A 22ª Parada LGBTi se consolidou em São Paulo como um dos mais importantes eventos da metrópole, ocupando a região da Paulista.
Uma festa alegre com infraestrutura potente:
vários caminhões de som com pessoas desfilando, muita música, muitos shows, poucos discursos e uma multidão acompanhando o ato. Pessoas alegres, fantasiadas, vendedores ambulantes garantindo cerveja, refrigerantes, milho e churrasquinhos… LGBTIs à vontade, sem medo de expressar suas escolhas, carinho e amor por seus pares. Lamentavelmente para a sociedade, somente neste dia, neste momento, isto estava permitido. As estimativas apontam para a participação de 3 milhões de pessoas acompanhando a caminhada e o ato. Um caminhão com faixa de Lula Livre, falando sobre direitos e política.
A diversidade era imensa com participação da maioria jovens e havia espaço para pessoas de mais idade, brancos, negros, pardos, orientais. Algumas pessoas e grupos organizados, faixas, alguns cartazes e a iniciativa de “Flores pela Democracia: por Lula Livre, pelo respeito às diferenças e pelo direito à diversidade”.
Faço parte desse grupo “Flores pela Democracia…” na maioria mulheres beirando os 70 anos. Muitas histórias e lutas acumuladas, muita coisa vivida, disposição de lutar por aquilo que acreditamos. As Flores pela Democracia além da luta por direitos, representam a simbologia da flor como uma das formas do combate ao ódio e a intolerância que se disseminaram na sociedade nos últimos tempos.
No domingo dia 03, fomos prestar nossa solidariedade e dar nosso recado a esses segmentos muitas vezes excluídos, recriminados, agredidos, desrespeitados em sua maneira de viver, muitas vezes violentados, mutilados e assassinados.
Somos pequenos, no primeiro dia éramos 4, hoje somos em torno de 15. Estamos juntos e as iniciativas vão se ampliando e os grupos de resistência ao Golpe se somando, se diversificando, se enriquecendo. As Flores pela Democracia demonstram novos encontros, descobertas: Linhas de Sampa; Comitê de Coletivos pela Democracia – CCD; Resistência, Teatro e Ativistas; Paulista/Quarteirão da Saúde; Bloco Lula Livre…
Com estandarte, bandeira, bordado e muitas flores, montamos o nosso cantinho. Reações diversas: um casal de jovens nos ajudou a pendurar nosso estandarte, o rapaz alto “embora não concordasse com o Lula Livre, não podia recusar a ajuda a esse grupo de senhoras”. Durante a Parada e a distribuição das flores com filipetas e nossos dizeres, alguns verbalmente expressaram que o Lula deveria ficar preso “mofando na prisão por ter roubado”, outros se espantavam: “é de graça?”, muitos passavam e diziam “não, não, obrigado”, os que aceitavam agradeciam e “cuidavam da flor” com nossas mensagens e a semente que se espalhava pelo meio da multidão.
Na saída, carregando nosso estandarte, um rapaz nos fez algumas perguntas: Vocês não acham desrespeito este tema de política aqui neste espaço da PARADA LGBTi? O Lula há tempos atrás lá em Pernambuco falou mal dos gays, desqualificando. Eu desconhecia este fato, mas afirmei a ele que Lula foi um presidente que reconheceu os direitos dos LGBTis e desenvolveu políticas públicas garantindo o direito à diversidade. A política faz parte da vida e por defendermos o direito à liberdade de expressão estávamos lá pela democracia e por Lula Livre, isto fazia sentido sim.
Terminando o ato, sentimentos contraditórios vieram à tona: por um lado, sensação de ter feito uma coisa boa, de ter semeado flores na multidão, um grande começo…, por outro, o sentimento de que a jornada é longa, longa demais. Porque a Parada LGBTi consegue reunir milhões e milhões de pessoas e nós, do campo progressista, não conseguimos juntar estas mesmas pessoas com outros milhões de trabalhadores pobres, brancos e negros, jovens e velhos em Defesa dos Direitos Sociais, contra a Reforma Trabalhista, pelos Direitos Humanos, pela defesa da Petrobrás e de nossas riquezas, questões que vem atingindo a todos nós do povo brasileiro na jugular?
Findando o dia, no bar do Eduardo Gudin, fomos contemplados com um espetáculo poético musical de Vinicius – Poeta Social. Com a obra de Vinicius em canto e em versos (Jean Garfunkel , voz e violão e declamação de Roberto Ascar e Tin Urbinati) revivemos no “Operário em Construção”, a história e a memória de dias sombrios na década de 60 e os dilemas e desafios que hoje temos pela frente. Este espetáculo, além de todas as manifestações que vimos e participamos, reforçou a beleza e a importância da arte como parte e instrumento de luta.
Estamos aí!
http://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/o-operario-em-construcao