Charles Darwin, o naturalista britânico do século 19, que certo dia deu sua graça no solo brasileiro querendo entender a evolução das espécies, em sua publicação A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, de 1872, associa a ira à expectativa de sofrer alguma agressão intencional ou ofensa de outra pessoa, ressaltando que esse sentimento pode se transformar em ódio ou outras formas, a depender da natureza da relação entre os envolvidos.
Como pensar a intervenção em Paraisópolis, senão como um exercício da ira? A ira e seu protocolo, encurralar jovens em vielas, a face mais perversa da violência do Estado, a penúria de direitos, que se anuncia no sertão da intolerância. Raiva não permite fuga, aniquila, sufoca.
Um quase nada enxerga, o Estado, seu povo. O ovo da serpente rompeu sua casca, tem fome, tem pressa.
Querem varrer a terra, remover os indesejáveis, fazem ouvidos moucos ao conselho de Zé Bebelo, que em Grande Sertão Veredas, disse o Guimarães Rosa, que a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar de ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e fato é.
Serão o lixo da história.
Uma resposta
É a política do horror.