Os Jornalistas Livres conversaram com o professor Lúcio Flávio de Almeida, do departamento de política da faculdade de ciências sociais da PUC-SP, sobre o mais recente ataque estadunidense sobre uma base militar do governo da Síria. Os EUA de Trump justificaram o ataque como uma resposta ao uso de armas químicas, cuja responsabilidade, em menos de uma semana e sem qualquer investigação séria, foi atribuída ao governo de Bashar al-Assad. Apenas a Rússia, aliada do governo Sírio denunciou a estranha pressa dos EUA em acusar Assad. China e Irã condenaram o ataque enquanto Inglaterra, França e Alemanha e Israel apoiaram.
Lucio Flavio traça um cenário da geopolítica mundial que nos ajuda a entender as incertezas do mundo, apontando diversas razões não explicadas pela grande mídia para o ataque, e levantando pontos importantes do aumento da tensão no mundo.
Síria, Rússia e Trump
Para o professor não haveria interesse em um ataque desse tipo por parte do governo Assad. Internamente o presidente sírio tem garantido vitória sobre as forças rebeldes e do Estado Islâmico, contendo ou recuperando territórios. Já no contexto internacional o governo sírio estava negociando um acordo de paz, desde o começo do ano – que andava a passos lentos, mas andava. O ataque químico, atingindo e matando muitas crianças tem um grande impacto sobre a opinião pública e não traria qualquer benefícios à Síria. Ao contrário, complicaria ainda mais a difícil situação do governo diante da ofensiva do EI e da pressão internacional. Ele ainda lembrou que em 2013 houve um acordo internacional para que o governo sírio entregasse as armas químicas, que foi respeitado.
Tudo isso levanta a suspeita de não haver sido o governo sírio o autor do ataque e sim as forças rebeldes (muitas vezes apoiadas com armas e dinheiro pelo próprio governo americano) para atribuir o ataque ao governo de Assad e minar as vitórias recentes do regime rumo à pacificação do país.
Para Trump, ao contrário, o ataque se traduz em um ganho político significativo. Ele sai fortalecido com a ataque. Internamente responde a quem o acusava de ser próximo do governo Russo (existe uma investigação federal nos EUA para averiguar a proximidade de Trump e o governo Russo durante as eleições presidências) e mostra a diferença entre sua política externa e a de seu antecessor, Obama, acusado por ele de ser pouco contundente com as ações do governo Assad. Além disso, unifica apoio de democratas e republicanos, que não criticaram ataque, e da opinião pública que sempre se unifica diante das guerras em que os EUA se mete. Além do amplo apoio internacional da maioria das grandes nações aliadas aos EUA .
China
O professor relembra também que com esse ataque os acordos internacionais para o pós guerra na Síria voltam à estaca zero, uma vez que os acordos de paz voltam a estar suspensos e com isso a China volta para a mesa de negociação.
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