GOL faz malabarismo legal para justificar humilhação e racismo sofridos por Preta Ferreira

Ilustração de @paulopbatista
Quantas vezes você viajou com uma passagem comprada por outra pessoa?
Quantas vezes você viajou com uma passagem comprada com um cartão que não era seu?
Dessas, quantas vezes a empresa aérea solicitou cópia do cartão, documento ou telefone do dono do cartão?
Quantas vezes você foi barrado, teve o check in cancelado e foi impedido de viajar?
Por quais constrangimentos você já passou quando viajou de avião com passagem paga por outra pessoa?
E, pra finalizar, qual a cor da sua pele?Leia abaixo a justificativa que a In Press Porter Novelli, empresa responsável pela assessoria de imprensa da GOL, nos enviou para explicar por que bloquearam o check in de Preta Ferreira na hora do embarque, e obrigaram-na a comprar outra passagem quando ia ontem a Salvador cumprir agenda profissional.

“A GOL reitera que não compactua com quaisquer atitudes discriminatórias e preza pelo respeito e pela valorização das pessoas.

Nesta quarta-feira (5/2), a Cliente não pôde fazer o check-in, no aeroporto de Congonhas (São Paulo), antes da verificação dos documentos fornecidos na compra do bilhete, pelo fato de nenhum dos nomes envolvidos ser titular do cartão de crédito utilizado.

Com isso, foi exigido o acionamento de procedimentos de checagem de informações, descritos no contrato de transporte aéreo (https://www.voegol.com.br/pt/contrato-de-transporte-aereo), explicitados no artigo 1.3, item XIII.

Reforçamos que a prática não tem qualquer ligação com atos de racismo, sendo uma política de segurança aplicada em casos em que a compra é efetuada com cartão de crédito de terceiros. Esse procedimento é normal no ambiente de e-commerce, visando a proteção do portador do cartão de crédito.”

ENTENDA O CASO 

A cantora, atriz e militante do movimento de moradia Preta Ferreira teve seu check in bloqueado no embarque da GOL em Congonhas, quando se preparava para voar rumo a Salvador, nesta quarta-feira (5). A alegação no balcão do check in foi que o cartão de crédito que comprou sua passagem não era dela, fato absolutamente corriqueiro em qualquer empresa… Além disso, a autenticidade da compra foi confirmada por telefone pelo dono do cartão, que é o empresário de Preta. 

“MULHER NEGRA NÃO PODE TER EMPRESÁRIO?”, PERGUNTA PRETA FERREIRA

Para cúmulo da humilhação, Preta Ferreira, com diversos compromissos para honrar na capital baiana, foi obrigada a comprar outra passagem. No balcão, o máximo que os atendentes lhe deram foi o conselho para que ela reclamasse no SAC da empresa o reembolso da passagem paga em duplicidade.

É um escândalo!

Este é mais um caso de discriminação contra mulheres negras a envolver grandes empresas apenas nesta semana. Há seis dias, Lorenna Vieira, mulher de Rennan da Penha, foi também atacada por preconceito e racismo em agência do Itaú na Penha, na Penha, Zona Norte do Rio. Lorenna tinha ido à agência para desbloquear um cartão e sacar R$ 1.500. Ela denunciou ainda que, na delegacia, policiais duvidaram que ela era casada com o DJ e a trataram com deboche. Até a publicação desta reportagem, a Polícia Civil não havia se manifestado sobre o caso. Já o Itaú lamentou e se desculpou pelos transtornos causados, mas a hashtag #ItauRacista espalhou-se por todas as redes sociais.

COMENTÁRIOS

2 respostas

  1. Aconteceu o mesmo com a minha irmã, também com a Gol

  2. Amigos de infância queriam que eu os visitasse no NE, eu não tinha condições na ocasião e eles compraram a passagem, eu nem imaginava que alguém poderia ser barrado por causa disso, não sofri problema algum por viajar com passagem comprada por terceiro. Foi a coisa mais normal do mundo. Mas, sou branca.

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