Gunga-muxique

Pedaços do mundo ficarão nos muros, fotografias penduradas, 

saudades daquilo que éramos.

O meio ambiente migra para as paredes das casas, 

seus aposentos. 

.

As imagens da Terra ocuparão Marte um dia, 

planeta árido, vazio, os horizontes distantes daqui, 

o jeito que fomos um dia.

É o homem guardador de arquivos, antigos rebanhos? 

Gente a numerar risos perdidos no tempo?

.

Desmontam o país e toda legislação para o meio ambiente,

sufocarão os povos da terra. 

.

A fotografia é grande invento,

descoberta fundamental.

Os dinossauros não tiveram tal sorte, deixaram pegadas,

um ovo de pedra aqui, outro ali

nada mais.

Chegamos naquele momento em que joga-se

a moeda para cima:

ou é cara ou coroa, amor ou pavor.

.

O que de fato importa é a linha da costura,

delicados pontos, furos nos dedos,

sangue

e coágulos.

O que mancha ou faz calos,

o que se escreve e deixa sua marca, 

palavra no livro, rumo ou rota.

.

Ficam os joanetes.

A terceira margem é senda

onde vou com tantos, vento absorto,

cismarento.

.

Não sei se o chefe, o gunga-muxique,

tal um imperador que crê nos filhos, 

sabe dos meandros da história e sua cunha,

fatos de afogamento e sucuri.

 

.

Nós, os outros, canhotos,

morreremos em paz, plenos no nado

e vacinados.

 

imagens por helio carlos mello

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