerrado e cortam a Amazônia em novos padrões de produção. Aldeias isoladas em áreas demarcadas sofrem gradualmente a influência de nossa má nutrição, a obesidade e o diabete invadem, na calada e sorrateiras, a saúde indígena.

Equipe de profissionais do Projeto Xingu/EPM-UNIFESP, ensina às mulheres indígenas a reconhecerem as armas silenciosas que inventamos, como o óleo, o sal e o açúcar. Mulheres indígenas descobrem que os perigos são muitos e tudo registram em nova tecnologia para compartilhar com os seus.

Entre tantos desafios oferecidos nesse momento aos povos indígenas, entender nossos alimentos e tudo que neles existe em seu processamento, é apenas um dos mais graves comprometimentos nessa terra que se fundi em sua diversidade. Saber comer é de grande valia entre tantas armadilhas que inventamos. Antigamente o supermercado era o rio e a mata. Agora se perdem entre embalagens e sabores, tudo engana.

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