Por José Tomás Tenorio, jornalista chileno
Com mais de 3.400 pessoas feridas e pelo menos cinco falecidas em mãos das forças de segurança depois de mais de dois meses de protestos no Chile, duras críticas tem surgido desde diversos setores da sociedade e do mundo político local pela atuação dos “carabineros”, a polícia chilena, que tem sido acusada de uma série de abusos e violações aos Direitos Humanos contra os manifestantes.
Equipadas com um grande arsenal de equipamentos anti-motim, que inclui, entre outras coisas, bengalas, escudos, gás lacrimogêneo e carros que lançam jatos de água e de gás, as Forças Especiais acumulam críticas pelo uso de espingardas carregadas com cartuchos de 12 tiros de borracha, os chamados pellets, uma arma que é considerada como a principal causa da “epidemia” de lesões oculares que atualmente vive o Chile. De acordo com o relatório mais recente do Instituto Nacional de Direitos Humanos (INDH), 351 pessoas resultaram com lesões oculares nas manifestações, relatando-se dezenas de casos nos quais perderam 100% da visão em um dos olhos devido ao impacto dos pellets da Polícia.
Segundo o protocolo da instituição, as espingardas devem ser utilizadas somente como último recurso frente a manifestantes violentos, tomando precauções para que a distância do disparo não coloque em perigo quem receba o impacto, e evitando disparar contra idosos e menores de idade. Porém, em reiteradas ocasiões pode-se ver as Forças Especiais de carabineros utilizando esta arma como uma das suas principais ferramentas para dispersar grandes grupos de pessoas, sem importar a distância nem considerar se a manifestação era pacífica. Inclusive, foi revelado o caso de dois estudantes escolares do Liceo 7 de meninas de Santiago que foram feridas pelos pellets depois de que um agente da polícia disparou contra elas no interior do colégio.
Além disso, um estudo da Universidade do Chile —uma das instituições mais prestigiosas do país— concluiu que somente 20% do material dos pellets utilizados pelos carabineros corresponde a borracha, enquanto o 80% restante corresponde a silício, sulfato de bário e chumbo.
E, apesar de que inicialmente o comando dos carabineros negou este estudo, em novembro o diretor geral Mario Rozas afirmou que, depois de investigações realizadas pela própria instituição com respeito às munições anti-motim, as espingardas com pellets “só poderão ser utilizadas, assim como as armas de fogo, como uma medida extrema e exclusivamente para a legítima defesa” dos agentes.
Outro dos elementos questionados quanto à sua utilização nos protestos tem sido o gás lacrimogêneo, que os carabineros usam de três formas diferentes: mediante granadas de mão, espingardas que lançam granadas e carros que lançam gases, conhecidos popularmente como “zorrillos” (gambás). As principais críticas apontam ao uso indiscriminado deste elemento para dispersar aos manifestantes, além dos potenciais riscos para a saúde que este representa.
Afogamento
O composto utilizado pelas forças policiais é o clorobenzilideno malomonitrilo, ou gás CS que, ao entrar em contato com uma pessoa, produz de maneira imediata irritação e sensação de ardor nos olhos, no nariz, na boca, na pele e nas vias respiratórias, além de uma tosse contínua e uma sensação de afogamento. Em ocasiões, ante exposições mais severas, as pessoas podem experimentar vômitos devido a esse gás.
Para evitar complicações à saúde dos afetados pelo gás, o protocolo dos carabineros indica que as bombas de gás lacrimogêneo devem ser lançadas depois de tentar convencer os manifestantes a deixar uma zona determinada, e depois de avisar de que as granadas serão utilizadas, além de se ter em conta que na zona de utilização do gás —que pode ser dos 60 aos 300 metros quadrados— não haja menores de idade, idosos nem mulheres grávidas presentes.
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Uma resposta
oi!! porque não tem fontes ou links para fontes no artigo? grata! mt interessante