O café filosofico, realizado no Cheirim de Café, na sexta-feira (9) de outubro, contou com a participação de Ana Carolina Radd debatendo sobre o feminismo
Por Klara Wingler (Domeio Conteúdos), para os Jornalistas Livres
Ana Carolina Radd é formada em Direito e filosofia, faz doutorado em Ciências Sociais, e foi assessora legislativa na Câmara Municipal de Juiz de Fora-MG. Junto aos realizadores do evento apresentou sua palestra inspirada na vida de Simone de Beauvoir.
“ Eu decidi falar sobre Simone de Beauvoir porque ela foi uma mulher muito forte tanto em sua personalidade quanto na participação da política feminina em uma época tão conservadora”
Para ela, a mulher sempre foi relacionada a certa vulnerabilidade.
“ Quando alguém tenta nos apoderar sempre nos colocam em situação de fragilidade, como se esse alguém pressupôs-se que sou uma pessoa frágil e preciso de proteção, pois ainda há a ideia de um masculino dominador, o ‘macho alpha’, um superior e o mundo está mostrando essa situação muito diferente”.
– O feminismo na política
Temas dentro do feminismo também foram comentados por Ana Carolina, como cota para mulheres na câmara “ Considero de extrema importância existir cota para mulheres na câmara pela base de representatividade que temos, pois somos minoria em cargos de poder, considerando da empresa até o parlamento. Somos a maioria de professoras nas universidades, porém os chefes de departamento são homens”. Ana Carolina também informa que as mulheres são maioria nos concursos públicos e comenta da desigualdade no mercado de trabalho “ As mulheres advogam nas varas de família, mas ainda há um preconceito de gênero sexual nas áreas criminais, que são ocupadas em sua grande maioria por homens, como também os cargos de indicação e geralmente esses possuem um salário mais elevado. A justificativa é sempre a de que iremos nos encaixar melhor em outro lugar, pois podemos “não dar conta” de tais trabalhos” e completa “ Então é muito importante que haja cotas para mulheres e mesmo que a gente não consiga preenche-las, essa é uma das formas que temos para discutir a importância da igualdade e nisso se aplica o feminismo”.
– O feminismo como tabu em relacionamentos
“ Em alguns relacionamentos, principalmente em relações heterossexuais, se a mulher não quer fazer algo, as vezes surge aquela pergunta “ Mas você não é feminista?” e as mulheres, por serem feministas, são libertárias e se decidirem não querer algo ela deve ser respeitada e geralmente isso é o que gera muita cobrança por parte dos homens” diz Ana Carolina Radd.
– Estatuto da Família
Quando perguntada sobre sua opinião do novo estatuto da família, onde só é considerado uma família, casais heterossexuais com crianças de sangue, Ana
Carolina diz não concordar e que existem várias formas de família atualmente no Brasil. “ As mulheres com quem trabalho e as famílias que pesquiso, a maioria delas não se encaixam nesse padrão do Estatuto da Família. Muitas mulheres criaram e criam seus filhos sozinhas”. A pouco tempo o casamento homoafetivo foi legalizado no Brasil e de acordo com a estudante o Estatuto estaria retrocedendo no conservadorismo.
Ana Carolina Radd deixa um recado especial para as militantes do feminismo, “ Eu gostaria de dizer para as militantes do feminismo para que elas não desistam. Ainda enfrentamos um período super conservador. Embora haja dificuldade em lutar em prol de movimentos feministas, é importante não desistir por mais que as vezes eles se colidam. Sejamos sempre solidárias umas com as outras, pois isso é o mais importante”.
Foto: Ana Clara Sicalo
– O feminismo no mundo masculino
O organizador do evento, Valdir Ribeiro de 32 anos, professor de Filosofia da rede Estadual e FAETEC contou um pouco sobre a iniciativa e a importância de um evento feminista. “ A iniciativa surgiu em abril deste ano e a idéia é construir um círculo de debates sobre temas políticos, que são relevantes para a sociedade. Começamos com direitos humanos, passamos por redução da maioridade penal e nesse mês de outubro chegamos a teoria de gêneros e então o feminismo. É muito importante introduzir uma reflexão e ajudar no desenvolvimento de um pensamento crítico sobre esses temas”. Rodrigo Cosenza de 36 anos, professor de História comentou sobre a idéia de realizar um evento em prol das mulheres e da igualdade de gênero. “ A idéia de se realizar um evento feminista vai além de uma reflexão sobre a condição do indivíduo na sociedade. É preciso mostrar o atrito que existe dentro de nossas relações sociais e como elas estão presentes no cotidiano. A Carol ( Ana Carolina Radd), perpassou a questão de como é difícil permear essa questão de classes e se ter um debate feminista” e conta que o principal objetivo desses debates é promover possibilidades de novas reflexões e vínculos.
“ Precisamos tratar de maneira mais harmoniosa nosso convívio e perceber o indivíduo na sua maior completude”.
Rodrigo também comenta sobre a posição do homem emposta pela sociedade. “ É preciso se colocar a prova e na minha condição de homem, é me colocar no papel de um opressor, pois o mundo ainda é opressor com as mulheres. Ainda carregamos uma herança cultural e emocional, que nos impede de enxergar tais preconceitos e isso é ainda mais fácil do que a condição da mulher com o mundo nessas relações sociais” e diz que esses debates são importantes na conscientização tanto no feminismo, quanto nas relações de classes sociais,condições de gênero e preconceitos étnicos.
CAFÉ COM CULTURA
Dentre vários eventos culturais realizados no Cheirim de café, como exposição de quadros para vendas a brechós ambulantes, conversamos com Geo, comerciante e proprietária do estabelecimento.
Como você se sente em proporcionar cultura para as pessoas?
Geo: Sinto muita satisfação de ter uma casa onde possamos marcar debates independentes de seu tema. Gosto de poder proporcionar um lugar onde as pessoas possam preparar temas e trazê-los para serem discutidos em grupo. Acredito esse ser o bote inicial para um debate aberto e democrático acontecer.
O que sentiu ao realizar um evento sobre o tema Feminismo?
Geo: O tema feminismo me atrai, assim como outros temas realizados no café filosófico. Essa possibilidade da conversa, de poder olhar para os assuntos de forma aberta e debater sobre eles, tendo alguém que faça o papel de curador, mediador e não o dono da palavra é muito importante. Muito me agrada conversar sobre o feminismo nesse ambiente.
Geo deixa um recado amigável aos amantes da cultura e do café e os convida participarem dos encontros. “ O Cheirim de café é um espaço que gera links e cria vínculos, uma espécie de ponte para amizades duradouras” . Geozeli De Pinho, 32 anos.