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MANIFESTO #PERIFERIASCONTRAOGOLPE

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MANIFESTO #PERIFERIASCONTRAOGOLPE – Articulação autônoma e apartidária de artistas, ativistas, coletivos, movimentos, organizações e cidadãos em geral, moradoras e moradores das periferias contra o golpe e por uma real democracia. Não apoiamos políticos nem partidos ESPECÍFICOS.

MANIFESTO

Nós, moradoras e moradoras das periferias, que nunca dormimos enquanto o gigante acordava, estamos aqui pra mandar um salve bem sonoro aos fascistas: somos contra mais um golpe que está em curso e que nos atinge diretamente!

Nós, que não defendemos e continuamos apontando as contradições do governo petista, que atendeu poucas das nossas demandas reais enquanto se aliou com quem nos explora. Nós, que também nos negamos a caminhar lado a lado de quem representa a Casa Grande.

Nós, periféricas e periféricos, que estamos na luta não é de hoje. Nós, que somos descendentes de Dandara e Zumbi, sobreviventes do massacre de nossos antepassados negros e indígenas, filhas e filhos do Nordeste, das mãos que construíram as grandes metrópoles e criaram os filhos dos senhores.

Nós, que estamos à margem da margem dos direitos sociais: educação, moradia, cultura, saúde.

Nós, que integramos movimentos sociais antes mesmo do nascimento de qualquer partido político na luta pelo básico: luz instalada, água encanada, rua asfaltada e criança matriculada na escola.

Nós, que enchemos laje em mutirão pra garantir nosso teto e conquistar um pedaço de chão, sem acesso à terra tomada por latifundiários e especuladores, que impedem nosso direito à moradia e destroem o meio ambiente e recursos naturais com objetivo de lucro.

Nós, que sacolejamos por três, quatro horas por dia, espremidos no vagão, busão, lotação, enfrentando grandes distâncias entre nossas casas aos centros econômicos, aos centros de lazer, aos centros do mundo.

Nós, que resistimos a cada dia com a arte da gambiarra – criatividade e solidariedade. Nós, que fazemos teatro na represa, cinema na garagem e poesia no ponto de ônibus.

Nós, que adoecemos e padecemos nos prontos-socorros e hospitais sem maca, médico, nem remédio.

Nós, que fortalecemos nossa fé em dias melhores com os irmãos na missa, no culto, no terreiro, com ou sem deus no coração, coerentes na nossa caminhança.

Nós, domésticas, agora com carteira assinada. Nós, camelôs e marreteiros, que trabalhamos sol a sol para tirar nosso sustento. Nós, trabalhadoras e trabalhadores, que continuamos com os mais baixos salários e sentimos na pele a crise econômica, o desemprego e a inflação.

Nós, que entramos nas universidades nos últimos anos, com pé na porta, cabeça erguida, orgulho no peito e perspectivas no horizonte.

Nós, que ocupamos nossas escolas sem merenda nem estrutura para ensinar e aprender. Nós, professoras e professores, que acreditamos na educação pública e não nos calamos e falamos sim de gênero, sexualidade, história africana e história indígena – ainda que tentem nos impedir.

Nós, que somos apontados como problema da sociedade, presas e presos aos 18, 16, 12 anos, como querem os deputados.

Nós, cujos direitos continuam sendo violados pelo Estado, levamos tapa do bandeirante fardado, condenados sem ser julgados, encarcerados, esquecidos, quando não assassinados – e ainda dizem: “menos um bandido”.

Nós, mulheres pretas da mais barata carne do mercado, que sofremos a violência doméstica, trabalhista, obstétrica e judicial, e choramos por filhos e filhas tombados pelo agente do Estado.

Nós, gays, lésbicas, bissexuais, travestis, homens e mulheres trans, que enfrentamos a a violência e invisibilidade, e não aceitamos que nos coloquem de volta no armário.

Nós, que não aceitamos nossa história contada por uma mídia que não nos representa e lutamos pelo direito à comunicação. Nós, que estamos construindo, com nossa voz, as próprias narrativas: poesia falada, cantada, escrita.

Nós, que sempre estivemos nas ruas, nas redes, nas Câmaras, na cola dos politiqueiros de plantão e que agora somos taxados de terroristas por causa de nossas lutas. Nós, que aprendemos a fazer até leis para continuar lutando por nossos direitos. Nós, que garantimos a duras penas o mínimo de escuta em espaços de poder, não aceitamos dar nem um passo atrás.

Nós, que somos de várias periferias, nos manifestamos contra o golpe contra o atual governo federal promovido por políticos conservadores, empresários sem compromisso com o povo e uma mídia manipuladora.

Não compactuamos com quem vai às ruas de camisa amarela com um discurso de ódio, fascista, argumentando o justo “combate à corrupção” mas motivado por interesses privados. Não compactuamos com quem defende a quebra da legalidade para beneficiar a parcela abonada da população, em troca do enfraquecimento do Estado Democrático de Direito pelo qual nós dos movimentos sociais periféricos lutamos ontem, hoje e continuaremos lutando amanhã.

Nós, que sabemos que a democracia real será efetiva apenas com a ampliação de direitos e conquistas de nosso povo preto, periférico e pobre, a partir da esquerda e de baixo pra cima.

Nós, que conquistamos só uma parte do que sonhamos e temos direito, não admitimos retrocesso. Reivindicar o respeito à soberania das urnas e a manutenção do Estado Democrático de Direito. Reivindicamos as ruas enquanto espaço de diálogo, debate e fazer político, mas nunca como território do ódio. Reivindicamos nossa liberdade de expressão, seja ela ideológica, política ou religiosa. Reivindicamos a desmilitarização das polícias, da política e da vida social. Reivindicamos o avanço das políticas públicas, dos direitos civis e sociais.

Não vai ter golpe. Não vai ter luto. Haverá Luta.

Assinam:
#VILAMARUMBICONTRAOGOLPE
A Melhor da Cidade Cia Teatral
A.L.M.A. Associação de Luta por Moradia de Americanopolis
Abayomi Ateliê
Ação Educativa
África Plus Size Brasil
Africanamente Escola de Capoeira Angola
Afro Hooligans
AfroeducAÇÃO
Agencia Popular Solano Trindade
Agenda Preta
AGENDES Agencia de Desenvolvimento Social
Ago Lona
Aláfia
Algodão de Fogo
Aliança de Responsabilidades por Sociedades Sustentáveis
Aliança Negra Posse
AllaCoci
Alunos da Pedagogia Ufscar
Amigos da Terra Brasil
Anomia Coletivo
APSP – coletivo de gênero
Arebeldia – BH – MG
Arquitetos Sem Fronteiras Brasil
Artesãos de bteailia
Articulação Brasileira de Gays
As 10 Graças de Palhaçaria
Assoc. Moradores Vale dos Canudos
Associação A BANCA
Associação amigos do basquete do Riviera
Associação Beneficente Camargo Novo e Adjacências
Associação Brasileira de Pesquisadores da Economia Solidária – ABPES
Associação Coletivo Cinemateus
Associação Comunitária de Ação Social do Bairro Tupi ASCOMASBT
Associação Cultural CONPOEMA
Associação Cultural Fábrica de Cinema
Associação cultural História em Construção
Associação Cultural José Marti da Baixada Santista
Associação Cultural Literatura no Brasil
Associação de Arte e Cultura Periferia Invisível
Associação de povos e comunidades Tradicionais de matrizes africanas e Afro brasileira Katina da Silva
Associação dos Moradores do Caranguejo
Associação dos Moradores do Jardim Casa Branca e Adjascências
Associação dos Pacientes Renais de Presidente Epitácio e Região
Associação Esportiva Araguaia
Associação Franciscana DDFP
Associação H² M.O.R Hip Hop Movimento Organizado de Rua
Associação Participe de Comunicação Social
Associação Prosa na Serra
Associação Ritmo Urbano e Arte – ARUA
Associação Sou Andreense
Ateliê aberto Sagrado Interior
Ateliê Azu
atelier mata adentro
Audácia – Q.I. Alforria
Azulmata #SouPeriferia
Baciada das Mulheres do Juquery
Banco Comunitário União Sampaio
Baobá Arte e Educação
BIBLIOTECA CAROLINA MARIA DE JESUS
Bloco do Beco
Bloco do Hercu
Bloco do Padreco
Bloco Saci da Bixiga
Blog Combate Racismo Ambiental
Blog do Ivanovitch 2
Blog Ecos da Periferia
Blog Inspiração Sustentável
Blog NegroBelchior
Blog Sarau Para Todos
Blogueiras Negras
Bocada Forte
Brava Companhia
Brechoteca Biblioteca Popular
Brigadas Populares
Cagebê
Cais – Cultura, Arte e interação Social
Candaces Organização de Mulheres Negras e Conhecimento de Juiz de Fora -MG
Capulanas Cia de Arte Negra
Casa da Imaginação
Casa das Crioulas
Casa de Cultura do Campo Limpo
Casa Dharma
Casa do Hip Hop de Bauru
Casa do Hip Hop Sanca e Movimento Hip Hop de São Carlos
Casa do Menor Trabalhador-RJ
Casa Frida – Casa Popular de Cultura de Rua Frida Kahlo
Casa Popular de Cultura de M’Boi Mirim
Casadalapa
Ccaass
CCB – Centro Cezar Baiano de Cultura e Educação Popular
Cedeca Interlagos
Centro comunitario do taquaril
Centro Cultural Marcelo Breunig
Centro Cultural Monte Azul
Centro de Apoio as Atividades Populares – CAAP
Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Colinas
Centro de Educação e Assessoria Popular-CEAP
Chorinho no Monte
Cia Brasílica
CÍA DOS PRAZERES
Cia Enchendo Laje & Soltando Pipa
Cia Humbalada de Teatro
Cia Janela do Coletivo
Cia La Leche
CIA PATAQUADA
Cia Sansacroma
Cia São Jorge de Variedades
Cia Teatral Língua de Trapo – Ponto de Cultura
Cia Teatral Cabras
Cia Teatro Balgan
Cia Treme Terra e Ponto de Cultura Afrobase
Cia. Ópera Brasília
Cia. Os Fofos Encenam
Cia. Teatral Aos Quatro Ventos
CicloZN
Cidade Hip Hop
Cine Campinho
Cine da quebrada
Cine grilo
CineBecos
Cinequanon Cultural/ Projeto Nêga Rosa / Coletivo Juventude Sem Fronteirass
Círculo Palmarino
Claudias,Eu?Negra!
CNLB – CONSELHO NACIONAL DO LAICATO DO BRASIL
Cojira/SP: Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial
Coleta Filmes
Coletiva de Vadias de Campinas
Coletiva Estamira de Mulheres Psicólogas
Coletive Friccional
Coletive Zoooom
coletivo +culturaarapongas
Coletivo ABAYOMI ABA
Coletivo Advogados para a Democracia (www.coade.net.br)
Coletivo ArteFato
Coletivo Brincantes Urbanos
Coletivo Cafuzas
Coletivo Canal Motoboy
Coletivo Candeia
Coletivo Cidadania LGBT Embu das Artes
Coletivo Claudias, Eu? Negra!
Coletivo Coletores
Coletivo Cravo Branco
COLETIVO CRONOTOPO
Coletivo Cultural Estado de Poesia
Coletivo Cultural Marginaliaria
Coletivo Cultural Ouvido Médio
Coletivo Cultural Pic Favela
Coletivo Cultural Sankofa
Coletivo Cutucar
Coletivo DasPrê
Coletivo de Comunicação Desenrola E Não Me Enrola
Coletivo de fotógrafos Lente Quente/Jornalismo UEPG
Coletivo de Galochas
Coletivo de Mulheres Negras Louva Deusas
Coletivo de Negras e Negros EACH
Coletivo Dente de Leão
Coletivo Eletro Tintas
Coletivo em Silêncio, Reage Artista
Coletivo Encontro de Utopias
Coletivo Estudantes de Luta
Coletivo FABCINE
Coletivo Feminista Baré
Coletivo Fezozine
Coletivo Fora de Frequência
Coletivo Garrafas Térmicas
Coletivo Juventude Ativa
Coletivo Laço Clã
Coletivo Levante Mulher
Coletivo LGBTTs Santo Ângelo – RS
Coletivo literario Sarau Elo da Corrente
Coletivo Livros ao Vento
Coletivo Maloqueria Fortaleza
Coletivo Malungo
Coletivo Merlino
Coletivo Mjiba
Coletivo Modtrip
Coletivo MOJUBÁ -Minha Ancestralidade te incomoda?
Coletivo Muros que Gritam…
Coletivo Negro Afromack
Coletivo novos poetas da vila nhocune
Coletivo Oralidade Poética
Coletivo Pé na Massa
Coletivo Pedala-se
Coletivo Perifatividade
Coletivo Periferia Resiste
Coletivo Pretas Peri
Coletivo R.U.A.
Coletivo R5
Coletivo Religare
Coletivo Sasso
Coletivo Sistema Negro
Coletivo Socializando Saberes
Coletivo sócio-educativo Quilombo do Morro
Coletivo Tenda Literária
Coletivo Transformar
Coletivo Verde América
Coletivo Vie La En Close
Coletivo VOZ
Coletivo Voz Ativa
Coletivo Voz da Leste
Coletivo-Movimento de Moradia- Sapopemba
ColetivoFilhas da Luta
comitê de mulheres do territórios da borborema pb
Comitê Juventude e Resistência Z/S – SP
Comitê Popular de Santos pela Verdade, Memória e Justiça
Companhia dos Atores do Rei
Companhia Teatral Sama Elyon
Companhiadanaoficcao
Compostela (Galiza)
Comunidade Cidadã
Comunidade Cultural Quilombaque
Congresso Nacional Unitário de Capoeira
Conjunto Coisa da Antiga
CONSELHO TUTELAR DE ÁGUAS CLARAS
Contadores de Incompletudes
Cooperifa
COOPERSOL
CORDÃO CARNAVALESCO BOCA DE SEREBESQUE
Correspondência Poética
CUME
Cursinho Popular TRANSformação
DCE Novo Mané – Diretório Central dos Estudante da UTFPR – Campus Londrina
Debate Progressista
Descompan(h)ia demo_lições artísticas iLTDAs
DiCampana
Docentes,Setvidores e Estudantes UFBA
Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes
DRE Campo Limpo
Duplalêlê – Contação de historias
ECLA – Espaço Cultural Latino Americano
Editora Essencial
EITA AÇÃO CULTURAL
EITA! Sarau
Engenho Teatral
Ensaio Para Um Coletivo
Equipe EJA/MOVA Osasco
ERRO Grupo (Florianópolis/SC)
Espaço Comunidade
Espaço Cultural CITA
Espaço Gnu Lab
Espaço Popular Teresa de Benguela
Estudantes Pela Legalidade
Eu Amo Baile Funk
Expo Comunidade
Favela, uma foto por dia
FECEB RN
Federacao das Associações de Moradores do Estado de Minas Gerais _ FAMEMG
Fiandeiras Real Parque
Fome Noise
Forro da Quebrada
Fórum de Cultura São Mateus
Fórum Direito à Verdade à Memória e à Justiça
Fórum Municipal de Trabalhadores do SUAS – Belo Horizonte
Fragmento Urbano Dança
Frente Antifascista de Pernambuco
Frente de Resistência Samba do Congo
Frente Feminina de Hip Hop de Bauru
Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop
Fuck City Crew
GEDS grupo de estudos drogas e sociedade
Gelateca
GEMAPP: grupo de elaboração, monitoramento e avaliação de projetos sociais
GeoGrafit
GOMA – Casa de Comunicação e Arte
Grêmio kami Thanatos Y Hypnos
GREMIO RECREATIVO CULTURAL E BENEFICENTE ESCOLA DE SAMBA EM CIMA DA HORA PAULISTANA
Grupo 011
Grupo Arruaça
Grupo candearte
Grupo Clarianas
Grupo Clariô de Teatro
Grupo de Coco Semente Crioula
Grupo de Pesquisas Ufológicas Ufo-Gênesis
Grupo doBalaio
Grupo Livre Ameaça
Grupo Nóis de Teatro
Grupo noroeste
Grupo Pandora de Teatro
Grupo Parthos
Grupo Pés Esquerdos de Teatro Feminista
Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo
Grupo Transformar
Grupo Tufo de Diadema
Guardiões Griô
Guerra Urbana banda punk
Haphirma Coletivo cultural – Trepe Origens
Hip Hop Mulher (Assoc. A Mulher e o Movimento Hip Hop)
Hip Hop No Monte
Homems de Saia – Coletivo Bicho Solto
IACOREQ – Instituto de Assessoria as Comunidades Remanescentes de Quilombos RS
IAJUM
Illumina Imagens e Memória
Ilú Obá de Min
Imaginaria Cultural
Imargem
Iniciativa Negra por Uma Nova Política de Drogas – INNPD
Instituto Amazônico de Comunicação e Educação Popular – IACEP Amazônia
Instituto Bela Flor de Lis
Instituto Bem Estar Brasil
Instituto Conviver
Instituto GG5 de Desenvolvimento Comunitário
Instituto Hoju
Instituto Kairós
Instituto Nangetu
Instituto Orbis de Proteção e Conservação da Natureza
Instituto Palmas
Instituto Pombas Urbanas
IPAC – Instituto de Pesquisas e Ação Comunitária
IPDM – Igreja Povo de Deus em Movimento
Irmandade dos Martires da Caminhada
Jardim Miriam Arte Clube – JAMAC
Jazz da Comunidade
Jequitibá Cultural
Jongo da Serrinha
Jornada pela Democracia
Jornal Vozes da Vila Prudente
jornalistas livres
Juventude Libre Cotia
Juventude Politizada Parelheiros
Juventude Revolução
K-Tchal Produções
Kalandis
Kilombagem
Kiwi Companhia de Teatro
La Plataformance
Lab Fantasma
labExperimental.org
Laboratório de Corpo e Arte UNIFESP
Lado (B)lack
Laia Periférica
Leão de Judah
Leela Grupo Teatral
Lentes Periféricas
Levante Popular da Juventude
Levante Popular da Juventude maranhao
Liga dos Invasores
Liga Panelladexpressão
LiteraRUA
luau7
Malditos Dramaturgos!
MAP (Movimento Aliança da Praça)
Maracatumba – RJ
Marcha Mundial das Mulheres
Maria Gal
MASSAPEARTS
MDM Movimento pelo direito a Moradia
Me Parió Revolução – Selo Editorial Feminino/Periférico
Medicos pela democracia
menor slam do mundo
Mesoperiferia
Mídia Lunar
Midia Periferica
Minas Acepusp
Mixtura
MNCCD – Movimento Nacional Contra Corrupção e pela Democracia
Movimento #semprenaluta! Manaus
Movimento Artístico Cultural e Ambiental de Caeté – Macaca
Movimento Cultural Ermelino Matarazzo
Movimento Cultural Grajau
Movimento Cultural Penha
Movimento de mulheres negras
MOVIMENTO FORA DA ORDEM
Movimento Hip-Hop Organizado (MH2O)
Movimento Independente Mães de Maio
Movimento Mudança
Movimento Nossa Itaquera
Movimento Ocuparte
MOVIMENTOS EM REDE
MQG
MSU Movimento dos Sem Universidades
MTD – Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos
MTST – Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
MUDA SP/ Boraplantar/ Zona da Mata
Mudança de Cena
Mulheres de Pedra – RJ
Mundicoisa
Na Função Produções Artísticas
Nação Hip-Hop Brasil
NaMargem – Núcleo de Pesquisas Urbanas
Negras e negros contra o retrocesso
Nenhum
NEPAIDS-USP – Nucleo de Estudos para a Prevenção da Aids da Universidade de São Paulo
Ninguém Lê
Nós, Madalenas
Núcleo Bartolomeu de Depiimentos
Núcleo de Consciência Negra da USP
Núcleo de Direitos Humanos da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo
Núcleo de Economia Solidária da Universidade de São Paulo (NESOL-USP)
Núcleo de ensino, pesquisa e extensão Conexões de Saberes na UFMG
Núcleo Mulheres Negras
Núcleo Negro Unifesp Guarulhos
Núcleo Poder e Revolução
Núcleo Reflexos de Palmares – UNIFESP Baixada Santista
Núcleo Teatral Filhos da Dita
Nuraaj – núcleo de referência em atenção à adolescência e à juventude – Instituto Sedes Sapientiae
O Estopim – Coletivo Nacional de Juventude
O SONO SOLO
Observatório da Juventude – Zona Norte
Observatório da Juventude da UFMG
Observatório Permanente dos Conflitos Urbanos de Campinas/SP
Observatório Popular de Direitos
Oca Materna Arte educação e Sustentabilidade
OCUPE-SE: A LUTA ENTRE O LÁPIS E A BORRACHA
ONG – ORGANIZAÇÃO ARTÍSTICA SOCIAL
ONG DEFESA DE DIREITOS
ONG_OAS – Alpinópolis – MG.
Onze Horas Cia. de Teatro
Oriashé Org.Mulheres Negras- Cohab Cidade Tiradentes/SP
Os Joncas -Piaui
Ótica Marginal
Panaméricas Diásporas
Parceiros em Luta
Pastoral da Juventude do Meio Popular
Pastoral operaria diocese de campina grande pb
Periaferia Ativa
Periferia Cultura e Resgate
Periferia em Movimento
Phábrika de Arthes
Piratas Urbanos
PJMP
Pode Pá Perus: Hiphopnaação
Poesia Coletiva
Poesia Maloqueirista
Poetas Ambulantes
Poetas do Tietê
Ponto de Cultura Acesso Hip Hop
Portal Flores no Ar
Portal Mulheres no Hip Hop
Praçarau
Programa Empoderadas
Projeto 100 Histórias Negras
Projeto Comunidade Samba do Monte
Projeto Espremedor
Projeto Tipo Ubuntu
Protesto Materno
Quebrada de Coco
Quilombação
Quilombo do Morro
Radicais Livres S/A
Rádio Cirandeira
Raiz criola
Reciclados Artisticos
Rede Liberdade
Rede Pipa
Rede Popular de Cultura Mboi Campo Limpo
Rede popular solidaria
Rede Sem Fronteiras de Teatro da/o Oprimida/o
Rede Social de Justiça e Direitos Humanos
rede vencer juntos
Reduto do Rap
Refundação Comunista
Revista FaveLê
RNP Núcleo RN
Rodas de leitura
Role de Bike
Rua de Fazer
Rumos Consultoria em Desenvolvimento Sustentável
SAJU UFSC (Serviço de Assessoria Jurídica Universitária Popular)
Samba do Bulle
SAMBAQUI
Sanatório Produções
São Mateus em Movimento
Sarau Comungar
Sarau D’Quilo
Sarau do Binho
sarau do burro
Sarau do Grajaú
Sarau do Pira
Sarau Itinerante
Sarau na Quebrada
Sarau O que dizem os Umbigos?!
Sarau Preto
SARAU QUINTA EM MOVIMENTO
Sarau Sem Poetas
Sarau Sobrenome Liberdade
Sarau Suburbano
Sarau Verso em Versos
Sarauzim Mesquiteiros
selo do burro
Sessão de Fatos
Setenta vezes sete
Shabazz Empire
Sindicato de Engenheiros/RJ
Sindicato dos Economistas de Minas Gerais
Sinttel
Sítio da Cultura Popular
Slam da Guilhermina
Slam da Ponta
Slam do Grito
Slums
Só Com Vinil
Sociedade Sem Prisões
SOU DANDARA
Soul Rueiro
SóZine
SP Invisível
SUATITUDE (Sindicato Urbano de Atitude)
Tafari Sound System
Teatro da Vertigem
Teatro Girandolá
Teatro União e Olho Vivo
Toca do Lobo Produções – Complexo do Alemão
TRÓPIS iniciativas socioculturais
Trupe na RUA
Turma D’ Raiz – Essência Velha Escola
Turnê SaraÔnica
UNAS Heliópolis
Uneafro Brasil
União Brasileira de Mulheres
UNIÃO DA JUVENTUDE BRASILEIRA
Uniao de mulheres de SP
União Nacional por Moradia Popular
Unidade Produtiva TERRA ZINE
Unisol Brasil
Universidade da Correria
Vila 57 – Feira da Mata-Ba
Visão Soluções Sociais
Zumaluma
Zumbiblioteca
Também assinam individualmente este manifesto mais de 2.400 cidadãs e cidadãos, artistas, militantes, que moram nas periferias. Acesse a lista em: https://docs.google.com/spreadsheets/d/1690mdt16LZbO_N6Pzrr6YSUNuBkmj3lbBrH0NrDK7mI/edit?usp=sharing
Para assinar individual ou coletivamente, preencha o formulário no link: http:/http://goo.gl/forms/ZK6G0QS1xY.

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O caso Mariana Ferrer, por Honoré de Balzac

Enfim, “de todas as mercadorias deste mundo, a mais cara é sem dúvida a justiça”.

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O caso Mariana Ferrer por Honoré de Balzac

Por Dirce Waltrick do Amarante*

Quando o escritor francês Honoré de Balzac teve acesso ao vídeo da audiência de Mariana Ferrer, ele decidiu escrever o Código dos homens honestos, isso nos idos de 1875, mas só agora estou tornando públicas suas palavras, que estavam sob segredo de justiça.  

Em uma análise bastante rigorosa, Balzac lembra, em primeiro lugar, que sabemos perfeitamente bem que “em princípio, ficou estabelecido que a justiça seria para todos, mas […]” . A tradução é de Léa Novaes, pois Balzac tinha dificuldade em escrever em português.

Dito isso, ele fala da figura do procurador. Em tempos idos, diz Balzac, os procuradores “levavam tão a sério o interesse de um cliente que chegavam a morrer por eles”. Além disso, eles “nunca frequentavam a sociedade”, e se a frequentassem eram vistos como “monstros”, mas hoje, “hoje tudo está monetarizado: já não se diz que Fulano foi nomeado procurador-geral, vai defender os interesses de sua província […]. Não, nada disso; o senhor Fulano acaba de conquistar um belo posto, procurador-geral, o que equivale a honorários de vinte mil francos […]”.

Balzac ia falar da figura do juiz e do defensor público, mas depois de tudo que assistiu ficou sem as palavras justas para descrevê-los.

Então, o escritor francês decidiu se debruçar sobre o papel do advogado, que “frequenta bailes, festas […] despreza tudo o que não é elegante”. E, diz Balzac, “Justiça seja feita aos advogados […]! São os decanos, os chefes, os santos, os deuses da arte de fazer fortuna com rapidez e com uma sagacidade que os torna merecedores de muitos elogios”.

Enfim, “de todas as mercadorias deste mundo, a mais cara é sem dúvida a justiça”.

Não citei na íntegra o texto do Balzac, porque foram esses os únicos fragmentos aos quais tive acesso, os outros foram apagados.  

*Formada em Direito, em 1992, na Universidade Federal de Santa Catarina

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O show de Trump: renovação ou cancelamento?

A eleição nos EUA e o destino da democracia na condição atualista

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Nos EUA voto popular não significa vitória. Biden terá mais votos do que Trump e ainda assim o resultado da eleição continuará indefinido por algum tempo. Apesar dos descalabros que marcaram a gestão Trump antes e durante a pandemia, o seu desempenho na atual corrida eleitoral será muito forte.

Mateus Pereira, Valdei Araujo e Walderez Ramalho, professores da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) em Mariana, MG

A disputa está sendo muito mais acirrada do que era inicialmente previsto pela maior parte dos institutos de pesquisa e da mídia americana, embora a cautela e o medo nunca deixaram de estar presentes. Sob esse ponto de vista, as eleições deste ano são como uma repetição do que vimos em 2016, ainda que o resultado possa ser a derrota eleitoral para Trump. Em 2016 foram os democratas que denunciaram a interferência russa, agora é o presidente-agitador que se apressa em questionar a legitimidade do pleito, sem mostrar nenhuma prova. Sabemos que no ambiente do atualismo provas têm como base apenas convicções.

Um sistema eleitoral que sobreviveu por séculos, sem grandes mudanças, pode ter se tornado obsoleto desde a eleição de Bush, em 2000. Um lembrete do possível declínio da democracia americana: das últimas oito eleições presidenciais desde 1992, os democratas venceram no voto popular as últimas sete, mas em apenas quatro ocasiões ganharam o colégio eleitoral e fizeram o presidente.

Acreditamos que as eleições nos EUA são um exemplo do confronto entre duas estratégias e duas concepções sobre fazer política: de um lado, Trump e sua promessa de eterna atualização da atualidade em modo nostálgico; e Biden, com sua aposta moderada no cansaço na agitação atualista que seu adversário republicano encarna e radicaliza, e a retomada da política em moldes liberais. Essa retomada é feita sem uma crítica efetiva ao modelo neoliberal abraçado pela cúpula do partido democrata. Uma aposta radical, como Sanders, teria se saído melhor? É difícil dizer, mas tudo leva a crer que não, tendo em vista o complicado xadrez do voto estado a estado.

A escolha entre as duas estratégias/concepções se mostrou muito mais difícil e apertada do que se imaginava. A tal “onda azul” anunciada por parte da imprensa estadunidense esteve longe de acontecer. De fato, Trump se mostrou eleitoralmente muito mais forte do que os analistas supunham. Considerando que esta não é a primeira vez que os institutos de pesquisa falharam em captar esse movimento no eleitorado americano, e considerando também que fenômeno semelhante ocorreu no Brasil em 2018, coloca-se a questão de saber se as tradicionais pesquisas de opinião tornaram-se de alguma forma obsoletas em um mundo atualista. Esse quadro muda pouco, mesmo com uma  eventual vitória de Biden ou pior, com uma inconveniente reeleição de Trump.

São vários fatores que devem ser considerados para avaliar essa questão. Os próprios institutos se apressaram a ensaiar algumas explicações ao público. O diretor da Trafalgar Group, Robert Cahaly, afirmou que muitos eleitores “esconderam”, como já havia acontecido, sua preferência por Trump por algum receio ou constrangimento social.[1] Não podemos desconsiderar algum tipo de boicote/sabotagem dos eleitores republicanos, já que na retórica do trumpismo as pesquisas de opinião fazem parte da mídia vendida. Outros recorreram à justificativa de que as pesquisas anteriores representavam apenas fotografias do momento específico em que as entrevistas foram feitas, e não o que se poderia esperar na eleição propriamente dita. Isso poderia ter sido de fato observado pela tendência de redução da vantagem de Biden nos últimos 15 dias. Afinal, o episódio da contaminação de Trump e sua rápida recuperação pode ter tido um saldo positivo, ao menos na mobilização de sua base, como já havíamos especulado em coluna anterior.

Aceite-se ou não essas justificativas, fato é que os institutos de pesquisa sairão dessas eleições com sua credibilidade e imagem pública mais arranhadas, sobretudo diante das especificidades do sistema eleitoral americano. Como afirmamos, muitos fatores concorrem para esse desgaste. Um deles está relacionado à condição atualista que caracteriza o nosso presente e como cada um dos candidatos se coloca frente a tal condição.

Trump é um político bastante sintonizado com o ambiente da comunicação atualista onde as provas dispensam comprovação factual. Seja nas redes sociais, seja em seus concorridos comícios, o presidente se revela um comunicador difícil de ser batido. Dentre os aspectos associados à condição atualista, destacamos a intensidade e velocidade sem precedentes do fluxo de notícias, em detrimento dos protocolos de verificação e checagem da informação veiculada. Esse ambiente infodêmico[2] é particularmente fértil para a produção de desinformação e sua disseminação como misinformação.[3] Além das informações imprecisas, para não dizer apenas falsas, que a infodemia trumpista ajuda a difundir, é preciso levar em consideração a agitação/ativação que produz. É como se a oposição se agitasse confusamente e a base trumpista se ativasse a cada um de seus comentários polêmicos. Assim, o uso constante das redes sociais para disseminar fake news ou comentários faz com que, seja de modo positivo ou negativo, o presidente esteja sempre no foco da mídia. O acúmulo de notícias sobre suas falas ou atos inconsequentes faz com que seja difícil recuperar qual foi o absurdo dito ou feito na semana anterior. Na condição atualista há um valor excepcional em estar mais atualizado (e exposto) que o seu adversário. 

Ainda assim, a manipulação das fake news como ferramenta política supõe uma linguagem organizada para se tornar eficaz. Essa afirmação pode soar chocante à primeira vista: como podemos atribuir coerência a um discurso fundamentado em desinformação e que frequentemente e sem o menor pudor afirma hoje o contrário do que disse ontem, como o exemplo do uso de máscaras na pandemia?[4] O ponto aqui é que a condição atualista coloca muitos obstáculos para que o passado, mesmo o mais recente, seja trazido à reflexão. Assim, quando confrontados com suas próprias contradições, políticos atualistas como Trump e Bolsonaro simplesmente atualizam suas narrativas e afirmações quando as anteriores se tornam insustentáveis. Com muita frequência, os seus discursos mudam em função da conveniência da atualidade, sem a mínima necessidade de se prestar conta da contradição com o que eles mesmos diziam no dia anterior.

Essa estrutura atualista do discurso político só se torna eficaz, porém, no interior de uma linguagem organizada e facilmente identificável pelo público que a compartilha, no interior de uma condição material de reorganização do mundo do trabalho e do capital. A crise de 2008, concentração de renda, neoliberalismo, capitalismo de vigilância e a formação do atual “precariado” são elementos, dentre outros, fundamentais para entender a emergência de líderes que governam e são eleitos por pequenas maiorias mobilizadas pela historicidade e ideologia atualista. Só assim podemos entender a força de Trump na eleição independente do resultado final, ainda que sua derrota  interesse a todos os democratas do mundo.

Trump lança mão de artifícios retóricos quando confrontado com suas afirmações evidentemente baseadas em mentiras e contradições, de tal maneira que ele consegue, mesmo em tais situações, transmitir e reforçar o código entre o seu público. O código se estrutura em uma lógica antagonista, na qual o portador é sempre vítima de perseguição por parte do establishment e da imprensa vendida para a “esquerda corrupta” ou as corporações globalistas.

O ponto principal a ser considerado é que para ser politicamente eficaz não é necessário que o código seja compartilhado por todos; mas que seja continuamente ativado junto aqueles que já o compartilham. Por mais que esteja sustentado em desinformações, o fato é que o código é bastante poderoso na ativação de afetos políticos centrais como o medo, ódio e ansiedade, vetores de forte engajamento e agitação política que Trump e Bolsonaro sabem tão bem promover.

O sucesso dessa estratégia se coaduna com a popularização das redes sociais e dos smartphones, bem como das novas tecnologias de processamento de dados manipulados para fins políticos. Nesse contexto, tornou-se possível criar e difundir mensagens sob medida para cada tipo de público, cada indivíduo ou grupo formula suas próprias percepções sobre o mundo a partir de narrativas (códigos) que não mais precisam ser expostos publicamente a todos para serem eficazes. Após alguns reconhecimentos iniciais, os algoritmos se encarregam de abastecer-nos das notícias que nos mobilizam, sempre com o mesmo teor e formato. Reforça-se, assim, o fenômeno das “bolhas”.[5] Esses códigos podem circular de forma subterrânea, de tal modo que o que parece absurdo e chocante para uns, é perfeitamente aceitável e normalizado para outros.

Esse ambiente de circulação de notícias e códigos é condizente com a ordem atualista de nosso tempo e, ao nosso ver, é um fator importante a ser considerado no desempenho surpreendente de Trump nestas eleições. E um dos preços a se pagar para tal sucesso é a radicalização do clima de agitação que tem marcado a nossa época. Esse quadro tem resultado inclusive em distúrbios psicológicos cada vez mais comuns, como o “transtorno do estresse eleitoral”, que segundo estimativas afeta sete em cada dez cidadãos estadunidenses.[6]

Os políticos atualistas claramente não se importam em pagar esse preço, na verdade eles têm lucrado com isso. Mas, ao fim e ao cabo, eles não podem evitar completamente os efeitos colaterais de suas apostas. Agitação e dispersão geram também cansaço no eleitorado. Biden e os democratas tomaram esse efeito como vetor de suas estratégias para estas eleições. Frente à irrefreável agitação de Trump, Biden se vendeu como a opção mais “centrista”, de moderação e convergência. A divergência entre as duas estratégias foi mais uma vez demonstrada logo após o fechamento da votação: enquanto Trump se apressou em declarar-se vencedor e dizer que irá judicializar a eleição em caso de derrota, Biden classificou tal postura como “ultrajante” e pregou calma aos seus apoiadores[7].

Mesmo que a vitória do democrata seja confirmada, é inegável que o preço desse lance foi bastante alto. A imprensa americana noticiou como parcelas importantes do eleitorado negro, que o próprio Biden afirmou ser “a chave para a vitória”, relataram estarem pouco motivados a votarem no candidato democrata.[8] O mesmo ocorreu entre parte do eleitorado hispânico, em especial na Flórida e no Texas. O conservadorismo nos costumes, a adesão a denominações evangélicas que tem crescido entre hispânicos e a tradição anticomunista dos cubanos, e agora também venezuelanos, na Flórida, são fenômenos a serem considerados. Enquanto fechamos essa coluna Trump ainda lidera na Pensilvânia, estado no qual o operariado branco migrou dos democratas para o trumpismo. No último debate, Biden acabou por reconhecer que teria que acabar com a exploração do altamente poluente gás de xisto, o que foi imediatamente explorado por Trump: “Eis uma declaração importante”, ironizou o presidente. Caso perca por margem apertada na Pensilvânia, onde os trabalhadores dessa indústria são amplamente sensíveis ao tema, talvez essa declaração tenha custado a eleição.

Para entender melhor essas flutuações teríamos que fazer algo pouco praticado durante a campanha, uma avaliação retrospectiva fundada em boa informação acerca das políticas públicas implementadas por democratas e republicanos, em especial nos governos Obama e Trump. O apoio ao republicano não é apenas resultado da mágica da comunicação, deriva também da tibieza das políticas democratas e dos acertos de Trump. Reforma do sistema criminal, política externa menos intervencionista, foco na economia e na criação de empregos, com bons resultados, ao menos até a pandemia.

A decisão das eleições primárias do Partido Democrata em nomear um candidato “centrista” para concorrer nessas eleições – ao contrário de uma opção mais radical do populismo de esquerda como Bernie Sanders – foi importante para unificar o partido (em especial o seu establishment) e angariar o apoio do eleitorado “cansado” da agitação radicalizada. Por outro lado, a figura moderada de Biden não se mostrou capaz de promover um grau de engajamento e mobilização do público à altura do seu adversário agitador, nem está claro ainda se seu discurso de união nacional conseguiu atrair eleitores de Trump. Essa diferença é importante em um contexto onde o voto não é obrigatório e, no caso particular das eleições deste ano, ainda mais desencorajado pela pandemia do coronavírus.

Mesmo assim, a moderação pode ter sido eficaz para para derrotar a agitação, mas não para desativá-la. E ainda não podemos assegurar como os EUA sairá dessas eleições, pois Trump continua sendo quem é. Há ainda o risco de o agitador perder e não aceitar sair, e as consequências disso poderão ser catastróficas. E mesmo que ele saia, o trumpismo – o negacionismo, o anti-esquerdismo, o desejo de retorno a um passado glorioso e mítico – ainda permanecerá em parcelas consideráveis da população.

O que tudo isso ensina para o campo democrático brasileiro, que tem de enfrentar a sua própria versão de agitador atualista? Desde o início da votação nos EUA, Bolsonaro disparou freneticamente uma série de tweets ressoando as alegações infundadas de seu ídolo sobre as eleições serem “fraudadas” a favor dos democratas, o que seria um risco para a “liberdade” e para o Brasil. Afinal, nosso agitador atualista tupiniquim sabe bem que a permanência de Trump é uma força de sustentação fundamental para ele. As relações entre EUA e Brasil deixaram de ser uma relação entre Estados, mas sim uma relação de “amizade” (leia-se emulação e, do nosso ponto de vista, subserviência) entre os chefes de turno da Casa Branca e do Palácio do Planalto.

Assim, e seguindo o estilo atualista de fazer política, Bolsonaro ressoa as afirmações sem fundamento de Trump, sem se preocupar com a veracidade e desprezando o princípio diplomático básico da impessoalidade. Mas Bolsonaro também tem seu próprio código “alternativo”, cujo enfrentamento é a tarefa prioritária das forças democráticas no Brasil, que deverá avaliar e tomar suas próprias escolhas para vencer o confronto. Assim como o trumpismo, nos Estados Unidos, o bolsonarismo é um fenômeno que não necessariamente depende da permanência de Bolsonaro no poder: ele mobiliza parcelas consideráveis da população através de seus discursos, que defendem o conservadorismo nos costumes, o liberalismo na economia, a luta contra “o sistema”, a religião e a admiração pelo militarismo.

Será que a aposta moderada e centrista será suficiente para derrotar o bolsonarismo aqui? Mesmo que por pouco? Ou, em nosso contexto particular, faz-se necessário redobrar a aposta na radicalização pela via da esquerda? Mesmo que a vitória de Biden seja confirmada, ainda não está claro qual das duas vias parece a mais indicada para o Brasil. Enfim, tudo indica um destino trágico da democracia liberal de “pequenas maiorias” em tempos de agitação atualista. Sem negar a nossa atual realidade, cabe a nós pensar e imaginar alternativas, por mais difícil que pareça ser em nosso atual nevoeiro e impregnados por uma sensação de asfixia. Além disso, a lentidão com que a apuração avança em alguns estados decisivos promete nos deixar hipnotizados pelos mapas eleitorais na expectativa da atualização decisiva.

(*) Mateus Pereira e Valdei Araujo escreveram o Almanaque da Covid-19: 150 dias para não esquecer ou o encontro do presidente fake e um vírus real com Mayra Marques. Ambos são professores de História na Universidade Federal de Ouro Preto, em Mariana (MG). Também são autores do livro Atualismo 1.0: como a ideia de atualização mudou o século XXI e organizadores de Do Fake ao Fato: (des)atualizando Bolsonaro, com Bruna Klem. Walderez Ramalho é doutorando em História na mesma instituição. Agradecemos à Márcia Motta e ao grupo Proprietas pelo apoio e interlocução nesse projeto.


[1] https://noticias.uol.com.br/colunas/thais-oyama/2020/11/04/o-eleitor-oculto-de-trump-e-o-novo-erro-dos-institutos-de-pesquisa.htm

[2] PEREIRA, Mateus; MARQUES, Mayra; ARAUJO, Valdei. Almanaque da COVID-19: 150 dias para não esquecer, ou a história do encontro entre um presidente fake e um vírus real. Vitória: Editora Milfontes, 2020.

[3] Usamos aqui um neologismo para dar conta da diferença que em inglês é mais clara entre a produção deliberada de notícias falsas (disinformation) e sua disseminação involuntária (misinformation).

[4] https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/07/20/trump-muda-discurso-e-agora-diz-que-usar-mascara-e-patriotico.htm

[5] EMPOLI, Giuliano Da. Os engenheiros do caos: como as fake news, as teorias da conspiração e os algorítimos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições. São Paulo: Vestígio, 2019.

[6] https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/10/quase-sete-em-cada-dez-americanos-relatam-transtorno-do-estresse-eleitoral.shtml

[7] https://br.noticias.yahoo.com/em-pronunciamentos-biden-prega-calma-e-trump-faz-acusacao-de-roubo-065922289.html

[8] https://www.aljazeera.com/news/2020/9/12/biden-battles-trump-lack-of-enthusiasm-among-black-voters

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Feminismo

Que tal ajudar Mariana Ferrer a obter Justiça?

Não basta lacrar. Um chamamento a todas as feministas e a todas as mulheres para que enfrentemos a misoginia dos tribunais brasileiros

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Mariana Ferrer chora durante julgamento em que foi humilhada o ofendida

A reportagem do Intercept Brasil sobre a denúncia de estupro da influencer Mariana Ferrer tornou-se viral nas redes. Sob o título JULGAMENTO DE INFLUENCER MARIANA FERRER TERMINA COM SENTENÇA INÉDITA DE ‘ESTUPRO CULPOSO’ E ADVOGADO HUMILHANDO JOVEM, o texto da repórter Schirlei Alves serviu de base para milhares e milhares de postagens sobre a excrescência jurídica que teria embasado a absolvição do empresário André de Camargo Aranha. Até as 15h30 de ontem (4/11), o Google devolvia 781.000 resultados, quando se procurava pela expressão “estupro culposo”. Memes, charges, textões e textinhos foram produzidos em escala industrial para provar que um estuprador havia conseguido sentença absolutória graças a uma invencionice jurídica obrada pela Justiça, com vistas a proteger um macho branco, amigo de poderosos e, ele mesmo, “filho do advogado Luiz de Camargo Aranha Neto, que já representou a rede Globo em processos judiciais”, segundo a reportagem do Intercept.

Lida toda a sentença de 51 páginas do juiz do caso, Rudson Marcos, da 3ª Vara Criminal de Florianópolis, entretanto, constata-se que, em nenhum momento da sentença é dito que houve “estupro culposo” contra a jovem. Ao contrário, é dito que não existe essa tipificação e que o estupro é necessariamente doloso. Portanto, está errada a formulação do título do Intercept Brasil.

Está tão errada que o próprio site The Intercept Brasil foi obrigado, às 21h54, nada menos do que 19 horas e 50 minutos depois de publicada a história, a fazer uma “atualização” que diz assim:

“A expressão ‘estupro culposo’ foi usada pelo Intercept para resumir o caso e explicá-lo para o público leigo. O artíficio é usual ao jornalismo. Em nenhum momento o Intercept declarou que a expressão foi usada no processo.”

O Intercept faz como a música de Tom Zé: “Eu tô te explicando pra te confundir. Eu tô te confundindo pra te esclarecer.” Uma explicação que confunde. E, sim, o Intercept disse que a sentença inédita baseou-se no “estupro culposo”.

É só ler o título indigitado de novo:

JULGAMENTO DE INFLUENCER MARIANA FERRER TERMINA COM SENTENÇA INÉDITA DE ‘ESTUPRO CULPOSO’ E ADVOGADO HUMILHANDO JOVEM

Com as redes ajudando a espalhar a bobagem, todo mundo louco atrás de cliques, de “bombar”, da lacração, poucos deram-se ao trabalho de ler a sentença que, sim, absolveu o réu André de Camargo Aranha por “falta de provas”.

Uma pena.

Se, em vez da lacração, tivessem mirado no fato em si da absolvição do crime de estupro “por falta de provas”, talvez tivessem ajudado muito mais. Sabe-se que a cada 8 minutos uma mulher ou menina é estuprada no Brasil. Mas a maior parte desses crimes jamais será nem sequer investigada pela falta de indícios e elementos probatórios, já que ocorrem escondidos e, preferencialmente, sem testemunhas.

Mariana Ferrer, diz a sentença, não conseguiu provar a acusação que fez contra André de Camargo Aranha. Será? Está na sentença que o exame toxicológico não apontou o consumo de substâncias estupefacientes, como seria de se esperar se ela tivesse ingerido involuntariamente alguma droga do tipo “Boa Noite Cinderela”. A maioria das testemunhas ouvidas, várias mulheres inclusive, disse que a vítima não cambaleava e que não parecia dopada. As câmeras internas do Café de la Musique, onde teria ocorrido o estupro, mostram Mariana Ferrer subindo para um camarote e descendo, seis minutos depois, sem necessidade de ajuda (e de salto!!!!, como faz questão de ressaltar a sentença). Teria transcorrido nesses seis minutos o crime de estupro, de que Mariana Ferrer não tem memória.

Mas Mariana Ferrer diz ter inúmeras provas irrefutáveis do estupro e que nem sequer foram levadas em consideração pelo julgador.

E, no entanto, todas as mulheres sabem da dificuldade de “provar” a violência sexual, quando ela ocorre entre quatro paredes, sem testemunhas. Mariana Ferrer não seria exceção. Nos trechos da vídeo-conferência que foi o julgamento, assombra a solidão da menina que denuncia, vítima de outros homens violentos, que a acusam de ser (ela sim), um monstro querendo prejudicar a reputação de um “pobre milionário”.

Como sempre acontece, a vítima deixa de ser vítima para se transformar no monstro sensual e ardiloso que precisa ser contido. A qualquer custo.

A verdade é que Mariana Ferrer estava sozinha.

Desde o dia em que alega ter sido estuprada (15/dezembro/2018), Mariana Ferrer tem pedido ajuda pelas redes sociais e tem narrado todo o sofrimento e a depressão que a assolam em decorrência do fato.

Quem foi ajudá-la a reunir provas? Quem foi ajudá-la a colher testemunhos que aumentassem a credibilidade de sua acusação? Quem foi ao Café de la Musique, onde ocorreram os fatos julgados, procurar indícios de que ali funcionaria um “abatedouro” de meninas destinadas ao gozo masturbatório de machos alfa? Quem?

Ou achamos razoável condenar alguém sem elementos probatórios que apoiem a denúncia?

Não, não é razoável.

Apenas a voz da vítima não pode embasar uma condenação. E quem defende isso precisa saber que abdicar de provas é apenas a reedição do velho punitivismo, é vingança. Não é Justiça. Pior, resultará na condenação sem provas dos mesmos criminalizados de sempre: os pretos, pobres e periféricos.

A única forma de evitar a perpetuação desse ciclo perverso requer de nós nós, feministas, que encaremos o estupro, cada estupro, como um problema nosso!

Temos de ajudar as vítimas a robustecer as provas da violência que sofreram. Temos de afrontar a Justiça machista, exigindo a presença de mulheres no julgamento. Tem de ser um trabalho nosso enfrentar a misoginia cuspida e escarrada de gente como Cláudio Gastão da Rosa Filho, o advogado de defesa de André de Camargo Aranha, que humilhou e ofendeu Mariana Ferrer enquanto exibia fotos dela que nada tinham a ver com o processo! Que nenhuma mulher mais tenha de enfrentar um julgamento de estupro apenas diante de homens, na solidão absoluta, como acontecia com as antigas feiticeiras.

Temos de incentivar a solidariedade entre nós, mulheres, para que acolhamos as vítimas, em vez de fingir que se trata de um problema só delas. Não há mulher ou menina que não tenha sido atacada ao menos uma vez em sua vida pela violência sexual. E nós sabemos disso em nossos próprios corpos!

É o pai, é o tio, é o avô, é o tarado que mostra o pinto para a adolescente, é o abusador que se acha no direito de ejacular na mulher dentro do trem lotado…

Temos de organizar o “Socorro Feminista”, para apoiar as mulheres que decidem denunciar a violência sexual.

Os tribunais brasileiros são câmaras de tortura contra mulheres, negros, indígenas e pobres em geral. As cenas de humilhação de Mariana Ferrer não são, infelizmente, exceções. São a regra.

É preciso atuar sobre esse front.

Então, precisamos entender que não se trata de um problema privado de Mariana Ferrer o desenlace de sua denúncia. É de todas nós!

Lembro da França, em 1971, quando uma mulher foi presa e julgada pelo crime de aborto, na época punível com a pena de morte pela guilhotina!

Em vez de “solidariedades”, textões de repúdio, e essas lacrações inúteis, 343 mulheres, entre elas as atrizes Catherine Deneuve e Jeanne Moreau, assinaram o manifesto escrito por Simone de Beauvoir, e assumindo que haviam feito, elas também, um aborto. A força desse texto e a coragem das signatárias empolgaram intelectuais como Françoise Sagan e Annie Leclerc, jornalistas conhecidas, de muitas feministas, a começar por Antoinette Fouque, da advogada Gisèle Halimi ou ainda da deputada socialista Yvette Roudy. Todas declararam ter realizado um aborto, como forma de quebrar o tabu de uma injustiça social.

A Justiça no Brasil é machista, é racista e é classista. Só incidindo juntas sobre ela será possível mudar esse regramento que sempre condena a vítima e libera o agressor.

Mariana Ferrer deve recorrer da sentença em primeira instância. Agora, é organizar a luta para mudar o rumo da História. Quem se dispõe?

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