Sexta-feira, 22 de maio: uma vez mais, acompanhamos o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) em uma ocupação de terra, desta vez em Mauá, cidade região do ABC, na Grande São Paulo. Eram aproximadamente 350 pessoas em busca de seu sonho da casa própria. Cinco ônibus e 12 carros, em comboio, seguiram em direção a um terreno de 300 mil metros quadrados localizado no Jardim Oratório.
No local, a sensação era de alegria e satisfação, ao vermos tantas pessoas lutando por uma moradia digna — mesmo que para isso precisassem dormir dentro de um barraco feito de lona e bambu. Ao andar pelas barracas, encontramos um grupo de LGBT, tod@s felizes às 4 horas da manhã e sob um frio de congelar ossos.
Rakelin Delivery, uma mulher cativante de sorriso aberto, conta que conheceu o movimento no coletivo Dandara, de Hortolândia (SP), cidade próxima a Campinas. Naquele momento, resolveu lutar pela casa própria. Já conseguiu o auxílio aluguel no Pinheirinho do ABC, em Santo André, mas estava acordada naquela madrugada para apoiar seus companheiros em luta.
Ela conta que veio da Bahia, morou na casa de amigos, sentia-se reprimida, mas, através do MTST, agora se sente feliz e integrada à sociedade. “Quando você mora de favor, você dorme a hora que o dono da casa quer, come o que querem que você coma. Hoje na minha ocupação tenho minha casinha”, diz, quando perguntamos como é ser trans dentro da ocupação?
São cerca de quinze pessoas as assumidas LGBT na ocupação. Elas se colocam como base. Estão lá para ajudar @s companheir@s que lutam por suas casas, para que el@s não desistam. Estão lá para ajudar as meninas a se arrumarem.
Raquilane Rios, cabeleireira, 27 anos, avalia que dentro do movimento não existe nenhum preconceito contra elas. “O movimento abre um leque muito grande de oportunidade de sermos gente”.
Nas ocupações do MTST participam muitos travestis, homossexuais, lésbicas e gays “que, por não ter uma moradia digna, precisam morar nas casas de pessoas de favor, precisam pagar cafetinas e diárias, mas o MTST em si têm nos dado essa oportunidade de termos uma moradia digna, uma moradia própria”, avalia Raquilane.
Ela explica que as travestis passam por uma espécie de “preconceito de moradia”. Para alugar uma casa, a dificuldade é enorme: “O dono quer saber da sua vida inteira, da sua ficha de nascimento até morrer. Mas o MTST, não! Nós chegamos eles nos dão nosso espaço, dizem para montarmos o nosso barraco, nos dão um apoio legal, nos ajudam, nos incentivam a ser gente, a entrar na sociedade. Hoje eu sou gente de verdade como qualquer outra pessoa”.
A alegria entre tod@s ali é contagiante. Daniela é drag queen, trabalha como cabeleireira, cresceu dentro da ocupação. Diz que nunca sentiu nenhum tipo de preconceito dentro do movimento e que já teve oportunidade de fazer um evento de drags dentro da ocupação. Mostra fotos suas como mulher. Digo a ela que preciso aprender a me maquiar, afinal sou uma negação.
Nisso chega Ana Caroline, 24 anos, sua esposa. “Dentro do acampamento é mais fácil do que na sociedade, eles me aceitam como eu sou, no MTST não tem preconceito nenhum”, diz. Ana faz parte do movimento há mais de 3 anos e já conseguiu sua moradia. Nessa noite, estava acompanhando a família e apoiando os companheiros.
Junt@s estavam construindo um barraco que iria abrigar a tod@s. El@s conversam conosco felizes, posam para nossas fotos entusiasmad@s. É lindo quando nos falam que estão à disposição do movimento, estão lá para lutar, que podem chegar a algum lugar, pois o MTST não @s deixa de lado, e que a sociedade pode não aceitar a sua orientação sexual, mas que precisam aceitá-l@s como gente.
Fiquei mais apaixonada pela luta do MTST, pelo comprometimento com a sociedade. A luta é por uma moradia digna para tod@s, sejam homens, mulheres, lésbicas, homossexuais, trans, crianças, idosos. A diversidade está presente e é aceita nas ocupações como teria de ser em qualquer lugar.