Vídeo intitulado “Um grito de socorro no coração do Brasil”, (veja AQUI), gravado pela comunidade indígena Xavante da região de Barra do Garças (MT), expõe a força da covid-19 nos povos. Provocada pelo novo coronavírus, a doença já matou mais de 819 indígenas de diversas etnias.
Por: Ana Adélia Jácomo – Redação do PNB Online
De acordo com dados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), até a última sexta-feira (24), 13.096 indígenas haviam sido infectados pela covid-19. Somente no povo Xavante, o último boletim epidemiológico divulgado na mesma data, demonstra a existência de 30 óbitos e 313 infectados. Ainda existem outras 10 mortes sob investigação.
Com duração de pouco mais de quatro minutos, o vídeo coloca o espectador dentro das comunidades, expondo a situação classificada pelos indígenas como de “abandono” por parte do Poder Público.
Davi Tsudzaweré, cacique da Aldeia Guadalupe, da Terra Indígena São Marcos, faz um apelo por maior atenção básica em saúde. Segundo ele, os povos estão abandonados à própria sorte, sem qualquer tipo de acesso a atendimentos médicos.
Estão omitindo as mortes, estão omitindo os dados, está sendo tudo manipulado para manterem a imagem de bonzinhos
“Houve muito óbito nesta terra. Até agora, os Xavantes estão morrendo dessa doença que está acontecendo no mundo inteiro. Estamos sofrendo ainda sem atenção de nenhum órgão competente”, disse.
Em uma das imagens de maior apelo, Cristóvão Tsõrõpré, pertencente a aldeia São Marcos, narra a escavação de covas para enterros dos mortos. “Até quando vamos aguentar tudo isso? Temos o espaço para o cemitério, quantos já se foram… Já pedimos apoio, intervenção e profissionais de saúde, mas nada disso acontece”.
Rafael Wéré´é, da Aldeia São Marcos, acusa as autoridades competentes de não divulgarem dados reais das mortes causada pela pandemia. “Um grito de socorro para que as pessoas possam conhecer como estamos abandonados perante essa pandemia. (…) Estão omitindo as mortes, estão omitindo os dados, está sendo tudo manipulado para manterem a imagem de bonzinhos”, afirmou.
Gravado pelos indígenas, o vídeo foi produzido pela jornalista Juliana Arinos e pelo professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus Barra do Garças, Gilson Costa. Ele trabalha há seis anos em um projeto de extensão nas comunidades, oferecendo oficinas de capacitação audiovisual a jovens Xavantes.
Segundo Gilson, o vídeo retrata a situação das comunidades diante da pandemia. “Em se tratando dos Xavante, o poder público ficou inerte no primeiro momento, esperou que a doença avançasse. As barreiras sanitárias poderiam ter sido instaladas anteriormente para evitar que a doença entrasse nas aldeias”, avaliou.
O professor explicou que a cultura indígena envolve moradias coletivas, pouco acesso a água encanada e rede de esgoto. Com hábitos culturais de higiene diferentes, a covid-19 tem encontrado nos povos muita facilidade de disseminação do vírus.
“A partir do momento que a doença entra nas aldeias a situação começa a ficar complicada porque as comunidades têm uma outra cultura. Em uma casa Xavante, moram até 20 pessoas, nem todas elas têm água encanada, são outros hábitos de higiene, uma outra cultura. O poder público por mais que tenha sido alertado pelas lideranças e Ongs, esperou a doença chegar e demorou muito para uma ação. Depois que o caos começou é que o poder público começou a atuar, mas mesmo assim e forma muito deficitária”, avaliou.
O poder público por mais que tenha sido alertado pelas lideranças e Ongs, esperou a doença chegar e demorou muito para uma ação.
A morte de um indígena na cidade de Campinápolis teria exposto a falta de atenção básica, como por exemplo a falta de distribuição de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). “Ele trabalhava como motorista e transportava pacientes, e ficava com a mesma máscara até uma semana. Nem os EPIs básicos lhe foi concedido e ele acabou morrendo”. A morte gerou protestos na cidade.
O outro lado
O Governo do Estado anuncia nesta segunda-feira (27) o início das atividades de um grupo de trabalho que irá em expedição pelas aldeias indígenas de Mato Grosso oferecendo atendimento médicos e medicamentos a infectados pela covid-19.
O grupo é uma parceria entre o Ministério da Saúde, Forças Armadas, Secretaria Especial de Saúde Indígena e pelo Governo de Mato Grosso. Eles desenvolveram o Plano de Enfrentamento à Covid-19 nas Comunidades Indígenas e irão levar médicos infectologistas, pediatras e clínicos gerais para prestar atendimentos.
Veja o vídeo dos Xavantes: https://www.youtube.com/watch?v=QZlpEHixR7E&feature=youtu.be
Matéria original em: https://www.pnbonline.com.br/geral/comunidade-xavante-denuncia-abandono-diante-da-pandemia-e-pede-socorro/68338
Isa de Oliveira
22/07/18 at 11:47
O problema do Brasil, definitivamente, NÃO são os brasileiros. No entanto, o amigo Sganzerla foi um tanto infeliz ao tentar botar panos quentes pros brasileiros que furam fila ou falsificam recibos. Chamar isso de estratégia de sobrevivência beira o maucaratismo. Esses brasileiros utilizam a corrupção no nível que lhes é possível e ouso dizer que, muito provavelmente, se estivessem na cadeira de um prefeito ou juiz, fariam simplesmente o mesmo que esses fazem. Cada um com o crime que sua posição social lhe confere.
E daí, chegamos ao verdadeiro vilão, ao verdadeiro problema do Brasil: a desigualdade social. Enquanto seguirmos ensinando nossas crianças – independente da classe social – que recursos são escassos, que é preciso acumular para viver e/ou que nossa felicidade é simples questão de meritocracia, continuaremos criando monstros que causam(os), sim, um baita problema para o nosso Brasil.
Ana Maria
23/07/18 at 23:26
maravilhoso texto!!!
profundo e libertador!!!👏👏👏👏👏👏
evandir Gioia
08/10/18 at 16:51
Boa Tarde muito bom mesmos até vou compartilhar ok grato
João Paulo Barros
28/11/19 at 14:35
Caro Amilton Sganzerla,
quando alguém afirma que “o problema do Brasil são os brasileiros”, parece se tratar de uma generalização errônea como se nenhum ser humano de nacionalidade brasileira fosse bom. É claro que há muita gente boa de nacionalidade brasileira, muitos brasileiros têm consciência cívica. Muitas pessoas tendem a expressar opiniões generalizando, mesmo sem perceber que estão generalizando. Mas quando observamos e analisamos a sociedade brasileira “por um ângulo que permita visão panorâmica*” (figura de linguagem), nos é possível perceber que grande parte da população, às vezes, se comporta de forma indevida. É perceptível que muita gente no Brasil tem uma mentalidade inviável, muita gente não tem maturidade e nem bom senso. Muitas pessoas no Brasil têm uma cosmovisão que não contribui para o bem comum da população coletivamente. Ah, mas as pessoas fazem coisas que o senso comum mundial interpreta como moralmente erradas para conseguir sobreviver! Então, o que a sociedade brasileira necessita fazer é contestar o sistema vigente, o status quo no Brasil! A população necessita buscar a mudança, passar a funcionar num sistema melhor do que o atual. E, se o povo brasileiro não compreender que é necessário união, que a população seja menos individualista e mais unida, não veremos mudanças para melhor tão cedo! Ah, referente aos outros países, não existe país-paraíso na Terra! Todo país tem aspectos desagradáveis, é recomendável às pessoas que não criem expectativas fantasiosas!