A truculência da direita se manifestou novamente nesse final de semana contra uma docente em Mato Grosso. Na antevéspera do dia dos professores, a Profa Lisanil Conceição Patrocínio Pereira, que leciona há 15 anos na Universidade Estadual de Mato Grosso – UNEMAT e já foi diretora de campus, subiu ao palco de uma igreja católica na cidade de Campos Júlio, interior do estado, para protestar contra a falta de música regional no bingo que ocorria no espaço. Militante histórica da esquerda no estado, Lisanil vestia uma camiseta com as inscrições Lute como uma Garota e Lula Livre. Incomodado pela manifestação, ainda que pacífica, o pároco local, conhecido como Frei Sojinha por seu apoio aos grandes produtores de soja da região, chamou a polícia que a tirou à força do local e a obrigou a dormir na cadeia. Nos dias seguintes, as principais entidades representativas dos professores de nível superior em Mato Grosso lançaram notas de apoio à docente e em repúdio à ação violenta das autoridades. Veja a seguir as duas notas na íntegra, com a descrição pormenorizada das ações tanto da docente como das forças policiais.
NESTE DIA D@S PROFESSOR@S, EXIGIMOS RESPEITO!
EM DEFESA DA PROFESSORA LISANIL C. PATROCÍNIO.
A Associação dos Docentes da Universidade do Estado de Mato Grosso – ADUNEMAT, Seção Sindical-SN, vem a público prestar apoio e solidariedade à professora Dra. Lisanil Conceição Patrocínio Pereira, professora da UNEMAT há mais de 15 anos, lotada no Campus de Juara. E, no mesmo ato, repudiar a truculência de policiais, populares e o pároco da igreja católica de Campos de Júlio, conhecido como Frei Sojinha.
No último domingo (13), a professora foi vítima da mais absurda violência física e moral, caracterizando violação de sua dignidade humana enquanto docente do ensino superior, trabalhadora, mãe, chefe de família.
Lisanil encontrava-se no município de Campus de Júlio, onde ministrava aulas na turma especial de Direito da UNEMAT, desde o dia 06 de outubro. Já em sua chegada para ministrar as aulas de economia política, foi recepcionada por estudantes que pesquisaram sua vida pelo facebook e, apresentaram animosidade em razão de sua orientação política de esquerda, conforme relatos de pessoas que conviveram com ela naquele curso.
Vestida com uma camiseta “Lute como uma Garota” e na lateral “Lula Livre” e, sem opção de um restaurante para almoçar, a professora acreditou que poderia ir a uma festa da Igreja Católica, no salão paroquial, onde estava boa parte da sociedade católica do lugar. Entretanto, foi abordada de forma ostensiva pelos presentes que comentavam e a olhavam com estranheza e desdém pelas marcas de sua orientação política, estampada na camiseta.
À certa altura da festa, a professora Lisanil subiu ao palco, num impulso de reivindicar músicas mato-grossenses. Como incomodou os organizadores da festa, o pároco (conhecido como Frei Sojinha por sua relação preferencial com os grandes produtores de grãos), resolveu chamar a polícia para que tirasse a professora do palco. Imediatamente, quase uma dezena de homens apareceu para deter a professora e levá-la a força para fora daquele lugar.
Com a truculência que é própria dos fascistas, a professora foi arrastada pelo palco e pela escada abaixo, ficando à mostra suas partes intimas. Deixada ao chão por um instante e, posteriormente, levada à delegacia algemada com mãos para trás do corpo.
Como se debatia muito, revoltada com a situação, foi levada ao hospital onde injetaram tranquilizantes que a fizeram ficar sem condições de ser ouvida pela delegada, obrigando-a passar a noite numa cela onde a fossa séptica aberta estava ao lado o fino colchão onde iria dormir.
Que crime a professora cometeu? Que periculosidade tinha uma mulher sozinha, desarmada e sem qualquer habilidade física para enfrentar os brutamontes que a atacaram? O que justificou tamanha violência senão o ódio às mulheres consideradas perigosas por serem autônomas e por terem posição política e a coragem de enfrentar um estado ainda patriarcal e violento?
A violência inaceitável contra a professora Lisanil é um crime de ódio que envolve um dirigente da igreja católica que incitou tal brutalidade contra a professora e, agentes do Estado que deveriam protegê-la. Além disso, foi testemunhado por uma plateia onde havia pessoas delirantes, fiéis de uma igreja, seguidores de um Frei que de amor e empatia nada sabe. Gritavam palavras de baixo calão contra a professora e filmavam tudo enquanto se deliciavam aos risos, com o horror que produziam.
A ADUNEMAT, sindicato ao qual a professora Lisanil é filiada desde que entrou para a UNEMAT, não se calará diante do fascismo crescente que avança no interior de Mato Grosso e em todo Brasil. Essas pessoas desconhecem qualquer sombra de civilidade, de respeito à diversidade e, por isso, não conseguem compreender o sentido de uma Universidade, constituída de múltiplos olhares e sentidos, de visões políticas e de mundo, todas necessárias e merecedoras de respeito e convivência pacífica. O risco que esses fascistas impõem à Universidade é sua destruição, pelo silenciamento, pela tentativa de destruir qualquer traço de autonomia de pensamento, de ideias, o ódio ao conhecimento e o elogio à ignorância e à brutalidade.
Da parte da ADUNEMAT, demos e daremos todo respaldo à professora e, exigimos que a UNEMAT, nas suas instâncias assuma uma postura diante dos fatos que vem ocorrendo. Este é o terceiro caso de professor/a ameaçado/a, agredido/a por sua posição política no interior de Mato Grosso. O ensino superior não pode se transformar num caso de polícia em Mato Grosso e, as instituições precisam atuar no sentido de coibirem práticas fascistas que querem não apenas intimidar como, também, aniquilar os corpos não docilizados dos/as professores/as.
À professora Lisanil, não apenas nossa solidariedade neste dia dos professores, mas a nossa luta contínua em defesa da Universidade e do direito dos professores à liberdade de pensamento, de cátedra e de modos de vida que lhe permitam exercer com amorosidade a profissão que escolheram. Que não permitamos que a crítica, base do trabalho intelectual, seja criminalizada por aqueles que cultivam o ódio e a ignorância.
Contem com a ADUNEMAT, nossa força e nossa voz.
Basta de violência, basta de opressão!
Que neste dia dos professores e das professoras, tenhamos ainda mais força para continuarmos a luta em defesa da educação.
A DIRETORIA DA ADUNEMAT
Cáceres, 15 de outubro de 2019.
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NOTA EM DEFESA DA PROFESSORA LISANIL C. PATROCÍNIO
A Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmat-Ssind) vem, por meio desta, manifestar solidariedade à professora Lisanil C. Patrocínio, docente da UNEMAT há 15 anos, que foi brutalmente contida e presa por manifestar sua posição política em uma festa da Igreja Católica de Campos de Júlio.
O sindicato manifesta, ainda, repúdio aos populares, policiais e ao pároco da Igreja de Campos de Júlio, conhecido como Frei Sojinha (devido a sua relação preferencial com os grandes produtores de grãos), pela truculência praticada contra a professora.
No dia 13 de outubro a docente foi a uma festa da paróquia vestida com uma camiseta em que estava escrito “Lute como uma Garota” e na lateral havia a insígnia “Lula Livre”.
A camiseta levou os presentes a hostilizarem a professora.
A certa altura da festa, a professora Lisanil subiu ao palco para reivindicar músicas mato-grossenses. Como incomodou os organizadores, Frei Sojinha resolveu chamar a polícia.
A partir do chamado do pároco, quase uma dezena de homens apareceu e, com a truculência que é própria dos fascistas, a professora foi arrastada pelo palco, escada abaixo, e levada à delegacia algemada com mãos para trás do corpo. Há vídeos fortes que retratam a terrível e absurda agressão à professora.
Como se debatia muito, revoltada com a situação, Lisanil foi levada ao hospital onde injetaram tranquilizantes que a fizeram ficar sem condições de ser ouvida pela delegada, obrigando-a passar a noite numa cela. Ali, ao lado do fino colchão no qual a professora passou a noite, havia uma fossa séptica aberta.
É inaceitável a postura do pároco, dos policiais e populares que cometeram contra a professora a mais absurda violência física e moral, caracterizando violação de direitos humanos, enquanto docente do ensino superior, trabalhadora e mulher. Nada justifica tanta agressividade.
Entendemos que tal postura reflete o ódio machista às mulheres, consideradas perigosas por serem autônomas, por terem posição política e a coragem de enfrentar um Estado ainda patriarcal e violento.
O episódio lamentável demonstra que, mais uma vez na história, o ódio fascista se alastra com maior facilidade entre aqueles que se dizem religiosos e “pessoas de bem”, já que a violência sofrida pela professora envolve um dirigente da igreja católica e foi testemunhada por uma plateia de fiéis da igreja que gritavam palavras de baixo calão contra a professora e filmavam tudo enquanto se deliciavam aos risos, com o horror da violência física e moral.
A Adufmat-Ssind reitera sua posição ao lado dos defensores da democracia e dos direitos humanos e jamais se calará diante do fascismo crescente que avança no Brasil e no mundo!
O ódio fascista é a antinomia da Universidade democrática, autônoma e popular que sonhamos construir. Esses fascistas impõem à Universidade a sua destruição, pelo silenciamento, pela tentativa de esfacelar qualquer traço de autonomia através do ódio ao conhecimento e do elogio à ignorância e à brutalidade.
O sindicato reitera sua preocupação, pois o ensino superior não pode se transformar num caso de polícia em Mato Grosso. As instituições precisam atuar no sentido de coibirem práticas fascistas que tentam não apenas intimidar como, também, aniquilar os corpos não docilizados dos/as professores/as.
O sindicato reitera também a solidariedade da categoria à professora Lisanil. A nossa luta continua em defesa da Universidade pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada, além do direito dos professores à liberdade de pensamento, de cátedra e de modos de vida!
A Diretoria
Cuiabá, 16 de outubro de 2019.
2 respostas
A cada dia que passa, vemos como a barbárie está instalada no povo brasileiro. E povo não é somente o pobre, preto e favelado mas sim, todos nós em nossas miseráveis classes sociais. É inacreditável ver como esse país se moveu para trás, em tão pouco tempo. Com a destruição da educação, do sentimento solidário e do respeito ao outro, a ação da sociedade dessa cidadela contra uma profissional do ensino nos dá a clara visão do renascimento da idéia do que prevalecia na idade média, onde a inquisição criou bruxas e bruxarias, que trocando em miudos, nada mais foi do que a aniquilação de pessoas possuidas de saber. Ao ler a história de Lisanil, onde a igreja católica puxou a agressão contra seu corpo e pensamento, vemos com muita clareza que entramos no tunel do tempo, de volta à escuridão onde a tortura para a maioria daquela sociedade, não passava de diversão. A fogueira hoje, está acesa nas mãos e nos rostos de toda aquela gente que fez uso do celular e assim, festejou a barbárie. Homens não pensaram em nada ao arrastar Lisanil brutalmente, os que lhe ministraram medicamento, não pensaram em absolutamente nada e a delegada, uma mulher, jogou numa masmorra imunda, uma PROFESSORA da ÁREA do DIREITO fazendo com que esse drama mais estarrecedor fique, também não pensou em nada. Todos praticaram crime e assim, como criminosos, devem ser punidos.
Boa noite. Estou vendo na mídia a repercussão do caso da professora da UNEMAT que foi retirada do palco de uma festa em homenagem a Nossa Senhora Aparecida em Campos de Júlio e percebo que a notícia está sendo bastante distorcida. Então, como cidadão campos-juliense e testemunha ocular do fato gostaria de dizer algumas coisas que os sites de notícias não estão divulgando:
Foi solicitado educadamente inúmeras vezes que a professora deixasse o palco e permitisse que o sorteio de prêmios continuasse havendo negação da docente;
O locutor solicitou que se houvesse algum amigo, conhecido ou parente dela no recinto ajudasse a convencê-la de descer do palco. Ninguém se manifestou;
A professora estava completamente transtornada, alterada, desequilibrada, visivelmente embriagada;
Ela já havia ameaçado processar a banda que animava o evento caso eles não tocassem músicas de Mato Grosso pois a banda estava tocando músicas gauchescas (provando mais uma vez sua embriagues).
Sendo assim a polícia civil, juntamente com a brigada militar, populares e posteriormente a polícia militar, zelando pela continuidade do evento e segurança de todos (inclusive dela mesma) retirou-a do evento encaminhando para o batalhão de polícia militar e como ela não se acalmou foi então encaminhada ao hospital.
Em nenhum momento foi constatado abuso de autoridade dos policiais e brigadistas bem como uso excessivo de força e truculência como estão divulgando por aí.
Como sabemos, a maior parte da mídia só conta um lado da história, o lado que lhe interessa. Cabe a nós pessoas de bem mostrar o outro lado!
Nelson Zuchi Neto, 16/10/2019.