MBL ganha na Justiça liminar para fazer na UFSC evento acusado de promover neonazistas

Cartaz denunciando evento no campus da UFSC e nas redes sociais

Inconformado com a desautorização de uso do auditório do Centro de Estudos Socioeconômicos da UFSC, o estudante de Direito Gabriel César de Andrade entrou com liminar na justiça que determina a realização das atividades da “Semana Vítimas do Comunismo: A maior tragédia do século XX” no local programado. A liminar foi concedida pelo juiz federal Osni Cardoso Filho, da 3ª Região do Tribunal Regional Federal, que deu à UFSC dez dias para explicar suas razões, mas determinou o cumprimento imediato da decisão para evitar prejuízos aos organizadores. Conforme o professor Irineu Manoel de Souza, a Procuradoria Geral da UFSC vai recorrer à decisão, alegando que “a Universidade deve ser respeitada na sua  autonomia constitucional e no seu direito de gerir a ocupação dos seus espaços”. O procurador Juliano Shemer Rossi deve entrar com recurso contra a decisão entre hoje e amanhã.

Na liminar, o juiz argumenta que o evento passou a ter sustentação regulamentar quando o professor que retirou a autorização foi substituído ontem por outro. “Desprende-se da avaliação unilateral e tardia do primeiro solicitante o uso do auditório do centro sócio econômico, quando um segundo servidor passa a atender o requisito formal da titularidade do requerimento formulado e autorizado para, assim, evitar a frustração de acontecimento com presumível organização prévia.” A abertura da Semana foi realizada ontem, às 20 horas, no auditório do Centro Tecnológico, com um público de pouco mais de 100 pessoas.

Cartaz no Campus da UFSC denunciando o evento e redes sociais

Para elaboração do recurso, a UFSC está avaliando denúncias que recebeu do Coletivo Floripa Contra o Estado de Exceção de que o evento reúne elementos ligados ao neonazismo na Ucrânia, grupo que está sendo investigado por recrutar jovens no Rio Grande do Sul para atuar no exército nazista.  No começo de 2016, a Polícia do Rio Grande do Sul recebeu informações sobre a presença de pessoas da Ucrânia e de outros pontos do Leste Europeu com o objetivo de cooptar brasileiros ligados ao neonazismo para participar do Batalhão Azov.

O diretor do Centro lembra que a UFSC tem seus princípios fundantes na defesa da igualdade, solidariedade, comprometida com a construção de uma sociedade justa e democrática. O Brasil é signatário da Carta da ONU sobre os direitos dos povos. Na Lei n.º 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que “define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor”, o nazismo é citado no Artigo 20: “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”, com pena de reclusão de um a três anos e multa. Também é crime “fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo”, com reclusão de dois a cinco anos e multa. Há fartas denúncias com evidências de utilização desses símbolos por grupos no Leste Europeu e também no Brasil (conforme links abaixo). No entanto, “para esses grupos que se escondem atrás da bandeira do liberalismo, a lógica da Constituição brasileira é comunista”, afirma Amauri Soares membro da Direção Nacional da Intersindical – Central da Classe Trabalhadora e da Associação de Praças de Santa Catarina. “Todos que defendem igualdade social e direitos humanos são comunistas e não merecem viver. Quem defende a igualdade do ser humano é um esquerdopata que precisa morrer. E isso é nazismo e fascismo”, argumenta, apoiado no documento “Cem Anos de Revolução Russa: repúdio à falsificação da história e disseminação do ódio”, assinado por vários partidos comunistas.

Embora o foco principal sejam as diferenças étnicas, os grupos neonazistas perseguem grupos minoritários como os gays, transexuais, estrangeiros, mulheres, comunistas, índios, nordestinos, dentre outros. Antes da autorização do evento ser revogada pela direção do Centro Sócio Econômico, vários grupos antifascistas orientaram pessoas negras, não-heterossexuais, indígenas, militantes políticos com adesivos ou camisetas de líderes de esquerda ou pessoas que simplesmente não correspondem ao padrão aprovado pela cultura nazista a não circularem perto do local no campus universitário, de 6 a 10 de novembro, quando ocorre o evento, como informou a estudante e leitora dos Jornalistas Livres, Carla Cristina.

Lideranças do Movimento Brasil Livre, como Kim Kataguiri, estão em Florianópolis para participar das conferências. Em entrevista ao canal “Mamãe, Falei” divulgada nas redes sociais, Kataguiri é anunciado como um “elemento surpresa”, que faria uma palestra no evento para brindar os participantes.  O MBL também publicou uma nota de repúdio ao cancelamento da Semana. Desde que houve a contestação do evento, sua realização tem sido defendida nas redes sociais por grupos de ultra direita, partidários da candidatura de Bolsonaro e que pedem a volta da Ditadura Militar, como se pode verificar também nos comentários à matéria publicada pelo Jornalistas Livres. https://www.facebook.com/jornalistaslivres/posts/630733077050573

Um dos palestrantes, o advogado Hélio Coutinho Beltrão, é filho do ministro do Planejamento durante a Ditadura Militar no governo de Costa e Silva, integrante da Junta Militar de 1969 e depois ministro na pasta da Previdência Social e da Desburocratização no Governo Figueiredo. É acionista do Grupo Ultra e presidente do Instituto Mises Brasil, que patrocina a Semana.

No recurso, a UFSC também deve alegar interferência externa do vereador Bruno Souza (PSB), ligado ao MBL, que tem sua imagem e nome vinculados às propagandas de um evento que não tem relação com as atividades de ensino, pesquisa e extensão da UFSC. Conforme o Coletivo Floripa Contra o Estado de Exceção, o vereador está usando o evento para promoção ideológica e partidária sem respaldo acadêmico, além de usar as redes sociais para depreciar a imagem da instituição.  O vereador é também um defensor do Projeto Escola Sem Partido em Florianópolis. Tem um histórico de promoção de agressões policiais contra garis e de ofensivas contra os direitos dos trabalhadores, incluindo o direito à creche para as mães. “Eles estão se aproveitando de um momento em que a UFSC está fragilizada pelo luto com o suicídio do reitor para impor os seus embustes”, afirma o diretor.

 

Matérias sobre atuação de grupos neonazistas no Brasil:

http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/06/a-junta-de-kiev-e-claramente-um-governo.html

http://www.contextolivre.com.br/2014/06/a-junta-de-kiev-e-claramente-um-governo.html

https://jornalggn.com.br/noticia/o-ressurgimento-do-neonazismo-na-ucrania-negado-pela-midia

http://www.contextolivre.com.br/2017/11/a-tecnica-nazista-de-transformar.html

http://cbn.globoradio.globo.com/editorias/policia/2016/12/08/POLICIA-INVESTIGA-GRUPO-ARMADO-QUE-RECRUTOU-NEONAZISTAS-GAUCHOS-PARA-LUTAR-NA-UCRANIA.htm

https://fernandafav.jusbrasil.com.br/noticias/122819354/regiao-sul-do-brasil-concentra-100-mil-simpatizantes-do-neonazismo

http://www.bbc.com/portuguese/brasil-38603560

https://www.todamateria.com.br/neonazismo-a-influencia-do-nazismo-na-atualidade

 

 

COMENTÁRIOS

3 respostas

  1. É muito retardado se proliferando como rato, não bastassem os direitos negados e os abandonos de um Estado que só suga o cidadão, ainda temos que contar com o desserviço desses imbecis do MBL e dessa DIREITA BURRA e ARISTOCRATA que quer fazer do Brasil um covil de intolerantes e um Estado de exceção!

    Nojo desses vermes!

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