Por Juliana Medeiros para os Jornalistas Livres
No próximo domingo a Venezuela escolhe governadores de 23 estados em eleições marcadas por um passado recente de tensão e atos de violência por parte de organizações ligadas à oposição que tentaram, sem sucesso, impedir a realização da eleição para a Assembleia Constituinte em 30 de julho deste ano (veja em nosso site a cobertura especial dos Jornalistas Livres sobre o tema).
O nível extremado de violência perpetrado pelos partidos que integram a chamada MUD (Mesa de Unidade Democrática), parecem ter surpreendido até mesmo aqueles cidadãos que se posicionavam contra o governo de Nicolás Maduro. O fato ficou evidenciado depois que se verificaram os números de votantes em estados tradicionalmente dominados pela oposição (na Venezuela o voto não é obrigatório) indicando que apesar de não terem reconhecido oficialmente, não puderam impedir que suas bases legitimassem o processo constituinte.
Para esse pleito, também o discurso dos candidatos oposicionistas se modificou, já que passaram a chamar o povo a votar, ao contrário do que fizeram no anterior. O ex-candidato à presidência, Henrique Capriles, é um dos mais frequentes a convocar na TV, seus eleitores a saírem de casa.
A antecipação da convocação para essas eleições (a 22ª em 18 anos de chavismo), prevista inicialmente para dezembro, foi uma decisão justamente dos membros da Assembleia recém-eleita, como destacou nesta sexta-feira a presidenta do órgão constituinte Delcy Rodríguez.
Segundo ela, com isso se pretendia consolidar a paz lograda quase que imediatamente depois de 4 de agosto, quando tomaram posse os membros eleitos da Assembleia Constituinte.
“Para nós é muito importante, como poder constituinte, sermos vigilantes sobre a garantia de paz na Venezuela. Nossas últimas eleições, como se sabe, foram marcadas por muita violência e também pela negativa da oposição em participar, tentando impedir que suas bases fizessem parte desse exercício pacifico e democrático”, acentuou Rodríguez.
Apesar dos protestos iniciais, a estratégia de fato serviu para uma espécie de trégua geral, já que candidatos de direita e de esquerda precisaram se concentrar em suas campanhas.
Além disso, os líderes opositores parecem ter se dado conta de que não foi uma boa estratégia ter optado por ficar fora do processo e, apesar de terem tentado desde sempre deslegitimar o CNE, inscreveram seus candidatos imediatamente após o início do prazo para registro eleitoral.
Em todos os canais (a esmagadora maioria, privados e de oposição), foi possível ver os spots de propaganda eleitoral obrigatória – encerrada nesta quinta-feira (12) – de candidatos das várias correntes políticas e partidos. Com destaque para os de oposição que concentram os discursos não em suas regiões, mas na disputa ideológica presente no cenário político nacional, com frases como “abaixo a esquerda”.
Além disso, 1.200 observadores nacionais e 67 acompanhantes internacionais, de 22 países, participam de todo o processo para garantir a transparência.
O pleito, marcado para o próximo domingo, vai eleger governadores em todas as regiões da República Bolivariana, exceto na capital, Caracas. Isso se deve à Constituição do país que considera o presidente a maior força política do chamado “Distrito Capital” – sede de todos os órgãos do Poder Nacional – e que por isso, não possui governador, sendo a função acumulada pelo presidente.
No entanto, com o objetivo de evitar que se repitam os atos de violência ocorridos durante a eleições anteriores, o Ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, afirmou nesta sexta-feira (13) em coletiva de imprensa que será garantida a tranquilidade do país, “não importa qual seja o resultado eleitoral”.
Já a Presidenta da Assembleia Constituinte, Delcy Rodriguez, chamou a oposição à razoabilidade: “para os que buscam refúgio em poderes antinacionais ou imperiais, novamente lhes dizemos que esta é a via, o caminho eleitoral, o caminho democrático, tal como está contemplada em nossa Constituição”
Na coletiva de imprensa realizada hoje, as autoridades venezuelanas também aproveitaram para rechaçar completamente a declaração do Departamento de Estado norteamericano que questiona a transparência do CNE.
“Preocupa os Estados Unidos que uma série de ações por parte do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) questionem a imparcialidade do processo eleitoral”, afirmou Heather Nauert, porta-voz do Departamento de Estado.
A resposta veio forte da presidenta do CNE, Tibsay Lucena: “essa agressão coincide com uma campanha de permanentes agressões ao poder popular, fundamentada em mentiras e manipulações”.
Nas últimas eleições regionais em 2012, o PSUV conquistou 20 dos 23 governos estaduais, mas a derrota na composição da Assembleia Nacional abalou o chavismo e abriu caminho para a crise que vem sendo aos poucos, controlada pelo presidente Nicolás Maduro.
A grande pergunta no ar, em razão da aparente calmaria, contrastante com o último período eleitoral, é sobre qual será a reação popular refletida nas urnas, em um país onde o povo está culturalmente habituado a participar de consultas, referendos e processos eleitorais e evidentemente, cansado de guerra.