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Educação

E a reforma do ensino médio?

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por Breno Ribeiro

A cinco dias do Natal, a página das Nações Unidas¹ anunciava o presente do Banco Mundial ao Brasil, 250 milhões de dólares como contrapartida para “auxiliar” o governo a implementar a reforma do ensino médio. Sufocados pelo debate da reforma da previdência, deixamos passar desapercebidamente mais um capítulo deste acordo de cúpulas que vêm transformando as estruturas do país. Neste trabalho, portanto, vamos abordar algumas nuances da reforma do ensino médio e da disputa no entorno do projeto de educação e de nação no qual ela se insere.

Embora o cenário político atual seja marcado por uma suposta polarização, ambas as forças políticas nacionais reverberam em seus discursos a defesa de uma educação de qualidade. A aparente disputa no interior do sistema educacional brasileiro, expressa, portanto, sobretudo, uma disputa pelo significado de qualidade atribuído ao processo educacional; tal disputa, que compreende, de forma mais incisiva, desde a expressão de setores progressistas referenciados em um modelo de educação laica, histórica e socialmente referenciada, até nichos conservadores, que se visibilizam através de projetos como escola “sem” partido, ganha recentemente novos capítulos que acentuam a educação através de um viés tecnicista, aprofundando o fosso educacional entre distintas classes sociais, a partir da adoção de reformas no sistema educacional, como a reforma do ensino médio.

Tais reformas se referenciam em padrões genéricos de aferição de qualidade estipulados por organizações internacionais, como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), e a nível nacional, tais como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), ambos referenciados, por sua vez, nas diretrizes de qualidade estipuladas pela Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Seguindo a corrente de pensamento Marxista clássico, que trata da configuração do ambiente escolar enquanto uma instituição voltada para a cristalização e reprodução do modelo sistêmico vigente, teremos algumas brechas de análise no que se refere às estratificações das perspectivas de construção de sujeitos, que se expressam de formas diferenciadas de acordo com o modelo de escola e o perfil socioeconômico; segundo Mariano Enguita(1989), em A Face Oculta da Escola, esta seleção se configura na seguinte forma:

Através da imersão sistêmica em algumas relações sociais educacionais isomorfas com as relações sociais de produção dominantes, a escola seleciona nos indivíduos que constituem seu público aqueles traços que mais convém a estas e, se não existem previamente de forma potencial, utiliza todos os recursos ao seu alcance para gerá-los. De certo modo, estes traços de personalidade podem ser considerados como o resultado da interação entre o indivíduo e seu ambiente, isto é, como produto da interiorização das relações sociais. (pág.187)

Levando em consideração as diferenças sociais, econômicas e culturais expressas nos públicos alvos dos diferentes modelos de escolas, privadas e públicas, ou mesmo no interior destes dois segmentos, e a forma como estas diferenças são abordadas e reforçadas, ou não, pelo ambiente escolar, nos dão possibilidade de avaliar os desafios educacionais, para conformação de educação de qualidade, muito além de uma questão meramente financeira e/ou avaliativa-produtivista. Inevitavelmente, estas disparidades no conjunto do ambiente escolar, que expressam exatamente todo o conjunto das estratificações sociais desejadas pelo sistema liberal, se resumem de forma matemática ao analisarmos os resultados de uma prova homogênea, aplicada de forma ampla nos diferentes estratos sociais, culturais, econômicos e nas diferentes regiões geográficas, sem levar em consideração as especificidades, peculiaridades e necessidades diferenciadas de cada uma delas.

A escola, portanto, por estar inserida em um modelo meritocrático de sociedade, cria suas bases de desigualdades nos processos seletivos, fundados nesta meritocracia, que não consideram as especificidades de cada aluno, os contextos diferenciados nos quais os diferentes tipos de estudantes estão inseridos, sejam eles sociais, culturais, etc. E instrumentalizam a prática docente ceifando-a de mecanismos de formação ampla, de subsistência adequada e da possibilidade de construção de pertencimento dos sujeitos em aprendizagem. No entanto, embora este já seja um mecanismo intrínseco ao sistema educacional, sua operacionalização está vulnerável às mudanças de contextos econômicos e políticos que ditam, em última instância, as prioridades de investimento no setor; os mecanismos gerenciais e, em grande medida as políticas de médio e longo prazo, daí as reformas educacionais em tramitação no país. Para MOTTA e FRIGOTTO(2017) essa reestruturação tem por objetivo – ao contrário do que anuncia oficialmente o governo – maximizar a formação da força de trabalho precarizada para os postos de trabalhos característicos de uma economia capitalista dependente – portanto, postos precarizados, de baixa complexidade – e se dirige de forma mais contundente às classes populares, por serem, dentre outros fatores, mais dependentes da rede pública de ensino.

Este processo de “moldagem” dos indivíduos aos processos sociais já antevê, em certa medida, uma outra camada seletiva interna, muito mais sutil que as avaliações e provões genéricos; Seguindo o raciocínio do interacionismo simbólico, que trata das microrrelações no ambiente escolar, podemos analisar as diferenciações na construção do modelo, ou tipo ideal de sujeitos requeridos e construídos na escola, e em qual perfil de estudante os processos seletivos meritocráticos encontram maior vasão e aceitação. Esses traços de diferenciação expressam-se, não mais, pura e simplesmente pelas aplicações de uma meritocracia formal dos modelos de exame, mas também pelo trato diário entre docentes e discentes, e/ou entre discentes e o conjunto dos trabalhadores em educação, como explicita Bourdieu(1998). Os adjetivos analisados pelo autor no capítulo As categorias do juízo professoral, dão conta de uma cristalização, muitas vezes inconsciente, dos discursos dos(das) docentes em relação aos estudantes, e como esses adjetivos se transfiguram na mesma medida em que se modificam as classes sociais e culturais de seus estudantes.

Tais objetos de análise microssociológica, que a longo prazo concorrem para a construção da subjetividade dos sujeitos, e para com as suas idealizações de futuro, determinam no inconsciente aqueles que cumprem os estereótipos de sucesso profissional, social e econômico; e aqueles que já são previamente classificados como postulantes a cargos e estratificações sociais “subalternos”. Em países como o Brasil (de capitalismo dependente, e de economia baseada em commodities), o incentivo à produção de mão de obra barata e com qualificação específica, torna ainda mais dramático esse quadro, na medida em que transferirá a “escolha” do segmento escolar – técnico-profissionalizante e/ou regular – para um período escolar ainda mais cedo, deixando esta escolha, muito provavelmente, ainda mais dependente das influências do ambiente escolar onde estes jovens estejam inseridos.

No entanto, obviamente, o caráter estrutural das reformas e medidas econômicas de restrição de investimentos públicos são muito mais decisivos para o processo de seleção educacional, é o que aponta, por exemplo, dossiê produzido por MOTTA e FRIGOTTO (ibid), para os quais medidas como a reforma do ensino médio visam, estruturalmente, interferir no que classifica como questão social, reorientando a perspectiva educacional das classes sociais mais baixas, e sedimentando uma inserção, no interior do próprio ensino médio formal, do direcionamento formativo para o preenchimento de postos de trabalhos condizentes com uma posição nacional de capitalismo dependente, que demandaria mão de obra qualificada em segmentos extremamente específicos e de baixa complexidade.

A ideia de investimento em capital humano como motor de desenvolvimento econômico é uma determinada concepção de formação humana nos restritos marcos das necessidades de mercado. Enfatiza os conhecimentos úteis que o estudante deve adquirir para impulsionar a produtividade dos setores econômicos, a fim de potencializar competitividade no mercado local e internacional, ou para criar condições de empregabilidade, isto é, desenvolver habilidades e competências que potencializem a inserção do indivíduo no mercado de trabalho […] No caso brasileiro, no período nacionaldesenvolvimentista, difundia-se a necessidade de investir no capital humano articulado ao projeto de modernização da nação, como mecanismo de avançar etapas de desenvolvimento econômico e social; no atual ciclo de globalização neoliberal, justifica-se pelo aumento da competitividade no mercado internacional e para gerar condições de empregabilidade.(MOTTA e FRIGOTTO (ibid))

Os autores buscam dialogar e confrontar os argumentos de um setor específico da intelectualidade, que busca fundamentação científica para o alargamento das reformulações e controle do processo educacional em uma suposta correlação entre aumento do PIB e nível de escolaridade, é o que propõe o economista norte-americano Eric Hanushek. No entanto, embora suas argumentações demonstrem uma suposta intencionalidade em expansão educacional, esta se restringe a um modelo atrofiado de difusão e compartilhamento de saberes, não se funda nem tem por objetivo propiciar aos sujeitos, objetos deste ensino, ferramentas para leitura de mundo.

Essa visão ganha eco no cenário nacional. Em artigo publicado em maio deste ano, a colunista do jornal Folha de São Paulo, Érica Fraga,² defende uma reformulação educacional baseada nos pressupostos defendidos por Hanushek, e por organizações como o Todos pela educação – movimento que congrega setores estratégicos da burguesia nacional em torno da disputa pelo projeto nacional de educação –, e que podem ser claramente identificados como propulsores das reformas, tais como a medida provisória nº 746/2016, transformada na Lei nº 13.415/2017, popularmente conhecida como reforma do ensino médio.

Por fim, como cereja do bolo, no dia vinte de dezembro de 2017, a página das Nações Unidas anunciou em matéria o investimento de 250 milhões de dólares como parte do “primeiro programa para resultados do Banco Mundial em parceria com o governo do Brasil” como contrapartida pela implementação da reforma do ensino médio. Na matéria, corroborando com a análise empreendida aqui, destaca-se como objetivos: “promover a diversificação do currículo e o desenvolvimento de competências chaves[…]” para que se garanta a “maior produtividade em prol do desenvolvimento sustentável”. Conclui-se, portanto, que a reforma é estrutural e atende prontamente à concepção estratégica de país que vêm sendo implementada, mais incisivamente, após o golpe parlamentar, mas, principalmente, atinge o futuro de milhões de brasileiros que já nascem, e continuarão a nascer mais ainda, com os grilhões, mordaças e a marca do brasão de nossa elite financeira escravocrata e eternamente colonizada

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Notas

1 Esse texto foi publicado originalmente em https://potlatchbrasil.blogspot.com.br

2 Breno Ribeiro é cientista social pela UFRJ e mestrando pela UFF

 

Referências Bibliográficas

ENGUITA. Mariano F. A face oculta da escola: educação e trabalho no capitalismo. Ed. Artes médicas. Porto Alegre, 1989.
MOTTA, Vânia C. FRIGOTTO, Gaudêncio. O por quê da urgência da reforma do ensino médio? Medida provisória nº 746/2016 (LEI Nº 13.415/2017). Educação & Sociedade, v.38,n.139. (2017)
BOURDIEU, Pierre. Escritos em Educação. NOGUEIRA, Maria Alice; CATANI, Afrânio.(Orgs). Petrópolis- RJ. Ed. Vozes, 1998.
¹ Disponível em: <https://nacoesunidas.org/banco-mundial-liberara-us-250-mi-para-brasil-fazer-reforma-do-ensino-medio/> acesso em 20 de dez. 2017.
² Disponível em:<http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ericafraga/2017/05/1882657-educacao-de-qualidade-e-crescimento-economico-na-veia.shtml> acesso em 17 jun. 2017.

 

Educação

Há dois meses, uma escola e seus sonhos foram ao chão

Documentário conta a história da Escola Popular Eduardo Galeano

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Por Lucas Bois e Raquel Baster*

A escola popular Eduardo Galeano foi o primeiro local a ser destruído durante despejo violento que começou no dia 12 de agosto deste ano, pela Polícia Militar, e que se seguiu por três dias, no acampamento quilombo Campo Grande, município de Campo do Meio, em Minas Gerais. Após dois meses do despejo, é lançado o curta documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” com depoimentos de educandos, educadores e representantes do setor de educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sobre a situação atual do acampamento.

“Ser analfabeto é a gente ficar no escuro e uma pessoa no escuro, ela não é ninguém”. Essa frase dita no documentário por Adão Assis Reis, explica a importância do acesso à educação contextualizada para alcançar a luz do conhecimento. Aos 59 anos, ele se mostra pronto para voltar à sala de aula assim que a escola for reconstruída. Muitos outros trabalhadores e trabalhadoras rurais poderiam ter a chance de seu Adão, mas os dados vem demonstrando o contrário. Um levantamento de dados do Censo Escolar de 2019, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), sobre o número de estabelecimentos de ensino na Educação Básica apontou que, entre 1997 e 2018, foram fechadas quase 80 mil escolas no campo brasileiro. A Escola Popular Eduardo Galeano entra para a estatística não só como mais uma, mas como exemplo de uma política de fechamento de escolas do campo que acontece há anos no país. 

Desenho de uma criança do acampamento Quilombo Campo Grande, ao relembrar o dia do despejo e derrubada da Escola Eduardo Galeano. Frame do documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” (2020).

O MST chegou a lançar uma campanha de denúncia em 2011, intitulada “Fechar escola é crime”. E em 2014 foi aprovada a lei (12.960/2013) que obrigou a realização de consulta às comunidades antes do fechamento de escolas do campo, indígenas e quilombolas. Mas parece que não surtiu muito efeito. A própria escola Eduardo Galeano foi fechada pelo governo de Minas Gerais no início de 2019, logo após outra tentativa de desejo no assentamento quilombo Campo Grande em 2018 e reaberta pela resistência do Movimento. “Quando começou o governo de Romeu Zema (Novo) nós recebemos a triste notícia que a Escola seria fechada. E a justificativa era poucos educandos. Eram duas salas aonde chegamos a ter 75 pessoas matriculadas. E, na maioria das vezes, nós mesmos que mantivemos a escola funcionando com nossos recursos porque mesmo sendo uma escola reconhecida, não era garantida pelo Estado”, explica Michelle Capuchinho do setor de Formação do MST.  

Ciranda das crianças do acampamento Quilombo Campo Grande, Campo do Meio (MG).
Frame do documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” (2020).

O curta documentário descreve como o despejo e a destruição da Escola impacta diretamente inúmeras famílias, sobretudo crianças e adolescentes. Isso somado a um período onde o isolamento social e medidas de proteção à saúde deveriam ser prerrogativas à gestão estadual no enfrentamento à Covid-19. O MST alega que o despejo foi feito de forma ilegal, já que o processo judicial abrangia 26 hectares inicialmente e depois, sem justificativa e transparência das informações, foi ampliada para 53 hectares no último despacho da Vara Agrária que culminou no despejo de 14 famílias. Cerca de 450 famílias permanecem na área da usina falida Ariadnópolis, da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia), que encerrou as atividades em 1996.

O filme completo está disponível no YouTube: https://youtu.be/iT1kP7jTO0E

Ficha técnica
Curta-documentário: “Sonhos no chão, sementes da educação”
Imagens e edição: Lucas Bois
Roteiro: Raquel Baster e Lucas Bois
Duração: 22 minutos
Ano: 2020

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Educação

Volta às aulas é proibida pela Justiça em Colégio Militar de Belo Horizonte

Funcionários e inúmeros pais de alunos são contrários à retomada das aulas na instituição do Exército

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Aloísio Morais

A Justiça Federal deu um chega-pra-lá nos militares do Colégio Militar de Belo Horizonte e proibiu o retorno às aulas presenciais a partir da próxima segunda-feira, 21, a exemplo do que outras instituições do Exército pretendem fazer no país. A instituição tem cerca de 750 alunos, 42% do sexo feminino. Dezenas de pais de alunos são contrários à volta às aulas, mesmo com uma série de protocolos a serem adotados. Durante a ditadura, as instalações da escola abrigaram presos políticos, que foram vítimas de tortura no local.

A retomada das atividades escolares na unidade do Exército provocou discussões tanto na Prefeitura de Belo Horizonte quanto no Ministério Público Federal e, como medida de segurança, o Sindicato dos Trabalhadores Ativos, Aposentados e Pensionistas do Serviço Público Federal (Sindsep-MG) entrou na Justiça com um pedido em tutela de urgência para continuidade do regime remoto de aulas, o que foi acatado com a fixação de uma multa de R$ 5 mil por dia, caso ocorra descumprimento da determinação.

Colégio do bairro Pampulha foi usado para abrigar presos políticos durante a ditadura

Sem prejuízo

Na quarta-feira, 16, a direção do Colégio Militar encaminhou às famílias um comunicado informando sobre o retorno obrigatório às aulas na unidade, exceto para os alunos que comprovassem pertencer a grupos de risco para o novo coronavírus. Porém, para o sindicato, o retorno não é necessário, uma vez que os alunos não estariam sendo prejudicados pelo sistema de aulas on-line. Pela avaliação dos professores, os estudantes estão respondendo bem às aulas.

“Nós estamos conversando com os professores há mais de um mês, logo que eles perceberam que seriam convocados para um planejamento presencial das atividades e que incluía desde então o retorno às aulas na própria escola. Nós entendemos que não é necessário um retorno presencial quando tudo pode ser feito remotamente. Sabemos que a cidade está em processo de reabertura, mas achamos que não há necessidade de colocar mais pessoas nos ônibus e nas ruas se os alunos estão respondendo bem às aulas remotas. As aulas estão tendo qualidade”, ressaltou a diretora do Sindicato, Jussara Griffo, ao jornal O Tempo.

Segundo Jussara, o Colégio Militar tinha determinado que retornariam apenas aqueles funcionários que não compõem grupos de risco para a pandemia do novo coronavírus, mantendo em regime remoto, portanto, aqueles com idades superiores a 60 anos e portadores de comorbidades. “Se algumas pessoas permaneceriam em casa, entendemos que o trabalho pode ser mantido remotamente, então não há necessidade de retornar também os outros. Para quê colocar alunos em risco, famílias e professores? Se os alunos estão respondendo bem às aulas remotas, podemos mantê-las”, declarou.

O comunicado feito pelo colégio indicava que haveria um revezamento entre turmas e a adoção de medidas sanitárias relacionadas à Covid-19 para garantir a segurança de estudantes, funcionários e familiares. O retorno contradiz as políticas municipal e estadual que ainda mantêm as aulas suspensas nas redes pública e particular de Minas Gerais. Autoridades da Prefeitura de Belo Horizonte declararam nessa sexta-feira, 18, que poderia procurar a Justiça para pedir a proibição da retomada do ano na unidade militar. Em uma mesma direção, o Ministério Público Federal determinou que o diretor do colégio, o coronel Marco José dos Santos, explicasse à Justiça com um prazo máximo de 24 horas quais estudos técnicos e protocolos de segurança justificariam o retorno às aulas presenciais.

Barbacena


Desde o dia 26 de maio mais de 200 alunos da Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epcar) em Barbacena, no Campo das Vertentes, em Minas, testaram positivo para Covid-19. No dia 22 de junho, o Ministério Público Federal emitiu recomendação ao diretor de Ensino da Aeronáutica, major-brigadeiro do Ar Marcos Vinícius Rezende Murad, e ao comandante da Escola Preparatória de Cadetes do Ar, brigadeiro do Ar Paulo Ricardo da Silva Mendes, para suspender imediatamente todas as aulas e demais atividades acadêmicas presenciais.
A Epcar é uma escola de ensino militar sediada em Barbacena que admite alunos de idade entre 14 e 18 anos por meio de concurso público. No local, estudantes de várias cidades de todo o Brasil vivem em regime de internato e, por isso, dormem em alojamentos e têm aulas em horário integral.

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Cotas

Única vereadora preta de Natal celebra cota do fundo eleitoral para candidaturas negras

Divaneide Basílio (PT) acredita que a decisão do Tribunal Superior de Eleitoral, que determina distribuição proporcional do fundo eleitoral e partidário para candidaturas negras vai incentivar a participação de mais negros e negras na política

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Da agência Saiba Mais

O Tribunal Superior Eleitoral determinou que a partir de 2022 os fundos partidário e eleitoral terão que ser usados de forma proporcional para as candidaturas negras. A decisão é estendida também para o uso do tempo no rádio e na TV das campanhas.

O posicionamento do TSE é fruto de uma consulta feita pela deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), que solicitou a destinação de 50% da verba para candidaturas negras, uma vez que conforme dados do IBGE o Brasil tem 55% da população nesse recorte.

A medida foi anunciada pelo presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, e tem a intenção de reduzir o desequilíbrio na participação eleitoral e no financiamento de campanhas das candidaturas de negras e negros. Essa deliberação se soma à determinação de 2018, que obriga o repasse de percentual fixo de 30% do fundo eleitoral para candidaturas de mulheres.

A subrepresentação das mulheres nos espaços de poder do Brasil, e em especial das mulheres pretas, é uma realidade. As mulheres são 51% da população brasileira, mas governam apenas 12% das prefeituras. Já as mulheres pretas administram apenas 3% dos municípios mesmo representando um contingente de 27% da sociedade.

E mesmo as cidades governadas por mulheres são proporcionalmente menores do que aquelas que contam com homens na chefia do Executivo. Apenas 7% da população no país moram em municípios administrados por mulheres, brancas ou pretas. Do total de prefeituras governadas por mulheres, 91% são de municípios com até 50 mil habitantes

Os dados estão disponíveis para consulta pública e foram divulgados pelo Instituto Alzira, organização que desenvolve ferramentas para contribuir com o aumento na participação das mulheres na política.

O parlamento de Natal é um exemplo desse desequilíbrio e subrepresentação. Das 28 cadeiras, apenas uma é ocupada por uma mulher preta. Não bastasse ser a única, a cientista social Divaneide Basílio (PT) também é a primeira vereadora negra da história da Câmara Municipal de Natal.

Para ela, a decisão do TSE deve garantir maior representatividade nos parlamentos:

– Acompanhamos com lupa esse debate, esse tema é algo para nós muito significativo porque vai garantir a ampliação da representatividade. Uma parlamentar como a Benedita da Silva (PT-RJ) provocando esse debate só reforça que a representatividade importa e que nós podemos disputar em condições de igualdade. Porque essa é uma pauta de todo o país. Eu sou a única negra em Natal, mas na maioria dos estados também é assim”, destaca.

Divaneide comemora e compara a decisão do TSE válida para 2022 com a obrigatoriedade do repasse de 30% para as candidaturas femininas.

– O processo, apesar de lento, já representa para as mulheres um avanço. Uma mudança de postura, com isso mais mulheres estão percebendo que poderiam se candidatar, tem melhores condições pra isso. Não é fácil conciliar a vida doméstica com o trabalho. E é uma mudança que nós, no PT, já iniciamos com o projeto Elas por Elas, garantindo formação. Lançamos esse projeto dm 2018 e hoje já é uma realidade e tem ajudado a nos fortalecer. No Rio Grande do Norte o Elas por Elas ajudou na capacitação das mulheres, contribuiu com o planejamento da campanha e aumento o nível de debate”, disse.

Além da questão financeira, a parlamentar que tentará a reeleição em 2020 acredita que a decisão do TSE estimula o envolvimento da população negra do debate político. O próprio Instituto Alzira reconheceu o avanço já notado em 2018 embora a subrepresentação seja latente.

Divaneide não acredita que haverá uma disputa por mais espaço entre candidatos negros e candidatas negras. A pauta antirracista, segundo ela, vai unir o candidatos.

– Vai ser bom pra todo povo negro. A pauta antirracista é de todo mundo, negro e negra. Nós mulheres negras estamos fazendo um debate para aprimorar o gênero de classe e raça. Vamos fazer um Elas por Elas com recorte de mulheres negras. Essas interfaces não são para colocar um grupo em superioridade, mas para mostrar que aquele grupo representa mais de uma identidade”,

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