Jornalistas Livres

Chileno preso no RIR: desembargador reconhece ilegalidade da prisão

Enquanto um grande público aproveitava o maior festival de música e entretenimento do mundo, o Rock In Rio, realizado neste edição de 2019, no Rio de Janeiro, o jovem Enzo Valentino Oliva Tell, de 27 anos, viu o que deveria ser um final de semana de festa, virar uma sucessão de erros policiais e judiciários, no pior estilo de uma parcela da justiça injusta do país. O fato aconteceu no início do mês, no dia 4 de outubro, dia em que aconteceu um verdadeiro revival da primeira edição do Rock in Rio onde se repetiram shows de grandes bandas como Scorpions e Iron Maiden.
Mas o foco dessa notícia absurda, nada tem a ver com festa, infelizmente ou banda de rock ou metal. A não ser o fato de episódios de injustiças como esses que vamos narrar agora, terem sido verdadeiros revivals no Brasil, infelizmente. De equidade com 1985, só a palavra revival mesmo.
Enzo é engenheiro chileno da área de Tecnologia da Informação e pisou pela primeira vez no Brasil no dia anterior. De São Paulo seguiu com alguns amigos, de carro, até o Rio de Janeiro para o festival. O grupo de aproximadamente quinze pessoas, em um misto de brasileiros e chilenos, ficaria apenas para os shows do dia 4. Mas a viagem teve de ser prolongada quando Enzo foi preso, acusado de roubar um celular durante a madrugada.

De acordo com seu advogado, Carlos Alberto Meireles Torres, Enzo contou que foi acusado de ter roubado o celular de uma mulher, durante uma confusão, em uma das áreas próximas aos palcos. A acusação o fez parar numa audiência na custódia, na mesma noite e na sequência, ser preso preventivamente.

Enzo (de camiseta rosa, fazendo o símbolo com a mão) e o grupo de amigos, antes dos shows, já no Rio de Janeiro
Os traços de Enzo, característicos da região andina, são similares ao padrão racista brasileiro de encarcerar: os culpados são sempre negros ou de pele “mais bronzeada”.
Na audiência, a defesa de Enzo foi feita por uma defensora pública que declarou nos autos “esta Defensora não conseguiu realizar entrevista a contento a fim de obter informações acerca de sua versão e nem sobre qualificação, dados familiares ou endereço”.
Vista aérea do público gigantesco do Rock in Rio no dia 4 de outubro

Já a juíza do caso, Simone de Araujo Rolim, do Juizado do Torcedor e dos Grandes Eventos, justificou, no entanto, o motivo da prisão para preservar a “garantia da ordem pública” e assinalou que “até o momento não há comprovação de residência ou emprego lícito”. No documento é citada a necessidade de “ser comunicada sem tardar ‘sem demora’ ao Consulado”.

Enzo, que trabalha e mora no Chile, foi levado do festival para uma carceragem e segue preso.
Sua namorada, por meio de telefone comenta “ele é uma pessoa que gosta de ficar com a família e amigos. É claro para nós que é impossível que tenha roubado um celular, ele tem um celular caro, um Iphone”. O pai do jovem chegou no Brasil semana passada e tenta libertar o filho.
No dia 08 de outubro, um desembargador do RJ concordou com a solicitação da defesa que pediu um Habeas Corpus, “ainda que a autoridade judiciária tenha conhecimento da língua do preso não lhe é lícita a conversa em seu idioma.  Para tanto a lei impõe a necessidade de intérprete. Está patenteada a ilegalidade da prisão pela imputação de crime de furto”.
Mas como já havia um HC correndo na justiça, pedido pela defensoria, o desembargador entendeu não ter competência para o julgamento.
Vamos continuar acompanhando a história que até o momento segue no viés da injustiça contra Enzo e esperamos que o jovem depois de recuperado desse trauma, possa, um dia voltar para conhecer um país melhor do que esse Brasil que lhe fora apresentado.

Comentários

Uma resposta para “Chileno preso no RIR: desembargador reconhece ilegalidade da prisão”

  1. Avatar de Ouro Botucatu
    Ouro Botucatu

    Tento imaginar qual a lacuna acadêmica existente na formação, experiencia e processo seletivo do profissional carioca que delibera no Juizado do Torcedor e dos Grandes Eventos, cuja parcela de clientes, turistas estrangeiros não tem residência no Rio de Janeiro, encontram-se de passagem, não devem trabalhar no Brasil, e apresentam dificuldades de comunicação em português.
    E o Consulado Chileno preza pela diplomacia, ou pelo bem estar do seu representado expatriado em terras alheias?
    E essa família, o pai, sozinho em Belford Roxo/RJ.
    E o assustado fã ou torcedor turista que iria ao Rio a um evento internacional…
    …que pena que sinto, não vou mais ao Rio de Janeiro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais posts