A ancestralidade e seus registros têm seus caprichos e responsabilidades. Estudiosos, artistas e museus trazem registros únicos de povos e situações ao longo da conquista e apropriação de territórios. O mais vulnerável diante dos conquistadores sempre cedia, ou pela morte dos tiros e aprisionamento, ou pelas doenças e submissão. Nesse processo de saque, grilagem e avanço das propriedades sobre as terras comuns às antigas comunidades, ficaram registros fotográficos e objetos das culturas dominadas, acervos deslocados aos museus, universidades ou em gavetas e armários particulares.

Com os indígenas brasileiros não foi diferente. Nos dias de hoje, os sucessores nascidos no caos ou após os trágicos contatos com os povos nativos, saem em busca desses acervos para se reconhecerem e se fortalecerem em sua identidade. Reivindicam acessos e compartilhamento. Índios Waujá, do Parque Indígena do Xingu, da aldeia Pyuluene , saíram em rota de viagem à busca de suas imagens antigas e primitivas tradições, a memória resguardada entre os martírios particulares, no tempo dos igarapés, lagoas, rios e temporais. Tudo é líquido como lágrima nas águas da memória de índio. Saudade é palavra que chora entre as aldeias.
Das águas claras do rio Von Den Steinen saíram em direção à Universidade Federal de São Paulo e à Universidade de São Paulo, instituições que abrigam o Projeto Xingu (programa cinquentenário de extensão universitária em saúde indígena da Escola Paulista de Medicina ) e o MAE (Museu de Arqueologia e Etnologia da USP ). De lá partiram para Washington, ao Instituto Smithsonian .
Longos foram os percursos no desejo Waujá, índios em movimento ao longo das Américas colonizadas sobre as etnias tradicionais , em violação ao novo mundo descoberto entre a expansão
europeia quinhentista.
Muitos indígenas se emocionaram com visão reveladora de velhos negativos e suas sendas ao final do périplo. Os Waujá voltaram para seus antigos domínios com muitas imagens na bagagem, sorriso na boca, olhar pleno. O que se revela é uma emancipadora travessia entre passado e futuro. O presente é identidade. Entre afogados e sobreviventes restou um povo forte que navega num tempo em disritmia e num espaço curvo. Velhos retratos libertam e afirmam.
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