Jornalistas Livres

Categoria: Negras e Negros

  • Quando a fala do aliado cabe na boca do inimigo

    Quando a fala do aliado cabe na boca do inimigo

    O Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão estabeleceu novas regras para verificar a veracidade da autodeclaração prestada pelos candidatos e candidatas que concorrem às vagas reservadas para negros nos concursos públicos. A partir de agora, a pessoa que concorrer pelas cotas previstas na Lei 12.990/2014 será entrevistada por uma banca que confirmará se sua aparência condiz com sua autodeclaração. O mecanismo é semelhante àquele implementado e aprimorado pela Universidade de Brasília, cuja constitucionalidade foi validada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) durante o julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 186 (ADPF 186), proposta pelo partido Democratas. Comissões de desenho semelhante também são adotadas durante o processo de concessões de bolsas para negros no Instituto Rio Branco, bem como em concursos públicos de vários Estados e municípios brasileiros, como, por exemplo, na Prefeitura de São Paulo.

    Embora a atuação de bancas seja um mecanismo considerado constitucional, a medida tem sido criticada tanto pela mídia tradicional quanto pela mídia progressista, com argumentos semelhantes. Do lado da mídia tradicional e inimiga não esperamos nada, apenas a defesa do retrocesso. Da mídia progressista, esperávamos, pelo menos, que ouvissem entidades do Movimento Negro antes de repetir argumentos rasos que cabem melhor na boca do inimigo. Entendemos que qualquer medida do governo interino/golpista deve, sim, ser vista com reservas, mas nossa luta e conquistas não podem ser desprezadas para fazer críticas ignorantes, sem conhecimento técnico e irresponsáveis sobre uma pauta histórica do Movimento Negro: a correção das desigualdades.

    É surpreendente e decepcionante ver que, no afã de criticar o governo golpista, pretensos aliados como o Sakamoto, a Maria Frô e Jornalistas Livres na figura de Laura Capriglione, se valham de termos e argumentos construídos pelos conservadores que são inimigos de nossa causa e que já foram julgados e invalidados pelo STF. Demonstrando apenas quão falha é a comunicação dita alternativa, que se presta muito bem em informar questões políticas quando estas não estão diretamente relacionadas ao Movimento Negro brasileiro, afirmando seus lugares de privilégio racial e social do qual não querem se desprender uma vez que, quando apontados sobre o equívoco, nos ignoram e menosprezam, disseminando inverdades sobre a população negra deste país; como salvadores que são, preferem que brancos ocupem os lugares de negros através das cotas do que nos apoiarem na luta pela veracidade corpórea. No mais, reafirmam posturas racistas e criminalizadoras de nossas ações, endossando a retirada de nossos direitos já instituídos. Os supracitados só poderão ser verdadeiramente aliados quando recuarem, quando admitirem o erro e se posicionarem de forma diferente, enquanto isso não acontecer, veremos proliferar erroneamente posicionamentos contrários às nossas vidas. 

     A Lei de Cotas no serviço público foi aprovada em 2014 dentro da reserva do possível: Estados e municípios não foram incluídos e os poderes legislativo e judiciário tampouco. De forma semelhante, a lei não previu mecanismos para coibir fraudes, mas, sabiamente, não os proibiu. Concomitante à aprovação da lei, vieram os concursos públicos e, com eles, as primeiras denúncias de fraude. De meados de 2014 até o final de 2015 são inúmeras as denúncias feitas por pessoas negras lesadas por brancos mal intencionados que ocuparam nossos lugares. Como exemplo, podemos citar o caso do Itamaraty, em que dos seis aprovados nas vagas para negros, quatro foram considerados brancos pela banca multirracial, que só foi formada após determinação judicial.

    Com a falta de ação do Poder Executivo, entidades do Movimento Negro buscaram apoio de membros do Ministério Público Federal e da Defensoria Pública. Assim, a cada edital publicado, uma recomendação de retificação do Ministério Público era emitida para que uma banca fosse formada. Ao mesmo tempo, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) realizou audiências públicas e orientou seus membros a acompanhar de perto as denúncias de fraude e a implementação da Lei.

    Em janeiro de 2016, após indícios de considerável quantitativo de candidatos brancos aprovados nas cotas para negros e percebendo o desinteresse do Ministério do Planejamento em coibir fraudes em seu próprio concurso, que já estava em fase de homologação e posse dos candidatos, o MPF e a Defensoria Pública entraram com ação contra o órgão no Judiciário solicitando a paralisação do concurso, que selecionou servidores também para a Escola Nacional de Administração Pública – ENAP, e a elaboração de orientações para que os órgãos da Administração Pública adotassem em seus concursos mecanismos de verificação da autodeclaração.

    Diante dessa ação, e da forte militância, que lançou uma carta (link) publicada em diversos veículos de imprensa negra – que aparentemente os veículos progressistas não leram – e inclusive protestou em frente ao Ministério em janeiro, sendo recebida pelo Secretário-Executivo da época, Francisco Gaetani, o Ministério se comprometeu com a realização da banca para o concurso que se desenvolvia e com a publicação de orientações para todos os órgãos governamentais.  Vale informar que as orientações contidas na Orientação Normativa nº 3/2016, publicada dia 2 de Agosto, são apenas a primeira do acordo, pois o órgão pretende, após consulta pública, detalhar as orientações em normativos futuros de forma a garantir uniformidade de procedimentos entre as bancas.

    No entanto, tudo isso não é suficiente, queremos mais: queremos um sistema de monitoramento que funcione, uma rede que proteja a população negra de ser discriminada por gestores racistas e que garanta o combate ao racismo e suas implicações em todas as repartições do governo federal. Nesse sentido, queremos também que veículos da esquerda, alternativos, estejam a par de nossas trajetórias e conquistas quando forem discorrer sobre nossas ações, ou até mesmo quando se contrapuserem a qualquer medida governamental. Queremos ser consultados e consultadas, pois não admitiremos mais nada sobre nós sem nós, é inadmissível esse tipo de postura que só prolifera dúvidas infundadas e rasuras nas nossas lutas. 

    A publicação das orientações é, portanto, fruto de uma luta que vem sendo travada há anos para garantir a presença de pessoas negras nos serviço público federal. A banca será composta por pessoas com diversidade de gênero, raça e naturalidade, de modo a refletir os diversos olhares que a sociedade pode ter do candidato. O critério é apenas a aparência, pois é assim que o racismo se estrutura na sociedade. Ninguém pede foto dos ancestrais para discriminar um negro e nem teste de DNA. Quem por qualquer razão se considerar negro, mas não tiver a aparência de um, pode continuar se identificando como tal, mas não será contemplado com esse direito, pois ele se reserva aos que são discriminados diariamente por sua cor.

    É importante pontuar que a classificação racial pelo Estado não é uma inovação introduzida pelo sistema de cotas. Há muito tempo a certidão de nascimento informa a raça do recém-nascido e a polícia classifica os detentos e as vítimas segundo a sua cor. Nesses casos, a classificação racial nunca suscitou interesse por parte da mídia progressista. Nunca houve a acusação da existência de um tribunal racial. Até mesmo a metodologia do IBGE incorpora a chamada heteroidentificação, pois entrevista apenas um pessoa em cada residência, e, neste caso, a cor de cada morador é informada pelo entrevistado.

    Frente às críticas, que tem por objetivo relativizar nossa luta, assumiremos o protagonismo de nossas demandas. Cabe a nós, negros, dizer o que é ou não um tribunal racial. Tribunal racial é o que enfrentamos todos os dias desde que nascemos. Tribunais raciais estão espalhados por toda a sociedade e nos julgam diariamente pela nossa cor e aparência, definindo quem é belo ou feio, bom ou ruim ou mesmo quem deve viver ou morrer jovem cravejado de balas pelos agentes de Estado, que sabem muito bem quem é negro ou branco ou amarelo nesse país.

    O que queremos é que políticas públicas forjadas na nossa luta tenham critérios que viabilizem a coibição da fraude por parte das pessoas brancas e a entrada de pessoas negras (de verdade) no serviço público. E o que ainda precisamos bradar em pedidos é que a mídia alternativa da esquerda, pretensamente preocupada com o racismo, NOS RESPEITE, não fale em nosso nome, não fragilize nossas demandas, não exponha políticas que estão sob o fio na navalha nessa conjuntura, não deturpe nossas pautas, enfim, que se importe minimamente com o que de fato acontece com pessoas negras a ponto de saber do que está falando, de se dar ao trabalho de ler e conhecer a nosso respeito, ao invés de falar sobre o que desconhece com argumentos como a da “Carta dos intelectuais contra as cotas”, ou do Partido Democratas, ou Ali Kamel, Demétrio Magnoli e tantos outros inimigos do povo negro no Brasil.

    Entidades que assinam essa carta (ordem alfabética):

    Coletivo Nacional de Juventude pela Igualdade Racial – Conajir

    Educafro

    Nosso Coletivo Negro do DF

    Pessoas que assinam essa carta

    Danilo Lima

    Dalila Negreiros

    Djamila Ribeiro

    Jéssica Hipólito

    Joice Berth

    Juliana Gonçalves

    Laura Astrolábio dos Santos

    Maitê Freitas

    Marilandia Frazão de Espinosa

    Renata Martins

    Stephanie Ribeiro

     

  • Quem quer ser negrx no Brasil: A afroconveniência nossa de todo dia!

    Quem quer ser negrx no Brasil: A afroconveniência nossa de todo dia!

    Sempre fui e continuarei sendo a favor das cotas raciais, tanto nas universidades, como nos cargos públicos. Para quem está atenta a este debate, pode parecer até lugar comum dizer que as cotas fazem parte de políticas de ação afirmativa que significam uma reparação histórica às negras e negros, cujos ancestrais construíram este país e que, após a abolição, foram deixados à margem da sociedade e sobreviveram a um projeto higienista do estado de embranquecer a população. Porém, a verdade histórica é essa mesma!

    Resistiram como puderam. Criaram mecanismos de sobrevivência. Construíram maneiras de manter sua existência. E cá estamos nós em 2016.

    No país da meritocracia, onde o tal do “esforço” é celebrado, em detrimento de oportunidades iguais e democráticas para todas e todos, independentemente de sua raça, origem social ou gênero/sexualidade, defender as cotas é algo cercado de polêmicas tanto em setores progressistas como os conservadores.

    Seja como for, as cotas existem, foram conquistadas com muita luta e articulação dos movimentos negros e, agora, no atual contexto político em que vivemos, onde a máscara de muita gente está caindo, estão sendo alvo de tentativas de desmoralização e questionamento, uma espécie de plano para firmar a visão de que as cotas não são necessárias no país, onde basta se esforçar para conseguir “subir na vida”.

    As cotas dependem da autodeclaração de candidatas e candidatos, ou seja, a pessoa se assume como negra e concorre às vagas destinadas a esta população. Ocorre que esta maneira dá margem ao surgimento dos afroconvenientes, pessoas não-negras, pessoas brancas, que de forma oportunista (os chamados caras-de-pau) se declaram negras para conseguir o trabalho ou uma vaga na universidade. Usam os argumentos de que “meu avô é negro”, sou “branco de alma negra” e outras balelas para justificar a adoção da identidade negra, apenas neste momento. Claro que estas pessoas não são perseguidas pela polícia, não tiveram parentes ou amigos próximos assassinados, não são seguidas nos supermercados ou tratadas com aridez e agressividade em lojas, restaurantes ou serviços públicos de saúde e educação. Com certeza elas também não assistem ao crescimento vertiginoso de morte de mulheres do seu grupo, entre outras problemáticas.

    Com o argumento de evitar tais fraudes no sistema de cotas, a Secretaria de Planejamento do Governo Temer anunciou a criação de uma Comissão para verificar a autenticidade da autodeclaração para cotistas. Uma espécie de Tribunal da Raça, onde uma outra pessoa (provavelmente branca), vai decidir quem é negro ou não, usando critérios que não se sabe ao certo quais serão. Ora, uma pessoa decidindo se eu sou negra ou não? A hipocrisia brasileira quando se trata de racismo beira o inacreditável.

    É preciso dizer que, infelizmente, vivemos em um país onde fraudes em sistemas de políticas públicas são constantes.  Tem sempre alguém querendo trilhar o caminho mais fácil e garantir o seu. É fato. No sistema de cotas, não seria diferente. Claro que é necessário pensar em formas de garantir que as cotas sejam destinadas única e exclusivamente para pessoas negras, incluindo aí a diversidade da população negra no país.

    E é aí que chego ao ponto que queria: quem é negro neste país?

    Houve um aumento considerável de pessoas que se autodeclaram  descendentes de africanas e africanos na última década. De acordo com a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) realizada em 2014 pelo IBGE, 53% da população brasileira se diz negra. Em 2004 este número era de 47,9%. O crescimento deste reconhecimento tem suas raízes nos avanços que tivemos nos últimos anos, como o acesso à educação superior e às ações de movimentos e coletivos culturais e artísticos (grande parte localizado nas periferias do país, onde somos maioria) e sociais que valorizam a cultura negra, lutam por ações afirmativas e constroem outras narrativas para a população negra, para além da dor e sofrimento da escravidão. O resultado disso tudo estamos começando a colher e muito mais está por vir. Vide o fortalecimento da autoestima de jovens e crianças negras, principalmente mulheres.

    Ainda há muito o que conquistar e avançar. O genocídio da juventude negra, os números de evasão escolar de jovens negras e negros no ensino médio, o aumento do número de mortes de mulheres negras não permitem que nos desmobilizemos um dia sequer. Mas é preciso reconhecer  que a valorização da identidade negra fez com que muitas pessoas se assumissem negras. Esta jornalista que vos escreve, por exemplo, saiu do armário com sua negritude através de descobertas e reflexões de quando entrou na universidade. Vale dizer que assumir minha identidade fez com que eu entendesse muitos dos “problemas do destino e dos desígnios de Deus”  que aconteceram comigo e, principalmente, com as mulheres da minha família.

    Por tudo isso, a autodeclaração, ainda que existam eventuais deficiências, é a melhor forma de se comprovar a negritude de uma pessoa. É ela que tem de se reconhecer como tal. É um processo dela e não de uma outra pessoa. Mas caras-de-pau, por favor, nos dêem um tempo! O vil oportunismo de pessoas brancas não pode inviabilizar o sistema de cotas, tampouco exigir que haja um Tribunal da Raça.

    Vamos supor que este tribunal queira “descobrir” quem é afrodescendente no Brasil. Basta perguntar para os órgãos opressores do Estado, como a Polícia Militar, que sabe muito bem quem é negro e quem não é. No Brasil, ser negro, passa, necessariamente pela aparência, pela cor da pele, pelo tipo de cabelo, pelos traços físicos, pela fenotipia. É ela que determina ser negro. E quanto maior a quantidade de melanina, maior será a discriminação sofrida.

    Os casos de fraude precisam ser apurados e os culpados, punidos. Mas a política de ação afirmativa ser questionada a partir disso é mais uma manifestação do racismo enraizado nas instituições do país. Ser negra no Brasil passa sim pela fenotipia que é o que determina a discriminação. Não basta ter um avó, uma mãe preta.  Pessoas negras têm avós, pais, brancos, mas se o tom da pele for escuro, ela nunca será considerada branca.

    O argumento de que ser negro passa também por um “viver negro”, uma identificação com as questões e dificuldades sociais deste grupo é incipiente, raso e terreno fértil para os afro-oportunistas que estão espalhados aos montes pelo país.  Acreditar e espalhar esta afirmação dá margem para aquelas campanhas horrososas de “Somos todos Humanos”, “Somos todos Iguais”.  Não, não somos. A opressão precisa ser escancarada e chamada pelo nome : Racismo!

    A apropriação cultural da cultura negra é outra vertente desta “igualdade”. Afinal, todos os amantes e admiradores da arte e da cultura negra estão onde quando acontece uma mobilização como a Marcha das Mulheres Negras ou A Paixão de Cláudia, que prestou uma homenagem/manifestação à Claudia Ferreira da Silva, morta por policiais no Rio de Janeiro?

    Por tudo isso, a defesa das cotas e sua ampliação para universidades públicas de ponta deve ser feita exaustivamente e por todas as pessoas: brancas e negras.  A cada ano, muitas das nossas ocupam as universidades e colocam o conhecimento a serviço da luta contra o racismo, mas esta ocupação precisa ganhar corpo em espaços como a USP, Unicamp, UNESP. Defender o acesso da população negra às universidades e espaços de poder e lutar por representatividade é defender um Brasil justo e democrático.  O combate ao racismo precisa permear as articulações sociais no país, pois é a luta pela democracia.

    Um ditado dos dias de hoje afirma que a Casa Grande surta quanto a Senzala chega à universidade. E surta mesmo! A questão é: o que fazer com este surto? Aceitá-lo como normal e perpetuar o racismo ou problematizá-lo e enfrentar este mal que estava tão bem guardado que a própria pessoa nem tinha se dado conta dele? Espero que a maioria opte pela segunda opção. Assim enfrentaremos a questão racial de forma verdadeira no Brasil, sem hipocrisias. Que isso não seja uma utopia.

    *Christiane Gomes, 38 anos, é jornalista, mestra em Comunicação e Cultura pela USP  e pesquisadora das danças da diáspora negra.

    Foto MídiaNINJA

    artigo Christiane

  • A Cultura de Campinas que existe e resiste

    A Cultura de Campinas que existe e resiste

    A cidade de Campinas (SP) possui grandes representantes da Cultura Popular, mestres griôs , grupos e comunidades que preservam as manifestações culturais. O calendário das manifestações culturais popular é marcado por acontecimentos durante o ano. Os Arraiais são um deles. No mês de julho, duas festas de dois grupos e espaços culturais importantes acontecem: O Arraial Afro Julino, da Comunidade Jongo Dito Ribeiro (Fazenda Roseira), e o Arraial do Urucungus do Grupo Urucungos, Puitas e Quijengues. Os Jornalistas Livres Campinas estiveram nas duas festas e conversaram com Alessandra Ribeiro, da Comunidade Jongo Dito Ribeiro, e Alceu Estevam, do Grupo Urucungus, Puitas e Quinjegues.

    Arraial Afro Julino
    Arraial Afro Julino

    O Arraial Afro Julino, da Comunidade Jongo Dito Ribeiro, acontece na Casa de Cultura Fazenda Roseira sempre no segundo sábado de julho. O Arraial Afro Julino é uma grande festa organizada pela sociedade civil em Campinas. Cerca de 8 mil pessoas participam e transitam pelas 18 horas de festa na qual há alegria e comunhão. Há barracas de artesanato afro, e de alimentação com os tradicionais quitutes juninos, além de muita culinária cultural, como acarajé. Contando também vários palcos que alternam as apresentações artísticas e a área de discotecagem, a programação é intensa. O público assiste à roda de jongo, samba, maracatu, rap e a outras manifestações culturais afro-brasileiras.

    Arraial Afro Julino
    Arraial Afro Julino

    Neste ano (2016), em sua 13º edição, Alessandra Ribeiro, neta de Dito Ribeiro e líder da Comunidade Jongo Dito Ribeiro, conversou com os Jornalistas Livres de Campinas e falou sobre a festa.
    “A festa é importante para nós, para nossos parceiros, essas parcerias que fortalecem e engrandecem. A economia é solidária, composta por vários parceiros e grupos, cada um com sua barraca. Isso traz empoderamento a todos nós. A cada ano vamos nos aprimorando quanto à organização, e mostramos a nós que podemos organizar tranquilamente uma grande festa para a população. A nossa festa ao longo do tempo vêm crescendo cada vez mais. Pessoas de outras localidades e países vêm ao nosso Arraial. Nesse ano, tivemos pessoas de oito países diferentes.”
    Alessandra ainda se expressa sobre as tradições; “Ao evocarmos São Benedito (o santo que foi um trabalhador na cozinha da nobreza europeia) para também ser homenageado, reverenciamos a nossa ancestralidade. Demonstramos que o povo negro conhece e reconhece sua cultura e que sabe preservá-la e mantê-la.”

    Arraial Afro Julino - Alessandra Ribeiro - Comunidade Dito Ribeiro
    Arraial Afro Julino – Alessandra Ribeiro – Comunidade Dito Ribeiro

    Para quem ainda não conhece, a Casa de Cultura Fazenda Roseira é uma conquista do movimento negro e do movimento popular sendo uma referência da cultura afro-brasileira na cidade de Campinas. O casarão data do final do século XIX, transformado em equipamento público em 2007 por conta do loteamento da área da antiga Fazenda, a qual, à beira da destruição e depredação, foi ocupada pela Comunidade Jongo Dito Ribeiro e outros movimentos sociais e religiosos de matrizes africanas. Desde então, o casarão promove diversas ações culturais e sociais abertas à população.

    O Arraial do Urucungus do Grupo Urucungos, Puitas e Quijengues, que acontece na sede do grupo, “É uma grande confraternização. É uma celebração entre amigos e parceiros”, afirmou Alceu Estevam, que lidera o grupo junto com sua esposa Rosa.

    Arraial Urucungus
    Arraial Urucungus

    O grupo Grupo Urucungos, Puitas e Quijengues, fundado há 28 anos pela folclorista Raquel Trindade, é muito respeitado e uma referência para os grupos da cidade, uma vez que grande parte dos artistas de cultura popular já passaram ou foram influenciados pelo “Urucungos”. Segundo Alceu, “Nós não temos nenhuma ficha de inscrição. Quem quiser vir é bem vindo. Se a pessoa sair e voltar depois de um tempo, ela é aceita e participa da mesma forma. Existe total liberdade de escolha”.
    O Arraial do Urucungus tem como tradição o ritual de “erguer o mastro aos Santos”, que é feito pelo grupo feminino “As Caixeiras das Nascentes”, abrindo a festa. Todas as pessoas presentes podem seguir o costume junino de “fazer um pedido ao santo, dando um nó na fita do mastro”.

    Arraial Urucungus
    Arraial Urucungus
    Arraial Urucungus
    Arraial Urucungus

    A programação artística é variada e constante. Durante o encerramento de uma apresentação já se inicia outra, logo na sequência. Alceu Estevam fala a respeito da relação do “Urucungus” com os outros grupos e sobre o sortimento de atrações: “Nós temos muitos parceiros. As parcerias foram construídas e fortalecidas ao longo desses 28 anos de existência. É uma relação “de bigode”, ou seja: Nós vamos à Roseira (Casa de Cultura), e o Jongo vem aqui. As Caixeiras sempre abrem a nossa festa. Temos parceiros, como o Ibaô (Ponto de Cultura), o Maracatucá (Grupo) e a Tainã (Casa de Cultura), que sempre nos apoiam, como acontece durante o Carnaval.”
    O público participa ativamente das apresentações, já que a interação entre as pessoas é algo típico da cultura popular. As rodas são constantes e os grupos abrem a participação popular, convidando as pessoas a se envolverem.

    Arraial Urucungus
    Arraial Urucungus

    Alceu ainda comenta: “É sempre importante termos consciência quanto ao valor da cultura de matriz africana e da cultura popular. Durante um tempo, elas ficaram esquecidas na nossa cidade e, de uns tempos para cá, os grupos (coletivos) estão retomado o movimento, apropriando-se e ocupando os espaços. Sempre na luta e resistência”.

    Mais imagens das festas

    Reportagem e fotos: Fabiana Ribeiro

  • Por que NÃO se comemorou a VITÓRIA de SERENA WILLIAMS

    Por que NÃO se comemorou a VITÓRIA de SERENA WILLIAMS

    O artigo de Caetano Biasi para os Jornalista Livres destacou o quanto a impressa brasileira ocultou a vitória da tenista, não apenas não noticiando mas, destacando mais uma vez sua musculatura, e dando enorme destaque para o processo da tenista russa Maria Sharapova, que tem 5 títulos do Gran Slam, em vez dos 22 de Serena, e está suspensa por doping.

    Mas no panteão branco, elitista e machista dos tapetes verdes do tênis mundial… não haveria de ser diferente, ou pior.

    É quase impossível achar vídeos sobre Serena no site oficial do evento.

    Também no canal do Youtube é quase impossível achar os vídeos das partidas de Serena ou de Venus Williams:

    No 9º lugar na playlist aparece pela primeira vez o vídeo da final feminina.

    Na página principal do torneio de Wimbledon do facebook, fora a “capa da página” que contém a foto oficial dos ganhadores_ a mesma que foi ridicularizada pela imprensa brasileiria_ dos 116 posts analisados, 22 citam Serena Williams especificamente. Destes, pelo menos 3 citam as oponentes de Serena em destaque ou em primeiro lugar como nos exemplos:

    ” mesmo Serena Williams está aplaudindo…” Angelique Kerber pode ter perdido uma final emocionante, mas ela ainda produziu, sem dúvida, a maior disputa de lance da partida…

    Olhando a timeline da página, neste momento (em 16/7), apenas no 10º post, é possível ver uma menção a SERENA, mesmo assim onde se destaca a destreza de sua oponente Chistina McHale em enfrentar a campeã. O 4º post da timeline cita Angelina Kerber, que ficou em 2º lugar, sem citar Venus Williams, sendo que a imagem mostra as duas jogando a semi-final. Aliás a vitória de Venus e Serena na final de duplas, é citada uma única vez, num quadro que se chama, “Problema em Dose dupla” (tradução livre).

    Quatro posts ao todo referem-se às comemorações do título por Andy Murray e Serena Williams juntos. Sempre com mais imagens de Murray.

    E dos 114 posts analisados, 44 falam de Andy Murray explicitamente, 22 de Serena (alguns com menções indiretas), 4 de ambos e 44 de outros assuntos do evento.

    Evidentemente NÃO comemoram na mesma proporção ou ênfase a vitória Serena Williams, se comparada à de Andy Murray.

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    Quando Serena Williams é citada, ela é evidentemente colocada numa posição de derrota, ou “não  vitória”. Ou é destacada uma atitude de vingança contra sua oponente Angelique Kerber, destacando as derrotas de Serena para Kerber no aberto da Austrália.

    No álbum de fotos da VITÓRIA de SERENA sobre Kerber, esta aparece em 4 fotos, em imagens propositalmente “mais vencedoras”. Não é mera coincidência ou falta de atenção dos organizadores que este post seja colocado desta maneira:

    Screen Shot 2016-07-15 at 4.48.56 PM

    Screen Shot 2016-07-15 at 11.26.58 PM

    São pequenos detalhes, mas o leitor atento, acostumado ou não com esta barbárie, vai encontrar um significado.

    Ok! Nada de novo…

    Ops! Por que sempre pensamos assim?

    Tudo continua igual e o racismo/machismo cordial, num dos esportes mais elitistas do mundo, vai ter que engolir Serena Williams como teve que engolir o Tiger Woods no Golfe e Lewis Hamilton, na Fórmula 1, entre outros. Mas no caso de Serena se igualar a Steffi Graf, não vai ser suficiente, não para ter a mesma visibilidade.

    O CORPO QUE A MULHER HABITA

    Mas o que pesa ainda mais é que o preconceito contra a mulher vai sempre esbarrar na imagem do corpo feminino. E isso é um ponto chave para entender o quanto Serena Williams e Venus Williams sofrem e já sofreram com isso.

    O G1. Portal além de NÃO destacar a vitória de Serena nomeia a sua galeria de fotos sobre a atleta:

    Das trança aos músculos, os 22 Grand Slams de Serena. 

    Vejam as legendas! É assustador!

    Um artigo muito interessante e detalhado de Jenée Desmond-Harris, da Vox.com e traduzido no blogueirasfeministasanalisa e demonstra os ataques que sofreu Serena desde o começo de sua carreira, e outros aspectos muito importantes e subliminares “da tríade do inferno: misoginia, racismo e transfobia” como define Corin Gaston da Ms. Magazine, citada neste artigo.

    Preparem o saquinho de vômito porque não são poucos os ataques que essa guerreira sofreu. Um bastante sintomático foi o que motivou o boicote por parte das irmãs Williams por 10 anos ao Aberto de Indian Wells, na Califórnia. Para não falarmos que este problema pode ser de Wimbledon.

    Veja o video da Vox.com:

     

    O corpo de Serena é tachado como “não feminino”, agressivo,  “destruidora” e “esmagadora”[…], nas palavras de Delia Douglas,  “invocando a ‘gramática antiga da fisicalidade negra’ ” […] “os estereótipos do ‘perigoso’ corpo negro e da ‘forte mulher negra’ , no artigo de Jenée na Vox.com, que cita outro artigo da Ms. Magazine, de 2012, de Anita Little, conecta a silhueta de Serena Williams com o “legado da ‘Venus de Hotentote’ ” mulher africana exposta em show de horrores nos anos 1.800.

    via GIPHY

    Nesta imagem acima, a fusão da ilustração de época da Venus de Hotentote com a imagem da “brincadeira” da colega dinamarquesa, a tenista Caroline Wozniacki.

    Serena é exposta no circo de horrores da mídia moderna, quase tão branco, misógino e machista quanto em 1.800.

    Nas imagens de divulgação da galerias da VITÓRIA ESMAGADORA de SERENA, é possível, ver quão branca é esta tenda de Wimbledon, onde muito poucos negros, apenas do porte monetário de Beyoncé e J-Z, podem estar.

    Também é possivel ver o sorriso de uma das poucas jovens negras, que puderam testemunhar tal vitória.

    AELTC/Thomas Lovelock . 09 July 2016. Divulgação.
    AELTC/Thomas Lovelock . 09 July 2016
    AELTC/Thomas Lovelock . 09 July 2016. Divulgação

    Por conta disso e de tudo o mais resolvemos fazer nossa homenagem a ESTA CAMPEÃ que não apenas CONQUISTOU UM RECORDE de vitórias em Wimbledon, equiparando-se a tenista alemã Steff Graff…

    Screen Shot 2016-07-15 at 3.31.13 PM

    Mas vai ajudar a construir a mudança deste imaginário coletivo e midiático da imagem da mulher negra, num dos ambientes mais inóspitos.

    E como disse Djamila Ribeiro:

    ” Sei que esse recorde de Serena não altera nossas vidas concretamente,
    mas nos dá a oportunidade de acreditar. Vida longa à campeã.”

    Vida longa… A SERENA WILLIAMS

    Veja mais sobre a “Venus de Hotentote”, no Filme Venus Negra, do diretor Abdellatif Kechiche.

  • Black Lives Matter

    Black Lives Matter

    A violência policial contra a população negra tem sido motivo de protestos em muitas cidades norte-americanas. Ontem, sexta 15, foi em Reno, Nevada.
    Cerca de 500 manifestantes gritavam: “Black lives matter” (As vidas dos negros têm importância) e “No justice, no peace!” (Sem justiça não há paz!).
    As lideranças do protesto em Reno eram muito jovens: nenhum dos que tomaram a palavra tinha mais de 30 anos.
    Um menino que gritava, insistente e solitariamente, o nome de Donald Trump, teve seu grito abafado por dezenas de vozes bradando: “Black lives matter”.
    À pergunta: “What do we want?”(O que queremos?), todos respondiam: “Justice!” (Justiça). Outra pergunta se seguia: “When do we want it? (Quando a queremos?). “Now!” (Já!), respondiam os manifestantes.

     

     

  • Por que a mídia ignora Serena Williams?

    Por que a mídia ignora Serena Williams?

    No último sábado, 9 de julho, Serena Williams venceu a final de Wimbledon e chegou ao seu 22º título de Grand Slam de simples. Com a vitória, ela igualou o recorde de Steffi Graf e garantiu para si o posto de maior da história do tênis.  Sobre o significado do feito de Serena, Djamila Ribeiro escreveu um importante texto que vale a pena ser lido (aqui) e sobre a dimensão esportiva do feito  Andy Bull do Guardian escreveu o artigo “Quebradora de recordes incomparável, Serena é a maior que já existiu. (aqui em inglês)

     

    Facebook de Serena Willians
    Facebook de Serena Willians

    Serena é a melhor e nem assim deixa de ser atacada. Ela cometeu o terrível crime de sair do seu lugar e jamais será perdoada, mas ao mesmo tempo vai incentivar outras a sair. Por isso acho que não devemos ligar para haters. Se Serena sendo a deusa do universo é atacada, imagina nós meras mortais. Devemos nos focar na luta para que uma mulher negra campeã no tênis não seja mais exceção, assim como na universidade e em outros espaços.

    Djamila Ribeiro no Facebook

     

     

     

     

     

    Verdade seja dita, “ser duas vezes melhor” não é suficiente nem pra começar a dizer o quão melhor do que todos e todas Serena novamente se tornou.  Ela é a melhor que já existiu.

    Andy Bull no The Guardian

    Faltando um mês para as olimpíadas, uma atleta que virá ao Rio de Janeiro torna-se a maior da história na sua modalidade. Esse é um acontecimento que merece respeito e destaque, certo?

    Só que não…

    Para Serena, a imprensa brasileira dedicou pouquíssimas linhas e quase nenhum destaque. Por que será?

    Segue uma análise das publicações de alguns portais e blogs esportivos brasileiros na segunda feira, 11 de julho, pós-fim-de-semana de finais em Wimbledon.


     

    globoesporte.com 11/07 17h21min
    globoesporte.com 11/07 17h21min. Braço de Serena
    Globoesporte.com – Seção de Tênis

    Serena não protagoniza nenhum destaque no portal da família Marinho. Os destaques são para a ausência de Sharapova nas olimpíadas, o título masculino em Wimbledon de Andy Murray e para a premiação conjunta de Serena e Murray, com destaque para o braço musculoso da tenista. Serena ganhou Wimbledon pela sétima vez porém “(…) um dos atributos mais chamativos da número 1” são seus braços.

    ESPN.com.br – Seção de Tênis

    A filial brasileira da rede americana ESPN já foi referência no jornalismo esportivo. Não é mais. O destaque na página era o título de Murray e não havia na aba de destaques qualquer menção a Serena Williams.

    espn.com 11/07 17h29min
    espn.com.br 11/07 17h29min. Nada de Serena

    Blog do FIninha. 11/07, 17h28min. q parágrafo para Serena, 4 para Murray
    Blog do Fininho. 11/07, 17h28min. 1 parágrafo para Serena, 4 para Murray
    Blog do Fininho

    O ex-tenista Fernando Meligeni mantém um blog no portal da ESPN Brasil.  Nele publicou o post “Batalhas mentais e campeões merecidos: um resumo do que foi Wimbledon” em que abriu com uma foto de bastante destaque para campeã, mas parou por aí. No texto dedicou apenas um parágrafo para Serena Williams, quatro para Murray e três para Federer. (Serena 1 x 4 Murray)

    Lancenet.com – Seção de Tênis
    A aba de destaques de tênis do jornal esportivo Lance! não teve nenhuma citação a Serena Williams e, como no caso do globoesporte.com, o foco era para a punição de Sharapova.

    lancenet.com 11/07, 17h42min. Nada de Serena.
    lancenet.com 11/07, 17h42min. Nada de Serena.

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    tenisbrasil.com.br 11/07 15h05min. Não há TAG de busca para o nome de Serena
    Tênis Brasil

    O feito de Serena também não mereceu grande atenção do portal dedicado exclusivamente ao tênis. Na aba de destaque, entre “Hewitt comenta sobre a aposentadoria de Federer” e “Murray encosta em Djokovic no ranking do ano”, a única matéria que citava Serena era  “Kerber assume o número 2” onde o ranking mundial era analisado e o foco era a posição de Angelique Kerber, vice-campeã em Wimbledon. Nessa matéria, apesar de citar a permanência de Serena no topo, o nome da campeã não é sequer “tageado”.

    No Blog do Chiquinho, do jornalista Chiquinho Leite Moreira e hospedado no Tenis Brasil, nada de muito diferente do encontrado em outros lugares. Um post analisando as finais de Wimbledon com um parágrafo comentando a vitória de Serena Williams e três a de Andy Murray. (Serena 1 x 3 Murray)

    Blog do Chiquinho. O triplo de espaço para Murray.
    Blog do Chiquinho. O triplo de espaço para Murray.
    Blog do Tênis. 4 parágrafos para Murray, 3 para Serena.
    Blog do Tênis. 4 parágrafos para Murray, 3 para Serena.

    Pelo mapa de TAGS do blog dá pra se notar o pouco espaço destinado para a maior tenista da história comparado a outros atletas
    Pelo mapa de TAGS do blog dá pra se notar o pouco espaço destinado para a maior tenista da história comparado a outros atletas
    O Blog do Tenis, do jornalista José Nilton Dalcim e também hospedado no Tenis Brasil, tratou a vitória da Serena no artigo “Murray já pode pensar no número 1”. O jornalista escreveu três parágrafos para Serena e ressaltou a importância histórica do feito, para Murray foram destinados quatro parágrafos. (Serena 3 x 4 Murray)
    Blog do Juca

    Juca Kfouri, que sempre guardou bom espaço em seu blog para os feitos de Federer e Nadal, também não publicou nada sobre a conquista extraordinária de Serena.

    Não se encontra nada no Blog do Juca sobre Serena Williams
    Não se encontra nada no Blog do Juca sobre Serena Williams

    Então é assim, uma mulher negra atinge o topo do esporte, torna-se uma das maiores atletas da história, a maior de todos os tempos em sua modalidade e nem assim consegue um espaço minimamente digno na imprensa brasileira. Por quê? Porque a mídia privada brasileira é racista e machista e não permite às mulheres negras nem sequer espaço digno em seus veículos para celebrarem suas vitórias, conquistas e alegrias.

    Para exaltar o feito de Serena segue um vídeo feito pela BBC, a tv PÚBLICA britânica, em que Serena recita o poema STILL I RISE de Maya Angelou

     

    Ainda Assim me Levanto (Maya Angelou)

    tradução Francesca Angiolillo

    Você pode me inscrever na história
    Com as mentiras amargas que contar
    Você pode me arrastar no pó,
    Ainda assim, como pó, vou me levantar

    Minha elegância o perturba?
    Por que você afunda no pesar?
    Porque eu caminho como se eu tivesse
    Petróleo jorrando na sala de estar

    Assim como a lua ou o sol
    Com a certeza das ondas no mar
    Como se ergue a esperança
    Ainda assim, vou me levantar

    Você queria me ver abatida?
    Cabeça baixa, olhar caído,
    Ombros curvados como lágrimas,
    Com a alma a gritar enfraquecida?

    Minha altivez o ofende?
    Não leve isso tão a mal
    Só porque eu rio como se tivesse
    Minas de ouro no quintal

    Você pode me fuzilar com palavras
    E me retalhar com seu olhar
    Pode me matar com seu ódio
    Ainda assim, como ar, vou me levantar

    Minha sensualidade o agita
    E você, surpreso, se admira
    Ao me ver dançar como se tivesse
    Diamantes na altura da virilha?

    Das choças dessa história escandalosa
    Eu me levanto
    De um passado que se ancora doloroso
    Eu me levanto
    Sou um oceano negro, vasto e irrequieto
    Indo e vindo contra as marés eu me elevo
    Esquecendo noites de terror e medo
    Eu me levanto
    Numa luz incomumente clara de manhã cedo
    Eu me levanto
    Trazendo os dons dos meus antepassados
    Eu sou o sonho e as esperanças dos escravos
    Eu me levanto
    Eu me levanto
    Eu me levanto