O poeta Manoel, andando no meio do mato, teve seu delírio. Alguns dizem que foi picada de cobra sem veneno, outros dizem que é mal de mente, ideias reversas, doença arraigada nos pensamentos, males sem cura.

 

O fato é que o homem pichou o muro da cadeia, em surto, meteu palavras sem sombras ou dúvidas na cara de todos. O muro sujo de lodo até que ficou bonito, dizem as visitas aos presos, em aprovação do gesto delirante.

 

O poeta decretou: onde estiver homem confinado que ele fique acorrentado aos livros. Sua ideia será munição, sua vontade será fortaleza, seu sonho será liberdade. Fica decretado que os presídios serão escolas e que o batalhão de choque será uma cavalaria com cavalos brancos trazendo diplomas ao final de cada ano.

 

Manoel foi conduzido ao hospital após responder ao delegado que não entendia seu ato, apenas de uma luz puríssima que lhe vedou as vistas quando caminhava vendo passarinhos, recordava vagamente.

O hospital informou que Manoel segue sendo medicado sem previsão de alta.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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