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Meio Ambiente

Domingo no Parque e a floresta ao redor

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por Jorge Eduardo Dantas e fotos de Junior Moraes/Mídia NINJA, de Manaus, especial para os  Jornalistas Livres

Na véspera da semana em que iniciou a COP 21, conferência pelo clima em Paris, várias cidades do mundo realizaram a Mobilização Mundial pelo Clima. Em Manaus, centenas de pessoas reuniram-se, no domingo,29, no Parque dos Bilhares, para a atividade que teve como objetivo chamar a atenção das autoridades e da sociedade para a questão das mudanças climáticas e seus prejuízos ambientais, sociais e econômicos.

Em várias cidades, ela tomou a forma de uma marcha. Em Manaus, virou uma grande ocupação cultural que reuniu diversas formas de manifestações artísticas, culturais e esportivas.

A mobilização iniciou por volta das 17h, no anfiteatro do Parque dos Bilhares. O público era formado por muitos iniciados nas questões ambientais mas não é possível dizer que era homogêneo.

Teve o pessoal do Greenpeace distribuindo panfletos, colhendo assinaturas para sua campanha do desmatamento zero, e promovendo jogos e brincadeiras.

A estudante Evelyn Castro, do grupo local de voluntários do Greenpeace, foi uma das organizadoras. Ela contou que, para viabilizar o evento, levou cerca de dois meses entre as reuniões iniciais até o evento propriamente dito. “Percebemos que a Amazônia é um tema central para a COP 21 e que aqui, dentro da região, a gente fala pouco de Mudanças Climáticas. Falta mobilização, falta informação e por isso achamos importante espalhar essa mensagem. Nossa vontade é que ocorram mais eventos assim”, explicou a estudante.

Teve barraca arrecadando doações para os mineiros prejudicados pelo rompimento da barragem em Mariana (MG).

Teve feira vegana, com uma comentadíssima coxinha de jaca (!).

Teve palestra com representantes do Ministério Público Federal, do Pedala Manaus e do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam).

No Amazonas, assim como no resto do País, o movimento ambientalista enfrenta desafios gigantescos, que têm dificultado bastante a adoção de políticas públicas efetivas que promovam a conservação dos recursos naturais. A situação não é muito melhor no que diz respeito à mitigação de impactos e aos prejuízos causados pelas mudanças climáticas.

No início do ano, o Governo do Estado promoveu uma reforma administrativa que reduziu em 88% os recursos para a pasta que cuidava do meio ambiente. A antiga Secretaria de Estado de Desenvolvimento Sustentável (SDS) foi “desidratada”, com diminuição de cargos, de atividades, de projetos; e virou Secretaria do Meio Ambiente (Sema). Instâncias importantes como o Centro Estadual de Unidades de Conservação (CEUC) e o Centro Estadual de Mudanças Climáticas (Ceclima), que buscava viabilizar políticas públicas para o clima, foram extintos.

A extinção da Secretaria de Ciência e Tecnologia (Secti) causou comoção nas redes sociais e no meio acadêmico — mas as manifestações de repúdio, inclusive de entidades notórias como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), não foram suficientes para que o governador José Melo (PROS) revertesse sua decisão.

Teve uma molecada enorme, que foi para ouvir os músicos do Pirão AM, movimento cultural local que ficou responsável pela programação musical.

Teve bebês correndo, teve famílias passeando, teve casaizinhos namorando e grupinhos de amigos andando de skate para lá e para cá.

Um dos participantes da mobilização, o articulador do Engajamundo Gabriel de Souza Leitão, acha importante trazer para a sociedade amazonense a discussão sobre mudanças climáticas. “Para muita gente, ‘desenvolvimento urbano’ é derrubar tudo. Não existe preocupação com a vegetação, com a água, com a qualidade de vida, com a floresta. Precisamos mudar isso”, afirmou o rapaz.

Ele acredita que as pessoas precisam debater este assunto, assim como se empoderar e começar a adotar novas ações em seu cotidiano. “As pequenas ações tem poder para resolver e ajudar”, disse.

Teve gente do PSOL distribuindo panfletos (“O sistema tem que mudar, não o clima!”, dizia o título do impresso).

Teve designer de moda chorando no microfone porque o Governo do Estado desmatou uma área enorme, para construir um conjunto habitacional, numa área imprópria.

Decisões como a do governo do Estado têm consequências — semana passada o Ministério do Meio Ambiente (MMA) anunciou que, de 2014 para 2015, o desmatamento da Amazônia aumentou em 16%. No Amazonas, esse aumento foi de 54%, principalmente no Sul do Estado, em Lábrea, Apuí e Boca do Acre. Apuí, inclusive, corre o sério risco de entrar na “lista negra” do desmatamento — e sofrer sanções econômicas até que reduza seus índices de desflorestamento.

Na capital Manaus, não há registros de que o prefeito Arthur Virgílio (PSDB) tenha políticas públicas, específicas e claras, voltadas para as mudanças climáticas.

Não que o Amazonas não esteja sofrendo — em 2005, uma seca de grandes proporções tomou todo o Estado de surpresa, causando prejuízos sociais, ambientais e econômicos. Em 2009, por outro lado, foi registrada a maior cheia dos últimos 100 anos, causando perplexidade na população local. Como se não fosse o suficiente, em 2012 outra grande cheia ocorreu, ultrapassando a de 2009 como “a maior do século” e causando uma nova leva de prejuízos.

Para o futuro, a estimativa é que a Amazônia fique mais quente, seca e que tenha sua quantidade de chuvas reduzida. Os idosos serão o segmento populacional mais afetado por esses problemas.

Sauim-de-Coleira

A Mobilização pelo Clima deu espaço também para temas mais locais: estiveram no Parque cientistas ligados ao Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação do Sauim de Coleira. Eles falaram sobre a preservação do primata, que é uma espécie endêmica e símbolo de Manaus.

“Precisamos criar unidades de conservação para proteger o Sauim. Sem ações efetivas, esse animal estará extinto em 50 ou 60 anos”, contou a bióloga Dayse Campista, uma das responsáveis pelo Plano. Ela disse ainda que é preciso criar, em Manaus, um sentimento que possa ajudar as pessoas a lutar pela manutenção da vida do macaquinho.

“As pessoas não valorizam e não amam o Sauim. Precisamos lembrar as pessoas que este é um animal nosso, que é um patrimônio que não existe em nenhum lugar do mundo e que cuidar do seu habitat é cuidar do nossohabitat. Se ele tiver qualidade de vida, nós também teremos, com certeza”, explicou a pesquisadora.

A bióloga, cientista, professora e membro do Movimento Ficha Verde, Rita Mesquita afirmou que levar a discussão sobre mudanças climáticas “para a rua” é sempre interessante.

“Temos que tirar este assunto do ambiente acadêmico, do ambiente político. Para engajar a juventude, ele precisa ser misturado com a arte, a cultura, o esporte. Isso é muito bacana”.

Rita disse também que os amazonenses precisam ter uma compreensão maior de seu papel na discussão sobre clima. “A Amazônia possui um papel central nessa conversa. E é um patrimônio nosso, é o que a gente coloca na mesa e com o que a gente negocia”, contou.

Teve algo que está presente nas conversas do manauara pelo menos desde setembro: a preocupação com as nuvens de queimada que tomam toda a capital no período da seca.

Para a advogada especialista em direito ambiental Luciana Valente, os amazonenses ainda não têm uma ideia muito clara do que são as mudanças climáticas. “Esse aumento de 2º C na temperatura global é um grande perigo para a humanidade. É gravíssimo, aumenta o nível dos oceanos, aumenta a fome no mundo, aumenta a desigualdade entre os povos”, disse.

Luciana, que também é uma das fundadoras da REDE Sustentabilidade no Amazonas, declarou ainda que movimentos como a Mobilização Mundial pelo Clima são importantes por mostrar que ao menos parte da sociedade está atenta para este assunto. “A discussão sobre clima começou há 20 anos, mas não tivemos até agora ações contundentes e efetivas sobre esse tema. E os governos não vão se sensibilizar sem pressão popular”, afirmou.

A advogada contou que, mesmo num momento de crise econômica, é preciso “sair da letargia” e perceber que os temas e assuntos estão todos interligados. “As mudanças climáticas são um fenômeno que afeta a todos, todo mundo sofre. Estamos numa época de chuvas sem chuvas, você percebeu? Isso é grave”, declarou.

Nem todo mundo percebe, e muitos ainda fingem que a questão não é importante, mas teve sim pessoas preocupadas com o meio ambiente em Manaus para além do marketing governamental e do lobby econômico que sustenta o modelo Zona Franca como preservador da floresta. E se reclamar vai ter mais!

Meio Ambiente

Vale S.A. nada fez após cinco anos do crime em Mariana

Passados mais de 1.800 dias, a impunidade prevalece e quase nada foi feito em favor da população atingida e do meio ambiente

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Há exatamente cinco anos acontecia o rompimento da barragem do Fundão em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, MG, levando 20 vidas, destruindo a vila e jogando toneladas de lama de minério no oceano ao acabar com a vida ao longo do Rio Doce em Minas e no Espírito Santo. A barragem da Vale S.A. e BHP Billiton, mas operada pela mineradora Samarco, rompeu-se na tarde do dia 5 de novembro de 2015.

Durante todo esse período, mais de 1.800 dias, os responsáveis pelo crime não foram julgados. Em 2019, o crime de homicídio foi retirado do processo. As mortes provocadas pelo rompimento da barragem foram consideradas pela Justiça como simples consequência da inundação causada pelo rompimento, prevalecendo a impunidade. De lá para cá, as comunidades destruídas não foram reconstruídas e não há respostas para a recuperação do meio ambiente e para moradores, que passaram a sofrer de depressão e outras doenças.

Foto de Aloísio Morais

“Tudo está por fazer”. Esta é a conclusão da chefe da Força-Tarefa Rio Doce, Silmara Goulart, procuradora do Ministério Público Federal (MPF), sobre o crime cometido pelas empresas Vale S.A., BHP Billiton e Samarco. “A sensação, olhando cinco anos de desastre, é de consternação e profunda tristeza com a desolação, tudo ainda está por fazer”, conclui Silmara. “Nenhum grupo de atingidos foi integralmente indenizado, o meio ambiente também não foi integralmente recuperado e sequer o distrito de Bento Rodrigues foi reconstruído”, afirmou.

Além disso, um outro bom exemplo que ela aponta é o auxílio emergencial pago aos atingidos, que foi suspenso em plena pandemia. A procuradora ressalta também o fato do caso envolver duas empresas que estão entre as mais ricas do mundo, a Vale e a BHP Billiton, controladoras da Samarco, que atua em Mariana. “Antes do desastre, elas preferiram economizar para não reparar a barragem que estava em risco. Agora, os mesmos responsáveis preferem brigar para economizar centavos às custas da dignidade humana. Nós, do MPF e instituições parceiras, tentamos todas as estratégias possíveis, pedimos recomendações, recorremos de decisões, mas os resultados são frustrantes”, disse Silmara durante entrevista coletiva.

Na zona rural de Barra Longa as casas e imóveis das comunidades foram parcialmente encobertas pela lama que chegou pelo rio Gualaxo do Norte. Foto de Tânia Rego/ABR

Na ocasião, MPF, Ministério Público de Minas Gerais e Defensoria Pública de Minas Gerais e do Espírito Santo criticaram a  Fundação Renova, criada pelas mineradoras para reparar os danos ambientais e sociais, pelo descumprimento de acordos feitos ainda em 2016, como a criação das câmaras técnicas para assessorar os atingidos. Apenas cinco das 23 câmaras foram contratadas até agora. “Brumadinho (na Grande Belo Horizonte, onde outra barragem se rompeu há quase dois anos) tem assessoria técnica, embora a Vale lute contra. Lá temos avanços incríveis que, infelizmente, não temos em Mariana, onde o desastre é mais antigo”, apontou o promotor André Sperling.

As instituições criticam também a atuação da 12ª Vara da Justiça Federal por decisões recentes envolvendo a tragédia de Mariana. “A diferença principal (entre a reparação em Brumadinho e Mariana), além da experiência acumulada de um caso para o outro, é a atuação do Judiciário Estadual, que foi bem superior em comparação com o Judiciário Federal”, completou Sperling.

Ilustração de Vilé

O procurador Edilson Vitorelli, do MPF, lembrou que, no meio deste ano, o órgão ficou sabendo pela imprensa que corria na Justiça um processo de reparação de dano que não constava no processo coletivo. “Começamos a fazer pesquisa e descobrimos que a Justiça Federal de Belo Horizonte admitiu a instauração de 13 processos desmembrados do nosso processo federal, os quais não eram conhecidos de nenhumas das instituições da força-tarefa. Desses 13 processos, além do MPF não ter sido intimado, nove foram mantidos em segredo de Justiça. Nem que se tentasse pesquisar não seria viável localizá-los. Quem faz coisa certa não faz escondido. Se fosse coisa boa para os atingidos não seria feito de forma oculta”, afirmou Vitorelli.

A Fundação Renova, administrada por Samarco, Vale e BHP Billiton, informou que os novos processos indenizatórios, de adesão facultativa, foram implementados a partir de decisão da 12ª Vara Federal, após petições apresentadas pelas Comissões de Atingidos de Baixo Guandu (ES) e Naque, no Vale do Aço. “O papel da Fundação Renova é executar o que está definido pela sentença judicial”, justificou.

Até setembro, segundo a Renova, foram destinados R$ 10,1 bilhões para as ações de recuperação e compensação. Até 31 de agosto, cerca de R$ 2,6 bilhões foram pagos em indenizações e auxílios para cerca de 321 mil pessoas.

Ilustração de Janete

Nota do MAB

A propósito dos cinco anos do crime da Vale S.A. em Mariana, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) divulgou a seguinte nota:

Nós, atingidos e atingidas de toda a bacia do Rio Doce e litoral capixaba, somos pescadores e pescadoras tradicionais do rio, do mar e do mangue, marisqueiras. Somos trabalhadores da cadeia de apoio da pesca, comerciantes, pousadeiros e surfistas. Somos ribeirinhos e agricultores familiares e artesãs. Somos povos tradicionais, indígenas e quilombolas, assentados da reforma agrária, moradores das comunidades atingidas. Nós somos homens e mulheres, idosos e crianças que tivemos nossos sonhos e projetos de vida interrompidos há cinco anos, pelo crime das mineradoras Vale, Samarco e BHP.

Estamos hoje, dia 5 de novembro de 2020, em Regência (ES), reunidos na foz do rio Doce, para dizer às empresas criminosas: Nossas vidas não têm preço! Não daremos quitação geral as empresas! Não estamos quites deste crime!

Não tivemos de volta nossas vidas, nosso rio, nosso trabalho, nossa renda, nosso lazer, nossa autonomia, nossos sonhos, nem sequer as nossas casas foram concluídas em Mariana e Barra longa, nos três reassentamentos propostos. Somos seres humanos e não mercadoria, não estamos a venda, sem reparação não haverá quitação.

Temos direito a ter voz e vez nas decisões. Estamos cansados de ter nossos destinos colocados à mercê de empresas, políticos e juízes, poderosos e donos desse sistema, que rouba nossos direitos à luz do dia sem nenhum pudor, e nos afundam cada vez mais nessa lama tóxica de interesses privados.

Nossos saberes tradicionais e populares, o nosso conhecimento acumulado por meio de gerações sobre nossos territórios e nossos modos de vida deve ser levado em conta. Já estávamos nos territórios antes da lama chegar. Estaremos aqui, e a nossa descendência estará por gerações nos mesmos territórios, mesmo após a Fundação Renova e os governantes que hoje estão à frente da reparação.

Não permitiremos mais que as nossas vidas sejam resolvidas entre quatro paredes pelas criminosas e seus cúmplices. A solução do problema vira de nós, atingidos e atingidas, povo unido e organizado.

A verdadeira participação popular virá das ruas, das praias, das escolas, das beiradas de rios e mangues, das vilas e das comunidades atingidas. Virá do povo atingido, em seu espaço de vivência, de afeto e de luta.

E, por fim, não abriremos mão de nossa saúde e bem-estar. Além das 19 vidas e do aborto em Bento Rodrigues, muitas outras vidas foram perdidas nesses cinco anos. Vidas que se foram, e vidas que nunca mais serão as mesmas.

Queremos de volta nossa água, nosso rio, nossas praias, nosso lazer e nosso alimento. Aqui está o povo que sempre trabalhou duro para ter o que comer, e sempre produziu alimento saudável para as nossas famílias e comunidades.

Não pedimos para ser atingidos por esse crime, mas agora que fomos, seremos de cabeça erguida e com a certeza de que estamos do lado certo da história. É hora de o Brasil dar um basta a essas empresas que se orgulham de recordes seguidos de lucro – enquanto negam ao povo humilde a justa reparação aos danos causados aos nossos territórios, aos nossos corpos e as nossas vidas.

Vale, Samarco e BHP, se preparem, pois estamos aqui para dizer em alto e bom som: saímos do luto, e os próximos cinco anos serão de muita luta!

Do Rio ao Mar, não irão nos calar! Águas para Vida, Não para Morte!

Ruínas deixadas pela lama em Bento Rodrigues – José Cruz/Agência Brasil
Barra Longa (MG) – Rio Gualaxo do Norte poluído pela lama levada pelo rompimento da Barragem de Fundão – José Cruz/Agência Brasil

Obs. A foto de abertura deste texto é de Antônio Cruz/ABR

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Meio Ambiente

O fogo na Amazônia é protocolo

O drama das queimadas na Aldeia Cajueiro dos Tembé Tenetehara no Alto Rio Guamá, Pará

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Protocolo. Ao chegar nas proximidades da Aldeia Cajueiro, passamos por dois caminhões do exército indo embora por volta das 15h e levantando poeira na estrada sem asfalto. De dentro do carro, vimos a muralha de fumaça típica de qualquer queimada no país. O cheiro de mata queimada é forte. A última vez que senti esse cheiro pesado, foi no Pantanal, no começo do mês.

As queimadas avançam no Pará

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Descendo do carro, já com câmera na mão, olho para o lado e vejo um grupo de indígenas no barracão da entrada, sentados, olhando para o fogo. Alguns bebem água. Suados. Cansados. Pergunto para um dos Tembé, o porquê de o exército ter ido embora, se ainda há fogo pra combater. Ele me diz que falaram que às 14h precisam voltar para a base. É o protocolo.

Ao chegar me apresento para o chefe de operações do Corpo de Bombeiros do Estado do Pará, subcomandante Plínio. Um homem simpático e abatido. Suando e com o olhar fixo na fumaça, ele me diz que o fogo está descontrolado e avisa que “o corpo de bombeiros vai deixar a área às 18h. É Protocolo.”

Morador da Aldeia Cajueiro dos Tembé Tenetehara

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Os brigadistas sob o comando do sub Plínio, como eles o chamam, não aparentam só cansaso. Estão desorientados, sem saber o que fazer com a falta de equipamentos e com o calor, que os deixa desnorteados a cada vez que precisam entrar na mata. Tentam se proteger da tiririca – gramínea que corta o rosto e braços – e das tachis, formigas vermelhas e venenosas que entram na roupa e dão choques ao ferroar o corpo. Parece drama de quem vive na cidade, até você ser ferroado por dez formigas de fogo de uma só vez.

Uma bomba motorizada para puxar água é colocada em uma caixa d’água antiga, em cima de um caminhão; só assim é possível utilizar a mangueira para apagar um foco grande de fogo mata adentro. Tudo improvisado.
Os bombeiros, suados e gritando palavras de ordem uns para os outros, não parecem saber o que estão fazendo. Não se entendem. Discutem sobre o comprimento certo da mangueira. Esquecem de por os EPIs e pedem para não serem fotografados sem o equipamento. É protocolo.

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Do outro lado, os Tembé entram na mata mais rapidamente, para acalmar as chamas que vão se formando. São muitos focos de fogo. O chão, em muitos lugares, está em brasa. As copas das árvores estão pegando fogo e é preciso derrubar algumas. É necessário atenção máxima para os pedaços grandes de brasa que caem. Uma sucupira de mais de 100 anos vai ao chão pela motoserra. Tudo nessa situação é perigoso. Alguém pode ser esmagado por esses colossos que queimam por dentro. Os indígenas entram na mata no momento em que a árvore desaba, para apagar as brasas antes que, mais uma vez, o fogo pule para outros pontos; usam mochilas amarelas de água, emprestadas pelo Corpo de Bombeiros do Estado do Pará. A fumaça sobe no meio do mato, mas ainda é preciso esfriar mais a árvore tombada. São 18h e os bombeiros precisam sair. É Protocolo.

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Lançados à própria sorte, sem equipamento adequado, sem mangueira, sem treinamento e sem EPIs, os Tembé decidem abandonar a briga. Não há mais o que fazer. A noite esconde outros perigos além do fogo. O fogo pode ser visto a olho nu na escuridão. Serpentes como a cascavel e a jajaraca ficam escondidas e atacam, caso sejam pisoteadas. São invisíveis! Consumidos pelo fogo, galhos ficam expostos como espetos afiados, na mata e no chão. Uma espetada nas pernas, pés ou na barriga pode ser fatal, no meio da mata e à cinco horas de distância da cidade mais próxima, Paragominas.

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Alguns dos Tembé voltam pra Aldeia Cajueiro, mas outros precisam ficar e lidar com a falta de energia e luz. Fios dos postes foram derretidos pelo fogo. O cacique Reginaldo Tembé e outros Tembé Guardiões da Floresta, tentam fazer a emenda de um fio de alta tensão que foi rompido durante a queimada que já dura mais de três semanas.

O fogo misterioso, que começou de forma estranhamente milagrosa, próximo a uma fazenda, não vai descansar à noite. O fogo não sabe o que é descanso. Vai consumir mais ainda a mata, ao compasso do vento, assim como vai consumir os animais, como o bicho-preguiça, a jibóia e o jabuti. O fogo não sabe o que é protocolo.

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Amanhã de manhã, na Aldeia Cajueiro, os Tembé Tenetehara, cansados e com fome, irão acordar para batalhar mais uma vez, sem apoio dos bombeiros e do exército. Serão despertados pela fumaça que cobre a aldeia. Terão tosse mais uma vez. É o protocolo.

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Vejam outras matérias sobre as queimadas na Amazônia e no Pantanal.

https://jornalistaslivres.org/o-agro-e-pop-e-o-fogo-e-de-mentira/

https://jornalistaslivres.org/pantanal-em-chamas-arvores-solo-e-animais-dizimados/

https://jornalistaslivres.org/desinformacao-a-favor-do-fogo-pantanal-em-chamas/

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Meio Ambiente

FAMQLive – Festival em Defesa do Parque da Fonte

Parque da Fonte agoniza pelo descaso das autoridades

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Parque da Fonte

A situação do nosso almejado Parque da Fonte é muito crítica

Impedidos de entrar na área, temos recebido e encaminhado diversas denúncias de novas contruções dentro do terreno, árvores derrubadas, queimadas, a água que escoava pela Rua da Fonte secou, fotos do Google mostram Córrego da Fonte soterrado e depois, coberto com gramado.

Parque da Fonte

A indignação e impotência é imensa

Na justiça, processo aguarda apenas o deferimento da imissão da Prefeitura na posse. Num primeiro momento, juíza indeferiu, exigindo que a Prefeitura depositasse mais 3 milhões de reais – mas a dívida do proprietário com a prefeitura já ultrapassa o valor do imóvel, por que motivo depositar um dinheiro que o proprietário não poderá receber? Ninguém poderá receber.

Neste momento, intercedemos para que a excelentíssima juíza reveja sua sentença e, finalmente, esta área volte a ser pública, como históricamente sempre foi. Urge imitir a Prefeitura na posse! Urge que esta área seja pública, que tenhamos direito a entrar, fazer vistorias, participar das medidas de segurança e preservação. E participar da concepção e projeto do Parque da Fonte do Peabiru.

Parque da Fonte

Para que todos escutem nosso grito, resolvemos realizar o FAMQ-LIVE EM DEFESA DA FONTE!

Para entender a situação em que se encontra o Parque da Fonte

2001 – realizamos a “Festa da Ocupação” – movimentou tanto o Butantã, que nos rendeu conhecer o Peabiru.

2003 – foi declarada ZEPEC- Zona Especial de Proteção Cultural, pelo Plano Diretor da Cidade.

2010 – realizamos a ManiFestAção em Defesa da Fonte

2011 – foi decretada de utilidade pública – DUP.

2012 – foi tombada como patrimônio ambiental, histórico e cultural pelo CONPREP – Conselho de Preservação do Patrimônio da Cidade. Muitos eventos continuaram a acontecer na Rua da Fonte: o SoMozum pela Fonte, a Lavagem da Pracinha, Carnaval, Capoeira, Mostra de Artes, Hip-Hop.

2014 – foi declarada ZEPAM – Zona Especial de Proteção Ambiental na revisão do Plano Diretor.

2015 – nas imediações da Rua da Fonte, realizamos o FAMQ – Fonte de Artes do Morro do Querosene, um festival de expressõess artísticas e culturais das mais diferentes linguagens.

2016 – realizamos (na mesma rua da Fonte) o II Encontro de Jongueiros do Morro do Querosene – nesse dia a Prefeitura esteve presente e anunciou o depósito, em juízo, de 2 milhões de reais (naquela época a dívida do proprietário ainda não superava o valor do imóvel). Foi dado início ao Processo na Justiça, este mesmo que agora aguardamos o deferimento para a imissão na posse.

FAMQ-Live em defesa do Parque da Fonte

Agora, nos dias 2, 3 e 4 de outubro de 2020, realizaremos o FAMQ-LIVE EM DEFESA DA FONTE!

Abertura: Dia 2/10 – das 19h30 às 22h – Roda de Conversa ONLINE com transmissão pelo facebook e youtube.

Programação do Festival

Significado, situação e perspectiva do Parque da Fonte do Peabiru e outros parques.

Convidados

Representates do Parque da Fonte do Peabiru, Parque do Jaraguá é Guarani, Parque Augusta, Parque do Bixiga, Parque da Vila Ema, Parque dos Búlfalos, Parque Chácara do Joquéi, Parque do Caxingui, Parque da Àgua Podre, Fórum das Áreas Verdes, Praça das Nascentes, Rios e Ruas, Prefeito de São Paulo, Secretaria do Verde, Secretaria da Cultura, SubPrefeitura do Butantã, Câmara Municipal de São Paulo, vereadores que estão nos acompanhando nesta luta, o atropólogo Paulo Dias, o historiador Júlio Abe, o etnomusicólogo Eric Galm, o indianista Paulo Junqueira do ISA, o representante da SOS Mata Atlântica, o jardineiro do cerrado Daniel Caballero, Daniel Munduruku, e ainda um representando do Parque Estadual Serra do Japi e outro do Parque da Lagoa do Abaeté, de Salvador.

Dias 03 e 04/10 – das 16h às 19h

Festival de Artes (músicos, poetas, dançarinos, capoeiras, grafiteiros, pintores, escultores, literatas, brincantes, circenses, contadores de história, mímicos, bonequeiros)

Acompanhe a programação completa!

www.youtube.com/associacaoculturalmorrodoquerosene

www.facebook.com/FontedeArtesdoMorrodoQuerosene

Parque da Fonte

ASSOCIAÇÃO CULTURAL DA COMUNIDADE DO MORRO DO QUEROSENE

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