Golpe 16

Assustado com a revelação da participação do capitão de inteligência do Exército Willian Pina Botelho no episódio que levou à prisão de 21 jovens no dia da manifestação (04/09), assim Renato Rovai abriu sua fala no lançamento do livro Golpe 16, organizado por ele, na noite de ontem (12/09) em São Paulo. A revelação da identidade real de Baltazar Nunes mostra que as forças do golpe vão além do controle sobre a Polícia Federal, sobre as Polícias Militares, sobre parcelas significativas da Procuradoria Geral da República e do Judiciário, segundo ele.

Um golpe não é, um golpe vai sendo… É o título do artigo de Rovai que volta ao ano de 2010 para lembrar a aprovação do governo Lula e nossos sonhos com a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos em casa. O texto se desenvolve até chegar aos dias atuais, passando pelos atos de junho de 2013 e pela dura eleição de 2014. Rovai nos rememora que a condução coercitiva de Lula para depor, em 04/03/2016 foi “praticamente anunciada no Jornal Nacional da noite anterior, dedicado quase que totalmente a massacrar Lula”.

A obra Golpe 16 reúne 23 artigos que discutem, através de diferentes enfoques, o golpe jurídico-midiático-parlamentar que destituiu a presidenta Dilma Roussef. Os autores dos artigos são, especialmente, os jornalistas blogueiros de esquerda e defensores da democracia. O livro apresenta prefácio do ex-presidente Lula e se encerra com uma entrevista com a ex-presidenta.

Foto por Roberto Fernandes
Foto por Roberto Fernandes

Paulo Henrique Amorim lembrou que a grande diferença entre 1964 e 2016 é a blogosfera, sem a qual a Globo seria a única voz. Em seu artigo O PIG e o Cunha, ele demonstra como a Globo usou Cunha e, depois que ele perdeu a serventia, tripudiou sobre seu cadáver: “A Globo não tem amigos, tem interesses. Foi o que o PT e Dilma (“use o controle remoto”) nunca entenderam.”

Asfixia financeira, criminalização da blogosfera e dos sites progressistas e judicialização da atividade jornalística compõem os três eixos da ofensiva do governo golpista para calar as vozes divergentes, sentenciou Altamiro Borges. Ele lembrou Perry Anderson: “o neoliberalismo não combina com democracia”. Miro apontou, ainda, que: “a Globo é o novo Diário oficial da União”. Seu artigo no livro Golpe 16 se chama A blogosfera na resistência ao golpismo midiático.

Foto por Roberto Fernandes
Foto por Roberto Fernandes

“Lula (mais do que qualquer um) parece ter apostado até o fim na conciliação com a elite, e numa busca desesperada por ser aceito num clube que jamais o desejou como sócio.” Desse modo, Rodrigo Vianna mostra a rejeição da elite a Lula, a Dilma e às políticas de seus governos. Seu artigo, Ecos do passado: a voz de Carlos Lacerda no golpe de 2016, aponta as muitas semelhanças entre os discursos atuais e aqueles da tentativa de golpe contra Getúlio Vargas e o golpe de 1964.

Paulo Nogueira, em O jornalismo de guerra contra a democracia, cita Joseph Pulitzer: “Acima do conhecimento, acima das notícias, acima da inteligência, o coração e a alma de um jornal residem em seu senso moral, sua coragem, sua integridade, sua humanidade, sua simpatia pelos oprimidos, sua independência, sua devoção ao bem-estar público, sua disposição em servir à sociedade”. O artigo de Nogueira é uma reflexão sobre o “jornalismo de guerra”, marcado pela capa da revista Veja (“eles sabiam de tudo”) e pela omissão da Folha de São Paulo de dados resultantes da pesquisa que avaliaria o início do governo Temer. “Jornais e revistas fizeram em 2016 o papel dos tanques em 1964”, conclui.

“Não foi mágica o que ocorreu, foi um processo insistente de condução do senso comum. Foi uma longa e persistente defesa nas redes sociais de mentiras enaltecendo o racismo, a homofobia, a violência, a matança indiscriminada d pobres” Esse trecho é do artigo O golpe em rede e a mobilização do senso comum, escrito pelo professor Sérgio Amadeu da Silveira.

Gilberto Maringoni avalia, em O avanço do conservadorismo não é fenômeno apenas brasileiro, que até meados de 2016 não havia surgido evidência consistente de interferências externas na deflagração do golpe. Suspeitas, no entanto, há muitas. Como no comentário de Francisco Latorre, feito ao final do lançamento: “2013 foi 1963, cinquenta anos depois. Só saberemos quando a CIA abrir seus arquivos”.

Encerremos por aqui para não estragar as surpresas. O livro ainda tem artigos de Adriana Delorenzo, Bia Barbosa, Cynara Menezes, Conceição Oliveira, Dennis de Oliveira, Eduardo Gumarães, Fernando Brito, Gilberto Maringoni, Glauco Faria, Ivana Bentes, Lola Aronovitch, Luiz Carlos Azenha, Março Weiiheimer, Miguel do Rosário, Paulo Salvador, Rena Mielli e Tarso Cabral Violi.

Notas

1 Os direitos autorais do livro serão doados para o Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé.

2 Para obter mais informações veja em: http://www.revistaforum.com.br/golpe16/

3 Rovai, Renato (organizador). GOLPE 16. São Paulo, Publisher Brasil, 2016. 224 p.

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