Bolsonarista é reincidente em casos de racismo

Reprodução do portal BHAZ

 

 

A prisão por injúria racial e vias de fato, no final da noite do último sábado por agressão a uma cozinheira não foi a primeira confusão na qual se envolveu o porta-voz do Movimento Brasil Livre (MBL) em Belo Horizonte, Thiago Dayrell Costa (https://jornalistaslivres.org/porta-voz-do-mbl-e-preso-por-racismo/). O jovem, bolsonarista, de 24 anos, é acusado de ter xingado outra pessoa de “crioulo” e macaco no ano passado, além de ter sido detido por agressão, em 2014, e se envolvido em uma balbúrdia em uma reunião com o vereador de BH Léo Burguês (PSL), conforme revela o portal BHAZ. Procurado pelo BHAZ, Dayrell nega ou diz não se lembrar dos episódios, a maioria deles registrados pela polícia.  

O outro caso de discriminação racial teria ocorrido em março de 2018, dentro de um bar no bairro Lourdes, na Zona Sul de Belo Horizonte, informa o repórter Vitor Fernandes. “Eu estava em um show, dentro do bar, e ele [Thiago Dayrell] começou a gritar, junto com seus amigos, umas coisas para a campanha do Bolsonaro. O espaço era muito pequeno, ele estava bem em frente ao palco, atrapalhando o show. Como eu trabalhava com o pessoal da banda, fui lá pedir para ele parar com isso”, explicou o correspondente bancário João Paulo de Moraes Amâncio (foto acima) ao BHAZ.

Nesse momento, João Paulo disse que Thiago não o ouviu, mas um amigo dele sim, dizendo que eles iriam parar. “Eu fiquei observando de longe. Ele ficou pedindo para uma menina, que estava perto do palco, para pedir o microfone ao cantor para ele subir no palco e falar coisas a favor do Bolsonaro”, contou.

Vendo a insistência de Thiago, João Paulo decidiu intervir. “Voltei nele e disse que ele não iria atrapalhar o show dos meninos, pedi para ele parar de avacalhar. Ele me olhou e disse: ‘O que foi macaco, crioulo? Sai pra lá’. Na hora eu fiquei sem chão, sem reação. Quando acontece com terceiro, a gente imagina mil reações, mas quando é com a gente, ficamos sem saber o que fazer. Começou, então, um empurra-empurra, tentaram separar a briga e eu dei um soco nele. Aí começou uma confusão e ele foi retirado da casa”, explicou.

O corresponde bancário diz que sente-se culpado por só estar falando do caso agora. “Quando vi que era a mesma pessoa que tinha feito isso comigo, vi que não poderia mais ficar calado. Se ele tivesse sentido em 2018, moral e financeiramente, o que fez comigo, talvez isso não tivesse acontecido com a cozinheira”, observou. João Paulo afirma que muitos amigos conhecem Thiago e afirmam que ele tem um perfil violento, um típico rapaz criado sem limites.

João Paulo não registrou boletim de ocorrência, mas informou que já contatou um advogado e decidiu tomar medidas. “Eu era totalmente leigo sobre esse assunto. Um amigo meu, que também é meu advogado, me disse que ainda estou dentro do prazo de três anos previsto em lei e posso processá-lo. Vou correr atrás dos meus direitos, para que esse babaca não faça mais isso com ninguém. Ele não pode sair impune”, disse. “Não falei na época porque tinha muito medo de represálias. A gente vê isso acontecendo o tempo todo no Brasil e as pessoas saindo impunes. A verdade é que ele é branco e rico e eu sou preto e pobre. Fiquei com medo do que poderia acontecer. Hoje eu entendo a gravidade da situação, inclusive do meu ato de ter deixado para lá”, acrescentou o rapaz ao BHAZ.

Procurado pelo BHAZ, Thiago Dayrell afirma que o fato não aconteceu. “Eu não me lembro de ter falado isso com ele. Não falei, tenho certeza absoluta que não falei. É mais uma pessoa que está fazendo uma difamação contra mim. Caso precise, vou entrar com denunciação caluniosa contra ele. Ele vai ter que provar isso”.

Outros casos

Já no dia 17 de agosto de 2014, Thiago e outra pessoa foram parados pela polícia durante um patrulhamento no Centro da cidade histórica de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha. Os dois estavam trafegando em local proibido e foram vistos agredindo uma pessoa com diversos chutes. Quando perceberam a chegada dos policiais, os dois tentaram fugir, mas os militares conseguiram alcançar e prender a dupla em flagrante. A vítima se queixou de dores na cabeça, mas recusou atendimento médico, segundo a Polícia Militar.

De acordo com informações da Polícia Civil, foi registrado um TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência) e entregue à Justiça posteriormente. Mesmo com boletim de ocorrência registrado e um TCO assinado por ele, o porta-voz do MBL afirma que o fato não ocorreu.

Além disso, o porta-voz do MBL em BH esteve envolvido com depredação de placas políticas durante a campanha eleitoral de 2014, em outubro. Ele apoiava o candidato Aécio Neves, do PSDB, e teria vandalizado placas, cavaletes e rasgado uma bandeira da então candidata Dilma Rousseff, do PT, na Praça Raul Soares, no Centro da capital mineira. Na delegacia, ele alegou que teria revidado a ação de um homem que teria chutado um cavalete de Aécio Neves.

Novamente, o porta-voz do MBL afirma que o fato não aconteceu. “Eu fui ouvido em relação isso, não chutei nenhum cavalete. O que teve foi uma discussão com algumas pessoas do PT e falaram que realmente fiz isso. Mas já ficou provado que eu não fiz”, disse.

Em maio deste ano, Thiago se envolveu em outra confusão, dessa vez em uma reunião do vereador Léo Burguês com moradores do bairro Belvedere, onde discutia-se a flexibilização do zoneamento do Belvedere I. Durante a reunião, membros do MBL e Thiago se mostraram contrários às ideias expostas e iniciaram uma confusão generalizada, precisando da chegada da polícia para que os ânimos se acalmassem.

Sobre essa confusão, ele confirma que realmente ocorreu. “Foi uma reunião para falar do Plano Diretor. Eu fui lá e fui contrário ao plano diretor e teve uma confusão mesmo. Eles estavam querendo criar uma nova taxa, eu falei que era extremamente contrário a isso e que achava um absurdo”, disse.

O BHAZ tentou contato com o gabinete da deputada federal Greyce Elias (Avante), no qual Thiago é secretário parlamentar. Contudo, ela está em licença maternidade. O Avante também foi procurado, mas não atendeu nossas ligações. O BHAZ também conversou com o coordenador do MBL em BH, Cláudio Pereira, e o coordenador do movimento em Minas, Pedro Cherulli. Eles garantiram que o movimento expulsará Thiago caso as acusações sejam confirmadas.

 

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