Eles não querem ser reconhecidos como heróis pela sociedade nem acreditam na violência como método de segurança pública. Antes de serem policiais, são trabalhadores. A condição de ser humano precede qualquer função ou patente.
Um grupo de policiais já espalhados em todas as instituições de segurança no país, o que inclui Polícia Miliar, Civil, Federal, Corpo de Bombeiros, Polícia Rodoviária e Guarda Municipal, vem se organizando desde 2016 para defender um modelo de segurança pública cidadã voltada para a defesa da democracia e dos direitos humanos. Uma polícia mais próxima do povo. Para o grupo, antes de qualquer coisa, o policial é um garantidor de direitos.
Embora recente, o autointitulado Movimento de Policiais Antifascismo é um dos mais importantes movimentos sociais surgidos no Brasil desde o processo de redemocratização do país. Formado por operadores de segurança com uma visão progressista e identificados ideologicamente com o campo de centro-esquerda, lutam para transformar as instituições policiais por dentro.
São antifascismo porque combatem uma manifestação de ódio que prega a eliminação do adversário. O grupo não faz distinção hierárquica e abraça desde os praças e agentes à delegados e coronéis.
Após três encontros, o movimento realizou dias 27 e 28 de maio, em Recife, o I Congresso Nacional dos Policiais Antifascismo. A agência Saiba Mais cobriu todo o evento. Só pela programação e o tema das mesas de debate é possível enxergar a mudança de mentalidade que o grupo propõe. Temas tabus na Segurança como opressão nas corporações, desmilitarização e relação da polícia com os movimentos sociais deitaram no divã das discussões.
Na mesa de abertura “Sistema criminal e segurança pública frente às opressões e ataques aos direitos”, policiais falaram sobre LGBTfobia, racismo e machismo nas corporações:
– Temos que oferecer segurança pública inclusiva para LGBTs, mulheres, pessoas com deficiência, imigrantes… os editais da Polícia Militar institui uma cláusula de barreira inconstitucional quando abre 90% das vagas para homens e apenas 10% ou até 5% apenas para mulheres. Nós, policiais antifascismo, temos o compromisso ético com a dor do outro. Há um compromisso ético de lutar contra essas opressões”, disse o agente da PRF de Goiás Fabrício Rosa, que também coordena uma rede nacional de operadores de segurança pública LGBT.
Para o pesquisador Luiz Eduardo Soares, o Brasil só muda se a Segurança Pública mudar (foto:@ninjafotografia)
Prestigiada, a mesa sobre reestruturação das polícias trouxe a discussão sobre desmilitarização e municipalização das polícias, carreira única, ciclo completo, além de pautas como o fim dos inquéritos policiais e da função de delegado.
Uma amostra da força do evento foi a presença nesta mesa dos dois maiores estudiosos da segurança pública no país: o historiador e ex-secretário nacional de Segurança Pública Ricardo Barestreri, e o antropólogo, escritor e especialista na área Luiz Eduardo Soares:
– O Brasil não vai mudar se a Segurança Pública não mudar. E para a segurança publicar mudar é fundamental que os policiais e profissionais da segurança assumam o protagonismo político, da proposição, da liderança e da condução das mudanças”, disse Luiz Eduardo Soares, que lançou durante o Congresso o livro “Desmilitarizar: Segurança Pública e Direitos Humanos”.
Os policiais também demonstraram preocupação com a saúde mental dos operadores de segurança pública. Na mesa “A condição do Trabalhador Policial”, o soldado do Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Norte Dalchem Viana falou sobre o mito do policial super herói.
Ele apresentou dados sobre as condições dos profissionais para mostrar uma realidade cruel, dolorida e invisibilizada dos operadores de segurança pública. De 2006 a 2016, por exemplo, 15.787 policiais militares foram afastados de suas funções para tratar de problemas psiquiátricos do país.
– Os próprios policiais acreditam no mito do super herói, alguns acham que têm peito de aço. Mas quem aqui não conhece pelo menos um colega que já tentou suicídio ou sofre problemas psiquiátricos ? E isso porque há muitos casos que não são notificados e muitos não buscam o tratamento psiquiátrico porque vão sofrer chacota no ambiente de trabalho. Serão chamados de covardes e fracos; os comandantes podem crer que eles estão enrolando para matar serviço, por exemplo. O sistema desumaniza os policiais”, disse.
Potiguar do Corpo de Bombeiros Dalchem Viana falou sobre a saúde mental dos operadores de Segurança (foto:@ninjafotografia)
A relação dos policiais com os movimentos sociais também apontou a necessidade de uma aproximação maior entre os agentes da lei e os ativistas.
O debate de maior repercussão contou com a presença do ex-candidato à presidência da República Ciro Gomes (PDT) e dos deputados federais Maria do Rosário (PT) e Marcelo Freixo (PSOL). O trio esteve ao lado do delegado e membro fundador do Movimento dos Policiais Antifascismo Orlando Zaccone e do presidente do Sinpol de Pernambuco Áureo Cisneiro.
A mesa discutiu “Os desafios políticos para a construção de uma política de segurança pública democrática sobre o Segurança Pública”. Freixo foi quem mais contribuiu para o tema focando nas críticas ao projeto penal enviado ao Congresso pelo ministro Sérgio Moro que é, na verdade, um ataque aos direitos humanos e uma violência contra o povo preto das periferias e também contra os operadores de segurança pública.
Aliás, na plenária final dos Policiais Antifascismo, o movimento decidiu registrar a insatisfação com a postura descontrolada do ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT), que ofendeu e ainda chamou para a briga um membro do movimento, o coronel e ex-comandante da Polícia Militar de Alagoas Luciano Alves.
Debate com Ciro Gomes, Maria do Rosário e Marcelo Freixo lotou auditório da UFPE (foto:@ninjafotografia)
O debate com os representantes dos partidos de centro-esquerda só reforçou a distância entre o campo progressista e a segurança pública. O “barraco” marcado pelas divergências eleitorais entre PDT e PT que quase chega às vias de fato mostrou imaturidade e reforçou que a democracia é um exercício diário.
As queixas dos representantes do movimento dos policiais antifascismo durante o debate foram focadas na invisibilidade do grupo para os partidos do campo progressista:
– Não precisamos bater à porta dos partidos, somos um movimento autônomo e independente. Mas precisamos da esquerda como a esquerda também precisa da gente. Hoje somos invisibilizados, mas existimos. Somos os policiais antifascismo”, disse o inspetor de polícia civil da Bahia Kléber Rosa, bastante aplaudido e apontando a direção do movimento.
É conhecida a fábula do Sapo e o Escorpião. Certo dia, o escorpião pediu ajuda ao sapo para levá-lo a outra margem do rio. O sapo temia ser picado, mas o escorpião garantiu que não faria isso, pois se o sapo morresse, ele também morreria afogado. Com a explicação convincente, o sapo decidiu ajudar o “amigo”, mas no meio do rio recebeu a picada mortal. Antes de morrer perguntou: “Por que você fez isso?” O escorpião respondeu: “É da minha natureza”. Assim age Bolsonaro. Como o escorpião.
Por Dacio Malta*
Sempre foi assim, e assim continuará.
A trégua que ele deu ao país, após a prisão do amigo Queiroz, foi para inglês ver.
O capitão é caso perdido.
Nem curso intensivo da Socila — escola tradicional no ensino de etiqueta e boas maneiras — daria jeito no capitão meio bandido, meio desastrado, mas completamente ignorante.
A resposta dada ao repórter de “O Globo”, que perguntou ao presidente por que a terceira primeira-dama Michelle recebeu R$ 89 mil de Queiroz, mostrou um Bolsonaro em sua forma mais genuína:
—Minha vontade é encher sua boca de porrada.
Um milhão de tweets já publicados contra a declaração, em nada mudará seu comportamento.
O capitão é assim.
Desastrado ao ponto de, no Piauí, pegar um anão no colo pensando ser uma criança.
Grosso ao dizer, em Mossoró, na mesma semana, que na política “sou imbrochável”.
—E não é só na política não. Eu tenho uma filha de 9 anos de idade, que foi feita sem aditivo.
Em princípio teremos de conviver com a besta por mais dois anos e meio.
Supersticioso, o presidente da Câmara não quer discutir o impeachment.
E tem lá suas razões.
A pandemia é a desculpa, mas a razão verdadeira é o apoio do centrão ao presidente que, junto com os R$ 600,00 alçou sua popularidade a 37% de aprovação, o que é muito pouco, mas suficiente para segurá-lo no cargo.
Obviamente, é preciso haver o combate diário não só contra ele, mas também contra os Ernestos, as Damares, os Ônixs, os Pazuellos, os Salles, os Mendonças e todos aqueles que insistem em avacalhar o país aqui e no exterior. E em especial ao Corisco do Lampião, e que atende pelo nome de Paulo Guedes.
Nos próximos 28 meses ainda iremos sofrer e nos envergonhar por termos de conviver com um presidente tosco com viés miliciano.
Mas ele passará.
Sua força é com um castelo de cartas.
Quis fazer um partido para chamá-lo de seu, e disputar as eleições deste ano, mas já sabe que não conseguirá formá-lo nem para 2022. Precisava do apoio de 492 mil eleitores, mas só conseguiu 15.762 apoiadores.
A resposta virá.
E o melhor.
Ele, e os filhos bandidos, terão o destino que merecem: a cadeia.
*Dacio Malta trabalhou nos três principais jornais do Rio – O Globo, Jornal do Brasil e O Dia – e na revista Veja.
Em um lado da Esplanada dos Ministérios, um ato em defesa da democracia, contra o racismo e o fascismo. No outro, a marcha do ódio e antidemocrática dos bolsonaristas defendendo o mesmo de sempre: fechamento do STF, intervenção militar, morte aos comunistas, maconheiros e outros absurdos.
Houve muita provocação verbal dos dois lados, mas apenas os bolsonaristas tentaram criar um embate físico, ao cruzarem a barreira policial no gramado central, para correr entre os manifestantes antifa. A polícia? Parecia mais preocupada em intimidar aqueles que defendem a democracia. Mas a resposta dos que lutam contra o racismo e o fascismo foi linda: muito grito de luta, um ato cheio de emoção e sem violência, como era esperado.
Confira a galeria de imagens da cobertura dos Jornalistas Lives em Brasília
Galeria 1- Fotos: Leonardo Milano / Jornalistas Livres
Neste sábado (13/6), a avenida Paulista será o espaço de mais uma manifestação pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro. O ato está sendo organizado por grupos sem vínculos partidários ou institucionais, que protestam contra o genocídio produzido pela irresponsabilidade do governo federal diante da pandemia do Covid-19 e contra a violência policial e estatal que vitima os brasileiros mais pobres e vulneráveis.
Bolsonaro, que já vinha pressionando prefeitos, governadores e empresários para um “retorno à normalidade”, antes mesmo do Brasil atingir o pico da pandemia e a contaminação estar controlada, estimulou, em live transmitida na úlltima quinta-feira (11/06), que a população invada os hospitais, filme os leitos e envie as imagens para a Polícia Federal e para a Abin, colocando em cheque os números apresentados pelas secretarias de saúde de estados e municípios. De acordo com nota divulgada pelo grupo que organiza o Ato, não resta outra alternativa que não seja ocupar as ruas e confrontar o governo com os resultados de sua própria política, “o Brasil não pode mais aguentar duas crises ao mesmo tempo: a pandemia e Bolsonaro. Uma se alimenta da outra. A única maneira de lutar contra a pandemia é derrubando este governo irresponsável. Não sairemos das ruas até que ele caia”.
Jair Bolsonaro também ameaçou, nesta quinta-feira (11), vetar a prorrogação do auxílio emergencial, caso o Congresso mantenha o valor de R$ 600. A proposta apresentada pelo governo é reduzir o valor pela metade, para mais dois meses de auxílio.
“A função primeira de um governo é proteger a população. Bolsonaro e seus seguidores zombam dos mortos e conspiram contra políticas que poderiam salvar vidas”.
Outra medida tomada por Bolsonaro esta semana, que vai de encontro às reclamações do Ato Contra o Governo da Morte, foi a exclusão da violência policial do relatório sobre violações de direitos humanos, uma tentativa clara de maquiar os números, assim como é a política oficial com o Coronavírus.
Serão distribuídas para os manifestantes, 500 fotos com vítimas da violência do Estado na ditadura e nos dias atuais, pela polícia e Covid-19. O uso de máscaras e a observação da distância de dois metros uns dos outros será obrigatório. Uma equipe irá garantir a distância e a segurança dos participantes.
O Grupo que organiza a ação é apartidário e espontâneo, composto por ativistas, artistas, advogados, professores, profissionais de saúde, estudantes, comunicadores. Cidadãs e cidadãos que não verão calados mais um genocídio do Estado brasileiro contra o seu povo.