Professores e intelectuais brasileiros ligados a universidades estaduais e federais divulgaram, neste sábado (23), uma carta aberta contra a intervenção dos Estados Unidos na Venezuela. O manifesto também pode ser assinado por outras pessoas (https://peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR110834).
Está marcada para este fim de semana a chegada de comboios americanos ao país que, segundo o governo dos EUA e Juan Guaidó – opositor de Nicolás Maduro reconhecido como presidente interino da Venezuela por Brasil, EUA e outros países – traria comida e medicamentos.
O governo de Caracas, no entanto, assim como China e Rússia, acreditam que o movimento seja um disfarce para uma intervenção estrangeira. “Trump só quer as riquezas de Venezuela, nosso petróleo, ouro e diamantes”, disse Maduro.
Na quinta (21), Maduro ordenou o fechamento das fronteiras da Venezuela e, um dia depois, ao menos duas pessoas morreram em confronto com a polícia em Kumarakapay.
Leia, abaixo, a carta na íntegra:
Contra a intervenção na Venezuela
Carta aberta à sociedade brasileira
Cidadãos brasileiros assistimos, preocupados, a escalada de conflitos contra a vizinha Venezuela, a que, para nossa maior consternação, adere o Brasil governado por J.Bolsonaro.
Trata-se de momento extremamente perigoso, em que a paz, tão duradoura no sub-continente, se encontra ameaçada pelo governo de D.Trump nos Estados Unidos. A intervenção norte-americana ora se traveste de ajuda humanitária, incluindo a linha seca Pacaraima/Santa Elena entre seus possíveis corredores. Não será demasiado lembrar que instituições concernidas e respeitáveis, tais como a Unesco e a Cruz Vermelha, se recusaram a participar de tal ajuda, apontando o fato básico de que ajuda humanitária se define, sempre, por sua neutralidade e desinteresse, aspectos inexistentes na presente iniciativa norte-americana. Houvesse um grão de verdade nas alegações intervencionistas quanto à crise humanitária na Venezuela, seria de se esperar que os Estados Unidos levantassem o embargo que impuseram àquele país – embargo que responde, em larga medida, à crise em pauta. Como apontam especialistas, sob o pretexto de defesa da democracia – jamais aplicado à Arábia Saudita e a outros aliados fornecedores de petróleo – , os Estados Unidos pretendem avançar sobre a região, em busca do controle de enormes reservas de petróleo.
Não podemos nos calar diante desta violência, cujos efeitos serão catastróficos para a região. Todos aqueles que conhecem a fronteira Venezuela- Brasil podem testemunhar sua diversidade étnica, sua riqueza cultural, seu delicado ecossistema – feito do encontro único da floresta tropical com a savana –, declarado patrimônio da humanidade pela Unesco. A pequena cidade de Pacaraima, encravada na Terra Indígena São Marcos, é geminada à cidade venezuelana de Santa Elena do Uairén, constituindo um espaço integrado, de intensa mobilidade de pessoas e de circulação de bens – a população, indígena ou não, mantém estreitos vínculos de parentesco, trabalho e residência, de ambos os lados da fronteira. Não podemos permitir que tudo isso seja devastado pelo cálculo e pela arrogância de uma intervenção armada.
Conclamamos, assim, as forças democráticas na sociedade brasileira a que, efetivamente, se manifestem contra a intervenção armada na Venezuela e, em particular, contra o envolvimento brasileiro nessa desventurada iniciativa, de modo a honrar a tradição pacifista e não-intervencionista do país, inscrita em sua Constituição.
Declarando toda nossa solidariedade ao povo venezuelano, assinamos:
Alfredo Clodomir Rolins de Souza, historiador Amanda Karoline Vinhort Alves, graduanda em História Amnéris Maroni, psicanalista André Augusto da Fonseca, historiador Andréia Galvão, cientista política Ângela Maria Cavalcante Souto, historiadora Armando Boito Jr, cientista político Associação Nacional de História (ANPUH), seção Roraima Bela Feldman-Bianco, antropóloga Carla Monteiro de Souza, historiadora Centro Acadêmico de História da UERR Centro Acadêmico de História da UFRR Cleane de Souza Feitosa Schwenck, assistente social Comitê Estadual em Defesa da Escola Pública de Roraima Cristhian Teófilo da Silva, antropólogo Eduardo Caetano da Silva, antropólogo Eduardo Gomes da Silva Filho, historiador Elaine Moreira, antropóloga Eliaquim Timóteo da Cunha, antropólogo Emanuel Rabelo, historiador Enzo Lauriola, economista Érica Marques, advogada Fabiano Galetti Faleiros, sociólogo Francisco Marcos Mendes Nogueira, historiador Gabriel Cambraia Neiva, crítico literário Geraldo Andrello, antropólogo Gilberto Azanha, antropólogo Giuliana Milena C.Araújo, publicitária Grupo de Estudos Migratórios na Amazônia (GEMA) Herika Fabíola Barros de Souza Oliveira do Valle, historiadora Hsteffany Pereira Muniz Araújo, historiadora Inara do Nascimento Tavares, antropóloga |
Ítala Maria Lofredo D’Ottaviano, matemática João Quartim de Moraes, filósofo Kézia da Costa Lima, historiadora Larissa Coelho, fundadora da Associação Bolsa de Valores Humanos Leila Maria Camargo, cientista social e pedagoga Leonardo Rossato Queiroz, cientista social Lisa Katharina Grund, antropóloga Lucas Endrigo Brunozi Avelar, historiador Luiz Maito Jr, historiador Luiz Marques Filho, historiador Marcelo Phaiffer, pedagogo Maria Elisa Ladeira, antropóloga Maria Inês Ladeira, antropóloga Mariana Castilho, geógrafa Mariza Barbosa Araújo, antropóloga Mauro William Barbosa de Almeida, antropólogo Michael Ganan, tradutor-intérprete Nádia Farage, antropóloga Paula Marcelino, socióloga Paulo Santilli, antropólogo Paulo Thadeu Franco das Neves, jornalista Raimundo Nonato Gomes dos Santos, historiador Sandra Moraes da Silva Cardozo, professora Sávio Cavalcante, sociólogo Sidney Chalhoub, historiador Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Fundações Públicas Federais de Geografia e Estatísticas (ASSIBGE) – Núcleo Sindical de Roraima Suely de Oliveira Marques, economista e pedagoga Volnei Garrafa, diretor da Cátedra Unesco em Bioética, UnB |
2 respostas
Deveríamos, também, fazer um abaixo assinado pedindo um teste de sanidade mental para o Trump e imitadores baratos.
Diria que o teste estaria na ordem do dia para esses ditos “intelectuais e professores”….só sabem protestar por manifestos… Levantar a bunda de suas cadeiras e trabalhar para a solução dos problemas…nem pensar…a culpa é sempre dos “outros”… China e Rússia…no mesmo…mas fazer propostas de como ajudar o povo venezuelano a sair do buraco onde os enfiou Maduro e a corja que ainda o segue…nem pensar…mais vale ficar fazendo protestos contra os americanos…