Outro caso muito criticado ocorreu no dia 27 de novembro, quando uma mulher de 36 anos perdeu a vista de ambos os olhos depois de sofrer o impacto no rosto por uma bomba lacrimogênea lançada pelos carabineros. A mulher estava indo para o trabalho quando, ao passar perto de um protesto, foi alcançada pelo projétil que lhe gerou sérios danos no crânio, incluindo os dois globos oculares.
E se bem que, nas redes sociais, várias pessoas têm dito que alguns dos lacrimogêneos utilizados pelas autoridades estão vencidos —o que poderia levar a que estes contenham cianeto no seu interior—, diversos estudos internacionais dizem que nas condições que este material é utilizado, o composto de gás CS não deveria produzir quantidades letais de cianeto, inclusive se as granadas estão vencidas há muito tempo. Ainda assim, ao ser consultado sobre isso, o coronel dos carabineros Óscar Alarcón disse em uma de suas polêmicas declarações que a exposição a gás lacrimogêneo vencido “não tem nenhum efeito, é como tomar um iogurte que venceu há cinco dias. Funciona igual, está bom igual”.
No começo de dezembro, e depois de mais de 40 dias da explosão social, o jornal “La Tercera” informou que os carabineros utilizaram um total de 98.223 bombas lacrimogêneas. Devido a isto, a instituição realizou uma rápida compra de mais granadas deste tipo do Brasil.
As denúncias contra a ação policial também apontam ao uso dos seus veículos rádio-patrulhas, os carros que lançam água e os “zorrillos”.
Desde o começo dos protestos, foram registrados vários casos de atropelamentos de manifestantes por parte dos carabineros, inclusive em ocasiões de protestos pacíficos. Além disso, na metade de novembro os agentes foram acusados de ter atuado diretamente na morte de um jovem de 29 anos que faleceu depois de sofrer uma parada cardiorrespiratória na Praça Itália, no centro de Santiago.
Naquela ocasião, um carro lança-água próximo ao lugar, e que se encontrava com a visibilidade reduzida por raios laser e por manchas de tinta nos seus vidros, disparou um jato de água aos paramédicos que tentavam socorrer o jovem em parada cardiorrespiratória, o que dificultou a ação dos médicos e o traslado da pessoa até uma ambulância próxima do lugar.
Apesar de todas as críticas, e dos relatórios de Anistia Internacional, Human Rights Watch e da Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, que tem denunciado violações aos direitos humanos cometidas pelos carabineros desde o começo dos protestos (18 de outubro), a instituição tem rejeitado as críticas que apontam para um problema maior e o alto mando tem se limitado a se referir aos acontecimentos de abuso como casos isolados.
Além disso, o ministério do Interior tem dito que o Estado chileno está avaliando dotar os carabineros de Dispositivos Acústicos de Longo Alcance, uma arma não-letal capaz de emitir sons acima dos 100 decibéis. Porém, em resposta ao anúncio, os departamentos de Fonoaudiólogos da Universidade do Chile e da Universidade de Valparaíso alertaram sobre os efeitos nocivos para a saúde que estas ferramentas podem ter para a população e que, em casos extremos, poderia deixar os afetados com danos auditivos irreversíveis.