Conecte-se conosco

mulheres

Como será o parlamento no Estado da única governadora mulher do Brasil

Publicadoo

em

Paraibana de Nova Palmeira radicada em Natal (RN) desde os anos 1970, Fátima Bezerra (PT) será a exceção do Brasil a partir de 1º de janeiro como única mulher a tomar posse para governar um Estado no país. O novo parlamento do Rio Grande do Norte confirma que a eleição de Fátima não é regra. A renovação feminina nas câmaras federais e estadual no Estado potiguar ficou abaixo da média nacional. Apesar da preferência por uma mulher no Executivo, o parlamento que dará sustentação ao governo Fátima segue conservador e dominado pelos homens.

A mudança na legislação eleitoral que obrigou os partidos a reservarem pelo menos 30% dos recursos do Fundo Eleitoral para as candidaturas femininas a partir da campanha deste ano até que impulsionou a eleição de mais mulheres no país, embora a relação continue territorialmente desigual. No Rio Grande do Norte, no entanto, à exceção do Senado com a eleição da deputada federal Zenaide Maia (PHS), nas demais Casas legislativas as mulheres não conseguiram atingir um terço das vagas.

Das 35 vagas no legislativo potiguar somando Assembleia Legislativa (24), Câmara Federal (8) e Senado (3), apenas cinco serão ocupadas por mulheres, um percentual total de 14,2%. Outro detalhe que chama a atenção é que todas as mulheres já ocupavam um mandato antes da eleição de outubro, seja em câmaras municipais, na própria ALRN ou na Câmara dos Deputados.

A Agência Saiba Mais entrevistou as cinco parlamentares eleitas para o legislativo do Rio Grande do Norte e perguntou por que, na visão delas, as mulheres não conseguiram aumentar a bancada feminina no parlamento mesmo com um percentual mínimo de financiamento garantido por lei.

Das respostas, é possível aferir que a questão financeira é importante, mas não é o único fator que elege uma mulher. O machismo estrutural na sociedade com efeitos diretos na política, o próprio boicote dos partidos políticos às candidaturas femininas e o acúmulo de funções na rotina da mulher são apontados pelas parlamentares como determinantes nessa relação ainda muito desigual.

Política para os homens, pelos homens e com os homens

Isolda Dantas (PT) aponta a questão do machismo estrutural na sociedade como preponderante

Dos 24 deputados estaduais que assumem em 1º de fevereiro de 2019, apenas três mulheres foram eleitas em 2018, um percentual de 12,5% das vagas, mesmo número da atual legislatura que termina em 31 de dezembro.

Só os nomes mudaram nessa relação desigual. Com as ausências das deputadas do PSDB Larissa Rosado e Márcia Maia, que não conseguiram se reeleger, a bancada feminina na Assembleia Legislativa será ocupada pelas novatas Isolda Dantas (PT) e Eudiane Macedo (PTC). As duas se unem à deputada reeleita Cristiane Dantas (PPL), única mulher remanescente do quadro atual.

Para a deputada estadual eleita Isolda Dantas, única petista mulher na ALRN, o problema é estrutural. Na visão dela, a política ainda é feita com base em valores conservadores, que vão do machismo ao patriarcado:

“Temos que debater a forma da política funcionar porque ainda hoje a política é feita para os homens, pelos homens e com os homens. Então para as mulheres entrarem não tem que mudar só o financiamento de campanha. Temos que ter uma reforma política que determine uma lista alternada por sexo numa perspectiva de transformação”, defende.

A parlamentar do PT destaca também que não basta eleger uma mulher para que as mulheres tenham mais representatividade na política. E dá como exemplo o caso da ex-governadora do Estado e atual prefeita de Mossoró Rosalba Ciarlini (PP):

“Já tivemos uma governadora mulher e isso em nada alterou a vida das mulheres. Temos uma prefeita em Mossoró (Rosalba Ciarlini) que foi a prefeita que mais vetou projetos nossos de combate à violência contra a mulher, de casa Abrigo, ou outras legislações que apresentamos para a redução da desigualdade. O debate de representação da mulher na política precisa ser misturado, talvez tenham temas mais essenciais para serem debatidos, como o machismo, o patriarcado e sobre como a política é feita baseada nos homens”, pontua.

Partidos políticos, os algozes das mulheres

Eudiane Macedo (PTC) brigou pela primeiro banheiro feminino no plenário da Câmara Municipal de Natal

Assim como Isolda Dantas, a deputada estadual eleita Eudiane Macêdo (PTC) está migrando do legislativo municipal para o estadual. Para ela, a ausência de mais mulheres no parlamento tem relação com a falta de incentivo nas próprias candidaturas de mulheres pelos partidos políticos:

– Eu acredito que isso reflete a falta de incentivo ao longo dos quatro anos dentro dos partidos para que as mulheres compreendam que a política partidária é um espaço nosso também. Aliás, um espaço muito importante e fundamental para que possamos avançar no sentido de uma sociedade mais igualitária e justa nas questões de gênero. Eu acredito que a grande maioria dos partidos até estimula as candidaturas, mesmo porque a legislação impõe uma cota, mas na maioria das vezes não são candidaturas verdadeiramente competitivas. E aí, apesar de termos cerca de 30% de candidaturas de mulheres, estamos muito longe de alcançar esse patamar de eleitas. Na Assembleia Legislativa, esse percentual representaria uma bancada de oito mulheres e só conseguimos manter as três vagas.

Eudiane acredita que as mulheres também se sentem inibidas de participar da política em razão da predominância masculina. A própria estrutura das câmaras legislativas revela que o espaço é pensado para os homens. Prova disso é que apenas na atual legislatura, o plenário da Câmara Municipal de Natal ganhou o primeiro banheiro feminino:

– Na Câmara Municipal de Natal, por exemplo, somente na atual legislatura foi feito um banheiro feminino no plenário, não existia licença maternidade para vereadora – o que só foi possível através de um projeto de resolução do nosso mandato, criamos a Frente Parlamentar da Mulher. Precisamos mostrar que a política é um espaço para nós mulheres e para pessoas simples, do povo. Só teremos uma sociedade verdadeiramente justa dessa maneira, quando a população estiver realmente representada nos seus mais diversos segmentos,” reflete.

Na linha de Eudiane Macedo, a deputada estadual reeleita Cristiane Dantas (PPL) também vê pouco incentivo dos próprios partidos na construção de candidaturas femininas. Na visão dela, nem a lei dos 30% de financiamento público para mulheres mudou essa realidade:

– Apesar de termos no Rio Grande do Norte uma história de protagonismo feminino na política, ao longo do anos nunca recebemos por parte dos partidos um incentivo maior para o engajamento das mulheres. Nem mesmo por meio de lei isso mudou, mas é um passo importante se exigir o mínimo de participação e agora um maior financiamento das campanhas. É uma forma sensata para equilibrar essa balança entre homens e mulheres na política.

Cristiane Dantas (PPL) foi a única deputada estadual reeleita em 2018

A parlamentar destaca também a dificuldade das mulheres em acumular funções, como conciliar vida pública com uma família, barreira que a maioria dos homens não encontra:

– Aliado à isso também temos que observar o lado pessoal de cada um. Ingressar na vida pública requer disposição e exige muito de qualquer um. Para a mulher conciliar a vida pública com uma família, por exemplo, nem sempre é fácil. É preciso realmente estar decidida para trilhar um caminho de luta e de melhores condições para a nossa população. E acredito que só a mulher buscando ampliar o espaço na política poderemos ter decisões mais democráticas e um estado mais justo.

Novo 7 x 1 na Câmara dos Deputados

Natália Bonavides (PT) é a mulher mais jovem a ocupar a Câmara Federal pelo RN

Na Câmara Federal, a desproporção entre homens e mulheres continua a mesma da atual legislatura. A cadeira da deputada federal Zenaide Maia (PHS), eleita senadora da República, será herdada pela vereadora de Natal Natália Bonavides (PT).

A predominância masculina é histórica no parlamento Federal. O número máximo de mulheres eleitas para as oito vagas da Câmara dos Deputados, numa mesma legislatura, foi de duas mulheres, com as eleições e reeleições de Fátima Bezerra e Sandra Rosado, em 2003 e 2006.

A deputada federal eleita Natália Bonavides chama a atenção para a questão dos próprios partidos controlados por homens relegarem as mulheres a segundo plano, mesmo com a obrigação do financiamento mínimo para candidaturas femininas:

– É preciso ter em mente, a princípio, que as mulheres enfrentam uma série de desafios quando se propõem a participar dos espaços políticos, muitos dos quais não são enfrentados pelos homens. Muitas vezes, as candidaturas femininas são colocadas apenas para suprir a cota partidária, não sendo potencializadas dentro dos partidos e ficando em segundo plano em relação às candidaturas masculinas. É preciso pensar em caminhos e políticas públicas que ajudem a transformar essa realidade, pois é discrepante termos um país no qual a maior parte da população é feminina, mas a representação nas esferas políticas ainda é mínima”, diz.

Com eleição de Zenaide Maia, mulheres terão um terço do Senado

A exemplo da Câmara, a bancada do Senado também terá uma espécie de “dança das cadeiras”. A senadora Fátima Bezerra assume o Governo do Estado, a partir de 1º de janeiro, enquanto Zenaide Maia inicia o mandato de oito anos no Senado Federal.

A parlamentar do PHS também lamenta a pouca representatividade das mulheres nos espaços de decisão e empoderamento. Porém, mais otimista, acredita que a partir de 2020, quando a imposição do repasse de 30% do Fundo Eleitoral para candidaturas femininas será mais conhecida pela sociedade, o número de mulheres deve aumentar:

Zenaide Maia derrotou o quase imbatível senador Garibaldi Alves para chegar ao Senado

– Quando havia a obrigação das candidaturas, mas não de financiamento, o que se observava é que haviam candidaturas, mas essas mulheres não tinham sequer o voto delas. O RN não avançou, mas mantivemos a representação. Foi diferente aqui porque temos a única governadora mulher eleita no Brasil. A gente ainda se preocupa porque estados como Maranhão, Amazonas e Sergipe ficaram sem nenhuma representação feminina. Somos 15% de representantes na Câmara Federal e mantivemos os 15% no Senado. Se somos mais de 50% da população brasileira e estamos com 15% das representantes no parlamento é porque o país não está representado. Onde há concurso publico nos processos seletivos de universidade, escolas técnicas, as mulheres já estão predominando. Mas nos lugares de decisões com empoderamento ainda estamos muito atrás. Basta olhar para os ministro do Supremo, Tribunais superiores… mas agora como já é obrigatório e todos temos conhecimento, vamos aumentar nossa representatividade se Deus quiser.

Bancada feminina aumenta na Câmara Federal e Assembleias estaduais; Senado terá uma mulher a menos

Senadoras Gleisi Hoffman (PR), Fátima Bezerra (RN) e Vanessa Grazziotin (AM) tentaram impedir votação da Reforma Trabalhista

Em nível nacional, as mulheres aumentaram sua representatividade na Câmara dos Deputados e perderam uma cadeira no Senado. Na Câmara Federal, a bancada feminina cresceu 51% e será formada por 77 mulheres, o equivalente a 15% da Casa (hoje o percentual de mulheres na Câmara dos Deputados é de 10%). A partir do próximo ano serão 26 parlamentares femininas a mais do que em 2014, quando 51 mulheres foram eleitas.

Com 10 mulheres consagradas pelas urnas em outubro, o PT foi o partido que elegeu mais candidaturas femininas, uma delas a deputada federal pelo Rio Grande do Norte Natália Bonavides. É do PT e também do Rio Grande do Norte a única governadora mulher eleita a partir de 2019: Fátima Bezerra.

Se o PT elegeu mais mulheres, o PSOL será o único partido da próxima legislatura na Câmara dos Deputados no qual o número de homens será igual ao de mulheres eleitas. Dos 10 parlamentares da legenda, cinco são homens e cinco são mulheres: Talíria Petrone (RJ), Fernanda Melchionna (RS), Áurea Carolina (MG), Sâmia Bomfim, Luiza Erundina (SP), Ivan Valente (SP), Edmilson Rodrigues (PA), Marcelo Freixo, Glauber Braga e Jean Wyllys (RJ) conseguiram se eleger por cinco estados diferentes.

A proporção de mulheres no Senado para 2019 caiu de 13 para 12. Em outubro, sete candidatas foram eleitas e, a partir do próximo ano, somam-se às cinco senadoras que cumprirão a segunda metade dos seus respectivos mandatos. O MDB e o PSL são os partidos que mais terão mulheres no Senado: duas, cada. Uma das novatas é a juíza Selma Arruda (PSL), conhecida em Mato Grosso como a “Sergio Moro de saias”, além de ser publicamente contra o feminismo.

Outro dado preocupante é a desigualdade territorial. Três estados do país – Amazonas, Sergipe e Maranhão – não elegeram nenhuma mulher para a Câmara Federal. No Senado o desequilíbrio é ainda maior: nada menos do que 20 estados não terão representação feminina a partir de 2019. Desses, em três – Acre, Bahia e Tocantins – não houve sequer candidaturas de mulheres.

As mulheres também ampliaram suas bancadas nos parlamentos estaduais. Este ano foram eleitas 161 deputadas para as Assembleias Legislativas, contra 119 em 2014, um aumento de 35%.

Continue Lendo
Click para comentar

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Campinas

Em meio à Pandemia a Comunidade Mandela amanhece com ameaça de despejo

Publicadoo

em

O dia de hoje (31/08) será decisivo para as 108 famílias que vivem na área ocupada na região do Jardim Ouro Verde em Campinas, interior de São Paulo.  Assim sendo, o último dia do mês de agosto, a data determinada como prazo final para que os moradores sem-teto deixem a área ocupada, no Jardim Nossa Senhora da Conceição.   A comunidade está muito apreensiva e tensa aguardando a decisão do juiz  Cássio Modenesi Barbosa – da 3ª Vara do Foro da Vila Mimosa que afirmou só se manifestar sobre a suspensão ou não do despejo na data final, tal afirmativa só contribuiu ainda mais para agravar o estado psicológico e a agonia das famílias.

A reintegração é uma evidente agressão aos direitos humanos  dos moradores e moradoras  da ocupação, segundo parecer socioeconômico  do Núcleo  Habitação da Defensoria Pública do Estado de São Paulo . As famílias não têm para onde ir e cerca de entre as/os moradoras/es estão 89 crianças menores de 10 anos, oito adolescentes menores de 17 anos, dois bebês prematuros, sete grávidas e 10 idosos. 62 pessoas da ocupação pertencem ao grupo de risco para agravamento da Covid-19, pessoas idosas e com doenças cardiológicas e respiratórias, entre outras podem ficar sem o barraco que hoje as abriga.

A Defensoria Pública do Estado de São Paulo, a Comissão dos Direitos Humanos da Câmara de Campinas e o Ministério Público (MP-SP) se manifestaram em defesa do adiamento da reintegração durante a pandemia. A Governo Municipal  também  se posicionou favoravelmente  a permanência após as famílias promoverem três atos de protesto. Novamente  a  Comunidade  sofre com a ameaça do despejo. As famílias ocupam essa área desde 2017 após sofrem uma reintegração violenta em outra região da cidade.

As famílias

Célia dos Santos, uma das lideranças  na comunidade relata:

“ Tentamos várias vezes propor  a compra do terreno, a inclusão das famílias em um programa habitacional, no processo existem várias formas de acordo.  Inclusive tem uma promessa que seriam construídas unidades habitacionais no antigo terreno que ocupamos e as famílias do Mandela  seriam contempladas. Tudo só ficou na promessa. Prometem e deixam o tempo passar para não resolver. Eles não querem. Nós queremos, temos pressa.  Eles moram no conforto. Eles não têm pressa”

Simone é mulher negra, mãe de cinco filhos. Muito preocupada desabafa o seu desespero

“ Não consigo dormir direito mais. Eu e meu filho mais velho ficamos quase sem dormir a noite toda de tanta ansiedade. Estou muito tensa. Nós não temos para onde ir, se sair daqui é para a rua. Eu nem arrumei  as  coisas porque não temos nem  como levar . O meu bebê tem problemas respiratórios e usa bombinha, as vezes as roupinhas dele ficam sujas de sangue e tenho sempre que lavar. Como vou fazer?”

Dona Luisa é avó, mulher negra, trabalhadora doméstica informal e possui vários problemas de saúde que a coloca no grupo de risco de contágio da covid-19. Ela está muito apreensiva com tudo. Os últimos dias têm sido de esgotamento emocional e a sua saúde está abalada. Dona Luisa está entre as moradores perderam tudo o que possuíam durante a reintegração de posse em 2017. A única coisa que restou, na ocasião, foi a roupa que ela vestia.

“ Com essa doença que está por aí  fica difícil  alguém querer dar abrigo  para a gente. Eu entendo as pessoas. Em 2017 muitos nos ajudaram e eu agradeço a Deus. Hoje será difícil. E eu entendo. Eu vou dormir na rua, junto com meus filhos e netos.
Sou grupo de risco, posso me contaminar e morrer.
E as minhas crianças? O quê será das crianças? Meu Deus! Nossa comunidade tem muitas crianças. Esses dias minha netinha me perguntou onde iríamos morar? Eu me segurei para não chorar na frente dela. Se a gente tivesse para onde ir não estaria aqui. Não é possível que essas pessoas não se sensibilizem com a gente.
Não é possível que haja tanta crueldade nesse mundo.”

Continue Lendo

mulheres

Delegado ameaça machões com cadeia

Publicadoo

em

 

O vídeo acima é uma contribuição do delegado Douglas Antônio Ramos Magela ao projeto Paracatu Lar Familiar, desenvolvido desde setembro do ano passado pelo Ministério Público Estadual, por meio da 4ª Promotoria de Justiça de Paracatu, no Noroeste de Minas. O projeto nasceu após a cidade virar notícia nacional em maio do ano passado, quando um homem matou uma ex-namorada e disparou sua arma contra fiéis que estavam no interior de uma igreja. Resultado: outras três pessoas morreram, entre elas duas mulheres.

Depois deste e outros episódios, o Ministério Publico chegou à conclusão de que em alguns casos a punição não é o suficiente, pois o agressor, após pagar a pena volta a cometer o mesmo crime. Diante disso, a promotora de Justiça Maria Constância convidou um grupo de advogadas para realizar um projeto, com apoio de várias entidades, criando, então, o Paracatu Lar Familiar, que atua na conscientização das pessoas quanto à violência doméstica.

Pelo visto, o projeto vem dando certo. Segundo o delegado Douglas informou à reportagem dos Jornalistas Livres, “os índices de violência contra a mulher aqui nunca estiveram tão baixos na cidade. Queremos mostrar com vídeo que nós, homens, estamos ao lado das mulheres ajudando neste projeto a conscientizar as pessoas contra a violência doméstica, a violência contra a mulher”. Além do delegado, que gravou o vídeo acima,  várias entidades e autoridades da cidade têm aderido ao projeto, que tem sido levado também a várias escolas para conscientizar as crianças quanto à questão da violência contra a mulher. Estão ainda na pauta do Ministério Público local a implementação da Patrulha Maria da Penha, como programa de Policiamento de Prevenção Orientado à Violência Doméstica (Provid) e a aplicação do Formulário Nacional de Avaliação de Risco do Conselho Nacional de Justiça.

 

Continue Lendo

Belo Horizonte

A ciranda das mulheres que percorre o Brasil em podcast

Publicadoo

em

Texto: Lucas Bois
Revisão: Ágatha Azevedo

Escutar notícias, ouvir uma narração e ser levado por uma trilha sonora… O que antes poderia ser um programa de rádio, hoje talvez seja um episódio de podcast. Esse fenômeno que invadiu a internet há poucos anos, continua em constante crescimento no número de ouvintes e se expande também na variedade de assuntos oferecidos. Atualmente, grande parte dos temas de podcasts estão relacionados à pandemia da COVID-19 ou ao contexto sócio-político decorrente do bom ou mau enfrentamento dos governos a essa crise mundial sanitária. No nosso país, a pandemia escancara as desigualdades ao evidenciar os problemas sociais que separam as classes econômicas da população.

Diante desse contexto, as jornalistas Raquel Baster e Joana Suarez decidiram mergulhar no mundo do podcast para contar histórias de mulheres brasileiras que enfrentam a pandemia, além dos desafios diários vividos cotidianamente. “A gente tem certeza que as mulheres sempre tem as melhores soluções. Ao reunir essas histórias, trazemos muitas ideias e inspirações, formando uma grande ciranda. Daí veio o nome do podcast: Cirandeiras“, conta Joana.

Para conhecer melhor esse espaço de webrádio e feminismo, os Jornalistas Livres fizeram um bate-papo com as jornalistas que contam sobre o processo de produção, a pandemia e a relação desse projeto com a democratização da comunicação.

Como começou

Raquel Baster e Joana Suarez já dividiam afinidades pelas pautas feministas e bastou apenas uma semana de quarentena para que colocassem o projeto do podcast em ação. Joana, que vem do jornalismo de redação, conta que já vinha se aproximando da rede de podcasts, refletindo sobre a acessibilidade do áudio e seu poder de democratizar: “A maioria dos textos que eu faço são textos enormes e tenho a certeza que muita gente não lê, principalmente as mulheres sobre quem eu falo. O áudio me atraía muito porque leva as pessoas a imaginarem, criar cenários e ir para outra dimensão. Agora na pandemia onde as pessoas estão confinadas, o podcast virou uma companhia, uma forma de sair de casa.”

Já Raquel trouxe ao universo do podcast, sua experiência com a comunicação popular: “Eu sempre trabalhei muito com rádio comunitária e me interesso por essa forma de comunicação que está mais próxima das pessoas. Por mais que ainda seja um novo tipo de mídia, o podcast traz as características do rádio, como as histórias contadas através de uma narração.”

Como é produzido

Muitas vezes, quem escuta um podcast não imagina o que pode estar por trás de sua produção. Segundo as jornalistas, a primeira coisa a fazer é pensar no tema e escolher as mulheres para as entrevistas, por elas chamadas de “cirandeiras”.

“Geralmente o episódio tem a ver com uma pauta que já trabalhamos anteriormente e assim, procuramos mulheres que já tivemos contato. Por coincidência, toda vez que decidimos uma pauta, acontece algo nacionalmente que se conecta ao programa.” Joana lembra que o episódio recente Pandemia na internet sobre segurança digital foi ao ar na mesma semana em que o Senado brasileiro discutia o projeto de lei que combate fake news, enquanto outra discussão acontecia nas redes sobre a exposição de dados pessoais dos usuários do aplicativo FaceApp.

Após o primeiro contato, elas fazem uma pesquisa sobre a cirandeira, enviam as perguntas e dão algumas dicas à entrevistada de como fazer uma boa gravação utilizando o próprio WhatsApp. Como essa orientação, muitas vezes, não é suficiente, nem sempre os áudios tem a melhor qualidade, “mas na pandemia tá tudo justificado”, comenta Joana.

Com as respostas da entrevistada, o roteiro chega a ter mais de 10 páginas e leva de 20 a 30 horas para sua elaboração. A cada episódio, uma delas toma à frente a função de escrever o roteiro, incluindo referências pessoais, e em seguida, a parceira acrescenta a sua parte. “A gente percebe que às vezes um tema muito comum para uma, pode ser muito complexo para a outra. A gente vai se complementando para facilitar o entendimento de quem escuta”, conta Raquel.

Depois do roteiro, vem a hora da gravação que exige algumas preparações, como escolher um horário silencioso do dia para gravar, desligar a geladeira e armar um pequeno estúdio caseiro com edredons. “O legal do podcast é que é uma mídia barata. Basta ter um celular, internet e gambiarras”, conta Joana dando risadas.

Retorno dos ouvintes

As jornalistas contam que 75% das pessoas que ouvem o podcast são mulheres e pertencem ao grupo social que elas convivem. Além do desafio de expandir a rede de ouvintes, elas relatam que ainda é uma grande dificuldade fazer com que o podcast retorne às pessoas entrevistadas e a outras mulheres que não estão acostumadas a esse tipo de mídia.

Raquel conta que a cirandeira Lia de Itamaracá, entrevistada no episódio Pandemia na Ilha, só pôde escutar o podcast após seu produtor viajar até a ilha onde mora para mostrá-la pessoalmente em seu celular. Lia é uma das mulheres brasileiras que ainda não fazem parte dessa grande rede de internet em 2020.

Um infográfico produzido pelo site iinterativa utilizando as fontes do IBOPE, Spotify Newsroom e ABPod, mostra que cerca de 45% do público dos podcasts é formado por homens, do sudeste do país, que pertencem às classes A e B e tem entre 16 e 24 anos. Segundo a pesquisa feita em 2019, 32% dos entrevistados nem sabiam o que é um podcast.

Se o podcast ainda é limitado a uma pequena parcela da população, o WhatsApp talvez possa ser um lugar mais democrático para a sua difusão. As jornalistas contam que decidiram fazer os episódios em formatos pequenos de até 30 minutos para conseguir enviar pelo aplicativo de mensagens e garantir que o podcast alcance o maior número de pessoas.

Democratização da comunicação

Para a jornalista Raquel Baster, é inevitável discutir o alcance dos podcasts sem pensar na democratização dos meios de comunicação no Brasil. Apesar do surgimento das novas mídias, grande parte das informações veiculadas é controlada por um conglomerado de grandes empresários que atendem os interesses privados dessa própria elite.

Segundo ela, “não adianta inventar a roda do podcast, sem falar da estrutura da comunicação no Brasil. Para tornar (a comunicação) mais acessível, precisamos discutir a concentração midiática. A internet ainda não é acessível para grande parte da população brasileira. Precisamos que o maior número de pessoas tenham acesso, mas que possam também alcançar os meios de produção.”

No episódio sobre trabalhadoras rurais, a entrevistada Verônica Santana fala sobre a dificuldade das agricultoras em conseguir se comunicar durante a pandemia, visto que o trabalho sempre foi presencial. “A gente tem muita dificuldade, tanto no domínio dessas ferramentas, como no desafio de que a internet não funciona na maioria dos nossos territórios rurais. No campo, a internet ainda não é uma realidade.”, diz Verônica.

Segundo a pesquisa TIC Domicílios, apenas 50% da população rural tem acesso a internet e esses números podem diminuir ainda mais de acordo com o recorte social e econômico.

Por outro lado, Joana revela seu otimismo no poder das novas mídias: “Acho que o podcast vai se democratizar como aconteceu com o Instagram. Quando a gente poderia imaginar ter acesso a sotaques das pessoas do sertão do Cariri?” Joana se refere ao podcast BUDEJO, de Juazeiro do Norte, e cita ainda o Radionovela produzido por alunos da UFPE em Caruaru, no agreste pernambucano, que narra em formato de radionovela O Alto da Compadecida em Tempos de Pandemia, adaptação da obra de Ariano Suassuna.

Para onde vai essa Ciranda

O podcast Cirandeiras teve início durante a pandemia, portanto grande parte dos seus episódios tem esse tema como contexto. No entanto, as jornalistas Raquel Baster e Joana Suarez pretendem continuar os episódios futuramente, indo a diferentes locais do Brasil para entrevistar de perto as mulheres que conduzem “as cirandas”.

Os episódios das Cirandeiras estão disponíveis nas plataformas mais conhecidas de podcast e tem a cada quarta-feira um novo episódio. Também estão presentes no Instagram, onde ocorrem as lives com as outras mulheres dentro das temáticas dos programas.

Continue Lendo

Trending